Pormenores escrita por Ellie Bright


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Um pouco antes da decisão de me tornar escritora, minha amiga e beta de desejar. Sabrina, estava se sentindo triste e eu quis ajudar ela de alguma forma. Daí pedi cinco palavras aleatórias pra ela e fiz esta sasunaru/narusasu que a deixou menos triste.
Espero que gostem assim como ela disse que gostou ^^



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Todos os dias, Sasuke parava naquela rua e observava a casa de muro laranja claro com muita atenção. Do alto da ladeira onde estava, era possível enxergar o jardim da frente da casa, cheio de girassóis.

 Todo final de tarde, Naruto saia para aguar as plantas. Há anos Sasuke não falava com Naruto, sequer tinha coragem de chegar perto de quem um dia fora a pessoa que mais lhe compreendeu na vida. Alguns tipos de vínculo eram difíceis de cortar, não importasse que tipo de decepções você forçasse. Era assim que ele se sentia para com Naruto e parte dele desejava que fosse para Naruto também, mesmo que isso só causasse sofrimento.

 Não que sofrimento fosse algo novo para qualquer um dos dois. A infância e adolescência naquele orfanato foram repletas disso.

 Não era que o lugar fosse ruim ou que as pessoas lá fossem más. O problema sempre foi outro. Talvez fosse algo genético; Sasuke não tinha muita certeza disso. Não importava que as cuidadoras tentassem ao máximo dar carinho as crianças, não importava ter um teto para dormir e alguma coisa para comer; coisas físicas nunca supriam o buraco que cada um deles tinha dentro.

 Nada respondia a pergunta: “por que eu?”.

 Itachi contava muito sobre como era a mãe deles, dos doces que fazia e das canções de ninar que entoava para eles. Sasuke se apegava a cada uma dessas coisas, mas, no fim, era como segurar a água em suas mãos: as memórias escapuliam e seguiam seu fluxo para um lugar onde ele não conseguia entrar.

 Naruto em parte também era como as lembranças de Mikoto Uchiha, só que de uma maneira diferente. Ele mais se parecia com o ar que rodeava Sasuke por fora, por dentro e estivesse em todo o lugar e, ao mesmo tempo, era impossível de tocar. Era inatingível do jeito que qualquer outra pessoa que não tinha aquela pedra atrelada ao corpo e que tornava impossível chegar a superfície.

sasuke observou Naruto terminar de aguar as plantas e, como se tivesse algum sentido aranha o avisando que era observado, Naruto mirou o morro onde Sasuke se escondia. Era impossível que Naruto soubesse que ele estava ali e tampouco isso poderia importar alguma coisa. Em vez disso, Sasuke ligou o motor de sua moto e foi-se embora de volta para a casa que aprisionava todos os seus fantasmas.

............................

As noites eram o melhor e o pior de viver sozinho naquela casa.

Sasuke se lembrava do dia que Itachi foi dispensado do orfanato aos 16 anos. Desde moleque Itachi era um gênio empreendedor. Ele era habilidoso em montar e desmontar coisas; tinha uma grande sensibilidade em retratar coisas com um pincel. Itachi também tinha a beleza e o carisma discreto que um bom vendedor tinha, o que significava que desde muito jovem Itachi não via dificuldades em conseguir dinheiro.

Aos dezesseis anos, Itachi saiu do orfanato não como um órfão sem opções, mas como um jovem emancipado que já tinha uma empresa prosperando e que logo conseguiu reformar e manter a casa de herança deixada pelos pais.

A mesma casa que Fugaku matou a esposa em uma crise de ciúmes, lesionou os dois filhos e se matou com um tiro na boca.

Sasuke tinha cinco anos quando isso aconteceu, contudo ele tinha lembrança vívida do som dos disparos, do terror que foi observar seu próprio sangue no chão e o corpo do pai caindo perto dele. Sasuke se lembrava de Itachi, sujo de sangue, aos doze anos, se arrastando até o telefone e pedindo ajuda. Ele se lembrava da ambulância, da máscara de oxigênio.

Tudo isso vinha em cada sonho.

Geralmente era Naruto quem estava ao seu lado quando ele acordava em desespero ou ainda pior: quando ele acordava e não conseguia se mover. Nesses momentos era impossível distinguir realidade de lembrança; nesses momentos, Naruto era como uma luz no fim do túnel.

“Hey imbecil, se liga, você ‘tá comigo, falou? É só um pesadelo. Tudo que é tipo de pesadelo fica pra trás quando a gente abre o olho, você não ‘tá só”. Era o que Naruto costumava dizer.

O corpo de Sasuke relaxava, o pânico diminuía e logo Sasuke tinha forças de dar um pedala na cabeça de Naruto por chamá-lo de imbecil. E tudo voltava ao normal.

