The Princess of Scotland escrita por Samy Meireles, Samara Meireles


Capítulo 18
The future is not like this




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Não que Annabeth estivesse notando, mas naquele almoço, Perceu e Luísa não apareceram. Ela procurou, com os olhos, por todo lugar no salão, mas não o encontrou. Provavelmente Alex percebeu, quando ela parou na mesa dele, que gentilmente conversava com Silvie, mas olhou para ela no mesmo momento em que ela procurava por seu amigo. Alexander sorriu para ela, e fez um aceno indicando não, obviamente respondendo a pergunta feita pelos olhos por Annabeth. 

—Você parece distraída. - Francis comentou - Algo a incomoda?

—Deve ser as preocupações com o mariage. — Cláudia disse 

—Você pode não saber, frère, mas o casamento para nós mulheres é sempre mais preocupante. - Isabel complementou 

Francis riu. 

—Aproveite bem seus últimos dias conosco Isabel, logo será rainha da Espanha. Compreendo que deve entender perfeitamente a situação de Annabeth. 

—Com toda certeza, François. - o sorriso debochado de Isabel deixava um claro aviso a subestimada vida de uma mulher , ela, como ele, também seria rainha um dia, e tendo em vista que a Espanha possui um regime diferente do francês, sabia que algum dia alguma mulher poderia vir a reinar sozinha. 

—Está animada Annabeth? - Margarida perguntou 

—É claro. - a loira sorriu em resposta

—Meu pai fez arranjos para que me case com Henrique de Bourbon. Estou ansiosa para ver se dará certo. - Margarida comentou com entusiasmo 

—Tenho acompanhado de perto, minha soeur. - Francis disse - Tudo parece bem encaminhado com Henrique Bourbon. Talvez em pouco tempo e digo pouco tempo mesmo, você estará casada com ele. - Francis sorriu ao ver o entusiasmo da irmã

—E quanto ao resto de nós? Tenho certeza que papai já tem planejado uma bela corja de casamentos. - Charles disse, um tom debochado, um jovem que via os obrigações reais como um fardo 

—Bom, vocês querem nomes? - Francis olhou para todos, nesse almoço em particular, todos os filhos de Henry II encontravam-se juntos a mesa, mas o rei e sua rainha haviam preferido um almoço particular em uma área reservada

—Isso inclui nós? - Diana rapidamente perguntou, referindo a ela e seus irmãos bastardos

—É claro.

—Pois então seja claro irmão. Revele tudo. - Alexandre pronunciou-se pela primeira vez

—Pois bem… - Francis suspirou - Isabel já está, obviamente acertada com Felipe II da Espanha. Cláudia, devo informar em primeira mão que Charles III da Lorena é o escolhido. 

—Charles? - Cláudia indagou 

—Sim, papai achou que ele seria uma boa escolha, tendo em vista seu contato direto com o trono dinamarques. Não é uma opção ruim, não acha?

—Certamente não, eu esperava um estrangeiro, mas Charles e eu crescemos juntos, será mais fácil. 

—Que bom! -Francis sorriu 

—Continue irmão. - Alexandre pediu 

—Bom, Charles, papai planeja que se case com Isabel da Áustria. Alexandre Eduardo, ainda existem muitas possibilidades para ti, mas nada confirmado. 

Alexandre suspirou aliviado. 

— E eu? - Hércules Francis perguntou, a expectativa revelado em seus olhos

—Você é muito jovem, provavelmente será o último a casar, e um dia, quando ficares mais velho, eu mesmo decidirei uma boa moça para ti. - Francis respondeu com uma piscadela - Por fim, Diana é a última com uma escolha em pauta.

—Quem? - Diana questionou 

— Horácio Farnésio, Duque de Castro. Com as ligações de mamãe na Itália, achei que ele seria um bom partido. 

—Você escolheu?

—O pai tem ideias contrárias as minhas, eu os escolhi a dedo pensando nas personalidades de vocês. Mandei detetives para investigar suas vidas, e assim tomar a decisão, mas, a decisão final  ainda é de vocês. 

 Annabeth olhou para Francis surpresa, um homem a frente de seu tempo, com certeza. 

—A decisão final do meu casamento com Felipe não foi escolha minha. - Isabel contestou 

—Isabel, você é a única aqui que será rainha, a proposta feita por Felipe era ótima demais para não ser aceita por nosso pai, eu não pude intervir, sinto muito se terá um casamento infeliz, mas eu tentei faze-lo mudar de ideia e deixar que você pensasse melhor no assunto, ele não me ouviu, ainda não tenho total poder sobre esse país e pelas decisões. 

