Algodão-doce escrita por Nevaeh


Capítulo 1
a beautiful goodbye


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Estou aqui pra finalmente postar esse amorzinho de fic!
É uma fic 2 em 1 para o @Stray_Project: foi feita para o evento Junho Colorido e também para os "temas do mês", que no caso são parque de diversões e uma leve menção a solstício de inverno.
A capa foi feita por @interwebs e a betagem, por @hayafuru.
A música que dá nome ao capítulo é Beautiful Goodbye, do Chen. Se puderem ouvi-la enquanto leem, seria bem legal.
Espero que gostem!



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Como se nada tivesse acontecido entre nós
Seguiremos direções opostas
A nossa última despedida será linda
Sorriremos um pouco mais até lá
(Chen – Beautiful Goodbye)

 

Aquela não era para ser uma despedida.

Yukine respirou fundo, observando as luzes multicoloridas da roda gigante começarem lentamente a se misturar com o céu do fim de tarde, e mordeu os lábios. Sem lágrimas, sem drama, só diversão; foi o que tinha combinado com Suzuha desde o princípio, mas, agora que o dia estava chegando ao fim, não conseguia evitar aquela sensação amarga que insistia em assombrá-lo.  

Seu melhor amigo estava indo embora.

Secou os olhos na manga do moletom azul e, mesmo sabendo que suas bochechas vermelhas denunciariam sua óbvia vontade de chorar, olhou para trás. Suzuha escolhia dois algodões-doces e, percebendo que Yukine o encarava, acenou em sua direção com o mais lindo dos sorrisos. Mesmo que estivesse destruído por dentro, que estivessem arrancando lentamente seu chão, aquele ridículo sorriso apaixonado surgiu naturalmente em seu rosto.

Porque amava Suzuha, e a mera presença dele tornava o seu mundo mais feliz.

Suzuha não merecia vê-lo chorar. Ele merecia a sua melhor versão, a mais alegre e vibrante, aquela que sempre surgia naturalmente quando ele estava por perto. Por isso, realizando o desejo mais cruel que o melhor amigo já fizera, Yukine sorriu ainda mais. Um sorriso brilhante, cheio do amor que levara uma vida inteira para descobrir e apenas um momento para deixar seu coração em frangalhos.

Observou-o correr sorridente, com o algodão-doce nas mãos, e desejou ter tido um pouco mais de coragem durante todo aquele tempo. Teve tantas oportunidades de dizer a verdade para ele… Quando ficavam sozinhos depois da escola, jogando vídeo game juntos; nas inúmeras bolinhas de papel que arremessavam na mesa um do outro no meio da aula; durante aqueles filmes românticos que Suzuha adorava e Yukine fingia odiar… 

Enfiou as mãos geladas nos bolsos da calça jeans e, com um sorriso melancólico, voltou a prestar atenção na pequena fila à sua frente; uma vida inteira de oportunidades perdidas, mas… A verdade era que tinha medo. Medo de estar confundindo o amor com um carinho mais intenso, um crush ou outra dessas coisas que logo passa, e que a sua confusão acabasse destruindo uma amizade incrível. Medo de que o fato de amar um homem o afastasse do homem que amava. 

Yukine não sabia lidar com sentimentos, mas Suzuha era importante o suficiente para fazê-lo ser cauteloso. Mas agora, com os minutos se esvaindo numa velocidade muito maior do que gostaria, toda aquela cautela e aqueles dilemas sobre o amor pareciam um completo desperdício de tempo.

Porque Yukine amava Suzuha. Como amigo, como homem, como a pessoa incrível que ele havia se tornado depois de quase 12 anos juntos. Não importava o jeito, o amor estava ali. Incontrolável, inevitável e lindo. Entretanto, era tarde demais. Mesmo que o amor fosse mais intenso do que conseguia esconder, seria ridículo pedir que ele abandonasse o sonho de uma vida inteira, desistisse de Harvard e ficasse naquela cidadezinha minúscula do litoral só por causa disso.

As lágrimas voltaram a borrar sua vista, então ergueu os olhos à imensa roda gigante; tudo o que Yukine podia desejar era que aquele pôr-do-sol durasse mais um pouco. Mas, ironicamente, aquele era o dia mais curto do ano, o céu começava a ganhar tons de laranja e lilás e a vez deles na roda gigante já havia chegado.

Era o começo do fim.

— Yukine? — Suzuha chegou sorrateiramente, sussurrando seu nome ao pé do ouvido. Um arrepio subiu pela espinha, as bochechas se avermelharam mais um pouco pelo susto; estava pronto para ter uma daquelas suas reações brutas de sempre quando, lhe estendendo a mão livre com um enorme sorriso, o amigo perguntou — Vamos?

Yukine não queria ir.

Queria mais um tempo, mais um pouco daquele sorriso e daquela voz macia, que sempre o fazia sentir em casa. Mas não adiantava adiar o inevitável, então simplesmente aceitou o gesto... E continuou segurando a mão de Suzuha mesmo depois que a cabine foi fechada e a roda gigante começou a se mover.

