Siblings escrita por hrhbruna


Capítulo 3
02


Notas iniciais do capítulo

Como eu tenho alguns capítulos prontos, decidi retomar as postagens desta história. Deixem suas impressões a respeito.



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“O sangue é mais denso que a água” – provérbio alemão

Charlotte na manhã seguinte ao acordar, de princípio acreditara que os acontecimentos da noite anterior não tinham passado de um longo e divertido sonho, mas ao constatar que estava olhando para o teto descascado de seu quarto no Caldeirão Furado se deu conta que aqueles acontecimentos eram todos muito reais, e se fosse completamente honesta, agora ela estava até meio que satisfeita por terem passado por todo aquele desespero da noite anterior.

— Essa situação toda está muito esquisita, não acha?

            Mas aparentemente, Harry não.

            Eles estavam dividindo uma mesa e fazendo seu desjejum. Não era nada grandioso, mas era tudo muito gostoso e de qualidade, o que para ela era mais que suficiente.

— Acho. – disse com pouco caso e passando geleia em sua torrada. – Deixe-me ver, eu posso levantar a hora que eu quiser, comer o que eu quiser... Sim, isso tudo é muito esquisito.

— Charlotte, estou falando sério! – retorquiu seu irmão irritado.

— Quem disse que eu não estou? – ela arqueou as sobrancelhas rubras. – Você já levantou nove horas na casa dos Dursley alguma vez?! Aquela gente acorda com as galinhas, pelas barbas de Merlin.

            Ela estava de excelente humor naquela manhã. Apenas desejava que Harry não acabasse com aquilo.

— O Ministro veio pessoalmente nos checar e ele ficou cheio das cautelas, dizendo que não devemos sair do Beco Diagonal, não podemos voltar tarde... Não acha estranho?

— É natural, imagino. É coisa de gente velha.

— Ainda assim! Isso não explica... Você não conversou com ele, não viu como ele estava. Por que está todo mundo paranoico com a fuga desse Sirius Black? Ele não é o único que apoia Voldemort que está a solta. O pai do seu amiguinho...

— Que amiguinho? – perguntou estreitando os olhos.

— O que gentilmente lhe deu uma caixa de músicas e está bancando a babá da sua gata. – sarcasticamente Harry retrucou-a.

— Você não tem direito algum de mexer nas minhas coisas. – apontou um garfo para o irmão e enfiou o resto de torrada na boca. – Você não estava doido para fugir ontem? Pois bem, deu tudo certo. Você não foi expulso de Hogwarts, poderemos voltar aos Dursley para o verão...

— Eu desejo que essa parte não tivesse acontecido. – suspirou seu irmão.

— E então viveríamos na rua, né?

— Eu não vejo nada de errado em passar os verões aqui, você vê?

            Charlotte não respondeu. Porque de fato, ela não via. Mas sabia que não era possível. Não porque seus tios não permitiriam, mas porque se eles não haviam se livrado dela e de seu irmão até então, eles tinham realmente bons motivos – embora Charlotte não fizesse nem ideia de o que poderia ser tão forte para obrigar os Dursley as tolerá-los.

            Ela se adequou rapidamente e começou a aproveitar a sensação de liberdade, a sensação de estar longe de todos aqueles parentes horríveis. Aquela era a primeira vez que ela de fato iria aproveitar as férias de verão do jeito certo. Não tinha nada demais para Blaise que a cada verão ia para um país diferente, mas ela tinha certeza que ele ficaria feliz por ela porque sabia o quanto ela detestava os tios.

            Felizmente seu irmão não resistiu às tentações do Beco Diagonal por muito tempo e quando Harry finalmente tirou o tal assassino foragido da cabeça, também começou a aproveitar a estadia no Caldeirão Furado e parou de pegar no pé de Charlotte.

            O primeiro lugar no Beco Diagonal que Charlotte visitou, foi o Gringotes. Ela visitou seu cofre e fez um saque mais gordo daquela vez, porque estava determinada a aproveitar aquelas férias do jeito certo. Agora que ela tinha a oportunidade, iria lidar com algumas de suas necessidades aquisitivas básicas – roupas, produtos de higiene e estética, além de comprar seus materiais para o terceiro ano.