Isabel riu debochadamente, demonstrando não acreditar no que Francis falava.

—Eu terminei meu le déjeuner.  - Henri, filho de Jane Stuart disse - Vou cavalgar um pouco, alguém gostaria de vir comigo? 

—Eu vou. - disse Alexandre

—Eu também. - Margarida disse

—Poderia ir atrás de Louis Henri, ele não tem sido visto. - Francis comentou

—Esperava que ele desfilasse pela corte dado as últimas situações? - Isabel questionou, o deboche estampado

—Não. - Francis respondeu sinceramente - Mas esperava cordialidade da parte dele, certamente papai vai brigar, eu pretendia evitar outra discussão entre ele e seu favorito.

Uma risada baixa ecoou de todos os irmãos.

— O que foi? - Francis olhou para cada um 

—Acha mesmo que Louis  é o favorito de papai? - Cláudia questionou

—Eu acredito nisso, ele deu provas claras sobre isso, inclusive… - olhou para Annabeth - Com todo respeito a você, Annabeth, se eu não tivesse pedido e intervido, eu não me casaria amanhã com Annabeth. 

—Eu duvido muito, Francis. - Henri disse

—O pai faz todas as suas vontades Francis. - Diana concordou com os demais - Não duvido que faria qualquer coisa para te proteger. Se pudesse, mudaria até o futuro. 

Um estalo percorreu a mente de Annabeth naquele momento. A rainha lhe havia dito a mesma coisa naquela manhã. Ela estava cética para o assunto, mas talvez, talvez, existissem pontos sem nó para descobrir a verdade.

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—Esse casamento lhe agrada? - perguntou Percy 

Luísa pensou por um instante. 

—Se é do agrado de meu primo Francis, é do  meu. 

—Então suas obrigações com a coroa vem antes de seu coração?

—Certamente, lord Percy. É o preço que se paga por nascer na realeza. 

—Deseja fugir um pouco dela? 

—Não acredito que exista uma maneira de fugir da realeza, está no seu sangue, está na sua linhagem, está no seu título, está em quem você é. 

Percy suspirou. 

—Tem razão, é inevitável. 

Ele a parou, ambos caminhavam pelos jardins. Segurou suas mãos. 

—Sei que este casamento é mais uma obrigação do que uma benção, mas eu pretendo torna-lo o máximo agradável possível. Não quero desavenças contigo, quero que se torne mais do que uma esposa, quero que seja uma amiga, uma companheira até que eu morra. 

As palavras de Percy pareciam ser de um homem apaixonado, na visão dele, mas tendo em vista a situação em que se encontrava, pedir para que Luísa fosse uma amiga e confidente era o mínimo. Ele aprenderia a ama-la, com o tempo talvez, quem sabe quando o primeiro filho nascesse. Mas sabia bem que uma parte de si deseja ardentemente Annabeth, por mais que reprimisse o desejo, ele estava ali e sempre estaria. 

—O senhor é um homem interessante, Percy. Se me permite, acredito que seu ego esteja falando mais alto do que sua cordialidade, afinal aceitou casar-se comigo por título e poder. 

—Em partes, teu pensamento é correto. - ele concordou, olhando em seus olhos, então calmamente pegou sua mão - Mas como disse antes, desejo que sejamos felizes, não quero que seja um fardo para ti. Talvez possamos cumprir com nossas obrigações e nos divertir. 

—Talvez possamos. - ela sorriu 

Percy deu um passo à frente, esperando encontrar sua boca no caminho, mas seus olhos avistaram de longe a figura loira e deslumbrante vindo ao seu encontro. 

—Lord Percy, princesa Luísa. - Annabeth cumprimentou 

—Alteza. - Luísa fez uma breve reverência, dado a hierarquia em que ela se encontrava

—Poderia me dar um momento a sós com Lord Percy. Tenho assuntos internos para tratar com ele. 

—Que assim seja. Com sua licença. - Luísa sorriu para Annabeth e apertou a mão de Percy antes de sair

Annabeth podia não mencionar, mas aquele pequeno ato fez seu rosto avermelhar, de raiva e ciúmes.

—Está bem, Annabeth? - Percy perguntou - De forma bruta ficaste vermelha, é o sol? Vamos para sombra se assim preferir.

—Estou bem, não preciso ir para sombra. Caminhe comigo. - ela lhe estendeu a mão, ele pegou, ela indicou para que eles voltassem pelo caminho por onde ele e sua noiva tinham vindo

—O que deseja tanto falar? - ele perguntou depois de alguns minutos de silêncio - Gosto do meu tempo com Luísa, ele não é muito, logo devo aproveita-lo bem.