A mão dele era quente, um pouco menor que a sua e, mesmo com o frio daquele fim de tarde, estava pegajosa de suor. Se tivesse forças, até encheria o saco dele como tinha feito a vida inteira, mas se permitiu um mínimo de sinceridade; então, apertou um pouco os dedos dele e, apreciando a sensação aconchegante que as mãos entrelaçadas lhe causavam, olhou para a janela. O parque movimentado foi se distanciando lentamente, dando lugar ao horizonte em tons de laranja, lilás e rosa.

Tudo o que queria era ficar daquele jeito por um momento.

Só o suficiente para capturar a sensação da mão dele na sua.

Um instante, apenas.

— Toma. — Suzuha quebrou o silêncio num tom alegre, tirando a mão e estendendo o algodão-doce no lugar.

Tudo o que queria era um instante a mais, o que custava? Mordeu os lábios, rasgando o plástico do algodão-doce com desgosto; mesmo que quisesse ser um pouco mais maduro e não ficar decepcionado, não conseguiu sorrir de volta.

— Yukine — ele chamou, aproximando-se o suficiente para que Yukine ouvisse a respiração levemente acelerada do melhor amigo, mas simplesmente enfiou pedaços da nuvem de açúcar na boca. — Yukine... — ele suspirou, com a voz embargada, e se entortou todo para poder enxergar o seu rosto. Os olhos verdes queimaram em sua pele, mas fingiu ignorar a melancolia estampada neles. — Pode pelo menos olhar pra mim?

— Você já está olhando — respondeu simplesmente, enfiando ainda mais algodão-doce na boca, sem saber por que estava agindo como uma criança mimada.

Mas era sempre assim, os dois sabiam disso. Yukine sempre foi um furacão, esquentado e infantil, e Suzuha, sempre calmo e doce, seu perfeito oposto. Então, quando Yukine virou o rosto, inflando as bochechas por nenhum motivo em especial, Suzuha sorriu.

Banhadas pela luz alaranjada do entardecer, as bochechas dele ganharam um sutil tom de rosa; o cabelo castanho caiu no rosto e os olhos verdes se encolheram, ganhando um brilho misto de alegria e tristeza. Aquela era uma despedida, ninguém precisava dizer, mas eles continuavam os mesmos. E, embora quisesse continuar emburrado, amava demais aquele cara para resistir à tentação de observá-lo. Porque vê-lo sorrir, com os dentes meio tortinhos à mostra, fazia o seu dia inteiro valer a pena.

Suzuha era lindo, por dentro e por fora, por isso Yukine o amava tanto.

Sentiu as próprias bochechas se enrubescerem e, sem saber como disfarçar o sorriso bobo que já estava estampado em seu rosto, enfiou mais um tufo de algodão-doce na boca.

— Você às vezes é muuuuuito fofo. — Ele deixou o próprio algodão-doce de lado por um momento e apertou com vontade suas bochechas, já esperando a bronca; Yukine revirou os olhos mas, diferente de todos os outros dias, se deixou ser sacudido por alguns segundos.

A cabine da roda gigante sacudiu junto; Yukine instintivamente agarrou as mangas da jaqueta de couro de Suzuha, assustado, e finalmente percebeu o quanto ele estava perto. Perto o suficiente para sentir o cheiro do creme de barbear e do hálito doce em seu rosto... O suficiente para que visse os olhos se enchendo de lágrimas e notasse as linhas do rosto ganhando sutilmente o peso da tristeza.

— Vou sentir saudade. — A roda gigante parou no ponto mais alto e ele murmurou com a voz embargada, como se aquilo fosse um segredo a ser guardado a sete chaves. Colocou a mão em seu pescoço e, com a leveza que a intimidade entre os dois sempre teve, encostou a testa na sua.

Yukine amava aquele gesto.

Amava a sensação de entrega que sentia toda vez que repetiam aquele cumprimento, mas, como perdera uma eternidade preocupado em esconder o que sentia, nunca tinha se permitido aproveitar de verdade. Uma bobagem. Yukine sorriu, encarando as tristezas e medos estampados nos olhos verdes, e, com a confiança de quem não tinha mais nada a perder, encurtou a minúscula distância que ainda os separava e o beijou.

Pressionou os lábios nos dele com gentileza, dando um momento para que o amigo resistisse, mas, embora nas bochechas vermelhas de Suzuha ainda pairasse um pouco de hesitação, a resistência não veio.  A roda gigante começou a se mover novamente, o sol não era mais que um filete no horizonte; para o bem ou para o mal, a amizade nunca mais seria a mesma. 

