You, Clouds, Rain escrita por moonie


Capítulo 1
eu perdoo o mundo pois ele tem você


Notas iniciais do capítulo

Oi!



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Alguns dias eram melhores que o outros.

Namjoon não saía de casa haviam vinte e nove horas e impediu Seokjin de vir visitar. Sempre acontecia quando ele mudava de medicamento; dias na cama, nada de banho, nada de comida e muito menos contato humano.
            Não era justo com Jin, ele sabia. Um relacionamento consiste em envolvimento de ambas as partes, empenho, esforço.

Mas o que ele conseguia fazer além de deitar no colchão sem lençol e pensar em tudo que poderia acontecer e tudo que não deveria ter acontecido? Tudo que ele podia ter sido ou o que ele podia ter conquistado.

Kim Namjoon era um fracasso.

Ele queria poder levantar e gritar isso para o espelho, mas tudo nele era tão tão fraco. Não tinha forças pra levantar, nem pra trocar a roupa de cama, nem pra fechar a janela do quarto que açoitava sua pele com o ar frio das três da manhã.

Talvez ele desmaiasse. Ele esperava que sim. Ele se sentia exausto de tudo mesmo não fazendo nada. Dormiu por mais quarenta minutos ou quatro horas, não sabia dizer. As coisas no coração dele não o deixavam descansar verdadeiramente.

Batidas ritmadas soaram da porta da sala e Namjoon grunhiu. A síndica veio pedir o aluguel ou Jin veio tentar o por pra cima. Ele não sabia qual possibilidade era pior.

Levando o cobertor junto, ele se arrastou pela porta com o envelope de dinheiro em mãos, mas a vida não era a melhor amiga dele, e Seokjin esperava sorrindo com a mesma feição compreensiva de sempre.

Ele não merecia Jin.

O mais velho tirou o envelope de suas mãos e fechou a porta atrás de si, arrumou o cobertor envolto ao homem e segurou o rosto do namorado com ternura.

Por mais tristes que os olhos de Namjoon se mostrassem na maioria dos dias, sempre havia um brilho carinhoso no meio deles reservado só pra Jin. Ele tinha os olhos mais bonitos de todo o universo.

Foi amor a primeira vista. Não por Namjoon, não. Pelos olhos dele.

Jin primeiro beijou os ossos protuberantes do ombro do namorado, seguindo pela mandíbula e subiu para a testa. Quando enfim beijou seus lábios, Namjoon sentiu algo dentro dele ressuscitar em felicidade.

Ele não merecia Kim Seokjin.

— Que tal um banho? - ele riu baixo. Todos os demônios de Namjoon se silenciaram, eles nunca seriam páreo.

— Eu estou fedendo? - ele sabia que sim e virou o rosto, se afastando um pouco.

— Não! - Jin levantou os braços rapidamente. — Mas um banho quente sempre resolve tudo, não acha?

Não, ele não achava. Assentiu do mesmo jeito e tentou fotografar mentalmente o jeito que o namorado pareceu satisfeito.

 

 

Seokjin testava a temperatura da água enquanto Namjoon se despia, tentando ficar o mais longe possível do raio de visão do outro. A fraqueza e enjoo se instalaram e quando pensou que ia cair, foi segurado pela cintura.

Jin o ajudou a colocar perna por perna na água morna e, apesar do que Namjoon acreditava, ele não se importava em cuidar do namorado. Cozinhar e comer juntos era algo especial, limpar a casa do lado dele o fazia imaginar cenários futuros onde viveriam no mesmo lar, com o gato de Jin bagunçando tudo do jeito que fazia Joon gargalhar.

— A temperatura é boa?

Só um aceno. — Obrigado. Eu sei que não tenho sido um bom namo-

— Você é tudo que preciso e muito mais – era o que Joon queria ouvir, mas não o que ele merecia. — Não se martirize, ok? Você vai melhorar. Juro – mas o sorriso dele era triste e Namjoon não conseguiu sustentar por muito tempo. O que Jin estava fazendo com alguém como ele? — Acredita em mim, não acredita?

— Queria acreditar em você.

Ele quis retirar o que disse assim que o sorriso do namorado se desfez, mas ao mesmo tempo não queria iludir Jin com uma melhora.

 

Sentindo-se mais limpo que em séculos, ele voltou pra cama, dessa vez com ela arrumada, de lençóis novos e com SeokJin deitado do lado direito.

Ele realmente não merecia Jin.

Silêncios entre os dois nunca eram desconfortáveis. Olhar nos olhos um do outro era a segunda atividade de casal favorita dele

— Quer conversar? - Joon balançou a cabeça.

— Nem um pouquinho? - enfiando o rosto no travesseiro, ele grunhiu. O mais velho sentiu ele hesitar e o fitou com mais intensidade..

— Eu sou grato por tudo que faz por mim, Jin, você sabe que sou.

— Também sou grato por tudo que faz por mim – e beijou a ponta da orelha do namorado.

— Bom, aí é que está a raiz do problema. Eu não faço nada por você – a risada dele não tinha humor. — Eu sou um lixo sem forças e sem motivação. Eu só te coloco pra baixo.

— Isso é a maior idiotice que você já me disse.

— A gente nunca vai dar certo, você sabe disso também.

— Me diz que você não tá tentando fazer o que eu acho que está.

Claro que estava. Auto sabotagem era o passatempo favorito de Kim Namjoon.

Como o covarde de sempre, ele ignorou os olhos marejados de Jin, que se sentou na cama e abraçou os joelhos. Ele não estava preparado para aquilo. Como a consciência dele o deixaria em paz sabendo que fez a melhor pessoa do universo chorar?

