From me To someone escrita por Pedro Fukae


Capítulo 1
Orgulho




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Tenha orgulho de quem você é. Tenha orgulho de amar quem quiser. Tenha orgulho de quem você foi, de quem se tornou, de quem será. Tenha orgulho de ser. Tenha orgulho… Será que realmente devo ter todo esse orgulho?

Por muitas vezes, mais do que o necessário, vejo pessoas falando e produzindo conteúdo sobre esse orgulho que devemos ter para com a gente mesmo. Na teoria eu consigo ver que é algo realmente bonito, você ter orgulho de quem é, principalmente quando faz parte de uma minoria que não só precisa se aceitar, como precisa também conquistar seus próprios direitos, tendo que escutar que esse pedido de igualdade, na verdade é um pedido de privilégios. Eu vejo que, em casos assim, é realmente preciso ter orgulho, bater no peito e mostrar que você está ali sim! Botando a cara no sol, lutando para ser visto e respeitado, pois só está sendo você mesmo e nada mais. Mas… *suspiro*

Eu não tenho orgulho de quem sou. Não tenho orgulho de amar quem eu quero. Não tenho orgulho de quem fui, de quem sou, nem de quem serei. Não tenho orgulho de ser. Não tenho orgulho… Não me entenda mal, não é que eu não queira ter esse orgulho, eu simplesmente acho que não o mereço. Digo, porque deveria ter?

Quando as pessoas dizem ter orgulho de ser, é porque conseguiram passar por diversas etapas difíceis da vida, principalmente a própria aceitação e a saída do armário. Essas duas coisas, na minha cabeça, são as coisas que mais se precisa ter orgulho, porque você conseguiu lidar com elas, você teve coragem suficiente para se revelar ao mundo e lidar com isso. Já eu…

Como eu poderia ter orgulho de ser, quando na verdade não sou? Até hoje eu não consigo ser eu mesmo nos lugares, mesmo com todos meus amigos sabendo que sou gay, por exemplo, ainda assim eu não sou eu mesmo, porque sempre estou acompanhado pelo medo de ser descoberto pela minha família. Eu sei que preciso me libertar disso, que preciso falar de uma vez por todas para então poder realmente viver, mas eu tenho medo, muito medo. E isso me dá muita ansiedade, porque tenho medo do que não sei o que vai acontecer caso eu resolva revelar para todos. Minha mãe, ela é um dos únicos familiares que sabe e lembro até hoje como foi contar para ela.

Era noite, estávamos sozinhos em casa e eu tinha me decidido que iria conversar com ela sobre um assunto importante, assunto esse que não era nem mesmo sobre minha sexualidade, porém tão complicado quanto. Ela apareceu na janela do quarto e eu já estava tremendo, com o coração disparado, as mãos suadas, a voz falhando. Respirei fundo e falei, falei tudo de uma vez. Era sobre minha depressão, que ela nem imaginava que eu tinha, falei como sofri bullying na escola, como foi triste minha infância. Falei de quando tentei acabar com minha vida. Eu tinha dezessete anos. Sei que foi muita informação pra ela, mas eu tinha que explicar tudo pra ela, porque aquele era o meu grito por ajuda, pois já não aguentava mais. Ela foi pra cozinha e eu a segui, conversamos bastante sobre tudo aquilo e, pela primeira vez, eu me senti muito próximo da minha minha mãe e vi que ali poderia ter uma brecha pra poder “sair do armário”. Eu só não sabia que aquilo poderia ser mais complicado do que falar da vez que tentei me matar.

“Mãe, eu sou gay. Quer dizer, eu acho que eu sou… Talvez eu seja bi, não sei… Mas sei que eu me atraio por homens… eu acho” Vi a feição da minha mãe mudar, ela ficou calada por algum tempo e quando fui questionar recebi um “Eu só não entendo, porque na biblia diz que é errado…” Apesar de não ser a resposta que tava esperando, foi melhor do que algo completamente negativo, o que já era alguma coisa. Conversamos um pouco sobre isso, porque eu não deixei especificado que era realmente gay, mesmo tenho certeza disso, falar o que eu falei, na minha cabeça, era melhor do que falar que era gay. Talvez por achar que pessoas bi são mais aceitas, afinal, “dá pra se passar por hetero”. Minha mãe nem mesmo conseguia falar a palavra gay e bi, ela sempre se referia como “isso aí. esse outro. não, o outro. aquilo”. Então alguém chega em casa e eu sinto um dedo tapar minha boca rapidamente “shh pronto, agora para de falar sobre isso. Ninguém pode ouvir sobre isso não.” Desde então nunca mais toquei no assunto.

Como ter orgulho de algo que ainda me escondo? Eu queria muito poder gritar que sinto orgulho de ser quem eu sou, de ser livre, mas só de pensar em fazer isso, eu olho para os lados meio desconfiado, com medo da possibilidade de alguém ter ouvido tais pensamentos.

Mas eu fico feliz em ver que há pessoas capazes de sentir esse orgulho. Em saber que há pessoas corajosas, que vão botar a cara a tapa conseguindo conquistar tudo que ainda não temos. E eu sou grato por tudo isso. Obrigado por lutar por mim, por marchar no meu lugar, por servir de inspiração. Peço que não desistam, porque um dia eu vou estar ao lado de vocês.

Só preciso de tempo. Tempo para criar coragem pra então poder gritar pra todos: Eu tenho orgulho de quem eu sou. Eu tenho orgulho de amar quem eu quero. Eu tenho orgulho de quem eu fui, de quem sou e de quem serei. Eu tenho orgulho de ser. Eu tenho orgulho.


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