            Charlotte passava o dia inteirinho andando pelas ruelas do Beco Diagonal e, felizmente, ela dificilmente esbarrava com Harry. Entrava todos os dias em cada loja que podia, até mesmo as que pouco lhe chamava atenção; experimentou praticamente todos os sabores do senhor Florean; passou no boticário para repor seus ingredientes de poções; encomendou uniformes novos e também comprou outras peças novas, já que a maioria das roupas que tinha eram de tia Petúnia ou compradas no brechó da igreja. Ela até mesmo pedira umas calças novas para Harry, porque nem em um milhão de anos iria remendar o jeans dele outra vez.

            Todos os dias ela saía pela manhã e voltava de tardezinha, antes de escurecer como o Ministro bem pedira a eles. Assim que chegava, geralmente estava com algumas sacolas em mãos, seu irmão a olhava feio e a mandava parar de gastar, mas ela não se sentia culpada. Merlin sabia quando teria uma chance daquelas outra vez.

            Passaram-se alguns dias e aquilo acabara por se tornar um ritual para Charlotte. Ela acabara por até mesmo encontrar alguns alunos de Hogwarts, mas infelizmente nenhum deles era Blaise – ou mesmo Draco, para que ela pudesse perguntar de Zara. Infelizmente dera de cara com Pansy Parkinson na Madame Malkin quando no dia seguinte havia ido buscar as roupas que encomendara.

            Obviamente Pansy a olhou com toda a raiva do mundo e empinou o nariz. Charlotte que não poderia se importar menos, também ignorou a colega de casa e dormitório. Pagou Madame Malkin, agradeceu pelo serviço e se retirou da loja sem dizer qualquer coisa.

            Encontrara também Marcus Flint, para sua tristeza. Ele era horrível e Charlotte teve a leve impressão que Marcus estava flertando com ela, já que quando a encontrara a cobrira de elogios, sendo que ela nunca tinha sequer dirigido a palavra a ele.

“Está comprando seus materiais?” ele a perguntou no dia.

“Não, eu já comprei tudo. Estou passeando, olhando vitrine” ela respondeu extremamente sem graça, porque ele estava acompanhado dos pais que assistiam a cena de longe e cochichavam entre si.

“Eu só estou repondo meus ingredientes de poções e vou comprar o exemplar de DCAT... É o único professor novato”.

“Espere... Você não tinha se formado?”

            Marcus deu de ombros e um sorriso amarelo e ela logo entendeu que não, ele não havia se formado. Fez uma nota mental de se lembrar daquilo em algum momento da vida em que cogitasse não estudar para algum exame – Hogwarts também reprova alunos!

            Ela conseguiu se livrar do rapaz, mas apenas quando os pais dele se aproximaram e a avaliaram de cima a baixo. Charlotte não sabia qual era o veredicto deles em relação a sua pessoa e algo dizia que ela também não iria querer saber.

            Uma semana depois de sua chegada ao Caldeirão Furado, ela estava sentada confortavelmente no refeitório durante aquela tarde, acompanhada de uma xícara de chá e de um livro que era mais divertido que ela imaginava. Era uma vergonha que Harry, assim que ela começara o capítulo sobre Lobisomens, tivesse a interrompido.      

— Eu vou sair para comprar meus livros. Quer me acompanhar?

            Ela nem se deu ao trabalho de encarar o irmão para respondê-lo.

— Não, eu já tenho tudo o que preciso.

— Hum... – Harry resmungou claramente decepcionado. Ele tentava forçar todo tipo de interação de irmãos entre os dois. – O que você está lendo?

            Suspirando, Charlotte percebeu que ele não desistiria fácil de tentar enjoá-la e obriga-la a acompanha-lo. Mas infelizmente naquele dia ela não estava se sentindo particularmente generosa ou paciente.

            Marcou a página que estava e mostrou a capa do Livro Monstruoso dos Monstros que Hagrid havia lhes presenteado no aniversário daquele ano.

— Como diabo você conseguiu domar essa coisa?! – replicou Harry em pânico puro. – Eu achei que ele fosse comer meus dedos!

— Ele poderia se quisesse. Não é, meu querido? – ela afagou o livro que ronronou como um gato satisfeito.

            Harry estava boquiaberto e ela não pôde evitar rir. Se as pessoas pelo menos lessem iriam descobrir que na lombada do exemplar dizia ‘afague-me’. Foi exatamente isso que Charlotte fez e surpreendentemente ele se abriu sozinho.

— É bem interessante, vou me lembrar de comprar um ótimo presente de natal para Hagrid. – disse Charlotte. – Eu gosto de Criaturas Mágicas...

— É? Bem, agora eu sei porque você passa tanto tempo na cabana do Hagrid. Eu pensava que era porque não tinha amigos.

