Arquivos da Frota Estelar 7 - William T. Riker escrita por Valdir Júnior


Capítulo 3
Revés




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/779366/chapter/3

Quando chegou à rua, Riker olhou para os dois lados tentando localizar para onde os homens haviam seguido. Apesar de não vê-los mais, notou que as pessoas na calçada à sua esquerda estavam olhando para trás um pouco irritadas, como se alguém houvesse forçado a passagem por entre elas. Ele dirigiu-se então por ali, andando rápido e olhando atentamente em todas as direções. Como não viu nada, resolveu procurar um agente de segurança ou policial para relatar o ocorrido. Porém ao parar em uma esquina para se orientar, deparou-se com o homem que havia fugido do bar apoiado em uma árvore na entrada de uma pequena praça. Will Riker correu até lá e ao se aproximar percebeu que ele estava a ponto de cair. O oficial da Frota o alcançou, ajudando-o a deitar-se no chão. E imediatamente viu a grande mancha de sangue que começava a se formar no abdômen dele. Ele havia sido esfaqueado.

O homem ferido olhou para Riker com uma expressão de dor e já respirando com dificuldade e disse a ele num sussurro:

— Frota Estelar... entregue a Aysha... não deixe o sindicato...

— Aguente amigo – disse Riker, preocupado – eu vou procurar ajuda...

Quando o comandante ameaçou se levantar, o homem, em um último esforço colocou a sua mão direita no pescoço dele e apertou. Will sentiu uma leve picada, parecida com a de um inseto. Ao se assustar e segurar a mão dele para afastá-la, Riker viu que havia uma minúscula agulha implantada sob a unha do dedo médio. Quando o comandante olhou novamente para o homem, ele havia parado de respirar e já estava completamente inerte.

Neste momento, ouviu passos cautelosos que se aproximavam.

— Polícia! – disse com firmeza uma voz às suas costas - levante-se devagar e coloque as mãos atrás da cabeça.

Will Riker obedeceu, virando-se cuidadosamente para encarar dois policiais que lhe apontavam firmemente suas armas paralisantes.

— Calma, oficiais – disse Riker – eu sou da Frota Estelar e posso explicar tudo.

Abaixando a arma, porém sem tirar os olhos dele, um dos policiais disse:

— Então, por favor, nos acompanhe até a nossa central.

 *  *  *

— Comandante William Thomas Riker... – disse o delegado Kibohr, chefe da unidade de polícia do distrito, consultando as credenciais que o oficial da Frota havia lhe entregado – primeiro-oficial da nave da Federação Unida de Planetas U.S.S. Enterprise...

  Ele olhou sério para Will Riker e deslizou os documentos sobre a mesa, na direção do comandante. Enquanto ele os recolhia calmamente e guardava, o delegado continuou a olhá-lo em silêncio por alguns momentos.

— Posso saber como você apareceu na cena de um assassinato, comandante? – perguntou finalmente o delegado, desconfiado.

— Eu estava em um bar nas proximidades – disse Riker – aguardando minha nave me buscar, quando vi a vítima sair amedrontada de lá, seguida por dos homens em uma atitude muito suspeita. Como fiquei preocupado achei melhor segui-los, mas os perdi de vista. Quando já havia resolvido procurar um policial para relatar o caso, encontrei o homem ferido e corri para ajudá-lo, mas infelizmente ele já estava nas últimas. Havia acabado de falecer quando seus agentes chegaram. E aqui estamos nós.

Kibohr olhou para ele irritado.

— E você costuma se intrometer em assuntos que não lhe dizem respeito diretamente, comandante? – perguntou ele.

— Eu procuro evitar sempre que possível – respondeu Riker calmo – mas por outro lado não tenho o hábito de me omitir quando estou diante de uma possível agressão a alguém, se eu puder evitar.

O delegado deu um sorriso irônico.

— Parece que você não foi de muita ajuda desta vez – disse ele.

O oficial da Frota sentiu-se irritado pelo comentário inconveniente do delegado, mas preferiu não responder.

— Há outra questão – disse o comandante Riker – a vítima, antes de morrer, me picou com uma espécie de agulha que trazia em uma de suas unhas. Seria possível que um médico me examinasse para ver se está tudo bem? A Enterprise só retornará em oito horas e eu estou preocupado de ter sido contaminado com alguma coisa.

