Uma canção de Sakura e Tomoyo: beijos e despedidas escrita por Braunjakga


Capítulo 9
A Valente




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I

Tomoeda, 7 de agosto de 2002

Dia do encontro de Sakura

 

Manhã.

Uma pequena nuvem de pó se levantava, a partir das cerdas da vassoura com que a lojista varria o chão, antes de abrir a loja.

Bateu com a vassoura no display giratório, cheio de cartões, viu que um estava meio torto e outros estavam fora de lugar.

Na estante de brinquedos de pelúcia, os peluches estavam com as etiquetas no lugar errado.

"Essas meninas bagunçam demais aqui… Ah, Meninas! Quem nunca teve 12, 15 anos?", pensou e sorriu.

Maki Matsumoto, a morena se cabelos longos, que tomava conta daquela loja, já estava acostumada com aquela bagunça.

Encostou a vassoura e ajoelhou-se para arrumar os brinquedos da estante de baixo. Fazendo isso, sentiu uma pontada de dor no pescoço.

Esfregou as mãos e percebeu que o cataplasma no pescoço era a fonte da dor.

Lembrou-se da mordida que levou, há algumas semanas: um louco veio com tudo, mordendo o pescoço dela.

O homem a agarrou e não queria soltá-la. Só conseguiu se livrar daquilo quando um policial apareceu para ajudá-la.

Como custava a se livrar daquelas memórias.

Mesmo com a cidade recheada de agentes da polícia nacional, não se sentia segura. O louco misterioso parecia atacar apenas um tipo de vítima, tal como um assassino em série, e Maki temia voltar a ser vítima.

Esfregando o pescoço, de repente, um cliente bateu na porta da Twin Bells, sua loja.

— Estamos fechados agora, a loja abre às nove.

As portas de vidro da loja se quebraram assim que a senhorita Maki falou.

A mulher pulou e gritou de susto.

Um homem de armadura vermelha como sangue entrou, esmagado a cada passo, os cacos de vidro no chão.

O homem estava com a cara arrasada, cheia de hematomas, um óculos quebrado e os cabelos despenteados, sujos de sangue.

— Tem muita energia Clow saindo da Senhora… Eu estou aqui, buscando por essa e energia.

— Não é possível! Você é o Kenji, o pai da Naoko? Não é possível, você está morto! – A mulher estava desesperada, tremendo, tentando entender o que era aquilo.

— A morte não é obstáculo, para aquele que me enviou… 

Kenji encurralou Maki e estendeu a mão para ela, tentando agarrar a mulher. 

A vassoura que usava, permanecia próxima da estante.

Ela tentou bater na cabeça dele com tudo, mas Kenji resistiu ao ataque.

Ele puxou o cabo de vassoura, trouxe a mulher para si e sufocou a vendedora com os braços.

— Você não pode me impedir de controlar as cartas Clow… 

Os olhos de Kenji brilhavam em vermelho, Maki se contorcia.

 

II

 

Na frente da Twin Bells, carros e mais carros de polícia estavam estacionados.

A rua da loja estava fechada por cordões de plástico, recheado de tiras diagonais nas cores preta e amarela, dizendo "não ultrapasse".

Perto das tiras, agentes e agentes da polícia municipal de Tomoeda faziam o cordão de isolamento. Atrás deles, enormes furgões da polícia bloquearam o acesso.

O povo não sabia o que acontecia atrás deles, não dava para ver nada, a única coisa que se escutava eram os tiros e mais tiros disparados pelos agentes do outro lado daquela muralha de pessoas e aço.

Helicópteros estavam proibidos de levantar voo e fazer imagens aéreas.

Os agentes da polícia nacional estavam tensos,  faziam de tudo para afastar a imprensa e os curiosos. Até mesmo o parque do pinguim estava interditado.

O maior objetivo da força policial era evitar que o povo visse uma série de sacos pretos estendidos na rua, na frente da loja: dez policiais foram mortos lutando contra aquela criatura que estava na loja e fazia Maki de refém.

Flechas vermelhas como sangue estavam encravadas no peito de cada um.

Protegidos atrás das portas dos carros, os agentes dispararam. 

— Droga! Esse cara não morre não? – disse um agente.

Uma flecha, vermelha como sangue, furou a lataria da porta e acertou o agente.

Era o décimo primeiro que morreu.

— Recuar, recuar!

Hikaru, a agente de cabelos ruivos, era quem comandava a ação. 

Subaru, o rapaz de cabelos pretos bem aparados, que lhe ajudava, se escondia atrás da viatura.

