Siblings escrita por hrhbruna


Capítulo 1
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Notas iniciais do capítulo

Eu sou obcecada por P.Os. Não levem a mal, mas também não deixem de compartilhar a opinião de vocês.



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“As contendas e ódios mais cruéis são os dos irmãos,

 Porque os que muito se amam muito se aborrecem.” – ARISTÓTELES

 

Charlotte Potter era uma menina de treze anos, abaixo do peso e da altura recomendada para sua idade. Ela tinha um longo cabelo vermelho e olhos castanhos esverdeados e não havia nada particularmente sinistro em sua aparência. Era uma menina bonita, que aos poucos estava adquirindo mais traços de mulher e deixava a infância para trás.

Era razoavelmente vaidosa – não muito chegando a ser fútil e nem pouco para acabar parecendo desleixada. Era também bastante discreta, preferia falar pouco, mas na maior parte das vezes ela só realmente estava distraída e divagando em seu próprio mundinho.

Analisando superficialmente, Charlotte era como qualquer garota de sua idade. Entretanto ela não era. De fato, pode-se dizer que Charlotte Potter junto de seu irmão, Harry, eram as duas crianças mais esquisitas da rua dos Alfeneiros que era onde eles viviam com seus tios e seu primo – Vernon, Petúnia e Dudley Dursley.

A senhora Dursley era irmã da mãe de Charlotte e quando a mesma junto de seu pai, havia sido assassinada, o parente vivo mais próximo ficara com a guarda dela e de seu irmão. E algumas vezes, aliás, na maior parte do tempo, Charlotte se perguntava por que diabos não haviam a deixado apodrecer num orfanato.

Admitia que viver com os Dursley já havia sido pior. Houve uma época que era quando Charlotte ainda era uma criança, que ela costumava levar surras de seus tios quase todos os dias, ela dividia um armário embaixo da escada com seu irmão e ficava uma semana inteira sem comer.

Os Dursley sem sombra de dúvidas haviam melhorado o comportamento deles para com ela e Harry nos últimos dois anos, mas ainda assim, cada dia naquele lugar não deixava de ser um inferno.

Todos os dias assim que acordava, ela riscava mais uma data de seu calendário. Menos um dia naquele lugar terrível e um dia mais perto de Hogwarts.

Parece até brincadeira, mas as férias de verão eram a época que Charlotte mais detestava! Durante sua infância, ela detestava porque aquilo significava que ia passar o dobro do tempo ao lado dos Dursley e agora ela detestava porque tinha que deixar seu colégio.

Hogwarts era um colégio interno, para bruxos e bruxas como ela, e era o único lugar que Charlotte sentia que poderia chamar de casa. Desde o primeiro momento que ela colocara seus pés naquele castelo, ela soube que ali era seu lar e era o único lugar que se sentia plena e completamente em paz.

Não há lugar como nosso lar, diz o ditado.

Aquela era provavelmente a única coisa que tinha em comum com seu irmão gêmeo. Ela sabia que não era a única a cobiçar à volta às aulas o mais rápido possível. Harry estava também subindo pelas paredes, sabia Charlotte, mas aquilo também não queria dizer que eles haviam comentado sobre o assunto.

Aliás, dificilmente Charlotte e Harry tinham qualquer tipo de assunto. As conversas entre os dois eram sempre muito rápidas e objetivas. Ela era extremamente calada e fechada e seu irmão também não era muito diferente. Os dois preferiam optar por não causar nenhum desconforto desnecessário ao outro e se limitavam a falar o que era realmente preciso.

Houveram batidas na porta e ela sabia que era ele. Suavemente convidou-o para entrar enquanto terminava de dobrar seu enxoval e colocá-lo dentro do baú que ficava aos pés da cama.

— Bom dia. – Harry desejou.

— Bom dia. – respondeu e se virou para olhá-lo.

Ele era uma cabeça mais alto que ela, mas também era baixo e magro para a idade. Tinha cabelos escuros bagunçados e olhos intensamente verdes. Ele era a representação viva, com alguns “erros” propositais, do homem da fotografia que ficava na cabeceira da cama de Charlotte – e ela, era a da mulher que dividia a moldura com o homem.

James e Lily Potter. Conhecidos também como papai e mamãe para os dois...

— O café da manhã está pronto e eu queria saber se você não pode soltar a barra dessas calças pra mim. Estão curtas. – ele tinha uma muda de roupas na mão, e realmente não era nenhuma surpresa. – Eu também me pergunto se você poderia remendar outra vez minha blusa.

Charlotte acenou com a cabeça suspirando e apontou para que ele deixasse as roupas sobre sua mesa de estudos que estava impecavelmente organizada como se não tivesse sido usada – o que era realmente a intenção, já que seus tios não podiam descobrir que ela havia surrupiado seus materiais escolares do armário e nas últimas noites ela ficara em claro por horas para fazer seus deveres, já que suas manhãs e tardes eram preenchidas com todo o serviço que tia Petúnia poderia inventar para ela.

