Vozes dos Ancestrais escrita por Fanny Tanlakian


Capítulo 2
Vozes Cantantes


Notas iniciais do capítulo

Oie mais um capítulo!
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/779375/chapter/2

Ela acordou na cama vendo a enfermeira sorrir, se levantou rápido, aos poucos as imagens do que tinha presenciado vinham na sua mente. Ficou assustada e sem reação, srta. Death trouxe um copo de água mas a mulher ignorou, correu para o banheiro no qual agora estava tudo normal, nem tinha sido cheia a banheira. Virou-se voltando para seu quarto, ela sentia doer na região das costelas, a enfermeira parecia preocupada, segurava uma pequena maleta branca cheia de medicamentos. Pegou um frasco laranja de plástico e jogou o comprimido na mão, depois entregou para a outra beber.

— São analgésicos vão te ajudar.

— Eu não entendo, tinha alguém no banheiro.

— Olha essa casa é bem antiga pode ter muitas coisas aqui.

— Mas aquilo - disse se recordando do vulto - Parecia não ser humano.

— Muitos espíritos vagam nessa área, alguns podem ser agressivos.

— Está dizendo que isso é comum?

— Acho melhor tomar os remédios. Sally está preparando um caldo delicioso de carne, desce na cozinha para jantarmos.

— Espera por quanto tempo fiquei desacordada?

— A tarde toda.

— O que?

— Sua queda foi bem feia.

Ela lembrou de cair rolando pelas escadas, todo seu corpo estava dolorido. Engole o comprimido, após isso vai para onde os outros se reuniam esperando a refeição. Samantha mascava um chiclete enquanto escutava alguma música alta, folheava uma revista. A televisão ligada passando seriado estava no volume máximo, mesmo assim ela conseguia ouvir o barulho do ponteiro do relógio, era de madeira e ficava no alto da sala, marcava oito horas naquele momento. Ainda não acreditava que permaneceu esse tempo inconsciente, a governanta colocava os pratos na mesa.

— Onde está minha avó?

— No quarto- respondeu a adolescente focada no conteúdo da sua leitura - Não leu as regras?

— Porque tem que trancá-la?

— É o melhor, não iria querer ela solta.

— Quais coisas uma senhora cadeirante poderia fazer?

— Logo começará os gritos e verá.

Beatrice ia perguntar algo mas são chamadas para comerem. Se sentam todos, agora ela entendia o motivo da televisão alta, no momento que aproximava a colher da boca, palavras de pavor ecoaram, sons de pisadas fortes e móveis sendo atirados também eram escutados. Os arranhões vieram depois, a senhora gritava coisas horrorosas como palavrões, clamava socorro em algumas horas. Preocupada ela levanta não conseguiria ficar quieta com tudo aquilo acontecendo.

— Ela pode ter se machucado.

— Não seja teimosa, sua avó está protegida.

— Isso não faz sentido!

— A madame tem demônios internos que precisam ser libertados - diz Robert.

— Como?

— Pare de falar bobagens Bob - repreende a mulher.

— Preciso ajuda-la - disse decidida já subindo as escadas quando todas as luzes apagam.

— Droga! - pragueja Sally.

Alguns segundos passam e a iluminação retorna na sua frente uma mulher pálida aparece, fazendo esta tomar um susto, estava imóvel nem mesmo piscava depois sobe os degraus sumindo no corredor escuro.

— Povo de Calalunh eu sua rainha estou aqui, venham até mim!- gritava a velha do quarto.

— O que isso significa?

— Muitas coisas, agora sente aqui não é seguro ficar aí.

— Onde está srta. Death?

— Ocupada.

— Se é perigoso, porque ela não fica aqui conosco?

— Você pergunta demais.

Ela volta para a cozinha todos comiam como se estivessem escutando nada. Depois das dez e meia todos foram para seus quartos a casa ficou num silêncio absoluto. Beatrice digitava os últimos detalhes do trabalho no notebook, ouvia uma canção lenta para tranquilizar. Alguém abre sua porta era a enfermeira que trazia duas cervejas, as duas vão para o telhado onde tinham um lugar para se acomodarem. Ficaram quietas dando goles na bebida olhando o céu noturno.

— Faz qual graduação?

— Psicologia.

— Humm parece ser legal.

— É sim.

— Tem tido sonhos esquisitos?

— Não são bem s..... - começou a falar mas parou quando lembrou das coisas que viu no ônibus.

