A vida não é uma novela escrita por Laila120


Capítulo 4
Capítulo 4




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Após duas horas deixaram Ana entrar no quarto de Milena. A garota estava muito preocupada com a amiga, apesar de seu chefe já ter dito que ela não corria nenhum risco de vida.

— Oi — cumprimentou Ana, enquanto fechava a porta do quarto. — Como você está?

Milena estava deitada na cama e, quando a viu, fechou os olhos e suspirou.

— O que você está fazendo aqui?

Ana encolheu seus ombros e se aproximou.

— Fiquei preocupada e, depois de tudo o que aconteceu eu queria saber...

— Foi só um acidente! — interrompeu Milena com uma voz bem séria. — Por favor, Ana, eu não sei o que você está imaginando, mas esqueça.

Ana se aproximou da cama e apertou sua bolsa.

— E se não foi só um acidente? Você teve sorte de só quebrar uns ossos da perna e da mão.

As duas ficaram em silêncio, até que uma enfermeira entrou no quarto dizendo que precisava levar Milena para fazer um novo raio-X.

— Eu tenho que ir trabalhar. Amanhã eu venho te visitar de novo — despediu-se, e quando estava saindo da sala Milena a chamou.

— Ana! Por favor, esqueça isso. E não precisa vir me visitar.

Ana fingiu não escutar Milena e apenas saiu do quarto.

Ao sair do hospital, Ana ligou para Elice e combinou de se encontrar com ela na praça de alimentação do shopping dentro do Resort. Ela estava cansada, mas não queria ficar sozinha; precisava conversar com alguém e Elice parecia uma ótima opção.

— E aí? Como está a sua amiga? — perguntou Elice.

— Ela vai ficar bem, mas por enquanto não tem previsão de alta.

Elas decidiram comer no fast food Massas mia. As duas fizeram seus pedidos e se sentaram em uma mesa perto da janela.

— Ontem no telefone eu não entendi direito o que aconteceu com ela — comentou Elice enquanto começava a comer sua lasanha.

— Me desculpa, eu deveria ter explicado melhor. — Ana bebeu um pouco do seu suco enquanto avaliava se poderia contar para Elice o que ela estava pensando que aconteceu. — Quando ela estava indo para o aeroporto um carro bateu no táxi que ela estava.

— Você deve ter ficado muito preocupada. — Elice bebeu metade de seu suco e perguntou: — O motorista do carro foi preso?

Ana suspirou fundo e resolveu contar para Elice sua opinião:

— Essa é a parte estranha. A polícia não falou quem era o motorista e ninguém foi preso. É como se não existisse um culpado. É óbvio que o motorista não respeitou o sinal vermelho por isso, ele bateu no táxi.

— Nossa! — Elice havia terminado de comer e ainda estava tentando entender o que Ana estava falando. — O que você acha que está acontecendo?

Ela se aproximou de Elice e sussurrou:

— Que eles estão protegendo o culpado. — Ana achou melhor não dizer que ela também pensava que não foi um simples acidente e sim uma armação para se livrarem de Milena. — Eu não sei o que fazer e estou preocupada.

Ana esperava que Elice ficasse surpresa, entretanto, sua amiga estava rindo.

— Nossa. Que suspeito! — Elice tentou parar de rir, mas não conseguiu.

— Isso é sério! — Ana ficou irritada e bateu seus pés debaixo da mesa. — Eu estou preocupada.

— Tudo bem, tudo bem. — A garota parou de rir. – Eu conheço uma forma de conseguirmos mais informação. Se quiser, eu te ajudo a investigar.

— Sério? — Ana estava surpresa. Ela não fazia a menor ideia de como começar a procurar. — Por onde começamos?

— Vamos até a delegacia e subornamos o policial — respondeu com a maior calma do mundo.

— Você é louca! — gritou Ana. — É brincadeira, né?

— Sim! — Ela começou a rir de novo e Ana ficou com a boca aberta sem entender o que estava acontecendo.