Ao ouvir isso o delegado Kibohr se empertigou e olhou significativamente para um dos seus policiais, que estava em pé ao lado da sua mesa. E o homem devolveu o olhar, parecendo preocupado e tenso.

Ele encarou Riker novamente, agora sorrindo.

— Naturalmente comandante – respondeu ele - vou providenciar que você seja examinado o mais rápido possível. Peço somente que aguarde aqui enquanto buscamos o doutor, para evitar espalhar qualquer possível contaminação.

Enquanto um dos policiais saiu para trazer o médico, Will Riker se dirigiu à sala de espera.  Não estava nada disposto a continuar ouvindo o papo furado ou as gracinhas do delegado.

Depois de alguns minutos, o comandante se sentiu um pouco entediado. Para espairecer, levantou-se e foi até a janela, na esperança de ver alguma coisa na paisagem que quebrasse um pouco a monotonia. Mas o que ele viu fez o seu sangue gelar.

O guarda que havia saído presumidamente para buscar o médico estava voltando. Porém quem vinha com ele dificilmente exerceria a medicina. O policial estava acompanhado pelos dois sujeitos que haviam saído atrás do homem do bar e que provavelmente o haviam matado.

Quando Riker começou a se afastar da janela, ouviu um ruído às suas costas e ao se virar, deparou-se com o delegado parado na porta da sala dele, lhe apontado uma pistola disruptora.

— Fique calmo comandante – disse Kibohr – pegue sua arma devagar e a coloque na mesa de centro. Sem gracinhas, por favor.

Riker tirou seu mini-phaser no bolso de sua túnica e o pôs sobre a pequena mesa.

— Agora, retire seu broche-comunicador (1) – continuou o delegado - e coloque junto com a arma, com cuidado e sem movimentos bruscos.

Will tirou seu comunicador e se inclinou para também colocá-lo na mesa. Porém, ao aprumar o corpo, posicionou o pé direito sob o móvel e inesperadamente o arremessou para o alto, na direção do homem armado, pegando-o de surpresa e o obrigando a se desviar para não ser atingido, fazendo com que ele se desequilibrasse e quase caísse. Aproveitando-se desta brecha, Ricker correu em direção à saída, pois sabia que se ainda estivesse ali quando os outros homens chegassem, estaria irremediavelmente perdido.

Assim que a porta automática se abriu deslizando para a direita, ele saltou para fora, caindo sobre os três homens que já começavam a subir apressados a escada do pequeno prédio, alertados pelo barulho. Os quatro caíram juntos na calçada e quando o que estava mais próximo do comandante tentou sacar uma arma, recebeu dele um potente soco no nariz, que o deixou praticamente desacordado. Um outro segurou Riker pelo braço, mas o oficial da Frota girou o cotovelo, acertando-o violentamente na boca e fazendo com que caísse de costas, completamente nocauteado. O terceiro deles, porém, apesar de estar um pouco grogue por ter batido a cabeça no chão, já estava começando a se levantar, enquanto o delegado surgia na porta, com a arma na mão. Vendo que a sua oportunidade de escapar estava se esvaindo, Will Riker ergueu-se rapidamente e correu. Quando havia se afastado cerca de trinta metros ouviu dois disparos. Um deles explodiu na parede pouco acima da sua cabeça. Mas o outro atingiu seu braço direito de raspão. A dor fez suas pernas vacilarem por alguns instantes, porém ele se reequilibrou e continuou a correr. Como as calçadas estavam cheias de turistas e os tiros começaram a espalhar o pânico entre eles, o delegado não pôde continuar disparando. Aproveitando a confusão, Riker conseguiu chegar até a esquina, de onde ainda pode ver de relance os homens ajudando-se a levantar. Provavelmente iriam se reunir, lamber as feridas e pensar em uma estratégia para capturá-lo. E ele precisava de um lugar para se esconder, se recuperar e tentar entender o que estava acontecendo.

 

 

Referência do Capítulo:

(1) O broche-comunicador é uma tecnologia desenvolvida pela Frota Estelar no início do século 24, que miniaturizou os comunicadores e os acoplou às insígnias dos seus oficiais e tripulantes, tornando a comunicação entre eles mais rápida e dinâmica. Eles também servem como marcador para transporte e para monitorar os sinais vitais de quem os usa.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Arquivos da Frota Estelar 7 - William T. Riker" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.