— Já foram 11 agentes, Hikaru! Isso não é um caso pra polícia mais! Você sabe que eles vão vir se a gente não conseguir resolver, não é?

— A gente tem que chamar eles mesmo?

Subaru respondeu com uma cara de que não podia fazer mais nada.

— Tá certo, vamos tirar o pessoal daqui e ligar pra eles… 

 

III

Casa dos Kinomoto

Minutos antes… 

 

Na casa de Sakura, a cena do dia da morte de Kenji, se repetia diante da TV.

Touya e o pai assistiam as imagens do noticiário e ouviam o barulho de tiros, dentro da sala de casa.

Os dois estavam sérios.

— Em que mundo viemos parar, parece que esses caras que a polícia tá enfrentando são barra pesada mesmo!

— Isso se forem um grupo grande, filho! O que eu duvido.

— Mas claro que tem que ser um grupo grande… 

Enquanto discutiam, o celular rosa de Sakura tocou.

Ela se afastou um pouco dos dois e atendeu:

— Alô, Shoran-kun?

— Sakura, você ouviu, né?

— Sim, ouvi sim, Shoran-kun! 

— Você sabe o que a gente tem que fazer, não sabe?

Sakura olhou para o chão, com a barriga agitada de medo. 

— Eu vou ligar pra Tomoyo…

— Não tem essa de Tomoyo! É só eu e você!

— Mas…

— Mas nada! Aqueles caras da polícia já estão lá, esperando pela gente! Ela não tem como se defender e a gente não tem como proteger ela, ela só vai atrapalhar!

— Tá bom… 

 

***

 

Contrariada, Sakura subiu as escadas, pegou o livro das cartas na gaveta do quarto e chamou Kero, que já estava sério, com a aura em volta dele brilhando em amarelo.

— Vamos, Kero-chan!

A Cardcaptor tocou a chave do lacre no pescoço e ela virou o báculo com a estrela dourada na ponta.

 

***

 

Para não chamar a atenção do pai e do irmão, Sakura saiu pela janela do quarto, se apoiando em uma árvore que estava próxima à janela de seu quarto.

Subiu nos galhos e desceu pelo tronco.

Pisou em falso numa casca de árvore e escorregou.

O livro das cartas e o celular pularam de suas mãos, o báculo também.

— Ai, ai, Kero-chan, você nem pra me ajudar?

— O-Ou! A gente foi pego! 

— Não disse, papai, que tinha um monstrengo grande aqui?

— Eu não sou monstrengo não, meu chapa!

Sakura levantou os olhos e viu Touya segurando Kero pelas asas. 

Fujitaka também estava lá fora. Ele reconheceu o livro das cartas, tirado da sua biblioteca no porão, e ficou examinando o báculo rosa.

Sakura não soube o que fazer, diante do olhar sério do pai.

— Eu acho que a Sakura-san tem muito a explicar pra gente, Touya. Pra onde você está a indo, Sakura?

 O professor não sorria como das outras vezes que Sakura se lembrava.

O celular tocou. Touya atendeu. 

— Alô, Sakura! Você viu? Vamos lá pro parque do pinguim agora! Eu liguei pro Syaoran-kun, mas ele não me atende, acho que só você pode ver isso mesmo… 

— Obrigado, Tomoyo…

— Touya-san!!!

O rapaz desligou o celular na hora.

— Papai, deixa eu explicar… 

— Você explica mais tarde, o Syaoran-san também vai conseguir explicar, vamos todo mundo lá pro Parque do Pinguim.

Sakura olhou para Kero e ninguém soube o que fazer.

 

IV

 

— Olha, Subaru, a gente nem vai precisar ligar para eles… – Hikaru, a mulher de cabelos ruivos, apontou para o alto e Syaoran saltou de um prédio e mais outro, até parar na frente da Twin Bells.

O Rapaz estava vestido com sua longa veste cerimonial de batalha verde e estava armado com sua espada.

— Tá na hora de eu levantar a barreira…

Um pentagrama apareceu nas mãos de Subaru e toda a rua ficou coberta, de ponta a ponta, até o limite dos furgões da polícia, por uma estrela azul transparente.

Quem não tinha magia, não podia ver a barreira. 

Os agentes com poderes mágicos se encarregaram de reforçar o cordão de isolamento até mesmo para os outros agentes não ficarem observando magia em ação.

 

***

 

Touya, Fujitaka, Kero e Sakura chegaram perto do parque e viram, sem dificuldades, aquela forma mágica.

— Tá vendo aquilo, pai?