— Então você acha que eu sou louca e não vai me ajudar? – perguntou Ana, decepcionada.

— Me desculpa. Acho que exagerei — se desculpou, enquanto tomava seu suco. — Falando sério. Eu conheço uma pessoa que pode ir até a delegacia e conseguir mais informações. Só que pode demorar um pouco. Tudo bem?

— Ele vai subornar os policiais? — perguntou Ana com medo da resposta.

— Talvez. — Ana revirou os olhos com a resposta da amiga, que continuou seria. — Porém, eu posso garantir que vai conseguir alguma informação nova.

— Agora eu que estou achando loucura, mas vou aceitar a sua ajuda. Só espero que tudo seja paranoia da minha cabeça.

As duas se levantaram da mesa e se despediram:

— Você vai ver que não tem nada para se preocupar. Até depois!

— Tomara!

Ana estava se sentindo melhor depois de ter desabafado com alguém.

Na saída do shopping, Ana parou em frente a uma vitrine de lojas e se deu conta que havia marcado um encontro.

Como ela poderia ter esquecido que no domingo sairía com Paolo! Ela estava pensando demais sobre esse acidente e seria bom fazer algumas compras.

A loja escolhida foi a Say My Name, uma loja de sapatos bem famosa no resort. Assim que entrou, um vendedor muito sorridente veio lhe atender:

— Boa tarde, senhorita. Como nós podemos te ajudar?

— Boa tarde. Eu procuro uma bota sem salto e confortável.

Ele a acompanhou até o interior da loja, onde havia vários sofás cinza com espelho estrategicamente posicionado na frente.

— Você tem alguma preferência de cor ou marca?

— Eu queria uma preta e não tenho preferência de marca.

— Por favor, fique a vontade que eu já volto.

Assim que o vendedor saiu, Ana sentou no sofá e uma funcionária se aproximou.

— Com licença, gostaria de um café ou um chá?

— Não, muito obrigada.

Ana estava encantada com o atendimento e com o lugar! Nunca tinha entrado em uma loja de calçados como aquela; tudo cheirava a dinheiro e luxo.

O vendedor retornou com algumas caixas na mão. Ana experimentou todos os cinco modelos e acabou gostando de uma bota preta com algumas correntes na lateral. O seu único problema era que a bota vinha até o seu joelho e acabava incomodando ela.

— Ela seria perfeita se não viesse até o meu joelho. — Experimentou dobrar e esticar os joelhos varia vezes.

— Eu tenho uma parecida com essa, porém ela é cano baixo. Posso procurar se quiser — ofereceu o vendedor.

— Eu vou querer sim, obrigada. — Ana olhou mais uma vez a bota tentando imaginar ela curta e aguardou.

Após quinze minutos o vender voltou trazendo o modelo para Ana experimentar.

— Eu amei! Vou levar essa! — Ana não conseguia acreditar como a bota se encaixou perfeitamente na sua perna!

— Ótimo! Você gostaria de mais alguma coisa?

— Não, muito obrigada. — Ana tirou a bota e entregou para o vendedor.

— Pode ficar à vontade enquanto eu vou à outra loja buscar o outro par.

— Tudo bem. — Ana não conseguiu entender o que ele quis dizer, mas estava tão encantada com a loja que não teve coragem de perguntar.

Depois de algum tempo, um homem se aproximou dela:

— Boa tarde. Meu nome é Ronald, sou o gerente da loja. A senhorita poderia me acompanhar por um instante?

— Eu fiz alguma coisa errada, senhor?

— Não, senhorita. Pode ficar tranquila — ele falou, nervoso. Ana jurava que havia suor escorrendo de sua testa. — Vamos lá em cima para conversarmos e eu te explicar melhor.

Ana resolveu acompanha-lo. Ela estava indo para o andar superior onde ficaria a gerência quando escutou:

— Eu não vou a lugar nenhum! Exijo uma explicação agora mesmo!

Havia uma moça no caixa, e ela parecia bem nervosa. O gerente pediu que Ana esperasse um pouco e desceu para tentar acalmar a garota.

