Metempsicose. escrita por Apaixonada sama


Capítulo 1
re-en-car-na-ção;




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É minha compleição analisar.

Pensar e logo em seguida realizar... Eu sempre estive muito ocupado e muito preocupado com o meu temperamento. Poderia haver dias dos quais eu estava sorrindo e brincando. Já em questão de ensejos eu já estava me odiando, lagrimejando. Repudio-me momentaneamente, graças as minhas ações inaceitáveis. E tenho noção disso.

Inevitavelmente minha solidão e desamparo traz como dádiva memórias que flagelam o meu interior completamente. Bem... Elas não passam de panoramas distantes e ofuscados, às vezes com sons. Outros são monocromáticos. Embaçados.

Apesar de tudo, é um único episódio em comum: Asriel carpindo em seus últimos momentos obsecrando por meu regresso. Eu queria avançar contra aquela barreira! Tínhamos certeza que o plano ia dar certo... E me peguei perguntando desde aqueles tempos:

O que falhou?

Nunca obtive uma resposta em relação a isso. E torna-se pungente esse sentimento de extravio. Inclusive não aceitar seu próprio perdão. Chegando até mesmo ao ponto de que tudo me fazia chorar e reclamar. Noutros tempos, aglutinei uma doutrina de finalizar minha vitalidade, inúmeras e inúmeras vezes.

Sem resultados. Meu novo princípio vivencial havia se tornado: “A vida não é tortuosa. Você é o peso morto dela.”, por mais que não concordasse plenamente.

Com falta de minha própria indulgência, optei por seguir em frente com uma promessa reles e morrediça, já que eu poderia me destruir. Sentindo como se meus olhos fossem vendados e meu coração trancado com mais de setes chaves enigmáticas, deliberei erradicar todos que dessa expectativa se conscientizavam.

Inestimáveis foram removidos de seu ponto principal, apenas por essa promessa.

E com um preceito cego e incerto, cobicei a mim mesmo uma jura: “Tudo vai ficar bem, Asriel. Eu vou te salvar.”, que de certa forma estava cravada em minha alma. Não deixei me abalar por mais nada. As coisas ruins não eram ruins, se eu considerasse tudo que fiz. Do chão maquiavélico e torturante até às mais dolorosas ameaças, mantive a cabeça erguida.

Irremissivelmente obrigado guardar segredo sobre esse plano durante muito tempo, jamais tirei o sorriso eliminatório, com a faca em mãos extirpando quem e qualquer um que contasse para o rei sobre meus atos.

E nomeei minha figura com uma nomenclatura de: Sem alma, já que “monstro” poderia ser considerado elogio, se contasse todas essas personalidades únicas que já desbravei.

Esse plano durou décadas. Não vendo resultado algum, houve uma redefinição na linha do tempo... E embora a mesma coisa tenha acontecido com Asriel, expirei a concepção de suceder com esse desígnio... Eu machuquei muitas pessoas por causa disso tudo.

Entretanto.

Eu não conseguia parar. Estava preso em um ciclo vicioso de mortes e ganhar L.O.V.E, para se tornar mais forte... A culminância do meu ser estava dividida entre duas faces: Desistir ou continuar. Não granjeava contar com a ajuda de ninguém e muito menos, confiar em uma pessoa sequer.

Podemos imaginar que isso era um distúrbio que se desenvolveu durante a infância... Pois em tempo nenhum tive o acompanhamento dos meus pais... Eles sempre foram pessoas ocupadas dentro de seu tempo e nunca sobrou lhufas para mim. Eu os odeio.

Da mesma forma que me odiava. E continuo odiando.

O tempo impreterível andou a decorrer... Até que se congelou em dois anos após o desfalecimento de Asriel. A culpa ainda estava pendurada em minhas costas, mas meu lamento infelizmente não podia ser ouvido: Eu abafava, não queria contar sobre isso. Seguindo...

Em um momento determinado, surgiu ele.

Fazendo-me dar conta de que... O Anjo Caído... O salvador não era eu. Diante daquele novo humano, minha figura tesa negativamente representava nada. Só tinha uma coisa em mente: Sou uma pedra no sapato dele.

E curioso iniciei minha observação... Tinha mais coisa a aprender.

“Como você se chama?”, perquiri ansioso. Aquela criança era uma novidade em tão longo tempo... E meus olhos não conseguiam desviar de sua fisionomia, já que ele era totalmente original e divergente a qualquer coisa que tinha visto durante todas essas redefinições.