            Revirou os olhos, abriu o livro na página marcada e prosseguiu com sua leitura. Às vezes, principalmente se tratando dos momentos que Harry decidia agir como um verdadeiro idiota, ela preferia ignorá-lo. Ela não acreditava que se desgastar numa discussão com Harry tivesse qualquer vantagem na vida.

            Seu irmão pareceu se dar conta que ela não iria acompanhá-lo para fazer compras, então ele a largou ali sozinha, entretanto já era tarde demais. Ele já tinha mudado todo seu foco, tirado toda sua atenção do livro.

            Charlotte sabia que Harry nem sempre fazia de propósito, às vezes ele queria simplesmente puni-la. Puni-la por ser sonserina, puni-la por ser uma irmã distante, puni-la por afastá-lo dela. Enfim, ele a culpava por todos os problemas existentes na relação dos dois e Harry realmente tinha o direito, porque se parasse pra pensar 90% dos problemas entre eles eram por culpa dela.

            Como ela não conseguiria retomar sua leitura, decidiu ir para o quarto guardar o livro, pegar sua bolsinha e sair para dar uma volta. Se ela desse o azar de esbarrar com Harry diria que estava a procura dele e ele ficaria ciscando de felicidade igual pinto no lixo, mas se ela desse sorte poderia passar no senhor Florean e pergunta-lo se tinha qualquer sabor que ela ainda não havia provado.

            Geralmente essas suas voltas levavam a tarde toda, porque embora ela acreditasse que já havia ido a todas as lojas daquele lugar, ela sempre descobria uma esquina ou uma portinha nova para bisbilhotar. O dia estava agradável também, Charlotte percebeu enquanto caminhava pelas ruas de paralelepípedos. O céu estava azul e livre de nuvens, mas tinha um ventinho agradável que garantia que o clima não ficasse muito insuportável. Estava na medida certa, bem do jeito que ela gostava.

            Quando passou no senhor Florean descobriu que ainda não havia provado dos sabores de abóbora com coco e varinha de alcaçuz. Como não era muito chegada ao próprio doce de alcaçuz, ela optou pelo sorvete de abóbora com coco que se provara muito mais gostoso que ela esperava – e como de costume, era por conta da casa. Ela ainda iria descobrir por que o senhor Florean se recusava a cobrar dela!

            Para a surpresa de Charlotte, ela descobriu que havia sim explorado cada canto do Beco Diagonal, com exceção talvez da Travessa do Tranco, mas aquele não era um lugar que ela gostaria ou deveria ir. Ela já estava meio decepcionada com sua caminhada e por não ter encontrado nenhum lugar novo, quando passou em frente a uma loja abarrotada de pessoas, todas conversando muito alto e parecendo empolgadas. Uma olhada na vitrine e Charlotte revirou os olhos, sabendo do que se tratava.

— Artigos e utensílios esportivos de quadribol. – ela leu, dando um suspiro e fazendo uma careta em seguida.

            Ela evitara aquela loja de propósito todos os dias. Ela não gostava de quadribol, considerava besteira e não achava nem um pouco fascinante um bando de gente montando uma vassoura e perdendo tempo caçando pomos, rebatendo balaços e lançando bolas através de aros.

            Entretanto ela fizera a promessa que iria conhecer todas as lojas do Beco Diagonal e aquilo se incluía entrar nelas e pelo menos aparentar interesse ou empolgação por estar ali.

— Não pode ser tão ruim. – disse enquanto levava outra colherada avantajada de sorvete até a boca.

            Charlotte entrou na loja, sentindo-se levemente sufocada por todas aquelas pessoas, mas ao mesmo tempo ficou levemente fascinada. Era uma das maiores lojas que entrara até agora, só não ganhava da Zonko’s embora esta outra também não crescesse os olhos de Charlotte – ela achava que investir em logros e brincadeiras era superestimado quando se existia magia inesgotável da varinha deles.

            “Basta treinar algumas azarações amigo e você é uma Zonko’s ambulante!” era o que ela geralmente dizia.

            Pelo que percebera havia em exposição um tipo de ‘super vassoura’, porque tinha um grande círculo formado ao redor de um mostruário. Então obviamente a algazarra toda era porque estavam todos querendo ver a vassoura nova! Como ela só queria dar uma olhada na loja decidiu que iria checar os outros departamentos. Decidiu por começar pelo de vassouras, não era como se ela entendesse muito, mas ela gostava de voar pelo menos. Não muito de quadribol, mas de voar com certeza.