—Terás bastante tempo para estar ao seu lado quando se casarem. 

—Suponho que minhas obrigações como Marquês de Ajaccio devam ocupar meu dia.

—E ainda sim terá ela em seus braços durante a noite.

O tom ríspido dela fez Percy arquear uma sobrancelha em duvida dos sentimentos expressados na fala

—Você também terá alguém para lhe acompanhar durante a noite. Quem diria que seríamos tão privilegiados?!

Um casal de nobres passou por eles, fazendo uma reverência

—Não deseja voltar ao seu tempo? - ela perguntou, sem olhar para ele

—As circunstâncias não são boas. Não desejo arriscar minha vida. 

—Na minha antiga concepção diria que você deve voltar ao seu tempo e o ciclo perfeito continuar. 

—E na atual?

—Pela manhã conversei com a rainha. Ela me disse que teme pelo futuro, acha que algo está errado.

—Explique melhor.

—Ela acha que o destino foi… alterado.

Percy parou bruscamente. 

—Isso não é impossível?

—Sim, é. Mas ela acredita que algo está errado, e depois de muito pensar não posso descartar a possibilidade. 

—Não acredito que isso seja possível. Você deixou bem claro que não existem falhas.

—Você é uma falha.

—Ou um plano que não foi revelado a ti. 

Annabeth suspirou.

—Será um plano da deusa mandar um príncipe ao passado? E quando ele volta ser acusado de assassinato?

—Não conhecemos os caminhos da deusa, você me disse isso.

—Eu disse sim, mas agora reflito melhor.

—Annabeth, os preparativos para o casamento não estão te fazendo bem, acho que você está paranóica. 

—Eu só estou pensando melhor…

—Acho melhor você ir, sei que tem vários preparativos para terminar , o grande dia é amanhã então…

Annabeth segurou as mãos de Percy, em uma súplica para que ele a ouvisse.

—Não estou paranóica, algo está errado e eu não consigo juntar os pontos. Por favor, você veio do futuro, deve saber de algo.

Percy olhou para suas mãos unidas, um sentimento de desejo lhe percorreu. Olhou para Annabeth, seus olhos cinzas tempestade, seu cabelo loiro ondulado, seu belo formato de rosto… tudo nela o encantava. Mas ele não podia tê-la, e nada poderia mudar isso.

—É melhor voltarmos. - Ele desvencilhou-se de suas mãos - Não quero mais falatórios a respeito de nosso… relacionamento.

Annabeth suspirou, não aceitou a mão dele para acompanha-la e foi na frente, sozinha.

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Annabeth estava paranóica com o casamento, certamente era isso, pensou Percy. 

—Ei, Percy? - Alex chamou

—O que? - Percy o olhou, claramente distraído

—Eu disse que eles chegaram. 

—Ah! Que bom, devemos recebê-los? 

—Com toda certeza. Os outros também virão, mas nós somos os encarregados. 

—Devemos ir agora? 

—Prontamente. Você irá com essas… roupas? -  Alex o olhou de baixo a cima, referindo-se a sua nova adaptação a moda francesa

—Não tenho tempo para trocar de roupa. - ele suspirou - Se já estão aqui, é melhor partimos logo para recepcioná-los. 

—Se você prefere assim. - Alex concordou - Já pedi que preparassem os cavalos, estão nos esperando. 

Percy assentiu. Eles seguiram até a saída do palácio, de longe já avistaram Ronald, Cam, Keith e  Dun todos já montados e os aguardando, Cam e Dun seguravam os cavalos de Percy e Alex. 

Abair dàil. (Que demora ) - Ronald disse assim que eles se aproximara

Percy tomou as rédeas de seu cavalo e montou, Alex repetiu o processo. 

Bha sinn trang. ( Estávamos ocupados) - Alex respondeu

A-nis nach eil iad ach aig cùirt nam fear truagha seo, tha e soilleir gu bheil iad trang. (Agora que só andam na corte desses homens pomposos, é claro que estão ocupados.) - Keith soltou

—É melhor irmos. - Percy disse, já fazendo com que o cavalo andasse 

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—Lá está! - Alex indicou com a cabeça - A comitiva real escocesa bem a frente. 

Eles cavalgaram mais rápido, poucos minutos depois, alcançaram a comitiva. 