— Me desculpe, mas eu já comprei a bota. É só vocês me entregarem o produto que o vendedor me ofereceu e eu escolhi comprar, vim até o caixa e paguei por ele. Não é tão difícil assim de entender!

Ana não queria dar trabalho, porém estava cansada e queria ir embora logo. Ela foi até a área dos caixas e falou com uma atendente:

— Com licença. Eu acabei de procurar uma bota e o senhor Ronald me chamou... — ela foi interrompida pelo grito da garota quando finalmente pegaram a bota que ela queria.

— Finalmente!

Ana arregalou os olhos quando viu a bota que ela escolheu sendo entregue para a garota. Ela se aproximou do gerente e disse:

— Eu escolhi uma bota parecida com essa. O que o senhor queria me dizer?

— Garota, isso é impossível. O vendedor disse que esse era o último par. Sorte que é exatamente o meu número — respondeu a garota, prendendo os longos cabelos pretos em um rabo de cavalo.

— Eu quero comprar essa bota. Eu também a experimentei.

As duas olharam para o gerente esperando uma explicação.

— Nós sentimos muito. Os vendedores acabaram se confundindo e venderam o único par para as duas senhoritas.

— Vocês são uns incompetentes! E ainda me recomendaram essa loja... — A garota se virou para Ana e perguntou: — Você já pagou por ela?

Como o vendedor pediu para Ana esperar, ela ainda não tinha pagado.

— Não, eu ainda não paguei. Posso fazer isso agora-

— Você está doida? — gritou a garota enquanto agarrava a sacola com as botas. — Eu já comprei, você não pagou ainda. Então, problema resolvido! Ela é minha e você pode ir procurar outra.

— Isso não é justo! — respondeu Ana, olhando para o gerente.

— Vamos fazer assim, senhorita Emily, pode levar a bota que você já pagou e eu te dou um vale-presente de 300 reais. E para a senhorita Ana, eu te deixo escolher a bota que você quiser.

— Eu não quero vale presente nenhum. Nunca mais coloco os pés aqui!

A garota saiu da loja muito brava, e com certeza isso deixou a loja e os clientes que estavam no momento com uma má impressão. O gerente ainda esperava uma resposta de Ana.

— Eu estou cansada. Não estou com vontade de experimentar mais nada no momento.

— Eu peço desculpas. Por favor, volte outro dia. Teremos o prazer de te atender de novo.

— Tudo bem.

Após chegar ao seu apartamento, Ana tomou um banho e dormiu. Quando acordou, já passava das dez horas da noite. Ela comeu um macarrão instantâneo enquanto refletia tudo o que aconteceu na loja. Ela estava chateada por não ter comprado a bota e, mais do que isso, ela havia percebido como um simples erro de um funcionário inexperiente trouxe problemas para todos da loja.

Desde o primeiro dia de trabalho Ana sempre cometeu erros e agora finalmente tinha percebido que ela não tinha só se prejudicado, ela também atrapalhava todos os funcionários e clientes do resort. Parecia que finalmente estava caindo a ficha. No dia anterior, por sua culpa quase não houve o show, mas ficou tão feliz com o convite de Paolo que simplesmente se esqueceu disso e após saber do acidente de Milena, se esqueceu do encontro com Paolo e do show.

— Era só o que me faltava! ­— falou consigo mesma.

A garota percebeu que havia se esquecido de perguntar para Elice sobre o conhecido que iria até a delegacia. Imediatamente ela pegou o celular que estava carregando e mandou uma mensagem. Percebendo que não teria uma resposta rápida, ela terminou de comer e voltou a dormir.

No dia seguinte, ela trabalhou de manhã e quando acabou resolveu ligar para Milena:

— Oi, como você esta?

— Com dor, mais já tomei remédio — respondeu Milena sem muita vontade de falar com ela. — Você não tem trabalho, não?

— Eu já acabei, estou pensando em ir fazer uma visita – Ana respondeu enquanto chegava à saída sul do resort.