— Sim, filho , só não sei se a gente vai conseguir passar…

— Vão sim, isso é só uma barreira mágica pra evitar que qualquer magia usada dentro dela afete o mundo dos comuns, só magos podem passar por ela. – disse Kero.

— E o que acontece se alguém sem magia entrar, bola de pelos? – indagou Touya.

— A pessoa dorme na hora… 

— Hum… então vamos indo… 

Os quatro passaram fácil por ela.

 

*** 

 

Sakura estava muito muda, com vergonha ainda de toda a descoberta de seus poderes mágicos.

O pai não lhe perguntou nada no carro, ela também não falou.

Touya ficou fazendo piadas com Kero o tempo todo e os dois, pasmem, pareciam se entender.

Quando Sakura chegou na Twin Bells, encontrou os dois agentes que viu no dia do enterro do pai da Naoko.

— Subaru-san! Hikaru-san!

— Olha quem chegou aqui! Se não é a Sakura! – disse, sorrindo, a mulher de cabelos vermelhos.

— Agora sim, parece que a família toda veio ajudar, não é?

— Olá, agentes, a gente só veio aqui pra entender, e tô vendo que a coisa tá feia aqui… – disse Fujitaka.

— Temos dois médiuns aqui, já ajuda a encontrar o ponto fraco daquela coisa… – disse Subaru, com uma série de papéis nas mãos.

— Um onmiyouji também é de ajuda… – comentou Touya.

Os corpos dos onze agentes mortos ainda estavam lá cobertos por sacos pretos, sendo levados aos poucos pelos agentes da polícia nacional que eram magos.

Na frente deles, estava Syaoran, com a espada em riste e um papelzinho amarelo, que usava para conjurar magia, em suas mãos.

— Syaoran-kun!

— Syaoran-san!

— Olha lá o pirralho! Sabia que tava levando a Sakura pro mau caminho…

— Até que enfim a gente concordou, cara!

Ele estranhou a presença dos parentes de Sakura.

— Eles já sabem de tudo, Shoran-kun! – disse a Cardcaptor agoniada, tentando se explicar.

— Tô vendo… só sei que essa coisa aqui não tá sendo fácil…

O guerreiro deu pulos para trás e se juntou ao resto do povo. 

Kenji Yanagisawa saiu da loja, com a senhorita Maki nos ombros, desmaiada, e um arco na outra mão, que usou para atacar os policiais:

— Vejo que as cartas Clow já estão aqui… Me entreguem e eu deixo ela solta…

Touya e Fujitaka estranharam aquilo.

— Kenji, mas não tava morto? – Fujitaka estava atônito.

— Ele não é o Kenji que vocês conheceram, ele tá mais pra um Ghoul do que uma pessoa viva! 

— Mas por que ele tá assim? – indagou Touya

—  Sei lá o que fizeram com ele, mas quem fez, fez o negócio bem feito, ressuscitar um homem das cinzas…  – explicou Hikaru.

Kero, que até então estava como um pokémon em uma pokébola nas mãos do estudante universitário, se transformou de imediato em sua forma verdada de grande leão alado assim que viu Kenji vestido: um peitoral e um saiote de uma armadura vermelha como sangue.

— Ordem do Dragão!

Todo mundo ficou espantado.

O guardião rangia e rugia contra o homem.

— Sakura, só o poder das cartas Clow pode vencer aquilo!

— Eu duvido, Kerberos, que vocês possam me vencer. Eu tenho o poder, eu posso usar ele a qualquer momento… 

— Esses malditos sabem até meu nome!

— Como assim? – Estranhou Syaoran.

— Vocês nunca vão entender o que é magia… mas eu vou mostrar pra vocês o que ela é!

Kenji levantou a mão e uma rajada de ar varreu os carros de polícia, que estavam estacionados na frente da loja e serviam de trincheira contra ele.

— Agora vocês não tem onde se esconder… 

Sakura olhou suplicante para o pai:

— Papai, eu preciso das cartas! Eu preciso desse livro! Eu preciso mostrar pro senhor a verdade! Eu preciso mostrar quem eu sou!

— E eu preciso saber que você vai ficar bem, mocinha! Você pegou um livro da minha biblioteca e não me falou nada! Um livro que eu nem sabia para o que servia e me parece que é pra coisa perigosa!

— Pois se ela não tivesse feito isso, eu ‘taria trancado nele até agora! – disse Kero. 

— Senhor Fujitaka, não seja por isso! Eu estou armado e preparado com duas espadas mágicas pra proteger essas cartas e a Sakura.

Syaoran guardou a espada, esfregou as palmas das mãos, e as outras duas espadas que sua mãe lhe enviou de Hong Kong apareceram, assim que afastou as mãos. 