—Hian! - Alex gritou para o homem que vinha na frente

—Ailig, math ur faicinn. — Percy ouviu Hian responder

—Que bom que está amigo. - Alex disse sorrindo

A comitiva parou e logo o rei Frederick colocou a cabeça para fora, procurando saber o que se passava. Alex guiou o cavalo até mais perto da carruagem onde ele se encontrava

—Fàilte don Fhraing, Ur Mòrachd. (Bem vindo a França, Majestade. ) - Alex disse fazendo uma reverência com a cabeça - Is mise Alexander Castellan, caraid agus neach-dìon do nighean. Tha mi an seo gus do thoirt don lùchairt. (Sou Alexander Castellan, amigo e protetor de sua filha. Estou aqui para leva-los até o palácio. )

Glè mhath, bhruidhinn mo nighean mu do dheidhinn. Tha e math fios a bhith aice gu robh cuideigin aice bhon taigh airson a dìon air a ’mhisean ... seo.  (Que bom, minha filha falou de você. É bom saber que ela teve alguém de casa para protege-la nessa... missão. )

Alex assentiu em forma de agradecimento. 

—Cia mheud saighdear a thug thu leat, A Mhòrachd? ( Quantos soldados trouxe, majestade? )

Cóig- deug. 

—Okay.  - Alex olhou para trás, duas carruagens e 15 homens - Leanaidh sinn!— ele fez um sinal com a mão para que eles seguissem

Alex pôs- se ao lado de Percy, que distraidamente seguia um pouco mais a frente

—O rei trouxe quinze homens, alguns soldados normais pelo que vi, e outros da guarda Luchd.  

—Quantos da guarda Luchd? - Percy perguntou 

—Seis. Walace, Ian, Paden, Baird, Colin e Lean. Todos sobre responsabilidade minha e sua, se ficar. 

Percy o olhou. Sabia bem o que ele queria dizer. Percy tinha ganhado uma bela propriedade em Córsega, obviamente depois do casamento ele se mudaria para lá. É claro que ele tinha a opção de ficar na corte, acompanhando de perto tudo que acontecia, mas a vida longe da corte era bem melhor, sem todas aquelas intrigas e problemas que cortes sempre teem.   

—Não pretendo ir embora tão cedo, Alex. Não se preocupe, sei que vai sentir muito a minha falta, mas ainda tem tempo. - ele sorriu para o amigo, que devolveu o gesto

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Aproximadamente três horas depois, eles chegaram ao palácio. Na entrada, passando os jardins, Annabeth, Francis e toda a família real francesa os esperava. 

Percy passou na frente, poucos metros de distância de onde eles estavam, desceu, prontamente um servo veio para levar seu cavalo. Ele andou até onde eles estavam, fez uma reverência para o rei e sua família e pôs- se ao lado de Luísa, que junto ao restante estava. 

Todos esperavam até que as duas carruagens chegassem. Ao pararem as duas carruagens, dois servos prontamente se posicionaram e abriram as portas. 

O rei Frederick saiu primeiro, logo parou e ofereceu a mão para que sua esposa, Mahina, saísse. Logo atrás, Matthew e Robert sairam. 

—Rei Henry. - Frederick reverenciou com a cabeça - Rainha Caterina. 

—Rei Frederick. - Henri devolveu a reverência - Rainha Mahina. Príncipes. 

—Estamos honrados em recebê-los. - Francis tomou a palavra 

—Estamos honrados em vir, Delfim. - Frederick respondeu

—Papai. - Annabeth o abraçou - Tha mi gad ionndrainn !

—Nighean mo ghràidh

—Por favor, vamos entrar, terão mais tempo para se falarem antes do almoço. - Francis disse, já oferecendo a mão para a noiva

—Certamente, delfim.- Frederick concordou - Estou curioso para provar mais de sua culinário. 

—Vai adorar.

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Mesas foram postas lado a lado para que todos da família real francesa e escocesa sentassem juntos. O almoço, foi muito apreciado por ambas as famílias, Annabeth no entanto, apesar da saudade do pai e dos irmãos, Não tirava os olhos de Percy e Luísa. 

A intimidade que eles pareciam ter a deixava intrigada. Como em tão pouco tempo pareciam se dar tão bem?

Ao lado de Annabeth, Frederick observava cautelosamente a filha olhando para aquele jovem casal com certa desconfiança do que se passou durante o tempo em que ela estava fora. Francis estava muito ocupado conversando com o pai para reparar. Logo após o almoço, Annabeth convidou o pai para dar uma volta pelo Palácio, conhecer seu interior e exterior.

—Aquele rapaz, na mesa um pouco a frente, eu não o conheço? - Frederick perguntou

—Sim, você o viu no dia do ataque francês. Eu estava conversando com ele poucos minutos antes.

—Sim, me recordo. - Ele fez uma careta - Ele fugiu com você não?

—Sim, lord Percy veio comigo.

—Lord? - A pergunta saiu com surpresa 

—Sim, inglês. 

