Uma canção de Sakura e Tomoyo: beijos e despedidas escrita por Braunjakga


Capítulo 5
O Guerreiro




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Tomoeda, Japão

4 de agosto de 2002

 

I

Era domingo.

O sol de verão tingia os céus com um tom alaranjado.

No quarto de hotel onde estava, Syaoran pegou o telefone e discou para a família, em Hong kong.

Ele ainda vivia na China, mas se preparava para voltar para o Japão em um ano ou dois.

Só precisava deixar algumas coisas acertadas no país natal, para retornar definitivamente para o lado de Sakura.

Enquanto isso não acontecis, aproveitou as férias de verão para ficar do lado da amada, pois já dizia sua prima “a distância não é motivo para separar as pessoas, mas a falta de atitude, sim”.

Aquilo tocou fundo no orgulho do pequeno guerreiro.

— Alô?

— Alô, Syaoran?

O pequeno lutador tomou um choque:

— Como sabe que sou eu?

— Eu senti a sua presença, maninho! Pra que esse choque todo?

Uma risada foi ouvida do outro lado da linha. Era Fuutie, uma das irmãs dele, a terceira mais velha por ordem de nascimento.

O pequeno guerreiro respirou fundo antes de continuar:

— Nossa, Fuutie! Tá acontecendo tanta coisa aqui, sabe?  

— Tou sabendo, a mãe passou pra gente. Tem um cara meio sinistro aí em Tomoeda, né?

— E como! Não é só ele não, os federais tão na jogada…

— O federais? Isso deve ser perigoso! Mas que diabos é isso que você tá aprontando aí, maninho?

— Pode deixar comigo, Fuutie! Eu vou manter a salvo as Cartas Clow! Não vou deixar que os tiras relem a mão nelas!

— Mano, eu espero que tudo dê certo mesmo! Falando nisso, a mãe quer falar com você.

— Passa pra ela…

— Antes que eu vá, maninho, você já pediu a Sakura em namoro?

O irmão de Fuutie ficou vermelho como pimentão. Foi tentar responder, mas quase se engasga com a falta do próprio ar e com um coração saindo pela boca.

— Que é que você tá falando, menina? Olha isso! Eu nem sei se vou voltar pra cá direito!

— Como não sabe? É você que é mole, rapaz! Acho melhor você falar logo ou vem outra pessoa e vai roubar a Sakura de você!

— Vai brincando! Eu sei que a Sakura gosta de mim, e eu dela! – gritou.

— Sei, mas essa sua moleza aí vai deixar ela plantada, sei não! Mulher nenhuma gosta disso!

— Eu já vou falar com a Sakura!

— Vou esperar, tá? Eu sei que você não vai deixar esse tesouro, que são as Cartas Clow, nas mãos de outra pessoa, não é? Fora a florzinha de cerejeira que vem de brinde junto com elas!

— Hey, a Sakura tem personalidade…

— Tá certo! Até logo, mano!

— Até!  

Em poucos segundos, a mãe de Syaoran, Yelan Li, apareceu no telefone.

— Alô, filho?

— Oi mãe, como vai?  

— Se eu disser que eu não estou preocupada com tudo isso, eu estou mentindo… Não só com você, com a Sakura também.

— Mãe, se você tá preocupada com as Cartas, eu já vou logo avisando que eu vou proteger elas…

— Eu não tô dizendo das cartas. Tô dizendo de você e dela.

O chinês se calou.

— Mãe, não quero falar disso mais. Já briguei com os tios e…

— Você não acha que, pra proteger ela, não é mais fácil trazer todo mundo pra cá? Meu filho! Sou ex-coronel! Todo mundo daqui tem condições! A gente pode ficar com ela e a família dela! A Fanrei e a Fenmei tão na academia, os quartos delas tão vagos e…

O pequeno guerreiro ouvia a mãe aborrecido:

— Para, mãe! Já deu! O pai dela tem a vida dele, o irmão dela vai fazer faculdade ano que vem e…

— Então! você não quer que eu vá até aí pra conversar com eles? O pai dela dá pra continuar as pesquisas dele, aqui, na China, o irmão dela pode estudar aqui!   

— Mãe, para de dizer que isso é meu destino, que eu tenho que fazer que nem o resto da família e virar soldado! Eu gosto de praticar kung fu, eu gosto de esportes, eu gosto de futebol… Eu gosto da Sakura, eu gosto de viver aqui também…

Do outro lado da linha, Syaoran pode escutar um longo e lento suspiro, vindo da mãe.