Aquela casa também tinha essas memórias em cada quarto, já que Itachi aos dezoito anos tirou Sasuke e Naruto do orfanato. As paredes mudas assistiram as brincadeiras de esconde-esconde, os choros escondidos e os beijos que eles trocaram na escuridão. Tudo naquela casa ainda estava igual ao tempo que Naruto vivera ali.  As glicínias lilases floriam uma vez por ano, mas Naruto não estava ali para vê-las. O horroroso sofá laranja ainda estava na sala. No quarto de Naruto, ainda estava aquela medonha pelúcia de sapo que Naruto amava. Tudo estava igual àquela época onde Sasuke julgou que era feliz.

O tempo que Itachi estava vivo, que os dedos de Naruto entrelaçariam nos dele e que a voz estridente que ele tanto sentia falta o chamaria quando ele estivesse com paralisia do sono. Noites nas quais um corpo quente e macio estaria ao seu lado, ainda que estivesse babando e roncando também. 

Se apaixonar por Naruto foi a coisa mais natural do mundo e o pavor que isso lhe causava também. Como ele conseguiria amar alguém sem ter a certeza que o que aconteceu com seus pais não iria se repetir?

Sasuke não sabia ao certo quando foi que a sua vida inteira ficou naquele nó. Ele tinha alguma noção que tudo piorara depois que Itachi morreu por conta daquela doença genética herdada pelo lado da mãe deles. Ele sabia que as trevas ficaram ainda mais densas depois do enterro, aquele dia de sol onde muitos dos empregados de Itachi compareceram, alguns aparentando genuíno pesar.

Ninguém ficou em sua vida, nem mesmo Naruto.

Mas era injusto se Sasuke pensasse assim: foi ele quem mandou Naruto ir embora. Naruto não precisava das trevas que viviam dentro de Sasuke. Itachi foi quem morreu, mas Sasuke também foi enterrado naquele dia. Naquela pacata tarde de janeiro há seis meses foram enterrados os vestígios de esperança que Sasuke um dia julgou ter.

As noites eram repletas do trabalho que Itachi gostava de fazer, o que gerava dinheiro para bancar aquela casa. Os dias eram repletos de trevas porque faltavam as forças de sair da cama. O crepúsculo vinha com a imagem de Naruto e depois Sasuke tentaria por um fim em tudo, só que a covardia era maior ainda.

A covardia de enfrentar algo pior que a morte: ver Itachi decepcionado, onde quer que o irmão estivesse. Constatar que ele era um fracasso vivo ou morto. Os medos eram muitos e Sasuke sentia-se submergir no desespero.  

As noites marcavam o ciclo que era a vida dele: ver a pessoa que ele amava vivendo uma vida feliz. E todas as vezes Sasuke dizia a si mesmo que aquela seria a última vez, contudo sempre que ele tentava por um fim em tudo,  a covardia em se machucar vencia. Depois vinha o choro compulsivo que ninguém ouvia e, se por um lado Sasuke se sentia aliviado porque ninguém o ouvia, por outro uma parte dele se desesperava pela ajuda. Então ele trabalhava na empresa que Itachi criou, era um jeito de fazer algo, se concentrar em algo e lembrar o irmão. Lembrar-se das horas que ele passava no computador e não lhe dava atenção; de todas as vezes que Itachi não pôde comparecer nas reuniões da escola; de como mesmo internado no hospital Itachi queria um notebook para continuar a trabalhar mesmo que não conseguisse ler direito.

As lembranças vinham e o esgotava ao ponto de ele não conseguir sair da cama, se esquecendo de comer ou ,quando não, se alimentar com qualquer tipo de porcaria pedida no ifood e se odiando por ter que falar com o motoboy.

Sobretudo vinha o cansaço.

Nessas horas não restava orgulho, esperança ou mesmo raiva. Era um vazio tão grande que Sasuke se perguntava se ele estava mesmo vivo e, ao mesmo tempo, se parabenizava por Naruto não precisar estar com ele nesse momento.

Quando o sol nascia vinha a pergunta: ‘por que fiquei assim?’. E com o findar do dia nenhuma resposta chegava.

Sempre que Sasuke acordava e depois que ele conseguia recobrar os movimentos já era o entardecer de novo e tudo o que ele mais queria era ver Naruto. E era isso o que ele fazia. Fraco como ele era, Sasuke pegava uma jaqueta que um dia pertenceu a Itachi. Ele pegava a moto que também já foi do irmão e ia ver Naruto na nova casa dele e dizia as mesmas coisas todos os dias.

Só que houve uma quebra de paradigma naquela tarde.

Sasuke chegou ao seu lugar habitual, mas Naruto não estava aguando as plantas. Talvez ele tivesse chegado muito cedo, talvez Naruto ainda estivesse no trabalho. Sasuke só queria vê-lo e ali esperou.

