O Segredo da Capital do Oeste escrita por Izzy Aguecheek


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Fun fact: originalmente, o capítulo 1 e o 2 eram um capítulo só. Daí, eu vi que ele estava ficando gigantesco, e dividi em dois, o que atrapalhou todo o meu planejamento e meu roteiro pros capítulos seguintes... Sinceramente, essa é a história da minha vida :v



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Eles acabaram reunidos em torno de uma mesa no canto do Subway que ficava em frente ao teatro, já que ainda estava muito cedo para ir à Praça da Convivência e nenhum deles parecia realmente com fome. Eles passaram uns bons cinco minutos em silêncio enquanto esperavam pelas bebidas que pediram; Andressa fingia analisar o menu na parede acima do balcão, Jessé brincava com um anel em seu dedo, e Woodstock encarava a rua lá fora, parecendo perdida em pensamentos. 

Foi Andressa quem quebrou o silêncio. Ela tirou o anel de Hugo do dedo e o colocou em cima da mesa, então apontou para Jessé. 

— Que tal você começar por aí?  

Jessé pareceu surpreso, como se nem tivesse percebido que estivera mexendo no anel. Andressa supunha que todo mundo que usava algum tipo de bijuteria tinha esse hábito, o que a lembrou de uma outra coisa. Ela apontou para Woodstock: 

— Ou você? Pelo que eu entendi, tem algum clube secreto das miçangas aqui, e alguém – Ela indicou o anel sobre a mesa. – decidiu que eu sou parte dele, agora. 

— Já vi que você não é de humanas – murmurou Jessé. Provavelmente foi uma tentativa de aliviar o clima, mas não adiantou muita coisa. Ele suspirou. – Quão cética é você? 

— Muito – respondeu Woodstock, antes que Andressa tivesse a chance de fazê-lo. – Ela é muito cética. 

Andressa bufou. 

— E ela pode falar por si mesma, obrigada. 

Quando Andressa perdia a paciência, ela normalmente conseguia tirar qualquer um do sério. Woodstock e Jessé, por outro lado, não pareceram nem um pouco perturbados. 

— Vamos fazer um acordo – disse Jessé. – Você não precisa acreditar na gente.  

— Ótimo – rebatou Andressa. Jessé ergueu as mãos com as palmas voltadas para a frente, como se mostrasse que não estava desarmado. 

— Mas você precisa ouvir até o final pra poder tirar uma conclusão.  

Internamente, Andressa suspirou. Ela não podia acreditar que havia trocado um encontro com Hugo, de cuja companhia ela estava começando a realmente gostar, por uma conversa sobre magia com um artista de rua e uma skatista com nome de hippie. 

— Tá, tudo bem – concordou ela, porque, na verdade, o que mais ela poderia fazer? Apesar de tudo, Andressa estava curiosa demais para simplesmente esquecer o assunto.  

Jessé respirou fundo. Ele mesmo parecia um pouco perdido; Andressa imaginou que ele não soubesse por onde começar a explicar qualquer que fosse a loucura que ele e Woodstock haviam inventado. 

— Tá. Vamos lá. Magia. – Ele olhou para Woodstock, que apenas deu de ombros. Parecendo resignado, Jessé continuou: – Com certeza você conhece o conceito de magia. Arte capaz de produzir feitos contrários às leis da natureza, etc e tal. 

Andressa ergueu as sobrancelhas para ele. 

— É, eu sei. Eu li Harry Potter. 

Jessé sorriu. 

— Pronto. Nós encaramos a magia como a utilização das forças do Cosmos, só que, pra isso, elas precisam ser canalizadas de alguma forma – continuou ele. – Só algumas pessoas têm essa habilidade, e, mesmo assim, a coisa é bem específica. Uma pessoa só pode fazer um tipo de magia.  

— A essa altura, você já entendeu que Hugo é uma dessas pessoas – disse Woodstock. Andressa assentiu. – A gente também, mas foco no Hugo, por enquanto. – Ela olhou para Jessé, como se dissesse para ele continuar, o que ele prontamente fez: 

— Então, temos vários tipos de magos, com várias habilidades diferentes. Hugo... E a gente tá meio que supondo aqui, porque a gente não conhece ele... É um Ilusionista, o que quer dizer que ele tem a habilidade de produzir glamoures e afins. Tipo ilusões de ótica, mesmo, só que as dele são de verdade. 

Andressa olhou para o anel em cima da mesa e de volta para Jessé. 

— Então tá – disse. 

— O que a gente acha que aconteceu... – começou Jessé, mas Woodstock o interrompeu: 

— O que ele me disse que aconteceu. 

— Certo, o que aconteceu foi que Hugo conjurou um glamour pra te esconder dos amigos dele, sabe-se lá por qual motivo.  

Ao menos aquilo explicava por que nenhum dos rapazes cumprimentara Andressa; ela não precisava mais pensar que eles eram rudes. Por outro lado, ela definitivamente precisaria ter uma conversinha com Hugo mais tarde.  

Não que Andressa estivesse acreditando naquela história. Não ainda. 

— E o desmaio? – retrucou ela. – Meu suposto quase desaparecimento? Foi alguma loucura mágica também? 

— Na verdade, foi sim – Foi a vez de Woodstock indicar o anel sobre a mesa. – Aí é que entram os pantáculos.  