            Estava dando uma olhada numa Cleansweep quando escutou uma voz atrás dela. Uma voz masculina, nem um pouco familiar e com um forte sotaque escocês. Ao se virar para descobrir quem falava com ela, dera de cara com o rapaz que ela tinha quase certeza que era o capitão do time da Grifinória.

— Tem certeza que uma Cleansweep é uma boa ideia? – indagou o menino arqueando a sobrancelha. – Você parece uma menina sofisticada, não prefere Nimbus?

            Ela não sabia o que responder, tinha o cenho franzido e encarava o jovem alto, musculoso e de cabelo castanho claro. Ela não sabia o nome dele, embora sua feição fosse extremamente familiar – provavelmente prevendo o drama que ela passava naquele momento, ele esticou o braço para cumprimenta-la.

— Oliver Wood. – ele disse com um sorriso de lado. – Sou o capitão do time de quadribol da Grifinória, a casa de seu irmão.

— Ah sim, claro, claro. – ela agora se lembrava bem. Sempre escutava Harry chamá-lo pelo sobrenome. – Eu já ouvi falar de você.

— Tenho certeza que não tanto quanto eu escutei falar de você. – ele disse num misto de divertimento e também de aceitação. – Está procurando alguma coisa específica? Pretende se juntar ao time de quadribol?

            Charlotte estava pronta para se esquivar daquelas perguntas, porque estava achando estranho demais aquela conversinha fiada sendo que os dois nunca haviam sequer sido apresentados antes, mas então se deu conta que Oliver vestia uma camisa que parecia uma espécie de uniforme, pois tinha o nome da loja estampado e também outras pessoas vestiam uma igual.

— Você trabalha aqui? – a pergunta simplesmente escapou.

— É, pois é! – Oliver disse dando de ombros. – Eu apareço aqui de vez em quando. A loja é do meu pai e quando ele fica ocupado pede para eu dar uma mãozinha extra.

— Entendo. – acenou com a cabeça. – Bem, você não tem que se preocupar comigo na verdade. Eu não estou procurando por nada especial, estava apenas dando uma olhada nas vassouras.

— Ah que pena. – ele suspirou teatralmente tentando parecer realmente decepcionado. – E eu pensando que você estava cogitando se candidatar a uma vaga no time da Sonserina e eu poderia vendê-la uma vassoura bem ruim para boicotar sua performance como atleta.

            Charlotte pegou-se rindo e o tal Oliver ao seu lado também parecia rir, entretanto ela logo o entregou a tal Cleansweep que segurava e o respondeu, num misto de divertimento e deboche.

— Mesmo que eu realmente estivesse comprando uma vassoura, duvido que você me indicaria algo ruim propositalmente.

— Ah é? E por quê?

— Claramente você é grifinório demais para isso.

— Ei, veja só esse tom de deboche. – o rapaz disse a empurrando de levinho com o ombro e um sorriso. – Eu não considero ser ‘grifinório demais’ como algo ofensivo. Você fez minha tarde, senhorita.

— Felizmente a interpretação é livre e subjetiva. – Charlotte disse dando de ombros. – De qualquer forma, eu não estou querendo uma vassoura. Aliás, eu sequer gosto de quadribol.

            O rapaz parecia no mínimo perturbado, mas Charlotte não se abateu. Era geralmente essa cara que as pessoas faziam quando ela dizia que não se importava com o esporte.

— Uau. Isso é no mínimo estranho. – assumiu o rapaz, guardando a vassoura e cruzando os braços sobre o peito musculoso. – Quero dizer, é o esporte bruxo mais popular e seu irmão é um grande fã e também apanhador do time. De fato, surpresa seria se ele futuramente não se tornasse o capitão.

— Não me cresce os olhos. – deu de ombros. – Eu sequer vou assistir aos jogos da minha casa, para você ter ideia. O castelo fica tão vazio nos dias de jogo que eu prefiro ficar caminhando pelos corredores e descobrindo lugares novos. Mais ou menos o que estou fazendo hoje, a diferença é que Hogwarts parece sempre ter um lugar novo.

— Nem me fale. – Oliver coçou a nuca sorrindo. – Tenho a impressão que nesses sete anos eu ainda não tive tempo de explorar todos os lugares que eu queria. Às vezes me pergunto se fiquei paranoico demais com o quadribol...

— Dada sua fama, imagino que sim.