—Ah, sabia que era você. –uma voz soou atrás de Sasuke e todo o seu corpo se retesou ao reconhecer aquele timbre estridente.

Sasuke se virou e reconheceu Naruto, vestido com moletom laranja, um hoddie cinza escrito bts com uma lanterna esquisita e um boné roxo que fazia contraste com as madeixas loiras e muito rebeldes. Ainda assim, ele parecia a pessoa mais linda do mundo aos olhos de Sasuke, a pele beijada pelo sol, as sardas espalhadas pelo rosto bonito de maxilar másculo e os espetaculares olhos azuis.

—Por que não vem tomar um chocolate quente na minha casa? –Naruto perguntou dando um sorriso radiante, gesticulando com a mão direita, a qual segurava uma guia canina que não estava ligada a um cão, mas sim um gato obeso com cara de poucos amigos.

—Você ‘tá levando o gato pra passear? –Sasuke perguntou antes mesmo que pudesse processar o que estava dizendo.

—O que? –retrucou Naruto pondo ambas as mãos na cintura particularmente fina e que contrastava com os ombros largos que ele desenvolvera na adolescência. -Kurama precisa de exercício, já viu que ele tá uma bola laranja peluda?

Kurama, a esfera do dragão em forma de gato, deu um miado sentido. Naruto se acocorou e fez festa na cabeça do felino, que resolveu se deitar no chão.

—Mas isso não é porque você dá muita ração pra ele?

—Quieto! –resmungou Naruto enquanto ele pegava o gato no colo e se sentou na garupa da moto. –Que é? Vai ligar esse treco ou não?

Sasuke estava completamente atordoado com aquela reviravolta, mas acabou cedendo e ligando o motor. Logo eles estavam descendo a ladeira em velocidade normal, porém com um gato assustado e um Naruto gritando como se estivesse sendo sequestrado e, por alguma razão que Sasuke desconhecia, era como se ele estivesse se sentindo vivo em anos. O vento em seu rosto, a voz de Naruto vindo de tão perto, a luz que se despedia no horizonte... Tudo fazia parte de um instante tão singelo, mas que significava tanto.

 Ele não entendia quando ficou tão instável e tão afetado pela vida naquela intensidade, mas, francamente, a vida tinha mudado tanto e havia tão poucas certezas que Sasuke refletia que isso também não deveria importar.

 A casa de Naruto ficava logo no começo da esquina, a primeira casa após a ladeira e logo eles chegaram. Sasuke estacionou e Naruto logo saia da moto.

 -Eu sei que você vem aqui todo dia. –disse Naruto com um sorriso melancólico, totalmente alheio a surpresa que deveria estar estampada na cara de Sasuke. -Eu queria ser todo maduro e esperar você tomar a iniciativa e vim até mim e tals, mas ‘cê sabe que eu nunca fui do tipo paciente, então...

 Sasuke não era imbecil. Ele sabia que o tempo não parava, que essas metáforas eram apenas ganha pão de escritores preguiçosos. Mas naquele instante, naquele milésimo de segundo que o rosto de Naruto foi iluminado pela luz alaranjada do por do sol, no segundo que Sasuke observou como os olhos azuis refletiam tanto sofrimento e lágrimas não derramadas, Sasuke tinha certeza que o tempo parou por aquele breve momento.

 -Larga mão de ser imbecil e me deixa te ajudar Sasuke! –mandou Naruto com a voz firme. –Não ouse me excluir da sua vida de novo e caso você esteja de novo com essa ideia de jerico de me excluir de novo, saiba que eu vou te caçar no inferno de novo, e de novo e até ter certeza que tu vai ‘tá bem caramba!

 O tempo voltou a transcorrer, embora em nenhum momento o tempo tivesse parado. Na verdade, fora o ciclo que parou para recomeçar a girar de outra maneira. Não para trás, para o passado; mas a girar para frente, em busca de um futuro, quaisquer que fosse ele.

                -Pode ser café? –Sasuke se viu perguntando, a voz saindo estranhamente fraca, frágil, talvez para combinar com a vulnerabilidade do momento.

—Entra logo.

Contudo, Naruto sorria do mesmo jeito acolhedor que Sasuke se lembrava, do modo que Sasuke amava. E, por mais que existisse muito medo, muita sombra e incerteza, ainda havia um levíssimo desejo de estar com Naruto. De vê-lo sorrir, de estar perto dele, de amá-lo.

 Isso tinha que bastar.


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Notas finais do capítulo

Ah enquanto eu estou me organizando, eu achei vários textos antigos no meu computador. Se tiver algum terminado (e eu achar bom), eu vou postar, ok? ^^
Tem um que eu tou relendo e se chama 'Belladonna' que também é sasunaru/narusasu, mas não sei se tá completo, caso esteja, logo trago novidades



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