—Notei que ele conversava com uma moça no almoço, eles pareciam bem íntimos, e pela mesa onde ela estava, suponho que é alguém da alta classe. 

Annabeth olhou para o pai, ele sempre fora um homem e observador.

—Sim, Luísa Valois, sua noiva.

—Noiva? 

Ela indicou com a mão o caminho que deviam seguir.

—Consegui esse bom casamento para ele como recompensa por ter me protegido no tempo em que estive fora.

—Interessante forma de recompensa. E bem suspeita também.

—Por que dizes isto meu pai?

Frederick riu.

—Um casamento com alguém da corte, uma princesa em específico, gera burburinhos.

—De que tipo?

—Do tipo interesse amoroso. 

Annabeth o olhou quase assustada pela contestação.

—Jamais. É gratidão.

—Gratidão demais, eu suponho. - Ele arqueou a sobrancelha - As más línguas francesas, tenho certeza que dirão que ele será seu amante.

—Você sabe que eu seria morta se tivesse um amante. 

—De fato, a cultura da sociedade te impõem a isso. Mas, dado as circunstâncias em que foi criada, não me surpreenderia que por amor, talvez você arranjasse um amante.

—O que garante- te que não amo Francis?

—Seu noivo sentou -se do outro lado da mesa e você mal notou. O inglês sentou -se ao lado da noiva, e você passou a olhá-los quase que sem parar. 

Annabeth andou em direção a um banco e sentou à espera do pai.

—Não tenho como explicar meus olhares direcionados a eles. - ela respondeu quando ele se sentou ao seu lado

—Você irá se casar amanhã, eu já  não posso mais me intrometer na sua vida particular. Mas eu diria que deve definir bem seus sentimentos, apesar deles não valerem nada diante do seu casamento. Pelo menos você pode escolher.

—Você também pode, pai.

—Mas é diferente. Eu sou homem. A oportunidade que você teve foi inédita. Não sei o que a deusa anda pensando, mas com certeza é revolucionário. 

—Pai, sinto que algo não está…

—Princesa! Com sua licença. - Silvie fez uma reverência - Alguns toques finais para o casamento precisam de sua atenção.

Annabeth assentiu e levantou.

—Lamento que nossa conversa não possa prosseguir pai, mas o dever me chama. 

—Vá, minha filha, teremos bastante tempo. 

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—Annabeth este é François Clouet. O maior e melhor pintor do nosso tempo.  - Caterina apresentou - Ele vai pintar um quadro seu e de Francis antes do casamento. Francis o fez pela manhã, agora é sua vez.

—Ah, é claro. Ótima ideia, majestade. 

—Estou honrado em prestigiar a coroa com meus talentos. -  François Clouet disse

—François já prestou vários trabalhos para nós, tenho certeza de que ficará encantada com suas obras. - Caterina acrescentou 

—Poderia começar? - ele já se apressou

—É claro.

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Percy passou a tarde atordoado. Algo Lhe incomodava profundamente. 

As palavras de Annabeth lhe pareciam paranóicas antes, mas agora começavam a fazer o mínimo sentido. 

Ele tentou se lembrar do futuro, procurava na sua mente registros da história. Entre suas tentativas de lembrar e dar atenção a Luísa, ele se perdia no que fazer. 

Talvez fosse melhor deixar para lá. 

—Percy, estava pensando… - Luísa começou - Assim que nos casarmos quero ir viver em Córsega.

—O que? - ela tirou ele de seus devaneios 

—Sim, em Córsega. A propriedade precisa ser cuidada, os servos precisam de um mestre. Faz tempo desde a última vez que estive lá.

—Viver lá? Não frequentar a corte?

Luísa o analisou.

—Você quer ficar na corte? Tinhas me dito que preferia ficar longe das intrigas.

Ele suspirou.

—Sim, de fato. Mas seis homens foram trazidos para a guarda pessoal de Annabeth, eu e Alex somos responsáveis por eles. 

—Acho que Alex pode tomar conta de seis homens. - ela sorriu

—Não, são dez ao total. Ele precisa de mim.

Luísa entristeceu, desconfiando dos motivos para ele querer ficar.

—Que tal virmos de tempos em tempos? Talvez a cada lua…

—É possível. Uma ótima ideia. - Ele sorriu para ela - Teríamos mais paz, certamente.

—E privacidade. - ela completou com um sorriso tímido

—Sim, privacidade. 

************************************

Percy deixou Luísa à mercê de suas amigas nobres e se retirou para o quarto. O sol estava forte lá fora, beirando a umas três horas, ele estava cansado de passear pelos jardins, parecia que só sabiam fazer isso. Na Inglaterra, no bom tempo, ele tinha os irmãos e os sobrinhos para ocupar seu tempo, afazeres reais até. Aqui, ele só tinha, por enquanto, passeios com Luísa. 