— Tou vendo que não adianta te convencer, né?

— Eu já tomei a minha decisão, mãe, se é isso que você quer saber… Vou ficar mais um ano com a senhora e depois eu venho pra cá, vou tentar fazer uma peneira num time daqui, daí vai dar pra viver…

— Se você passar, rapazinho!

— Eu vou passar, foi a senhora que me ensinou isso, né verdade?

Yelan, do outro lado da linha, sorriu.

— Eu ensinei, né? Não consigo entender como o tempo passou tão rápido e meu filho já virou um homem! Mas, mesmo assim, eu sinto um medo dentro de mim, um medo que me consome, sabe? Tem muita energia ruim do seu lado, meu filho! Eu sinto isso!

— Eu sei, mãe! Eu sinto também! Não vai ser fácil pra mim, mas arranjei quem me ajudasse aqui.

— Você tem certeza que é de confiança, filho?

— Tenho sim, mãe, não vou dar um passo maior que a perna…

— Eu espero que sim, meu filho…

— Por falar nisso, os ofudas e as espadas estão a caminho?

— Sim, vão chegar pela manhã.

— É tudo o que eu precisava saber. Amanhã, eu te ligo de novo, mãe, pra te falar dos avanços, está bem?

— Vou ficar esperando. Não deixe de ligar, hein? Proteja o quarto com ofudas, pra afastar os maus espíritos e os objetos ruins que tentam invadir nossa casa!

O chinês sorriu.

— Eu sempre fiz isso, mãe!

— Continue a fazer…

Syaoran desligou o telefone, com a barriga se agitando de preocupações, graças à mãe.

 

II

 

Ele tornou a se sentar na cama e parou para olhar para um papel, em cima do criado mudo.

Lá, havia a imagem de uma circunferência cortada de cima à baixo por uma risca negra, que parecia ter sido desenhada com giz de cera.

O pequeno guerreiro pegou o papel e sentiu arrepios olhando para aquilo.

— Qual o problema, Syaoran? – disse a imagem no papel, na mente do rapaz.

— O problema é que você está certo o tempo todo. Você me disse, há uma semana atrás, quando eu recebi você pelos correios, que o pai da Naoko ia morrer. Daí, você me disse que dois tiras ficariam de olho em mim, e você acertou, agora você me diz que um cara tá tentando roubar as Cartas Clow, patrimônio da minha família, e esse só era o primeiro passo… Parece até que você quem tá criando isso tudo!

— Eu posso até criar coisas como essas, com a ajuda de alguém, mas, se eu quisesse, se eu quisesse mesmo, eu te impediria aqui e agora só pra ficar com as cartas, mas não é isso que eu quero, só quero te ajudar… – disse o Papel.

O papel mágico brilhou e, as duas espadas, que Yelan Li enviou para o filho e apenas chegariam no dia seguinte, já estavam nas mãos de Syaoran.   

O chinês ficou de olhos arregalados, sem entender nada daquilo.

Pegou as armas e ficou analisando aquilo por um longo tempo, se atentando a cada detalhe para ver se não eram falsificações.

Fechou os olhos, por um tempo, para sentir a presença mágica delas e, as espadas flutuaram no ar, brilhando.

Mesmo assim, o guerreiro ficou desconfiado o tempo todo.

— Você deve estar se perguntando se isso não é uma cópia. Então veja as caixas amanhã, quando elas chegarem e tire suas conclusões.

— Minha pergunta é: por que você faz esse tipo de coisa? Como você faz esse tipo de coisa?

— Porque eu vim de um lugar onde a essência da magia pura impera, a Torre Negra, que sente todo o fluxo de energia mágica do mundo e traça o caminho de cada magia conjurada pelo tempo e pelo espaço. Não pense que o assassinato de Kenji não foi obra da magia, é só parte de uma coisa muito maior…

— Se você sente todo o fluxo mágico, quem foi então quem matou o pai da Naoko? Por que você não impediu eles?

— Eu não impedi eles, porque eu não estou nesse mundo, mas enxergo tudo de longe, se eu quiser fazer alguma coisa aqui, preciso de ajuda… Esse papel na sua mão é o meio que eu encontrei pra me comunicar aqui…  

— Continua, quem foram os criminosos?    

