O espadachim e o deserto. escrita por Tasiell


Capítulo 1
1° Capítulo - A espada nos conecta


Notas iniciais do capítulo

Olá, querido leitor.
Você provavelmente caiu aqui de paraquedas. E não é culpa sua, este é o primeiro conto que decido compartilhar. Mas é apenas parte de um enorme aglomerado de histórias conectadas. Então algumas coisas podem não fazer muito sentido, mas a principal delas é o nome "Lords", que não esta escrito errado, é apenas uma raça desse universo capaz de controlar a pressão atmosférica.
Espero que se divirta :)



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A paisagem era de pura desolação, a areia seguia infinitamente em todas as direções, tingida de vermelho pelo sol poente e contrastando com o alaranjado do céu. Minha boca pedia água, e minha cabeça latejava pela falta dela e pelo excesso de luz. Foi quase no limiar de minhas forças que cheguei ao meu destino. Um homem estava sentado como se meditasse. No começo acreditei ser uma miragem, pois areia cobria partes seu corpo, quase o tornando uma estátua. Não havia nada em nenhuma direção, e o homem não carregava nada além de uma katana. Sua pele era escura, e não possuía um fio d cabelo em sua cabeça. Usava apenas um quimono e permanecia imóvel, mas mesmo comigo chegando pelas costas, e a mais de 20 metros, ele falou. E pude ouvir como se estivesse do meu lado.  

— Quem é você? - Ele perguntou.  

Samus. - eu falei alto - Amaterasu. 

— Não perguntei seu nome. Perguntei quem é você. 

O que mais eu poderia ser? 

— Um elfo guerreiro, vindo de Sellen, do Reino Oeste. 

— Sua raça ou de onde vem pouco me importam. Perguntei Quem é você. 

— Sou... Apenas um Espadachim. 

— Então por quê não me disse antes? 

Ele se levantou, ainda de costas, e deixou sua camisa cair, revelando diversas cicatrizes por todo o comprimento de suas costas e algumas na base da nuca, como se uma lâmina cega tivesse tentado decepa-lo diversas vezes. 

— Eu sou um Espadachim, assim como você, e a sua saída desse deserto está na minha morte. E esta é Fio Nascente – Disse o homem, acariciando o pomo de sua espada, uma brisa lenta e gélida percorreu o espaço que nos separava enquanto ele fazia o movimento de afeição em sua arma. 

Limitei-me a observar, sua postura não vacilava, e mesmo de costas, pude sentir que seu olhar era intenso ao observar aquele horizonte desértico. Minhas katanas repousavam no meu quadril esquerdo, ouro branco e dourado tão límpidas que pareciam ignorar a sujeira do deserto. Senti a energia delas quando apoiei minha mão em seus corpos. O Homem respirou fundo, e alto o suficiente para que eu tivesse um sobressalto. 

— Antes de continuarmos – ele disse. - Lhe contarei uma história e lhe darei a escolha, espadachim. 

— Não sou fã de histórias de estranhos, se me permite dizer. 

Senti novamente sua respiração pesando o ambiente. 

— Então lhe darei primeiro a escolha, depois a história... 

Concordei com a cabeça, sabia que isso bastava para que ele continuasse a falar. 

— Quando anoitecer, dentro de poucas horas, serei invencível. Somente o brilho do Astro Rei é capaz de impedir minha força total. - Outro suspiro – durante este tempo, lhe contarei minha história e a de minha espada. Durante este tempo, você pode me atacar quando quiser e, somente revidarei, se você fracassar em me matar. 

— E se eu esperar até o anoitecer? 

 Sua respiração agora foi a mais alta desde que percebi essa sua mania. 

— Atrás de você, espadachim. 

Virei-me com suspeita e surpresa. Havia um altar de pedras a menos de um metro atrás de mim, repleto de frutas, carnes e legumes; água e vinho em abundância e muitas frutas. Contive minha vontade quase vital e retornei minha atenção ao falante. 

— Fique a vontade, poderá comer e reabastecer suas energias enquanto ouve minha história. Tenho noção, e conhecimento, de que essas poucas horas não lhe concederão seu poder total, mas é o máximo que posso fazer por ti. E ao anoitecer minha história chegará ao fim... E você morrerá. 

— Aceito sua primeira oferta – Eu falei, já seguindo para o altar. 

— A oferta foi única, espadachim. De qual outra se refere? 