Deitou na cama e pôs - se a pensar no que lhe afligia.

*******************************

Percy acabou pegando no sono, quando acordou, o sol se punha no horizonte. Ele levantou rapidamente, suor escorria na sua face, ele estava nervoso, ele finalmente tinha lembrado de algo. 

Precisava urgentemente procurar Annabeth. Precisava contar o que tinha lembrado. Ele foi até a mesa, despejou água no copo que tinha ali, suas mãos tremiam e teve dificuldade para colocar água no copo. Ele bebeu tudo num gargalo, tentando se acalmar. 

Seu coração estava acelerado, sua respiração ofegante, seu corpo todo começou a tremer. 

—Eu preciso… eu preciso avisá-la. - Ele murmurou, limpou o suor da testa com a palma da mão - Eu preciso…

Ele tentou se recompor, era como se algo o estivesse impedindo de se lembrar esse tempo todo, ele passou horas tentando lembrar de seus estudos genealógicos, tudo parecia uma nuvem branca, um nevoeiro cobria os fatos. Mas o sonho, o sonho o tinha lembrado.

 

Sonho on

 

Percy estava nos jardins, nos jardins de casa. Ele olhou ao redor, parecia um dia normal.

—Irmão? - A voz de Tritan veio de perto e ele se virou para acha-lo

—Tritan! - Percy correu para abraça-lo

— O que foi? O que há? Parece que não me vê a meses! 

Percy o abraçou mais forte.

—Sinto muito, sinto tanto Tritan…

—Pelo que Percy? - ele se afastou - Que mal fez?

—Eu só sinto saudades de você.

—Mas eu estou aqui o tempo todo.

—Eu sei, eu sei… foi só um sonho ruim.

Tritan sorriu.

—É melhor se recompor, a comitiva francesa está aqui. 

Percy congelou.

—A comitiva francesa?

—Sim, não se lembra? Teléfassa veio para oficializar o casamento com Agenor. 

—Casamento? Por que ?

—Você sabe…

—Por que Tritan? - A voz de Percy subiu

—Está  para reforçar a aliança entre as nações, eu não estou entendendo…

—Como assim reforçar? Quem tem aliança com os franceses Tritan?

Tritan riu, não entendia absolutamente nada do surto de Percy.

—Você sabe, você estudou nossa genealogia. 

—Quem Tritan?

—Momo, irmã do nosso bisavô James Urano, filha de Nix I, nossa tataravó. 

A cabeça de Percy explodiu. É claro, como ele não tinha pensado nisso antes. 

—Sinto sua falta, Tritan. - Percy disse - Sinto mesmo.

—Eu não consigo entender…

A visão de Percy ficou turva, a imagem de Tritan e de todo o cenário se apagou

 

Sonho off

 

Agora Percy sabia. Teléfassa fora mandada como um reforço àquela antiga aliança. 

Momo se casou com Francis II, eles tiveram uma filha, essa menina casou com o filho da prima de Francis. Luísa de Valois,prima de Francis, teve um filho,Louis. Louis e Carina Nix, filha de Momo e Francis se casaram e tiveram Henri, Henri se casou com a filha ilegítima de Henrique III (Alexandre Edward), que era irmão de Francis, que morreu sem herdeiros masculinos. De Henri e Margarida, nasceu Teléfassa. Na opinião do atual rei, Henrique IV ( que herdou o trono após as morte de Francis,Charles, Alexandre e Hércules), casar sua sobrinha Margarida com Henri, que também era seu sobrinho, sendo ambos primos, era uma ótima ideia. Ele não sabia o que o futuro lhe reservava, até por que, numa imaginou ser rei, dado que três dos irmãos de sua esposa e prima ( Margarida de Valois) reinaram antes dele. Logo, casar dois primos, com direitos ao trono, mantinham o reino sob proteção. 

O casamento de Teléfassa e Agenor só mantinha o pacto e a amizade dos países,  sendo ambos ligados à coroa um do outro. 

Percy precisava contar a Annabeth. Precisava dizer que achou a falha. 

Ele controlou a respiração, respirou e expirou várias vezes até que fosse normalizada. 

Era necessário que andasse rápido, e assim o fez. Foi até o quarto dela, ninguém atendeu. Perguntou no caminho por Francis, para dois soldados que vinham, eles lhe disseram que ele estava com o rei. Logo, Annabeth não poderia estar com ele. Percy procurou em todos os lugares possíveis, desesperado, pediu para uma criada, que afirmou tê-la visto com a Rainha horas antes. 