            Oliver gargalhou e Charlotte sentiu seu rosto esquentar levemente. Tinha algumas pessoas olhando para os dois e ela sabia que era uma questão de tempo para que a reconhecessem. Ela até podia não ter a cicatriz, mas as pessoas conheciam muito bem seu rosto.

— Espere, eu tenho uma fama? Você não sabia quem eu era quando me apresentei.

— É claro que eu sabia. Quero dizer, posso ter tido dificuldades para me lembrar e dar um nome ao seu rosto, mas a gente ouve falar do carrasco do time da Grifinória.

— Espere, é assim que seu irmão me chama?

— Oops. – Charlotte sorriu provocativa.

            Ele não parecia ofendido, entretanto. Parecia conformado com o título que recebia dos companheiros de quadribol provavelmente porque era verdade.

            Ao dar uma olhada para o lado de fora, Charlotte percebeu que em breve escureceria e que talvez fosse melhor se voltasse para o Caldeirão Furado. Até porque tinha grandes chances de Harry já ter voltado e estar enlouquecido atrás dela.

— Eu devia ir... – disse-o.                           

— Oh, você tem algum ponto de encontro com seu irmão? – perguntou Wood.

— Eu estou hospedada no Caldeirão Furado até a volta às aulas. – explicou e ao ver Oliver franzir o cenho acrescentou em seguida. – Longa história.

— Bem, eu acho que vou acompanhá-la então.

            Charlotte arregalou os olhos.

— A loja está meio cheia...

— Vantagens de ser o filho do dono. – ele piscou e deu de ombros. – Só vou trocar a camisa. Quem sabe a gente não toma um sorvete?

            Charlotte franziu o cenho e o assistiu se afastar em meio à multidão. Ela sentiu suas mãos ficarem levemente suadas e estava sinceramente cogitando sair correndo dali, quando sentiu alguém tocar seu ombro por trás e ela estava preparada para nocautear o engraçadinho, quando se deu conta que era Draco Malfoy.

— Oi para você também, Potter!

— Malfoy! – disse em meio a um suspiro e colocando a mão no peito. – Você me assustou diabos!

— Por que estava conversando com o Wood? – inquiriu o jovem de cabelos loiros extremamente platinados.

            Charlotte fez uma careta e revirou os olhos. Ela não precisava de Draco para defender sua honra naquele momento, embora ele tolamente acreditasse que era trabalho dele fazê-lo. Aliás, Draco via a si mesmo mais ou menos como uma espécie de Príncipe da Sonserina, e por algum motivo, ele parecia querer que ela fosse a princesa.

            Ela não entendia, honestamente. Draco odiava seu irmão, Draco odiava nascidos trouxa e mestiços como ela, mas por algum motivo ele parecia gostar muito de Charlotte. Muito mesmo.

— Não é nada, ele trabalha aqui e estava me dando umas dicas de vassoura. – deu de ombros.

— Ralé. – debochou o menino. – Venha, vamos tomar um sorvete e eu vou aproveitar para lhe contar as façanhas de Zara enquanto esteve aos meus cuidados.

            Charlotte não sabia se deveria ir. Ao olhar sobre o ombro procurou por Oliver, mas não o localizou em parte alguma e ademais ela não estava certa se queria a companhia dele ou que ele a escoltasse até o Caldeirão Furado – ela mal o conhecia, afinal de contas. Não que Draco fosse muito melhor, mas ela sentia que o devia alguma coisa por ter se prestado a cuidar de sua gata.

— Sim, vamos lá. – concordou e apressou o passo.

            Quando o menino passou o braço ao redor dela, Charlotte foi bastante ágil para se desvencilhar e apertar o passo. Às vezes Malfoy era extremamente intransigente...

— Por falar nisso, obrigada pelo presente de aniversário. Fiquei surpresa. – admitiu enquanto caminhavam em direção ao Florean para o segundo sorvete de Charlotte naquele dia.

— Não imagino o motivo. Somos amigos.

            Franziu o cenho.

— Não somos não. – disse o olhando de soslaio.

— Bem, eu sou seu amigo. Você é quem não quer ser minha amiga.

            Encolheu-se, sentindo-se subitamente mal. Não falou nada, porém.

            Quando eles chegaram a sorveteria, Draco, um poço de educação como era, praticamente exigiu dois sundaes enormes de chocolate. Charlotte ficou calada, evitando o olhar estranho que o senhor Florean a dava.

— Você veio sozinho? – perguntou, enquanto levava uma colherada de sorvete até a boca.