Então, desistindo de ocultar o óbvio, Yukine o puxou pela jaqueta e o beijou novamente. Um beijo mais abafado, com gosto de adrenalina e algodão-doce, que acabou deixando Suzuha encurralado contra a pequena janela da cabine. O amor da sua vida estava indo embora, e sabia que não podia fazer nada para impedi-lo; mesmo assim, não conseguiu evitar um sorriso quando, em meio às respirações descontroladas de ambos, viu as pupilas dilatadas e um sorriso tímido banhados pela última luz do anoitecer. Acariciou o rosto vermelho de Suzuha e, tentando deixar bem claro que o amava, beijou-o de novo. 

Suzuha era simplesmente lindo, e o amava mesmo que ele estivesse partindo seu coração sem querer. 

— Vou sentir saudade também — Yukine respondeu sorrindo, num fio de voz; os olhos dele se encheram de lágrimas, mas, decidido a manter as coisas daquele jeito, Suzuha estendeu a mão e afagou uma última vez os fios loiros.

Por mais cruel que a realidade fosse, ainda era mais doce que quaisquer dos seus sonhos.

Saíram juntos, com as mãos ligadas apenas pelos mindinhos, e caminharam em meio à multidão na direção da saída. Sem juramentos vazios, riram das fotos que tiraram, conversaram sobre as mesmas bobagens e deixaram que aquela sensação de eternidade pairasse entre eles enquanto comiam algodão-doce. Porque promessas feitas no calor do momento seriam logo esquecidas, e Yukine não queria esquecer; mesmo que nunca mais se vissem, que a amizade de uma vida inteira no fim tivesse data de validade, o amor ainda estava ali.

Ainda queria que ele ficasse.

Queria ser mimado e implorar que ele ficasse mais um pouco, mais um dia, quem sabe para sempre. Mas seria cruel demais. Então, desejou apenas congelar aquele momento feliz em sua mente, porque ele era perfeito e doce, antes que terminasse. Mas era tarde; a lua despontava atrás da roda gigante e eles já estavam no ponto de ônibus. Mordeu os lábios, observando os pares de all-stars sujos de terra, e nem mesmo a boca cheia de algodão-doce foi suficiente para impedir que as lágrimas caíssem. 

O fim havia chegado.

— Não chora… — Suzuha pediu, com a voz embargada, puxando-o gentilmente para um abraço.

Não queria chorar. Queria ser forte, manter a promessa até o fim com um sorriso… Mas só agarrou a jaqueta de Suzuha, apertando ainda mais aquele abraço. Era sufocante demais fingir que estava tudo bem quando a vida estava arrancando um pedaço enorme do seu coração e levando para longe.

Porque Yukine amava Suzuha, mas o amor não era o suficiente para fazê-lo ficar. 

Mordeu os lábios mais forte, tentando abafar os soluços que insistiam em rasgar sua garganta, mas tudo o que conseguiu foi o gosto amargo do sangue na boca. Chorar não mudava nada, mas era tudo o que lhe restava. Porque fingira todo aquele tempo que o ensino médio era assim mesmo, que despedidas eram inevitáveis e que estava feliz e orgulhoso em mandar o homem que amava para uma faculdade de renome do outro lado do mundo. Não era de todo uma mentira, mas… Agora que ele estava indo embora de verdade, Yukine não queria deixá-lo ir.

Porque isso significava desistir de tudo. Do amigo de uma vida inteira, da sua melhor companhia e do homem que amava com todas as forças. Desistir do sorriso meio torto, das mãos pequenas, da voz grave cantando muito mal suas músicas preferidas… Dos lábios trêmulos, com gosto de açúcar e lágrimas. Ergueu os olhos vermelhos e, encontrando o melhor sorriso que tinha, beijou Suzuha com gentileza; estava abrindo mão de um futuro que poderia ser lindo, mas morrera antes mesmo de começar.

Aquela era uma despedida, e vê-lo chorar só tornava as coisas ainda mais difíceis. 

O ônibus parou, as portas se abriram e, ao invés de acompanhar a pequena multidão, Suzuha o apertou mais forte. As mãos suadas tremiam, as lágrimas pingavam em seu casaco mas, ambos sabiam, o tempo tinha acabado.

— Eu te amo — Yukine sussurrou, encostando os lábios nos dele uma última vez, e o empurrou em direção à porta vazia. Mas, mesmo com os protestos do motorista, Suzuha só conseguia olhar para trás. — Vai!

Suzuha hesitou mais um instante; os olhos verdes imploraram que dissesse qualquer coisa, que segurasse sua mão e o impedisse de partir, mas Yukine nada fez. Só enxugou os olhos na manga do casaco e, assistindo-o correr pelo ônibus até a última janela, acenou o mais alegremente que podia. Suzuha tinha esquecido o algodão-doce dele em suas mãos.

Era o fim.


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Notas finais do capítulo

Agradeço a todo mundo que chegou até aqui e desculpa enganar todo mundo com uma capa fofinha kkk
É uma fic livremente inspirada em fatos reais. Eu vivi isso uma infinidade de vezes ao longo dos meus nove (sim, nove) anos de namoro, então chorei escrevendo o final.
Mas deem amor ao projeto e vão olhar as outras fics!
Até a próxima :3



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