She likes girls, and that's alright escrita por Lillac


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Super atrasada, mas feliz Mês do Orgulho LGBT! Faz anos que eu quero escrever algo assim sobre a Annabeth, mas nunca tinha tempo.
É bem curtinho, mas eu espero que gostem!



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As duas írises psicodélicas multicoloridas a fixaram com um olhar tão intenso que, quando Annabeth soltou o ar de forma incerta, sentindo o peito e garganta tremendo, sua voz falhou: “Eu acho que eu gosto de garotas”.

Piper estivera até então preguiçosamente raspando a casca de um mamão, mas seus movimentos cessaram quando escutou as palavras da amiga. “Acha?”.

Uma mão de dedos lânguidos subiu para desarrumar cachos loiros, que já estavam bagunçados o suficiente pela noite em claro, muito obrigado. “Significa que eu não tenho certeza”.

“Eu sei o que acho significa” Piper semicerrou os olhos. “Quero saber o porquê da incerteza”.

“Não é óbvio?” Annabeth desejava que Piper tivesse um pouco menos a dizer. “Isso não é algo simples!”.

“Por que não? É bem simples para mim”.

A mais velha empertigou-se. Claro que era mais simples para ela. Piper era filha da deusa do amor! Havia crescido rodeada por astros de Hollywood, maquiadores, figurinistas, coreógrafos, todo tipo de gente envolta na indústria da arte, muitos dos quais, Annabeth havia descoberto com alguns minutos de pesquisa, identificavam-se abertamente com uma daquelas letrinhas na sigla que vinha atormentando seus pensamentos por... algum tempo. Annabeth sempre achara o estereótipo cruel – gostar de dança ou de maquiagem não define a sexualidade de ninguém! E realmente era. Estereótipos, não importava de que forma, eram sempre enganosos e maliciosos.

Mas, até onde podia compreender, a arte tinha um quê de liberdade. E embora a arquitetura vibrasse em seu coração como o próprio sangue, seu tipo de criatividade era regrado por números e equações, não por paços de dança e contornos, notas de música e.... e.... e qualquer outra coisa, droga!

Poucos momentos de dedicação haviam lhe revelado que, porquanto as grandes telonas dos cinemas ainda fossem bem preto e brancas, o por trás das cenas era construído por habilidosas mãos coloridas. Um arco-íris para o qual ela não havia se aberto ainda.

Por isso, talvez, escolher Piper para falar daquilo não houvesse sido uma boa ideia.

Foi quando a garota levantou uma sobrancelha e perguntou: “E quando foi que você começou a se perguntar, então?”.

Eu li que o charme de Afrodite só funciona tão forte em pessoas previamente atraídas pelo locutor, e toda vez que você manda alguma coisa, eu obedeço lhe parecia uma resposta um taaaaaanto embaraçosa demais, e testava perigosamente os limites daquela amizade. E, além do mais, não era inteiramente verdadeira. Annabeth sentou-se no beliche de Percy, onde ele lhes havia concedido privacidade, e suspirou:

“Não sei ao certo. Acho que eu sempre admirei demais a Thalia, um tipo de admiração que dá para confundir com algo mais. Depois dela, houve o Luke. E foi o Luke por muito, muito tempo, até que o Percy aparecesse e....” ela retorceu as mãos sobre o colo. “Até a Rachel aparecer na cena, eu achava que nós éramos, eu não sei, destinados? Soa estúpido até para mim agora. Mas eu a vi com aquele cabelo vermelho enrolado, uma juba de fogo, tão mais quente do que eu jamais poderia ser, aqueles olhos de esmeralda, e as sardas, e tudo o que eu conseguia pensar era: o que o Percy ia ver em mim, com uma garota como ela por perto? Então eu passei a odiá-la. Era um pouco difícil, porque Rachel nunca me fez nada, e....” ela hesitou. Piper colocou a fruta de lado e colocou uma mão no braço dela. “Rachel me deixava meio sem ar, da mesma forma que Percy deixava. Eu sempre pensei que fosse só raiva dela... mas...”.

Sua voz morreu na garganta. Piper tentou reconforta-la: “Ei, está tudo bem. Vocês estão bem agora, não estão?”.

“Sim, mas e se ela não foi a primeira? Eu nunca me dei bem com garotas. Nenhuma além da Thalia, não antes de você. Garotas me deixam nervosa; Rachel me deixava nervosa.  Como se ela sempre estivesse prestes a me zoar e rir do meu cabelo bagunçado e das minhas olheiras.... e, se uma parte disso é insegurança, o que é a outra? Se esse meu desejo idiota de ser aceita, de ser querida por elas, for outra coisa?”.

“Garotas te deixam nervosa” Piper estalou a língua. “E garotos?”.

Annabeth grunhiu. “Garotos são todos idiotas. Mas, como você pode ver pelo quão absurdamente eu sou apaixonada por aquele idiota, eu não tenho dúvidas quanto à eles”.

Piper ficou em silencio por um longo momento. Um momento tão longo que Annabeth quase se arrependeu de ter vomitado toda aquela informação. Mas, então, ela riu baixinho e disse: “Isso é tão você. Se preocupar com todos os pequenos detalhes de alguma coisa, como se as pessoas fossem equações que você pudesse resolver. Como se você fosse uma conta de matemática”.