—Où?

—Dans la chambre privée de la reine, j'ai peur de devoir demander la permission d'entrer. 

Merci. Où se trouve?

—Tout droit.

—Merci.

Percy seguiu em frente, como ela tinha dito. Uma grande porta dourada com o brasão, que ele imaginou ser de Catarina, pintado à frente.

Bateu na porta, esperando ser atendido. A porta se abriu e revelou Silvie.

—Lord Percy, o que deseja?

—Preciso falar com Annabeth.

—Ela está ocupada no momento. 

—Com?

—Um retrato está sendo pintado, receio que não possa fazer nada.

—Diga a ela que é de extrema urgência que nos falemos nesse momento.

Silvie olhou para trás, Annabeth continuava parada enquanto o pintor a retratava, ela tinha uma expressão já cansada. 

—Percy, Sinto muito, mas não posso interromper. 

—Diga a ela que é sobre Ùine. Ela me atenderá.

—Úune?

—Ùine. 

—Ùine. - ela corrigiu-se - Vou tentar. Espere aqui.

Ela fechou a porta.  Minutos depois ela apareceu novamente. 

—Se esperar mais meia hora, ela vai sair, mas nesse momento, a rainha está a acompanhando e não a deixará sair. 

—Eu espero. 

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Annabeth não via a hora de terminar aquele maldito quadro. Estava exausta, e não teria muito tempo para descansar pelos próximos dias. Quando Silvie tentou falar-lhe no ouvido que Percy deseja falar com ela, Catarina ordenou que falasse em voz alta, obedecendo Silvie declarou que o Lord Perceu desejava falar sobre ùine. Annabeth não demonstrou o interesse pela palavra dita na frente da rainha, mas pelos próximos minutos, aquela palavra a levou a diversos pensamentos.

Percy fora tão cético quando ela tentou lhe falar. O que despertou sua curiosidade agora?

—Óh, meu filho! - Catarina se levantou - Que bom que veio. 

Francis havia entrado pela porta secundária, não vendo Percy na porta principal.

—E como está ficando o quadro de minha noiva? - ele olhou para François

—Garanto que belíssimo, Delfim. - o mesmo respondeu

—Por mais que eu admire seu talento para  captar a beleza em suas obras, monsieur Clouet… - ele olhou para Annabeth - Nada, nem ninguém será capaz de personificar tamanha beleza. 

Annabeth corou, o noivo soltou uma risadinha.

—Concordo plenamente, votre altesse. - Clouet concordou - Estou no fim, mais alguns minutos e poderá roubá-la. 

—Prenez le temps nécessaire. (Leve o tempo necessário.) - Catarina respondeu

Mais alguns minutos se passaram, Francis e a mãe conversavam baixinho quando Clouet falou:

—Está pronto!

—Finalmente… - sussurrou para si Annabeth

—Deixe me ver. - Francis disse, ele se aproximou do quadro - Está perfeito, parabéns monsieur Clouet, captou a beleza de minha noiva de forma extraordinária. 

—Merci, dauphin. 

—É melhor vocês descansarem. - Caterina começou - Amanhã o dia será longo, se quiserem, podem optar por jantar em seus quartos.

—Acho bom. - Francis começou - Talvez quem sabe até juntos na sala privativa…? - ele olhou para Annabeth

—Pode ser. 

—Que bom, então, o que acha de irmos agora? Jantar mais cedo nos deixará bem descansados para o casamento.

—E para lua de  mel. - Caterina completa com um sorriso, Francis a olhou repreensivo - O que? A França precisa de herdeiros. Quero vários netos. 

Annabeth corou. 

—Veja minha mãe, está constrangendo minha noiva. 

—Bobagem. É melhor irem logo, vão por dentro, é mais próximo ao salão privativo. 

—É claro. Vamos? - Francis ofereceu a mão para a noiva

Esquecendo-se completamente de Percy , Annabeth aceitou a mão do noivo. 

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Silvie abriu a porta, Percy estava sentado no chão, esperando por Annabeth. Quando viu Silvie, ele levantou rapidamente.

—Onde ela está?

—Sinto muito Lorde Percy, o delfim e ela saíram pela porta secundária para a sala privativa de jantar. Provavelmente depois disso ela vai pro quarto, descansar para o casamento. Acho que não a verá até amanhã. 

—Eu preciso realmente falar com ela. É urgente. 

—Não posso fazer nada. 

—Mas pode me avisar quando ela chegar no quarto?

Silvie arqueou a sobrancelha. 

—Não pediria se não fosse urgente. - ele explicou

Ela suspirou. 

