Uma canção de Sakura e Tomoyo: beijos e despedidas escrita por Braunjakga


Capítulo 13
A Deprimida




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Tomoeda, 23 de agosto de 2002

 

I

 

Noite. Era uma hora tranquila e silenciosa, quase meia noite. 

O quarto de dormir de Tomoyo já não tinha quase nada, nem caixas, nem mobílias. Nem mesmo os aparelhos de seu estúdio de filmagem estavam mais lá. Tudo já havia sido vendido. Apenas havia um cama simples, uma mala com algumas roupas e um caixote de madeira.

Em cima do caixote, estava um martelo. O mesmo martelo que ela usou para pregar aquela caixa. Sem conseguir dormir, a costureira pegou as muletas, levantou-se da cama e abriu aquela caixa, prego por prego. Abrindo a caixa, a armadura vermelha como sangue, que já foi de seu pai, ainda estava lá. Olhou mais atentamente para ela e viu que na testa do capacete havia um quadradinho com quatro listras vermelhas num fundo amarelado em alto relevo. 

Tentou imaginar de que lugar era aquilo. Repassando mentalmente, tudo o que soube foi que seu pai morreu no mar quando o avião caiu, retornando de uma viagem que tinha feito para Barcelona. Tudo o que ele trazia era uma camisa de um time de futebol e aquela armadura vermelha como sangue. Os agentes do governo, por não ter magia, pensaram se tratar de uma fantasia de carnaval e deixaram aquilo passar tranquilamente.

Só de tocar naquele objeto, a garota sentiu que ele tinha um poder mágico dentro. Kenji vestia uma armadura similar, quando atacou a Senhorita Maki. Aquela armadura vermelha como sangue tinha falado com ela, tinha dito que o querer dela era fraco, que ela precisava de mais poder.

Tomoyo chorou. Seu espírito estava em frangalhos. Sakura não ligou, nem conversou mais com ela. Só tinha recebido a visita de Chiharu, Naoko e Rika nesse tempo todo. Fujitaka e Touya, por bondade, foram ver como ela estava. Em nenhum momento perguntou de Sakura, para não se sentir mais magoada ainda.

No fundo, se sentia culpada por ter falado com todas as letras seu amor por Sakura. Arrependeu-se amargamente de ter feito Sakura chorar com aquela revelação. Culpou-se por não ter sido mais sutil, mas jamais se arrependeria de amar a cardcaptor. Lamentou-se por não ter forças para ajudar Sakura, não estar mais preparada para auxiliar a parceira querida e também lamentava não ter poderes mágicos como Syaoran.

As mãos que seguravam o capacete estavam fracas e pediam para cair, estavam mais fracos que seus pés e pulsos anestesiados e inchados de dez dias atrás. 

— Pai… Como é que eu acredito em mim mesma, quando o mundo parece desabar ao meu redor? Como é que eu tenho um poder que pode superar o seu?

Quando as lágrimas pingaram no capacete, uma voz apareceu, na mente da garota.

— Tomoyo… Você nunca foi fraca… Você sempre trabalhou duro por aquilo que você acreditou… Sempre vi sua luta, sei do que falo…  

— Pai? É você?

Aquela era realmente a voz do pai. Até mesmo a sensação ruim que sentiu da primeira vez que tocou naquilo não sentiu mais. Apenas sentiu paz e alívio refrigerando sua alma. A última vez que ouviu a voz do pai foi no fim do inverno de 1998. Moravam em Kyoto, naquela época. Ele viajou para a Espanha e nunca mais voltou. Sonomi se mudou para Tomoeda, cidade de sua infância, logo em seguida. Então, Tomoyo conheceu Sakura na escola. 

— Você tem que continuar trabalhando duro, minha filha!

— Espera! Como eu sei que é você?

— Porque as pessoas que controlam a Ordem agora interagiram com o capacete, tentaram falar com você, tentaram convencer você que você era fraca… Mas você é forte, minha filha! Muito forte! Você não deu atenção pra eles e prendeu a armadura da Ordem nessa caixa…  

— Que Ordem é essa? 

— A Ordem a qual eu pertenci. Uma Ordem que se dedicava a proteger as pessoas e agora, com o surgimento das cartas, está fazendo de tudo para destruir o mundo, está fazendo de tudo para destruir a si mesma… 

— Eu me lembro que o Kero-chan falou dessa tal “Ordem”. Seria a Ordem do Dragão, não é? Mas, o que eles querem?

— Daqui há três dias, um homem de armadura e capa vermelha como sangue vai vir atrás de você! Ele quer você, ele quer as Cartas Clow! Você vai lutar contra ele, você vai vencer ele! Pelo seu bem, pelo bem de Sakura, pelo bem da Sonomi… – A costureira sentiu um choque no peito, ouvindo aquilo.

— Eu vou ter que falar com a polícia! Isso sim! Como eu vou enfrentar isso sozinha, com os meus pés engessados?

— Enfrentando, minha filha, enfrentando!

— Isso mais parece ficção… – Tomoyo gargalhou em meio às lágrimas.

— E a Sakura não te vejo ensinou que ficções podem ser realidade? 

Ela calou-se por um tempo e depois continuou:

— E se, e se, porventura, eu quiser enfrentar esse cara, que arma eu vou usar pra enfrentar ele? A polícia tem pistolas, o Syaoran-kun tem a sua espada e a Sakura tem o báculo, o que eu tenho?

— Na lareira, tem um espeto de ferro todo coberto de carvão, mais ou menos da sua altura. Arranca ele. Quando você tocar nele, ele vai ficar da cor da armadura… 

— Não, eu não vou fazer isso!

— Não é questão de não querer, você vai ter que fazer! Ele vai vir atrás de você e só você!

— Eu vou chamar a polícia!

— Você pode chamar, mas só você vai poder enfrentar aquilo… Com essa armadura… 

— Não, não! Não dá pra acreditar nisso! 

— Você não quer ser forte pra ajudar a Sakura? 

Tomoyo deu risada:

— E a Sakura, por acaso, vai ver isso?

— E você precisa disso, minha filha? Se os outros não dão valor pelo seu esforço, dê valor a si mesma, por você!

As palavras do pai esquentaram aos poucos o coraçao de Tomoyo. Por incrível que pareça, ela finalmente consegiu abraçar aquele capacete, chorando lágrimas um pouco mais felizes.

 

Continua…    


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