“Tecnicamente...-”.

Piper puxou o queixo de Annabeth até que a garota a estivesse olhando. De perto, seus olhos pareciam índigo, com os cílios fazendo espessas sombras em suas maças do rosto elevadas. “Você já pensou em beijar uma garota?”.

O rosto de Annabeth queimou, e ela tinha certeza que Piper podia senti-la ficando vermelha. Ela gaguejou, sob o olhar sempre firme da filha da Afrodite, até dizer: “Sua irmã”.

O rosto de Piper se contorceu: “DREW?”.

“SILENA!” Annabeth desvencilhou-se dela. “Desculpe, eu sei que você não chegou a conhece-la... Silena era uma boa amiga minha. Ela já estava por aqui quando eu cheguei, e ela e o Luke se tornaram amigos muito rápido. Eu...” ela desviou o olhar para o chão do chalé. “Quando eu tinha tipo, uns 14 anos, eu costumava pensar que queria que Silena fosse um garoto para namorar com ela. Era a época na qual o Percy mais deixava irritada. E ela sempre ria e afagava o meu cabelo como se soubesse de algo que eu não sabia” Annabeth torceu o nariz. “Eu sempre odiei isso”.

“Não saber das coisas? Ora, que surpresa. Você teve uma quedinha pela minha irmã mais velha, e ficou tão frustrada e confusa com a Rachel que não sabia se queria soca-la ou beijá-la” ela riu de novo. “Só você mesmo”.

“Eu tive uma queda pela Silena?” foi como se uma cortina se abrisse na mente de Annabeth. “Mas eu... eu sempre achei- eu não sei. Eu nunca tive uma figura materna. Achei que eu só... a admirasse? Como eu admirava a Thalia”.

“E você já quis beijar alguma delas? Entrelaçar seus dedos nos delas, sentir o cabelo sob as suas mãos...”.

“PIPER!” Annabeth cobriu o rosto com as mãos. Agora, não havia ninguém em sua mente ou coração além de Percy. Mas, se voltasse à Annabeth de 13 anos – a que olhava de olhos arregalados para Silena em sua armadura de Barbie guerreira, todo dia com um cabelo e uma lente diferente, ela, ela, ela....

“Deuses, eu gosto de garotas”.

Annabeth o encontrou no refeitório, mastigando um cheeseburguer azul e brincando com um elástico na mão livre. Deslizou para o banco rente ao dele. Percy sorriu. “Ei, você”.

“Ei, você” ela se inclinou para estalar um beijo na boca dele. “Tenho uma coisa pra te dizer”.

“Pode mandar”.

“Eu... eu gosto de garotas”.

Percy piscou. “Eu... também?”.

“Você não está entendendo” ela grunhiu, envergonhada. “Eu gosto de garotas da forma como eu gosto de garotos. Eu gosto de garotas como você gosta de mim. Como... como o Nico gosta do Will, e Aquiles gostava de Patróloco e, e....”.

“Eu tenho certeza que devem existir alguns exemplos melhores do que esse na história, Sabidinha” ele ainda estava mastigando, mas empurrou a comida para as bochechas para conseguir dizer “Safo não teve umas quinze namoradas? Você poderia ter começado essa conversa com um poema”.

“Você não está levando isso a sério”.

Ele deslizou uma mão até alcançar a dela. “Porque quando você quer que eu seja sério, você vai direto ao ponto. E eu ainda não ouvi você dizer nada”.

Os sons do refeitório se tornaram mudos, e a visão de Annabeth se estreitou para aquela mesa, a mão de Percy entrelaçada na sua e os olhos mais bonitos do amor da vida dela, olhando bem para ela. Qualquer nervosismo que estivesse no seu corpo até dez segundos atrás evaporou-se, e os ombros de Annabeth caíram quando ela disse:

“Eu sou bi, Percy. Bissexual”.

Ele bateu com a ponta do dedo indicador na costa da mão dela. “Você é a garota mais corajosa que eu conheço” disse. “Eu te amo”.

“Eu também te amo” Annabeth não estava chorando! E se Percy dissesse que ela estava, Annabeth o acertaria no estômago com um soco.

“Hã...” ele terminou de mastigar. “Isso muda algo entre a gente?”.

“Absolutamente não” ela disse. “Você quer que mude?”.

“Nem brinca com isso” Percy se inclinou de novo, para puxá-la para um abraço. “Eu já te disse antes, não? Você não vai escapar de mim de novo. Você me escolheu, nada muda isso”.

Annabeth enroscou um braço no dele e inspirou na manga do moletom “Isso é ótimo”.

“Ótimo mesmo” ele deu outra mordida no hambúrguer. “Porque eu também gosto de garotas da mesma forma que eu gosto de garotos”.

Annabeth o olhou, perplexa, e Percy riu alto.

“Eu ia te contar mais tarde, só que você foi mais rápida”.

“Você é um idiota”.

Seu idiota”.  


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Notas finais do capítulo

Talvez eu faça um do Percy também, até o final do mês.
Espero que tenham gostado, comentários são sempre apreciados!



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