—Está bem, peço pra alguém te avisar. 

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Percy não aguentava mais, já era tarde da noite, umas nove horas. Todo esse tempo ele havia aguardado uma mensagem de Silvie. Como ela não veio, ele decidiu ir ao quarto dela. O caminho estava vazio, considerando o horário, muitos já haviam ido dormir, tendo em vista o grande dia de amanhã. Ele virou no corredor que dava para o quarto de Annabeth, sua porta estava fechada, ele bateu algumas vezes, sem querer parecer desesperado. A porta não abriu, ele bateu com mais força.

—Percy? - Clara chamou

—Ah, Bonsoir, madame Clara. 

—Comment Allez vous, Percy?

—Bien. Et vous?

—Bien. 

—S'il vous plat, Annabeth, chame-a. 

—Pardon, monsieur. Ela já foi dormir. 

—Poderia chama-la mesmo assim?

—Acredito que não, eu saí faz pouco tempo, e ela estava apagada. Não acho que consiga acorda-la, amanhã será um grande dia pra ela.

—É de extrema urgência o assunto.

—Sinto muito, lord Percy, mas não é possível. 

Percy suspirou, ele não podia entrar no quarto dela, não lhe era certo e se alguém visse, causaria murmúrios. Mas ele não desistiria, amanhã bem cedo conversaria com ela.

********************************************************

Assim que o sol nasceu, Percy levantou, ele quase não tinha dormido, raciocinando todos os detalhes que antes não tinha percebido. Quando saiu pelo corredor, vários funcionários já estavam acordados para o grande dia. 

—Bonjour Sir. - disse um servo ao passar por ele

—Bonjour. 

Ele andou até o corredor de Annabeth, de relance, viu Silvie adentrar no quarto. Ele correu para alcança-la, a mão chegou na porta antes que ela se fechasse e ele entrou atrás de Silvie. 

—Percy? - Annie chamou

—Annabeth. 

Ela estava na cama, uma bandeja com seu café da manhã já preparada 

exclusivamente para ela. 

—Désolé, je ne t'ai pas vu entrer. - Silvie disse 

—Tudo bem. Peut Aller. 

Silvie assentiu, de cabeça baixa passou por Percy e saiu. 

—Aprendendo o francês? - Percy perguntou com um sorriso

Ela sorriu de volta. 

—Frases básicas. É o meu país afinal. 

—Futuro país. - ele a corrigiu 

—O que quer?

—Preciso lhe contar algo, urgente. - ele quis se aproximar, mais a cordialidade o impediu, tendo em vista que ela estava em trajes de dormir, e com certeza não era certo que ele a visse daquela forma

Annabeth arqueou uma sobrancelha, desconfiada

—No dia do meu casamento você resolve contar algo?

—É de extrema urgência, se não fosse eu obviamente não teria invadido seu quarto.  

—Interessante uso de palavras. É melhor você falar logo, não tenho muita privacidade ultimamente. - ela suspirou

—Eu descobri algo. 

—O que?

—Sobre o futuro. 

Annabeth se ajeitou na cama.

—Defina. 

—Você não pode se casar com Francis.

Annabeth gargalhou.

—Oras Percy, isso tudo é ciúmes?! Depois de tudo que passamos, depois de você ter aceitado se casar com Luísa e ainda me vem com essa? 

Percy suspirou. 

—Não é isso… É que… - ele gaguejou -Olha…

A porta foi aberta, Clara entrou. 

—Excuse - moi. - ela disse - Você precisa se apressar princesa.

Percy apertou os dedos da mão.

—Veuillez partir maintenant. J'ai une question urgente et je ne veux pas être interrompu!

A voz de Percy saiu firme, o tom claramente alterado fez Clara assentir e sair sem nem olhar para Annabeth. 

Annabeth colocou a bandeja do seu lado e levantou-se. Caminhou até Percy. Percy seguiu-a com o olhar.  Quando ela parou na sua frente, ele desviou o olhar, não querendo ser indelicado.

—Olhe pra mim. - ela disse, puxando seu rosto com a mão, obrigando-o a olha-la - Por que não devo me casar?

Percy balançou a cabeça. Ele levou uma mão para o rosto dela e acariciou levemente,então passou para os seus cabelos, Annabeth fechou os olhos com seu toque. 

Lembrado por seus pensamentos, Percy parou bruscamente, tirando sua mão dela e colocando ao lado do corpo.

—Não pode se casar com Francis, pois o futuro não é assim. 

A expressão de Annabeth continha dúvida. 

—O que quer dizer?

—Francis II casa-se com Momo, filha de Nix I. 


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