Peguei uma jarra de água, enchi um copo e fui em sua direção com o jarro em mãos, pousando-o poucos centímetros atrás do guerreiro, não houve o menor movimento de seu corpo, mas pude sentir um sorriso nascendo enquanto ele se sentava, ainda de costas. 

— Recuso-me a morrer. - Sorri, talvez pela primeira vez em semanas – beba e comece sua história. Guerreiro. 

Retornei ao altar e sentei-me para comer. Ali o calor era brando, até mesmo as areias pareciam não querer invadir aquele santuário. Após alguns minutos, e enquanto eu provava um pedaço da carne de carneiro, o homem começou a falar, sua voz era tão alta que olhei em direção ao altar para confirmar se ele permanecia em sua posição. E lá estava ele, sentado e me encarando, com o jarro entre as pernas. 

Pela primeira vez nossos olhos se cruzaram e, pareceu-me que nos conhecíamos a vida toda. 

— ” A espada nos conecta” - Ele sorriu, revelando uma cicatriz em forma de meia lua no canto da boca. 

— ” A batalha nos une” - Eu repliquei. 

— ” A morte é nossa irmã, que um dia abraçaremos 

— “A vida é nossa mãe, que um dia deixaremos”.  

A conhecida Jura de Justiça, que liga todos os espadachins. 

— Exato, guerreiro – Ele tornou a falar, após um suspiro – Somos irmãos, e hoje um de nós deixará nossa mãe. 

Seu olhar era frio. Os olhos, cor de palha, contrastavam com sua pele morena, repleta de cicatrizes, e com sua longa barba branca, que escorria trançada de seu rosto e repousava sobre as areias. Observou-me por um tempo e começou a contar: 

— Começarei pelo menos importante... O nascer dessa espada. 

Há mais gerações do que você tem de vida, o Sol era conhecido como Astro Rei. Sua esposa, vivia ao seu lado e juntos iluminavam todos os planetas nesta galáxia. O ciúme do Astro Rei era tão elevado que ele jamais perdia sua esposa de vista, não importa onde ela estivesse, seu rosto era sempre iluminado por ele.  

Mas sempre há um porém nas histórias, não concorda? O porém dessa história, se chama AyulAyul, o Ferreiro.  

Ayul, o Lord. 

O Amante. 

Ayul foi um grande ferreiro, e nenhuma arma sua perdeu o brilho até hoje. séculos após sua morte. 

Certa vez, enquanto Ayul trabalhava, houve um evento que hoje chamamos de Eclipse, durante esses minutos de escuridão, Ayul viu a face da Rainha, e se apaixonou. A Rainha também viu o Lord trabalhando na forja, e o sentimento foi reciproco. Ambos olharam o outro sem nada dizer por todo aquele período, e quando o Astro Rei tornou a iluminar sua rainha, Ayul percebeu que esperaria quantos anos fossem necessários até tornar a vê-la. 

Anos mais tarde, pois naquela época o ciclo celeste ainda não era definitivo como hoje, o evento tornou-se a repetir. Ayul trabalhava ao ar livre, e quando percebeu o ocorrido, parou de trabalhar e começou a observar a Rainha, ambos com aquele amor crescendo ao longo dos anos, viam-se apenas de relance e finalmente puderam confabular pelos minutos que tinham sobrando, mas logo a Rainha teve de voltar ao Astro Rei, e Ayul soube que por outros anos ficaria a sua espera, mas não desanimou. Criou uma espada, a única já forjada sem fogo. 

O aço era de valinar, retirado das entranhas da terra. Dobrado sobre si mesmo utilizando a pressão do Lord, e seu punhal de cristal reluzia sem luz, como se uma chama azul vivesse em seu interior. 

Após anos criando seu presente, guardou-o em uma bainha negra, onde a luz do Astro Rei não poderia cobiçar tal lâmina, e aguardou até o ano seguinte. 

Quando a Rainha retornou, confabularam por alguns minutos, e quando percebeu que o tempo se esgotava, Ayul mostrou seu presente a Rainha, que achou-o lindo, porém jamais poderia aceitar. "Por que recusa meu presente, se achou-o digno de lágrimas?" Perguntou Ayul. "Ela me encanta, porém o Rei de tudo sabe, e saberá que obtive essa espada, e virá atrás de quem a criou. Guarde-a, e me mostre todas as vezes que eu retornar." Foi esse o pedido da rainha, antes de partir novamente para junto de seu Esposo. 