A semana inteira Charlotte dava faxina. Ela perdera a conta de quantas vezes sua tia pedira para que polisse a prataria de casamento dela ou para limpar o porão. Além de que quando ela estava em casa, era praticamente a cozinheira, costureira e jardineira! As tarefas de Harry também não eram fáceis, mas Charlotte tinha certeza que não eram tão desgastantes quanto as dela.

É claro que grande parte disso se devia ao fato de que ela era uma garota e seu tio, o homem mais machista que ela tivera o desprazer de conhecer, acreditava que enchê-la de serviço e fazê-la de empregada era um jeito bastante útil de “compensar” todos os “gastos” que eles tiveram com ela e seu irmão nos últimos 12 anos.

— Ah é, Charlotte... E outra coisa. – Harry que já estava de saída do quarto, parou no meio de um passo para fora do ambiente para dizer. – Feliz aniversário.

Ela nem olhou-o, continuou organizando o quarto.

— Pra você também.

Até hoje ela não sabia de quem era a culpa de todo aquele buraco que havia entre Harry e ela. Era como se houvesse um grande precipício entre os dois e que ponte nenhuma era grande o bastante para fazer a ligação de um para o outro.

Nem sempre havia sido assim. Por muito tempo, Harry e ela só tinham um ao outro. Eles eram extremamente unidos por isso, mas as coisas haviam mudado e as pessoas também...

Quando pequena, por exemplo, Charlotte tinha o hábito de riscar fósforos no dia do aniversário deles e convidar seu irmão para ajudá-la a apagá-los. Eles sempre riscavam quase uma caixa inteirinha porque havia sempre tantos pedidos, e embora soubessem da surra certa que tomariam, não se importavam. As cintadas de tio Vernon pareciam cócegas por tamanha expectativa que tinham pela espera, uma eterna espera de um sonho que não se concretizou.

Eles sempre pediam a mesma coisa. Que um dia acordassem e descobrissem que aquilo tudo era um pesadelo, que eles viviam com seus pais e os Dursley sequer existiam.

Claramente ela depositara muita fé naqueles pedidos, tanto que hoje em dia aniversários eram datas completamente supérfluas e na verdade ela às vezes até se esquecia. Natal e páscoa, épocas que costumavam deixá-la entristecida, agora ela aguardava com mais empolgação porque Hogwarts ficava completamente vazia naquela época e ela estava autorizada até a correr pelo castelo – além de que eles sempre preparavam banquetes maravilhosos para as ceias.

Um barulho em sua janela a fez franzir o cenho e virando-se para dar atenção e procurar o responsável por aquilo, surpreendeu-se ao ver corujas do lado de fora e algumas eram bastante conhecidas por ela.

— Ah, olá, como vão? – cumprimentou-as deixando que elas entrassem.

Apressou-se para fechar a porta de seu quarto que Harry deixara aberta. Se seus tios escutassem qualquer barulhinho, iriam subir o mais rápido possível para reclamar. Havia uma política muito séria naquela casa de silêncio e, lamentavelmente, parecia que Harry e ela eram sempre responsáveis pelas algazarras ali.

— Ei Atena, você parece ter feito uma longa viagem. – murmurou coçando a cabeça da coruja. – Passe no quarto de Harry e ele lhe dará algo para comer e beber.

A coruja piou toda satisfeita e deixou o embrulho sobre a cama para Charlotte.

Meus mais sinceros votos de felicidade, querida Lottie

Espero que goste do presente!

Zabini

Ela sorriu. Apenas um metido pomposo como Blaise poderia ser tão formal num cartão de aniversário.

— Uau Blaise... – murmurou ao rasgar o embrulho e se dar conta que não era nem um livro, nem uma bugiganga de bruxo.

Era um belo par de brincos de argola. Embora Charlotte duvidasse sinceramente que algum dia fosse ter a oportunidade de usar algo tão chique, ela apreciou o gesto e fez uma nota mental de pensar num ótimo presente para Blaise cujo aniversário era no meio do período letivo.

Ele a mandara um cartão postal da Grécia também. Aparentemente ele havia saído de férias com sua mãe e o novo marido (Charlotte estava indecisa se era o quarto ou o quinto casamento da mãe de seu amigo). Ele rabiscou uma nota atrás dizendo que a parte boa era que o cara dessa vez não tinha filhos, a parte ruim era que estava pensando em tê-los.

  Charlotte riu e balançou a cabeça negativamente. Esticou o braço para pegar o próximo embrulho e percebeu alegremente que era uma das corujas de Hogwarts.

Querida Lottie,

Feliz aniversário.

Achei que isto pudesse lhe ser útil no ano que vem.

Não vou dizer mais nada aqui. Conto quando a gente se encontrar.

Espero que os trouxas estejam tratando você e ao seu irmão bem.

Tudo de bom,

Hagrid.

