Uma canção de Sakura e Tomoyo: beijos e despedidas escrita por Braunjakga


Capítulo 7
A Enamorada




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I

Tomoeda, 6 de agosto de 2002

 

Manhã. Eram onze horas.

Diante da casa amarela da família Kinomoto, uma moto scooter da Yamaha parou.

Era Tomoyo. Ela buzinou e esperou.

Seu coração estava tremendo mais que o motor da moto ou o medo de ser pega pela polícia.

“Essa moto vermelha está guardada há muito tempo nos porões da minha casa. Havia um grande risco de ela não pegar mais, felizmente, deu tudo certo. Passei um dia inteiro lavando, passando cera na lataria e pretinho nas rodas, tudo para deixar essa moto como nova. Mas para aquele dia de rebeldia? Quem sabe…” , pensou.

Saiu de casa, vestida de yukata roxa e sandálias de madeira, e passou no posto de gasolina para a abastecer. 

Chegou lá e encontrou uma viatura da agência nacional, mas não foi abordada. Nem o frentista perguntou nada. 

Menos mal.

“Não tenho permissão para andar de moto, não tenho nem 18 anos para tirar a carta! Mas, meu espírito rebelde, aqui dentro de mim, fala mais alto”, pensou mais uma vez.

Depois de uns minutos, Touya saiu, sorrindo para ela.

— Oi, Tomoyo, tá esperando a Sakura, é? 

— Estou sim! Vou levá-la para passear um pouco… 

— Sei… Vai é comprar roupa pra ela passear com o pirralho, não é?

— Também, mas eu quero que esse dia seja só nosso… – Ela sorriu, como se estivesse escondendo um segredo sedutor dele.

A Costureira falou num tom de voz tão suave que O irmão da Cardcaptor olhou pra ela suspeito.

Touya sorriu com cumplicidade, como se estivesse partilhado daquele segredo de Tomoyo.

— Então, boa sorte…

O estudante abriu a porta de casa e gritou:

— Oh, Godzilla, a Tomoyo tá te esperando, e você só fica aí enrolando!

A voz de Sakura veio do alto do quarto, na mesma proporção.

— Enrolando uma obra! Falei 11 horas, agora é dez pras onze! E você nem pra convidar a Tomoyo pra entrar! Que mal-educado! E eu que sou a monstrenga!

Touya sorriu e já ia chamando a morena para entrar. Foi quando Sakura desceu das escadas, voando.

— Prontinho! Agora eu já estou arrumada! Nossa, eu me enrolo demais! 

Os cabelos de Sakura estavam bem lisos, ela tinha acabado de passar o secador, com a ajuda de Kero, é claro, pois tinha um lado mais bem feito que o outro. 

A Cardcaptor resolveu usar uma franjinha na testa, como a parceira usava, para variar um pouco, sem outros adornos na cabeça.

A yukata de Sakura era o rosa de sempre, com flores de cerejeira.

— E aí, como é que eu tou?

— Você está linda, Sakura, simples assim!

Tomoyo sorria com malícia.

Sakura ficou vermelha.

— Para com isso! Vamos! – A flor de cerejeira deu uns tapas no ombro da parceira e as duas subiram na moto.

Só foi quando Sakura já tinha colocado o capacete e estava sentada que se tocou que Tomoyo estava de moto.

— Peraí, a gente vai de moto, é? 

Antes que pensasse mais, a costureira saiu em disparada, com Sakura tentando se agarrar para não cair.

Agora, foi Touya quem ficou na dúvida.

Desceu as escadas e só viu a poeira que a moto ia deixando na rua.

— Hey, elas tão de moto, é? Mas a Tomoyo não tem nem 18 anos! Hey, volta aí!

 

II

 

O imenso portal vermelho do templo Tsukimine era o ponto de partida para uma sequência de linhas que se estendiam por todo o local.

Presas naquelas linhas pretas, a casa dois metros e meio, lanternas e mais lanternas vermelhas, cheias de kanjis, faziam uma fila, passavam por cima das barracas e das pessoas e só terminava no lago do templo.

Lá, era a nascente do rio Tomoeda, que circulava por toda a cidade. Ele era melhor visto, em todo o seu esplendor, no parque do pinguim.

Era lá, no lago do templo, que Sakura e Tomoyo conversavam, as duas juntas, a sós.

— Nessa hora tem pouca gente aqui, né?

— Mais tarde, isso daqui vai encher, isso sempre acontece… 

Nas mãos de Sakura, estava a sacola com a yukata que tinha comprado, para o encontro de amanhã.

Era uma yukata azul marinho, com estampas de peixes ornamentais e plantas marinhas.

— Quer que eu guarde para você, Sakura?

— Ah, sim, por favor! Vai que a gente dá uma olhada nessas barracas e resolve comprar umas coisinhas, né?

Perto do lago, havia uma escadaria que dava acesso à uma rotatória. Tomoyo deixou a moto lá. Assim que ela voltou, a bruxinha estava encostada na grade de madeira do lago, olhando sorridente para os peixes.

A morena se aproximou dela.

— Acho que isso ficou meio caro, não ficou? Viu o preço daqueles pauzinhos dos coques? E as presilhas?

— Eu faço de coração.

— Ah, Tomoyo-chan, você com essa coisa de fazer de coração! 

— Eu não quero nada de volta, não tenho interesse nenhum neles… Meu único interesse é você.

Sakura sorriu, ficou calada por um tempo, se perdendo nos peixes, depois tornou a falar:

— Meu interesse é você… meu interesse é você… Hum… Tomoyo-chan, eu tou naquela idade que eu escuto uma coisa dessas, eu entendo outras coisa, sabe? 

— Que coisa que você entende, Sakura?