— É estranho o efeito dessa casa. Coisas sem explicação acontecem aqui, alguns dizem por ela ser construída numa terra amaldiçoada.

— Ah.....

— Bruxas andavam por essa região, a caçada era intensa por isso dizem que residir nesse local traz maus presságios.

— O que vi pareciam filme de terror.

— Como eram?

— Mulheres dançando e tentaram me afogar. Pronunciavam um dialeto no qual não era nosso idioma. Antes de me encontrar desmaiada eu vi um........ ser toda branca e macabra.

— Visões desse tipo são bem normais.

— Conseguem conviverem assim?

— Nos acostumamos.

— Na verdade, porque pararam aqui?

— A madame conforme envelhecia precisava de empregados para realizar tarefas que não fazia.

— Meu pai falava bem pouco da mãe, agora desconfio do motivo. Essa história de magia e caçadas.

— Bruxas eram somente mulheres mal compreendidas.

— Acha mesmo?

— Homens sempre quiseram poder por isso até lutavam e provocavam mortes, tinha inveja de quem possuía isso naturalmente.

Beatrice fitou a mulher, seus longos cabelos escuros estavam soltos, tinha um par de seios grandes além de uma cintura sinuosa. Sentada bem próxima dela sentia seu perfume doce, não tinha costume de deixar pessoas perto assim, sempre fora tímida gostava de ter um espaço. Entretanto aquela enfermeira tinha algo hipnotizante, os olhos castanhos claros bem destacados com o delineador preto seduziria qualquer indivíduo.

— Precisamos entrar - diz srta. Death.

— Espera porque me trouxe aqui?

— Só queria tomar algo acompanhada por alguém.

— Ah..... claro - fala vendo a outra rir.

— Tem um pedaço de bolo na geladeira quer comer comigo?

— S-sim - gagueja.

Pulam a mesma janela por onde tinham vindo, Beatrice recebe ajuda da morena, sente suas bochechas corarem quando pega na mão da mulher. No caminho passam pela sala, ela nota o espelho oval em cima da lareira e estranha.

— Aquilo sempre foi assim?

— Hã..... sim porque?

— Quando vi as aparições era quadrado e maior.

— Talvez estivesse assustada e viu errado.

— É pode ser- disse pouco convencida.

Srta. Death coloca o prato com a fatia do bolo de chocolate, pega dois garfos dando um para ela. Comem enquanto a enfermeira contava de uma namorada que teve na sua cidade natal. As duas tinham feito faculdade juntas, porém trabalharam em lugares diferentes, sempre se comunicavam até o dia do término.

— E qual foi a causa do rompimento?

— Traição.

— Ah..... sinto muito.

— Não sinta. Ela era uma vadia.

— Essas coisas acontecem.

— Sim. Acho melhor irmos dormir logo será meia noite.

— Ah já sei as regras.

— Se acha o dia aterrorizante não vai querer estar fora do quarto durante a madrugada.

Ela voltou para o cômodo sentindo uma solidão, estava deitada olhando nada, tinha trancado a porta como foi instruída. Ouvia somente grilos do lado de fora, se revirava na cama mas o sono insistia em não vir.

Ficou acordada quando iniciou as batidas no quarto, inúmeras vozes cantando eram escutadas, uma voz calma e doce porém dava para sentir a frieza.

 ''Ei menina não ande por aí, caso contrário você será pega

Tenha cuidado pequena não ouse ir por esses caminhos

Sonhos perdidos podem ter aí

Cautela com o homem de preto, se ele te pegar seus olhos vão arrancar.''

— Hey Bea - falou alguém parecia estar ali ao lado dela - Venha aqui, não queira me zangar. Vamos!

— Que merda é essa ? - perguntou apavorada.

Na janela as sombras das árvores tomavam formas de tentáculos negros, como se quisessem pegá-la. O trinco se mexia, algum ser queria abrir, então novamente insistente alguém a chamava.

—Garota venha. O que está esperando?  Vamos.

Ela se levantou, lá fora uma coruja com seus olhos amarelos a fitava. Se aproximou do vidro querendo observar aquela ave melhor, então um corpo desliza pela janela de repente. A mulher paralisada encarava aquilo pasma, aparentemente estava morto. Sem saber como agir deita na cama pensando que todos conviviam com isso logo ela também poderia. Depois de muito tempo evitando não olhar para o lado adormece ao som das vozes cantantes.
 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vozes dos Ancestrais" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.