— Impressionante! – Touya ficou boquiaberto. 

— Não só isso, senhor Fujitaka! – Hiraku calçou uma luva branca com uma orbe rubi nas mãos. A luva pegou fogo na hora, e uma espada saiu das chamas, sem queimar a indumentária. – Nós vamos proteger a Sakura…

— Eu não diria isso… 

Kenji apontou o arco para eles, disparou uma flecha, sem ao menos precisar da outra mão, mas Subaru jogou os papéis brancos, que tinha nas mãos, no ar, e a flecha foi parada, como se um escudo invisível estivesse entre eles.

— Senhor Fujitaka, não vou poder segurar mais! É agora ou nunca!

— Anda logo, velho! – Kero pulou na frente de Kenji e ameaçava voar no pescoço dele se ele desse mais um passo ou levantasse o braço novamente.  

Hesitante, o professor entregou o livro das cartas para Sakura.

A garota pegou uma carta dentro do livro e pronunciou a conjuração mágica.

— Carta criada pelo mago Clow, abandone sua velha forma e venha servir ao seu novo dono! Em nome de Sakura! Flecha!

Sakura tocou na carta e o báculo se transformou em um arco rosado nas mãos dela.

— Já que você tá usando um, vou usar um também! Se prepara! 

Fujitaka e Touya ficaram surpresos, vendo o círculo mágico dourado nos pés de Sakura e os rodopios do báculo mágico na mão dela.

— Eu sabia que a Sakura tinha um poder latente dentro dela, só não sabia que ia ser isso! Já sabia disso, Touya?

— Se o Yukito não tivesse estudando na Coreia, eu forçaria ele a mostrar a cara dele de verdade! 

— Por Deus! Até o Yukito! 

Sakura puxou o arco e apontou para Kenji, tremendo.

— Lembre-se, Sakura, ele não é o pai da Naoko! – Disse Subaru.

Fechou os olhos, soltou o arco. Uma flecha de prata surgiu e acertou em cheio o peito de Kenji.

Os olhos dele deixaram de ficar vermelhos brilhantes e voltaram a ficar normais.

O ex policial perdeu as forças, soltou a arma das mãos e começou a se ajoelhar.

Syaoran correu para segurar a vendedora, antes que ela caísse no chão. 

Seu corpo começava a se esfarelar no ar como pó.

— Naoko, Ai… me desculpa… 

— Você não tem culpa, Kenji! Você sabe quem fez isso com você?

— Gente com armadura negra como a noite… não tenho mais tempo, agentes! Continuem a missão… uma hora… eles vão vir até a Sakura… 

Kenji sorriu vendo a amiga da sua filha.

— Nunca pensei... em ver que tudo o que eu acreditei… sendo verdade… proteja a Naoko… Sakura!

Kenji fez uma continência e desapareceu no ar, como poeira. 

A armadura vermelha como sangue caiu no chão, no monte de cinzas que sobrou do corpo de Kenji.  

Kero voltou a ficar como boneco, olhando sério para o peitoral e o saiote, tudo o que sobrou daquela armadura, com a aura brilhando em amarelo.

— Ordem do Dragão… Eu nunca imaginei ver vocês de novo… 

— E eu que nunca pensei que seria tão fácil assim! – disse Touya.

— E não foi mesmo. Eu mesmo aqui estava tendo resultados pífios com a minha magia. Tentei me aproximar com a espada, mas era perigoso. As cartas Clow tem um poder mágico tão grande que consegue lidar com coisas como ele com facilidade… 

Fujitaka tossiu, chamando a atenção de todo mundo.

— Bem, agora que o problema está resolvido, está na hora de vocês me explicarem tudo sobre o que é essa coisa de cartas Clow e o que é esse negócio de Ordem do Dragão… – Fujitaka tornou a ajeitar os óculos e a ficar sério. 

Nesse momento, os arbustos se mexeram e Tomoyo caiu de lá, desastrada, com uma câmera nas mãos; Luvas e botas roxas estavam em seus pés e um bastão estava pendurado em suas costas, segurado por uma correia nos ombros.

— Senhor Fujitaka, não briga com a Sakura e com o Syaoran! Eu posso explicar tudo! 

— Tomoyo! Até você tá metida nisso! – Estranhou o professor.

— E como! Juntas e misturadas! – complementou Touya.

Syaoran olhou feio para ela.

Subaru e Hiraku se olharam e ficaram boquiabertos.

— Como é que ela atravessou a barreira?

 

Continua… 


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