— Nem pense nisso, me esquece!

Milena desligou o celular. Ana queria ligar de volta, mas Elice estava ligando para ela:

— Oi, descobriu alguma coisa?

— Descobri sim. Será que podemos sair do resort? – perguntou Elice, levando em conta de que era uma hóspede menor de idade.

— Infelizmente, menores de idades só podem sair com a companhia dos responsáveis, porém eu... — Ana não sabia se contava que ela não era uma funcionária comum ou se falava que era a neta do dono.

— Você pode sair sem seus pais? — perguntou, já que a Ana ficou em silêncio.

— Eu posso sair já que sou uma funcionária. — Ana achou melhor não dizer nada.

— Então posso te explicar mas você vai ter que ir sozinha. Onde você está é melhor eu te contar pessoalmente.

— Eu estou indo para o portão sul.

— Estou indo te encontrar.

Elice desligou o celular antes que ela pudesse responder alguma coisa.

Meia hora depois Elice chegou ao portão:

— Oi! Finalmente cheguei. Eu não sabia que a saída era tão longe.

— Eu tentei avisar você— explicou Ana. — O que você descobriu?

— O carro do culpado foi apreendido e está no estacionamento da polícia. Se tivermos a placa dele, esse conhecido pode procurar o nome do dono — respondeu toda empolgada, se sentando no banco perto de Ana.

— Entendi, mas... — Ana finalmente percebeu o que Elice queria fazer. — Eu não posso simplesmente aparecer lá e perguntar.

— Esse conhecido se chama Darel. Ele vai encontrar você lá perto.

— Não sei se é uma boa ideia.  — Ana nunca tinha feito isso antes e com certeza não era seguro.

 — Não se preocupe. Quando você chegar lá, ele provavelmente já vai ter descoberto tudo — disse Elice, abrindo uma foto no celular para mostrar Darel para Ana.

— Então por que eu tenho que ir? — Ana não sabia o que fazer.

— Por que ele quer uma garantia que a informação vai chegar até á pessoa certa.

Ana olhou para o céu e pensou que isso era uma loucura. Como é que Elice poderia conhecer alguém assim?

— De onde você o conhece?

— Te garanto que é super confiável, mas entendo se você quiser deixar para lá.

— Tudo bem, eu vou.

— Eu queria ir junto.

— É melhor eu ir; tá quase na hora de passar o ônibus que vai para a cidade. — As duas se despediram e Ana entrou no ônibus.

O sol estava se pondo quando Ana encontrou com Darel. Ele não disse nada, só confirmou com Elice se era ela mesma. Ele já tinha um plano, tudo que Ana precisava fazer, era dar a volta no quarteirão e escutar a conversa dos policiais, ele iria fazê-los falar. Ela estava com medo, porém ficar na rua escutando uma conversa através de uma janela não parecia muito perigoso.

Como combinado Ana, deu a volta ao quarteirão. Do outro lado nem parecia que era uma cidade, só havia colinas e árvores. Ela ficou esperando até que finalmente ouviu uns barulhos.

— Que cara chato, não é? — Ouviu uma voz bem grossa. O homem parecia bravo e fez Ana encolher um pouco.

— Com certeza. — Agora era outra voz que falava.

— Eu não tenho culpa se ele estacionou em lugar proibido! Às vezes, esses hóspedes do resort só nos dão trabalho. — Ana não sabia como era a relação das pessoas que moravam próximas ao resort com os hóspedes, e ouvir essa reclamação foi um cheque. ­— Como aquele acidente noite passada, odeio esses hóspedes que não respeitam o semáforo.

Ana sabendo que falavam do acidente de Milena tentou se aproximar mais da janela e, mesmo já tendo anoitecido, acabou sendo vista:

— Quem está aí?

Com medo Ana saiu correndo e ao dar a volta no quarteirão esbarrou em alguém e caiu no chão:

— O que você esta fazendo aqui?

Ana reconheceu a voz e, ao olhar para cima não sabia como se explicar.

— Eu não sei.


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