 Charlotte olhou desconfiada para o embrulho. Não era segredo para ninguém que Hagrid tinha uma paixão por bichos perigosos que ele considerava adoráveis! Ela sabia que ele jamais iria querer colocá-la em risco propositalmente, mas Hagrid não encarava o risco como a maioria das pessoas. Isso talvez porque ele quase nunca esteve em risco de verdade, já que é imune a praticamente todos os feitiços graças à sua herança genética de gigantes.

Cutucou o embrulho e ele fez um barulho suspeito. Era mais sensato da parte dela guarda-lo e esperar a chance ideal para abri-lo. Porque se aquela coisa, o que quer que fosse, soltasse fogo ou coisa do tipo, tia Petúnia iria coloca-la para dar faxina e lavar a prataria.

Ao carrega-lo, ele tentou se soltar de seus braços e estava se mexendo, como um pequeno animal que tentava escapar. Ela franziu o cenho, perguntando-se que diabo podia lhe servir para o período letivo. Tinha o tamanho e o peso de um livro, mas por que um livro se mexeria e grunhiria tanto?

De qualquer forma, Charlotte jogou-o dentro do baú de seu enxoval. Lidaria com aquilo mais tarde.

Percebeu então que a carta de Hogwarts provavelmente viera de carona com o embrulho de Hagrid. Ela estava mais grossa dessa vez, provavelmente haviam aumentado a lista de materiais e também tinha a autorização para Hogsmead, um vilarejo completamente bruxo próximo ao colégio. A partir do terceiro ano os alunos tinham autorização para visita-lo nos fins de semana e Charlotte estava particularmente animada com aquilo.

A última carta e último embrulho, ela também já sabia de quem era e estava um pouco surpresa, porque Draco nunca a escrevia ou a dava presentes.

Cara Charlotte,

Desejo-lhe um feliz aniversário.

Zara sente sua falta.

Espero que goste do presente.

Draco Malfoy

 

Ela inclinou as sobrancelhas meio desconfiada. Com Draco nunca se sabia, afinal de contas.

Eles não eram exatamente amigos, mas também não eram inimigos. Zabini mais de uma vez havia lhe dito que acreditava que Draco talvez tivesse uma queda por ela, mas Charlotte duvidava muito. Entretanto na última semana de aula, enquanto Charlotte passava pelo dilema de ‘o que fazer com Zara’ que era sua gatinha de estimação, ele foi o primeiro a se oferecer para leva-la pra casa e cuidar dela durante o período que estivessem de férias. Não houve nem muito para Charlotte argumentar, afinal ela realmente precisava que alguém ficasse com Zara e naquele verão Blaise não poderia.

Com um aperto no coração, lembrou-se da querida amiga. A bela e fofa bola de pelos brancos, gorducha e que amava tanto. Fez uma nota mental de comprar várias latas de atum para recompensá-la.

O presente se tratava de alguns doces que ela sabia que a senhora Malfoy preparava pessoalmente e Charlotte sempre insistia em roubar um ou outro de Draco quando ele recebia. Tinha também uma caixinha de música, que ela achou bem delicado e ficou surpresa ao constatar que Draco também podia ser delicado.

Deu um fim naquela carta. Embora ela duvidasse que Harry fosse ler aquilo, às vezes até Charlotte se sentia estranha por manter alguém como Malfoy tão próximo a ela. Draco era uma das muitas complicações que havia na casa da Sonserina. Sua casa.

Havia uma grande rivalidade entre a Grifinória e a Sonserina que eram, respectivamente, a casa de Harry e a casa dela. Desde o momento que seu irmão fora sorteado para a casa dos leões, Charlotte tinha certeza que era em outro lugar que ela deveria estar e quando o chapéu foi depositado em sua cabeça, ele estava pronto para gritar GRIFINÓRIA, mas mentalmente Charlotte gritou pela atenção do chapéu e o implorou para que a colocasse longe de seu irmão.

Até hoje ela se perguntava por que diabos havia feito aquilo, entretanto com o tempo ficava cada vez mais claro o motivo. Havia algo estranho dentro de Harry, havia algo escuro dentro dele e que a mantinha afastada. A diferença é que a menina de 11 anos na época não sabia explicar por que queria ir para longe do irmão que a vida toda tinha sido seu único amigo.

Quanto mais os anos passavam, mais aquela sombra na alma de Harry parecia tomar espaço. Ela se sentia estranha quanto ao seu irmão, ela não gostava que ele a tocasse, ela não gostava de encará-lo. Merlin, ela sabia que era errado, e como sabia, mas às vezes ela se perguntava por que simplesmente a morte não o levara durante todas aquelas situações perigosas que ele passara.

Claramente havia algo dentro dele que iria mata-lo em algum momento. Então por que prolongar o sofrimento?

Sacudiu a cabeça com força, dizendo a si mesma que devia parar de pensar em besteiras.

— Mente ócio é oficina do diabo. – Charlotte murmurou. – Pelo menos você não pensa em asneiras enquanto encera o chão.


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