A cardcaptor ficou mais vermelha que nunca. Tinha vergonha de dizer, mas a costureira já sabia que ela tinha pensado alguma coisa dela, uma coisa que Sakura não entendia, mas via que era possível. 

— Que você gosta de mim? – A cardcaptor sorriu timidamente. Depois, o sorriso tímido virou uma gargalhada que fez Sakura encolher a barriga. 

Tomoyo percebeu que, do fundo da alma, a bruxinha queria que ela sorrisse naquele momento também, como uma grande brincadeira, mas ela não gargalhava como ela. Estava parada, apenas sorrindo com os lábios, um sorriso meio triste, meio feliz.  

Sakura se sentiu desesperada, parou de sorrir e se sentiu envergonhada de fazer aquilo. 

Desviou o olhar da parceira, de tanta vergonha que sentiu.

— Eu gosto de você, Sakura! Você quem nunca entendeu.

— Que você gosta de mim? – Sakura balbuciava e tremia a cada palavra que proferia. – Tomoyo… eu não tô preparada pra isso! 

— Sakura-chan, o que você pensa pro seu futuro? Se casar com o Syaoran-kun, ter filhos com ele, ser feliz pra sempre? 

Ela ficou travada, mas não hesitou em responder:

— No momento… no momento, sim, Tomoyo-chan! Ele tá se esforçando tanto, por mim… Por nós dois… Ele saiu da China pra poder ficar do meu lado… Tem coisa mais preciosa que isso? 

“Eu também estive me esforçando esses anos todos por você, Sakura, e ninguém nunca percebeu”, pensou Tomoyo.

— Disse alguma coisa?

— Nada não, Sakura, nada. – Tomoyo pensou se Sakura não tinha a capacidade de ler seus pensamentos também. – Eu só acho que, eu só acho que tá muito cedo ainda pra pensar num futuro desses assim, com alguém… Você não parou pra pensar que não conhece muito sobre ele?

— Pensar, eu já pensei nisso, mas agora, eu só quero viver… Viver, só isso, e acreditar no futuro… Eu não sei pra onde ele vai me levar, só sei que, eu quero que vocês estejam lá também, você e o Shoran-kun…

Sakura agarrou as mãos de Tomoyo, como uma súplica, olhando para ela com os olhos marejados de emoção. 

— Eu não sei se eu vou estar no seu futuro, Sakura, o futuro muda a toda hora… Eu posso me mudar, de cidade, de país… Com esse maníaco do beco, nem sei se eu vou estar viva amanhã… 

Sakura ficou desesperada.

— Vai sim! Você vai estar no meu futuro, sim! Eu faço questão! Se a gente ficar juntas, finalmente juntas, a gente vai chegar lá… – Sakura coçou a cabeça. – Acho que é assim que se fala.

Tomoyo se soltou das mãos de Sakura. Sorriu.

— Eu não sei, eu não tenho muito tempo, Sakura! Mas, com o pouco de tempo que eu tenho, só quero que você saiba… só tenho a te dizer que… Só tenho a te dizer que… muita gente te amou muito, Sakura, muita gente ainda vai te amar muito e… 

A costureira tocou as bochechas dela e se aproximou de Sakura, trazendo o corpo dela para perto de si, com a outra mão na cintura dela.

Tudo o que a cardcaptor fez foi arregalar os olhos.

— … Eu te amo muito, Sakura!

— Peraí, você me ama muito, é? Eu também te amo muito e… 

Não deu tempo de Sakura falar e Tomoyo foi logo consumindo os lábios de Sakura, passo a passo, pouco a pouco, toque a toque, até abrir completamente os lábios dela com a sua boca e encontrar a língua dela.

Sakura não entendeu nada daquilo na hora ou preferiu não entender. Preferiu aproveitar aquele momento. Agarrou-se ao pouco de tempo que Tomoyo falou que tinha, na mensagem anterior, e abraçou-a como se ela estivesse de partida, enquanto recebia aquele beijo dela.   

Abraçou-a apenas alguns minutos, alguns minutos apenas, Sakura afastou suavemente o corpo das duas e falou ruborizada:

— Acho melhor a gente ir, tá ficando meio tarde, o povo pode ver a gente e achar que isso não é legal, fora que a gente já tá atrasada! 

Nem raiva, nem medo, nem pânico Sakura demonstrou recebendo aquele carinho inesperado. Nem mesmo se gostou ou detestou aquilo. Apenas sorrisos, um medo da reação do povo e um senso de atraso que ela não esperava. 

“Parece que não vai ser hoje que eu vou surpreender você, decepcionar você… Pra você, nossa parceria, nossa amizade é mais forte que tudo, né, Sakura? Tem como eu não te amar tanto assim?” – Pensou a morena.  

A cardcaptor correu as escadarias e se apressou para ir para a moto. 

Tomoyo, congelada diante daquela reação que ainda não esperava, se apressou logo depois.

— Você é incrível, Sakura, você é incrível mesmo! – depois gritou: – Me espera, já estou indo!

 

III

 

No topo das escadarias da rotatória, sem que elas esperassem ou percebessem, uma pessoa olhava para aquela cena toda, chocado, boquiaberto.

Era Syaoran, atônito. 

Vendo a Cardcaptor, a pessoa para a qual se declarou e renunciou a posse das cartas, no juízo final de Yue.

Vendo a mestra das cartas, cartas estas historicamente suas, da sua família, já que a mãe de Clow era uma Li, agarrada com outra pessoa, pior, agarrada com uma mulher como ela, aos beijos.

Pior, com Tomoyo, a pessoa que mais apoiou a união dos dois.

Agitou a cabeça, saiu de lá e foi para o hotel, antes que fosse visto.  

“Aquilo não podia ser verdade”, pensou.

 

Continua… 


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