“Eu sou Frisk...”, estendeu a mão delicadamente com uma postura amigável, “É um prazer te conhecer.”, pronunciou sorrindo abertamente com o semblante gentil.

E único.

Talvez fosse sadismo da minha parte... Mas nos primeiros momentos eu machuquei muito aquele garoto... O feri, disse-lhe coisas horríveis ao seu respeito... E como sempre, tentei averiguar, pedindo desculpas.

Recebia seu perdão com aquele sorriso gentil e caloroso. Ah...

Posso dizer que na verdade, ele foi o primeiro amigo que eu tive. Asriel era um irmão, e essa anomalia que está comigo... Bem... Frisk procurou estender o braço inteiro quando apenas precisei da mão. Todo o seu tempo fora dedicado para mim.

Confuso, busquei interpelar incontáveis vezes o seu motivo para fazer isso, não recebendo uma resposta muito diferente da primeira vez: "Prezo pelo seu bem, Chara.”, que ainda soava no mesmo tom dos primeiros momentos.

Ainda descrente de suas metodologias, passei a acompanhá-lo em sua jornada. Comicamente, brincava dizendo que estava o escoltando. Apesar do meu humor sincero, eu mesmo assim mantinha uma estranha inveja de sua bondade indescritível.

Empatia.

Como ele podia sentir e eu não? O que ele tem que eu não tenho?

 

Suas emoções negativas de maneira alguma foram expostas publicamente. E mesmo andando por tanto tempo e o seguindo viciosamente, nunca soube o que ele estava pensando! Frisk era muito imprevisível... E mesmo com receio, confiei nele. Nunca fui apunhalado pelas costas, por mais que a pessoa que estivesse segurando a faca na mão fosse eu. Bem... ...Certo, certo. Eu entendi.

Sua vontade e determinação fora posta de maneira intensa e no meio dessa afoiteza, vislumbrei com meus próprios olhos Asriel ressuscitar. – Não tenho memórias do que exatamente aconteceu, mas soube que ambos batalharam, Frisk nos libertou e restaurou nossas memórias. Nada muito diferente de rodada de jogo há muito tempo.

Contudo... Eu ainda carrego até hoje uma sensação estranha no peito, do momento de salvação, onde Frisk me acolheu com carinho em seu abraço quente, que me fez sentir especial. As lágrimas escorrendo pelo seu rosto levemente corado traziam a compaixão que perdi fazia anos. Desejando obter mais daquilo tudo, eu o envolvi em meus braços.

Não pensando se eu poderia ter o matado, pela primeira vez. Vivi desejando o amor, somente recebendo depois de muito tempo. Queria poder descrever essa sensação com todas as palavras do mundo. E mesmo assim, sinto que iam faltar adjetivos para a descrição disso.

Sinto infelizmente em pronunciar que nem tudo que é bom, dura pela eternidade. Frisk se sacrificou pela a abertura da Barreira. Sentia como se fosse meu dever agradecer Frisk... Mas eu estava com um vazio intenso dentro de mim. Toda a intensificação do meu ser se encontrava desguarnecido. A minha prepotência havia retornado ao zero.

O que você fez?

Eu não consigo entender.

...

Prestar uma homenagem de modo algum se passou por minha cabeça... E olhar para Toriel soluçando, assistindo Asgore e Undyne enterrarem Frisk em um campo florido mais parecia ser uma menção honrosa ao seu título "Anjo".

Suas feições se resumiam a tristeza e melancolia...

Ambos os Sans mantinham aspectos infelizes. O de casaco roxo lamentava-se em palavras minuciosas ao lado da ex-rainha. Já sua contraparte, balançava a cabeça com pesar. Meus olhos não conseguiram localizar Papyrus, muito menos Alphys. Seria lamentável eles assistirem isso.

Eu?

Eu assistia sem reação, inteiramente arrasado, sem chão algum. Não conseguia chorar, as lágrimas não saíam. Meu peito doía. Enquanto me sentia frágil e inutilizado, pensei que poderia estar no lugar de Frisk. Queria poder ter dito a ele um “obrigado” do fundo do meu coração.

Mas, pensei que não havia chances... Aquilo não iria poder se suceder. Negativamente sentenciava que ficaria infinitamente pendurado no desejo de dizer algo pra ele.

E me pego almejando uma chance. Logo cogito: Se eu a tivesse, diria a coisa certa?