Estendendo os dedos para colocar uma mecha de cabelo atrás da orelha de Jin, ele quis morrer quando o outro se retraiu.

— Você pode ao menos me dar um motivo? - indagou. — Eu fui pegajoso demais? Persistente demais? Protetor demais?

À essa altura Seokjin já havia começado a falar com voz embargada. Kim Seokjin, de tantos amigos, tão cuidadoso e sempre prestativo, estava chorando por ele.

— Eu só quero saber o que eu fiz de errado - continuou.

Puxando lentamente Jin pelos dedos para debaixo do cobertor, ficaram em silêncio por alguns segundos, apenas o som do choro cortado de Seokjin soando baixo. Embaixo do cobertor só existiam eles dois, e os problemas não conseguiam entrar, era toda a proteção que tinham.

Joon entrelaçou os dedos nos deles e beijou as costas de sua mão. Terminar com Jin não seria fácil, mas ainda mais difícil era ver o homem que amava perdendo seu tempo com alguém tão insignificante.

— O problema sou eu Jin - com um riso nasalado, o outro soltou as mãos. Aquele era a resposta mais clichê de todas. Namjoon tomou os dedos esguios mais um vez, segurando um pouco mais forte. — O problema sempre sou eu.

— Joon...

— Você não precisa fazer tudo isso pra provar que me ama, sabe. Eu sei que você me ama, só não sei como e nem porque.

Sentindo o peso das próprias palavras, ele mesmo se afastou de Seokjin. Jin criava uma utopia onde Namjoon era perfeito, e quando a vida e seu cérebro o lembravam do contrário, Joon olhava para a caixa de remédios na bancada e imaginava a dosagem certa pra acabar com a dor e com tudo.

— Se eu tivesse um poção do amor, uma que fizesse qualquer pessoa do mundo me amar, eu usaria ela em mim mesmo. Não em você. Nunca me sentiria bem em prender alguém tão você em alguém tão eu. É injusto.

Namjoon se sentia exposto demais.

 

— Eu tenho tantos defeitos, amor. Eu não sou inteligente, nem bonito como você, meu sorriso é esquisito, meu jeito de andar é estranho e meu cabelo nunca fica arrumado.

Pra alguém com o QI de 148, Namjoon realmente era estúpido ás vezes. Ele era o homem mais bonito que Jin já havia visto; delicado e rústico, um contraste unicamente dele. As covinhas na bochecha podiam trazer a paz mundial e o sorriso dele podia iluminar Seoul inteira.

— Eu quero ser amado. Eu quero tanto ser amado. Tanto, tanto, tanto. Juro que quero ser amado.

Jin não entendia.

— Mas enquanto eu for eu, não é possível.

Seokjin não sabia se era melhor falar algora ou esperar ele tirar o peso dos ombros, então se contentou em segurar a cintura do namorado e enterrar o nariz no aroma de baunilha do cabelo recém lavado.

— Me desculpa pelo meu egoísmo, por que ainda que eu não mereça, eu quero muito ser a pessoa que você ama – Namjoon não acreditava que estava realmente dizendo aquilo em voz alta, se sentia ridículo. — Queria que me achasse inteligente, que me achasse bonito, que sorrisse quando me visse sorrir, que não tivesse vergonha de andar do meu lado e que risse quando não conseguisse arrumar meu cabelo.

— Você já tem tudo isso.

Ignorando Jin, ele continuou:

— Eu queria... - sua voz embargou e o bolo na garganta quase o impedia de respirar. — Eu queria muito ser suficiente.

— Você já é!

— Eu morreria por você. Sabe disso, não? - e Namjoon não estava mentindo. Jin era o mundo pra ele, e sem Jin nada o manteria respirando. Jin era uma canção num mar de gritos e um lembrete de que ele devia se manter vivo pelos segundos felizes que existiam entre os dois. Haviam conversado sobre isso antes, não era certo depositar toda sua felicidade em uma única pessoa, mas parecia impossível fazer o contrário. A depressão tirou os hobbies de Namjoon, a ansiedade tirou seus sonhos e a fobia social tirou seus amigos. Onde mais ele arranjaria serotonina?

— Kim Namjoon, olhe pra mim - como o tolo apaixonado que era, ele acatou.

Diferente da pena que esperava, Jin o olhava com devoção, apreço, admiração. Como um espelho, ele refletia todo o contrário que Joon via em si mesmo.

— Não quero que morra por mim, bobinho – o olhar carinhoso e compreensivo continuava. — Eu quero você vivo.

Ele nunca mereceria Jin.

— Quero que você não se sinta pesado quando acorda, ou que não se encolha quando pensa no amanhã, ou no dia após ele. Quero que sinta prazer no que te faz feliz e não apenas aliviado pelo que te faz esquecer – ele abraçou o namorado mais forte, tentando impregnar aquelas palavras na sua cabeça e aquele momento no peito. — Eu não quero que você morra por mim. Eu quero que viva por mim.

“ E não só por mim, quero que viva principalmente por si mesmo. Você me entendeu? - Namjoon assentiu fracamente. — Eu quero que você viva. Por você”

— Você pode chorar no meu ombro hoje, amor. Mas amanhã vamos tentar sorrir um pouco, tudo bem?

Ele não soube responder, Jin não cobrou, ele entendia.

 

Naquela madrugada fria de agosto, Namjoon finalmente contemplou a possibilidade de um futuro não tão assustador, com Jin do seu lado e corpo não tão fraco, sendo suficiente e genuinamente alegre.

Ele se restauraria, peça por peça.

O céu gradativamente esclarecia, os pássaros quebrando o silêncio e se juntando à respiração suave de Seokjin.

Em algum lugar ao leste, o sol se levantava; Namjoon esperaria pela sua vez de erguer-se também.


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