— A Ordem do Dragão foi quem cometeu esse crime. Eles fogem mais ainda ao meu alcance, inventaram uma mágica só deles e há trezentos anos e desejam as cartas… Você compreende as consequências, se eles pegarem elas?

Syaoran dobrou o papel falante em suas mãos, com a intenção de jogar aquela coisa pela janela, mas não fez isso.

— Você pode me jogar pra fora, mas eu nunca vou deixar de procurar por alguém para proteger as cartas…

— Nem eu vou deixar de proteger…

O chinês apertou o papel na mão e colocou no bolso.

Assim que fez isso, um par de luvas pretas apareceu em cima de uma estante.

— Se precisar, você pode usar elas…  

 

III

 

O lutador vestiu as luvas pretas, e raios negros saíram de lá.

Aquilo encheu o peito dele com mais medo do que coragem.

Mas não podia negar, um grande poder saía daquele objeto, tão puro quanto magia natural.

Se aquilo fosse feito de magia negra, estaria se retorcendo no chão do quarto.

Mas isso não aconteceu, e aquilo só serviu para deixá-lo mais confuso ainda.   

Imerso no pensamento se devia confiar ou não naquela voz que saía do papel, o cardcaptor saiu para dar uma caminhada no parque do pinguim.

A tarde chegava ao seu fim, o clima ficava mais frio e uma brisa soprava, remexendo os galhos das árvores ao redor.

Enquanto estava parado na ponte, apoiado nos cotovelos, só olhando os peixes passarem, uma bola de futebol bateu no seu pé.

Ele começou então a fazer embaixadinhas com ela, usando os pés e os joelhos.

Syaoran sempre foi bom com futebol, fazia aulas desde sempre em Hong Kong e já jogava nas categorias juvenis do South China A.A., time local da cidade-estado. Era seu plano usar sua habilidade com a bola para ser contratado por um time do Japão e fixar residência na terra do sol nascente.

Ficou equilibrando a bola com a testa, quando uma jovem mulher loira apareceu.

Seus cabelos eram muito loiros, muito finos, quase transparentes e tinha olhos azuis muito vívidos e bonitos, que pareciam querer devorar o chinês. Os olhos dela o olhavam com desejo, mas Syaoran não entendia o que era isso.

Só de olhar para ela, a bola caiu de sua testa e foi parar no meio do lago.

— Ops, era sua, me desculpa!

O pequeno guerreiro ficou tão vermelho que enfiou as mãos no bolso, com a vergonha que sentiu.

A jovem mulher apenas sorriu e aquilo deixou o rapaz mais vermelho ainda.

Felizmente, o vento acabou levando a bola para a margem do lago, e a jovem mulher recolheu o objeto.

— Não precisa ficar assim, você é bom nisso, sabe?

— É que eu jogo faz um tempo…

— Você joga como um profissional!

Borboletas reviraram no estômago dele com o elogio, e o chinês não conseguiu olhar para a jovem mulher mais.

Coçou a cabeça e o papel com o círculo falante saiu do bolso. O vento levou aquela folha para as mãos da mulher.

— Que desenho interessante, o que é isso?

— Eu acho que é uma torre…

A jovem devolveu o papel para ele.

— Cuidado, hein? Um dragão pode vir do alto dos céus e queimar essa torre todinha!

— Mas uma torre pode resistir à esse ataque, se for muito forte…

— Quem disse que um dragão sozinho derruba um troço desses, hein? Vai sempre ter outros pra tentar…

A mulher sorriu novamente.

Syaoran, até que enfim, conseguiu olhar para ela e sorrir junto.

— Eu vou indo. Quem sabe a gente não se encontra aqui pra bater uma bolinha… Sou a Goti…

— Eu sou o Shoran…

— Que bonitinho! Vou te chamar de ‘Shorancito’, tá bem?

Goti deu uma suave carícia na bochecha dele e deu um beijo na outra.

— Você fica tão bonito quando fica vermelhinho!

Enquanto o guerreiro olhava bobo para tudo aquilo, sem entender nada, a jovem mulher saiu, saltitando pelo parque.

Shorancito ficou tão confuso que nem soube o que pensar mais. A primeira coisa que pensou foi “como uma mulher bonita como aquela dá mole pra um cara novo e inexperiente como eu?”

 

Continua…


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