Ayul pensou por anos em como entregar a sua amada o presente que lhe era de direito. E a chance surgiu quase que por acaso. Para comemorar o ultimo milénio de sua junção com a Rainha, o rei procurava-lhe um presente, e buscou durante meses. Ayul não poderia perder essa oportunidade, e libertou a espada de sua prisão negra. O efeito foi imediato, e o Astro Rei lhe questionou; "Como fizeste tão bela peça?". "Por anos a criei, pensando em minha amada, que jamais poderei ter" respondeu o ferreiro em suas meias verdades. "E o que deseja em troca de tão perfeita peça?" O Rei perguntou honestamente, pois era senhor de tudo e quase tudo podia fazer. " Meu tempo de vida se esvai, senhor. Apesar de Lord, tenho uma vida de formiga comparada a Sua. Desejo que, em meu leito de morte, sua Rainha me busque, e me torne uma de suas estrelas, para que possa sempre acompanha-la". O pedido deixou o Rei incomodado, " E por que deseja estar sempre ao lado de minha Esposa?". "Pois é a ela que minha amada adora todas as noites, poderei ver seu rosto diariamente, e saberei que está bem". Neste ponto da história, o Rei sentiu um ímpeto de empatia pelo ferreiro, e lhe propôs; "Você, Lord Ferreiro, será como um filho no firmamento, brilhará somente menos que eu e minha esposa, e ficará ao seu lade será adorado junto a ela, mas tenho grande ciúmes de minha rainha, e ela jamais poderá saber que você foi um homem. Aceita seguir comigo nesse momento, sabendo que retirarei sua voz eternamente?". 

Ayul relutou, viveria ao lado de sua Rainha, porém sofreria por vê-la sofrer todas as vezes que ele não estivesse aguardando-a. Olhou novamente a espada, e entregou-a ao Rei. "Porém", arriscou Ayul. "Essa espada não é a única que fiz". A cobiça do Rei cresceu a olhos vistos, e ele pediu explicações, a qual Ayul foi logo replicando " Estou no meio de uma outra espada, tão linda quanto esta, que seria meu presente para o Rei, no equinócio de verão". O Astro Rei pediu para ver o objeto, mas Ayul explicou-lhe que ela não deveria ser vista até estar completa, e pediu até o próximo eclipse para terminá-la. " Isso é impossível"; replicou o Rei; "Serão 7 anos, e minha Esposa não pode aguardar por tanto tempo". O Ferreiro pensou, e pediu apenas mais 2 anos, para que pudesse terminar seu intento. " Tu tens minha benção", o Rei retornou aos céus, mas deixou uma pequena pedra, com a qual Ayul deveria fazer os adornos finais. Foram longas noites sem dormir, Ayul utilizou seu poder natural juntamente ao fogo do vulcão tutkash para moldar o metal em uma Montante reluzente, longos rastros dourados (da pedra que o Rei lhe deu) davam a espada uma sensação de estar em brasas, e seu brilho era tão natural quanto o sol. 

Dois anos se passaram, e o Rei retornou a presença de Ayul. Buscou com os olhos por sua nova espada, e sentiu-se grandioso ao ver que o brilho dela completava o seu próprio. Sentiu um ímpeto de empunha-la, e Ayul percebendo, ofereceu ao rei o teste de seu poder; "O Rei prometeu levar minha vida junto dos presentes, correto?", Ayul questionou, e frente a afirmativa do Rei, continuou; "Pois leve-me com esta espada, e terás uma prova de como ela é poderosa". O Rei se interessou pela oferta, empunhou a Montante, agora conhecida como Fio do Alvorecer, e desferiu um ataque que pôde ser sentido em todo o planeta, o dia clareou como jamais havia antes, o calor foi subiu ao espaço e se espalhou por todo o planeta, como uma lufada de calor durante o verão, demorando quase um dia inteiro para retornar a sua temperatura habitual. Todo aquele país desapareceu, as plantas morreram instantaneamente, os animais que por um acaso escaparam do calor, morreram de fome logo depois, e tudo se tornou em um imenso deserto. De uma coisa o Rei não sabia, mas soube naquele momento. Aquela Montante foi criada, não sob uma maldição, mas sob uma promessa. Todos aqueles que morreram por ela, subiram aos céus e se tornaram pequenas estrelas. E logo ao lado de sua Rainha, uma enorme estrela surgiu. Ayul, a estrela amante. 
 


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