Como uma naturalidade do destino... Frisk fora sendo esquecido. Nós tínhamos que seguir em frente, não havia necessidade de permanecermos presos nele. E apesar de tudo... Eu voltei ao zero: Estava sozinho. Sem Asriel, sem anomalia e sem... Ele.

E a fim de matar o que restou de mim, costumava sentar em um dos bancos no parque próximo a minha nova casa. A vista para o centro da montanha e o sol em si era maravilhoso, senti que o humano mais novo iria ficar fotografando de todos os ângulos. Apoiei minha mochila na mesa, admirando o pôr-do-sol de tom alaranjado. Em minha cabeça, podia escutar Frisk recitar algo como “essa é a hora dourada, Chara”.

E percebi o quão estive apegado a ele... Talvez, tenha sido o desejo de ter um irmão humano. Suspirei, passando a mão no meu rosto. Estava diferente, mais do que o comum. Naquela época, eu não imaginava quanto tempo havia se passado desde que fiz todo aquele mal.

Com um baque repentino em minha perna, os pensamentos fugiram de minha mente naquele momento. Olhei para o causador do impacto, apenas vislumbrando uma bola com um grande smile riscado nela. Não deixei de segurá-la em minhas mãos, buscando o seu dono.

“Com licença...”, meus olhos se encaminharam em direção à voz, de maneira curiosa. A sensação auditiva era drasticamente semelhante há muito tempo, “A bola te machucou? Desculpe... Ela é minha. Não esperava que um chutinho daqueles fosse parar aqui.”, sentenciou.

Não consegui de maneira alguma desafixar os olhos daquela criança.

Os cabelos negros amarrados em um rabo-de-cavalo com uma fita vermelha, com olhos dourados e brilhantes... O suéter azul e detalhes amarelos... Não, não podia ser ele. Eu fraquejei por minutos, imaginando que meu antigo amigo estava parado em minha frente com as mãos repousadas sob o peito.

Olha, eu não sei o que deu em mim... Mas apenas joguei a bola para ele, murmurando timidamente:

“Frisk... Eu queria te dizer... Obrigado por tudo que fizestes por nós... Estou tão feliz por você ter me tirado da escuridão interminável...”, minha cabeça não conseguiu se mantiver de pé.

“Disponha, Chara... Afinal de contas, você sempre foi meu melhor amigo.”,  para minha surpresa, sua frase veio de retorno, como uma facada.

A criança sorriu de maneira amigável, cerrando os olhos e maneando a cabeça para o lado, imitando a caracterização de Frisk. Eu estava dividido entre duas partes: Alívio e atordoamento, pois... Falei o que queria, mas...

Frisk, vamos logo!”, uma voz máscula ressoa pelo parque e ambos miramos em direção. Um casal acenava à distância de forma convidativa. Se aqueles eram os pais dele, não era nenhum pouco parecido.

Obedecendo ao comando, Frisk abraçou a bola correndo e acenando para mim. O homem alto que eu acho que era o pai dele, colocou-o nos ombros e seguiu em frente com a esposa, conversando e se... Distanciando...

Não vá...

“O que você quer jantar hoje, queridinho?”, a moça indagou, “É por sua escolha.”, insistiu.

“Eu quero spaghetti!”, como resposta, pôs a mão no peito de forma heroica, o inflando, “Posso pedir a sobremesa como torta de caramelo e canela?”, questionou adotando o semblante pidão.

“Claro!”, a resposta veio em uníssono vindo de seus pais.

Juro por todos os deuses, o ar em meu pulmão havia parado de circular. Enquanto a garganta queimava furiosamente, apenas assistia a família indo embora, não deixando de eu mesmo secar minhas lágrimas.

“Frisk, meu amor... Quem era aquele rapaz?”, o sorriso da mulher se voltou para mim. Limpei meu rosto rapidamente.

“Ah... Ele?”, retornou a sua cabeça para mim, “É o meu melhor amigo.”, esbanjou o sorriso enquanto acenava um ‘tchauzinho’ com a mão.

Respirei fundo não deixando de sorrir e acenar de volta.

Interiormente, eu estava descrente de que Frisk estava vivo... E reencarnado, numa família feliz.

Todos os dias eu passo e visito a lápide dele e trago flores de sua preferência. Curiosamente, sempre sinto uma sensação quente envolver minhas costas. E de reação, fecho meus olhos, permitindo-me sentir-se abraçado por ela.

Obrigado por me dar sua determinação.


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