— Sim. – Draco disse com pouco caso. – Um elfo já levou meus materiais pra casa. E você? Fiquei surpreso por não estar sendo escoltada pelo seu irmão testa rachada...

— Ele bem que queria, mas eu não estava muito a fim de acompanhá-lo. – retorquiu no mesmo tom de Draco.

— É surpreendente para mim que vocês dois sejam irmãos, sinceramente. – disse o menino cruzando os braços sobre o peito magro. – Vocês são completamente diferentes um do outro. Aparentemente você herdou os bons genes de seu pai, se comporta como uma verdadeira dama sangue-puro enquanto seu irmão herdou todos os péssimos genes de sua mãe sangue-ruim e age como uma perfeita besta perigosa.

            Olhou-o com repreensão. Draco imediatamente esbranquiçou, parecendo lamentar terrivelmente.

            Charlotte sabia o quanto Draco queria a aprovação dela, mas não era daquele jeito que ele iria conseguir. Ofendendo sua família, ofendendo a ela. Por isso ela sempre tirava vantagens do desespero dele.

— Mas então, ansiosa com a ideia de conhecer o vilarejo de Hogsmead?

            Era típico dele. Esquivar-se, fugir. Draco era um pobre coitado, e por conta disso Charlotte fazia o possível para ser paciente.

— Sim. É o único vilarejo completamente bruxo da Grã-Bretanha, eu imagino que deva ser fantástico!

— Já estive lá várias vezes. Irei apresentá-la a todos os melhores lugares.

— Que gentil. – disse com um pouco de escárnio, embora duvidasse muito que Malfoy tivesse percebido.

            Um pouco de longe avistou Oliver Wood a procurando no meio da multidão do Beco Diagonal. Ah que vergonha, só esperava que ele não conseguisse localizá-la. Deveria ter sido mais firme com Draco e dispensado o convite porque, afinal de contas, Wood a convidara primeiro

— Ah, deixe-me lhe contar a respeito das peripécias de Zara e sobre o vínculo honestamente singelo que ela e minha mãe criaram.

            Charlotte acenou com a cabeça, indicando que gostaria de escutá-lo, mas embora Draco falasse sobre sua amada gatinha, Charlotte não tirou os olhos do garoto meio loiro e grandalhão com olhar decepcionado.

— Interrompo?

            A voz veio da direção de Draco e quando Charlotte girou o pescoço não conteve sua melhor feição de descontentamento. Aquele era um péssimo momento para Harry decidir agir como um perfeito idiota.

— Acho que está bem perceptível isso, Harry, até mesmo pra você. – disse Charlotte, descontente com a presença do irmão e cruzando os braços sobre o peito. – Vá embora.

— Você escutou Potter, vá embora. – disse Draco com um sorrisinho debochado na direção de Harry.

— Eu não estou falando com você Malfoy, meu assunto é com ela. – ainda irritado, Harry retomou a fala. – Vamos para o hotel.

— Não. Vá você. Eu vou depois.

— Acompanharei Charlotte até o Caldeirão Furado, Potter, ela estará segura. Confie em mim.

Harry riu e encarou Malfoy com desdém.

— Com você Malfoy? Que foi o primeiro a sair gritando pela mãe dentro da floresta proibida no primeiro ano? Nah, acho que ela se sairia melhor sozinha.

Draco começou a adquirir uma coloração avermelhada em seu rosto, assim como seus punhos se cerraram.

Charlotte pensou que aquela era uma boa hora para intervir. Não seria de forma alguma proveitoso que Harry se metesse em problemas, quando a confusão com tia Guida ainda estava tão fresca na memória do Ministro e talvez ele pudesse repensar a ideia de não tomar a varinha de seu irmão.

— Veja bem, vocês dois. – ergueu-se. – Aqui não é lugar pra isso. Harry, vá!

— Está ficando tarde! – argumentou ele. – Vamos logo!

            O problema não era o horário, era com quem ela estava. Escutou umas risadinhas e quando localizou a origem delas não conteve sua melhor feição de desagrado ao se deparar com Weasley e Granger.

Vá. — repetiu. – Eu sei me cuidar.

            O olhar de ódio no rosto de Harry agora era dirigido a ela. Ele odiava que Charlotte o contrariasse, entretanto ela não podia evitar repeli-lo sempre que podia.

            A proximidade dele a incomodava, até mesmo o toque. Os pelos de seu braço chegavam a ficar arrepiados ao mero roçar da mão dele em seu ombro.

— Por favor... – disse desviando-se do contato. – Eu te vejo no jantar.


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