Ao ouvir a palavra "pantáculo", Andressa imaginou Woodstock e Jessé de pé no centro de um pentagrama cantando em latim, como uma espécie de seita. Como se lesse seus pensamentos, Jessé se apressou em dizer: 

— Pantáculo, não pentáculo. Nem pentagrama. A gente é de Deus.  

Woodstock olhou para Andressa e sacudiu a cabeça, como se dissesse: Dá pra acreditar nesse cara? 

— Pantáculos são símbolos utilizados pra canalizar a energia do Cosmos... Ou a magia, como você quiser chamar – explicou ela. Ela fez um gesto na direção do anel de Hugo. – Dá uma olhada. 

Ao pegar o anel e analisá-lo mais de perto, Andressa constatou que ele era bem simples, cor de cobre e com uma única pedra branca como adorno. No interior, havia um padrão desenhado. As linhas curvas e as espirais não lembravam nenhuma imagem que Andressa já tivesse visto.  

Ela se lembrou da sensação de formigamento que sentira mais cedo, ao tocar no objeto, e deixou-o cair sobre a mesa.  

— Deixa eu adivinhar – falou. – Esse tal pantáculo causou meu desmaio. 

— Eeeerrou – disse Jessé. – A ausência de um pantáculo causou seu desmaio. Veja bem, algumas pessoas têm a capacidade de fazer magia, mas não têm habilidades específicas. São essas pessoas que nós chamamos de Usurpadoras. 

Ele olhou para Woodstock, que, dessa vez, não pareceu incomodada em assumir a explicação. 

— Nossa habilidade específica é absorver a habilidade de outra pessoa – revelou ela. Ao ver a expressão surpresa de Andressa pelo uso do pronome possessivo, ela sorriu e fez um hang loose com a mão. – É nois. Eu também sou uma Usurpadora, só que, no meu caso, eu já absorvi uma habilidade anos atrás. Normalmente, é fácil nos reconhecer.

Ela olhou ao redor, então tirou o bracelete que usava no braço esquerdo, revelando o que Andressa inicialmente pensou ser uma tatuagem, mas logo percebeu que era uma marca de nascença. Tinha o formato de um U deitado cortado por um traço, um pouco parecido com uma harpa virada de lado. Ao olhar para aquilo, Andressa quase desmaiou de novo. Sob a mesa, cruzou os tornozelos, em um dos quais havia uma marca exatamente igual, bem visível acima das sapatilhas que calçava.

— Tem mais algumas coisas que denunciam um Usurpador, mas essa é a principal. Os alquimistas da antiguidade usavam esse símbolo para descrever o processo de “extração por secagem” – explicou Woodstock. – E, bem, não era à toa. Nós normalmente tentamos manter a marca escondida, já que, hm, algumas pessoas não gostam muito de nós – Ela trocou um olhar rápido com Jessé. –, mas todos temos uma igual ou parecida. E você também, né?

Andressa continuou encarando o pulso dela. A contragosto, não só estava começando a acreditar naquela história, como estava ficando um tanto preocupada com o rumo da conversa. Ao invés de responder, perguntou:

— Simples assim? Eu segurei a mão dele e pá, de repente eu tenho poderes mágicos? 

— Você segurou o pantáculo dele enquanto ele estava vulnerável – corrigiu Jessé. – E, por vulnerável, quero dizer que ele estava usando magia na hora e provavelmente não estava preparado para a possibilidade de ter que lutar por ela.  

Woodstock puxou o pingente em seu pescoço para fora da camiseta. Era um anel de aparência pesada, sem nenhuma pedra, mas coberto por símbolos. Ao contrário daqueles no anel de Hugo, esses eram compostos quase inteiramente de linhas retas. Woodstock o segurava com ternura. 

— Na maioria das vezes, a habilidade é passada voluntariamente, em algum acordo entre os dois participantes – disse ela. Soava distante; Andressa se perguntou quem havia lhe dado sua magia. – Mas ela também pode ser roubada, se você for pego de surpresa.  

— Então – disse Andressa, devagar. –, eu sou tipo uma ladra de magia. 

Jessé abriu um sorriso, como se aquela fosse uma notícia maravilhosa. 

— É. Resumindo, é isso mesmo. 

— E vocês esperam que eu simplesmente aceite esse fato e lide com isso?

Jessé e Woodstock se entreolharam. Andressa se perguntou há quanto tempo eles se conheciam; eles pareciam o tipo de amigos que conseguiam ter uma conversa inteira só com um olhar.

— Você pode fingir que nada aconteceu – respondeu Woodstock, dando de ombros. – Quer dizer, realmente não muda muita coisa na sua vida. A gente não estuda em Hogwarts nem nada assim. Não tem nenhuma guerra mágica pra lutar.

— Pelo menos, ainda não – murmurou Jessé, o que lhe rendeu um olhar atravessado de Woodstock. Ele revirou os olhos para ela. – Enfim, o que ela quis dizer é que não tem muitos riscos em não acreditar na gente. Ou em fingir que não acredita.

Andressa reparou que aquilo não significava que não havia nenhum risco. Ela considerou seriamente a possibilidade de ir embora sem nem se despedir, e depois, a possibilidade de perguntar o que aconteceria caso ela dissesse que acreditava neles. Ao invés disso, ela perguntou:

— Você disse que meu “quase desaparecimento” – Ela ainda fez aspas no ar com os dedos, apesar de não estar mais tão cética quanto no início da conversa. – teve a ver com a ausência de um...

— Pantáculo? – completou Jessé. Andressa assentiu. – É, tem esse detalhe. Os pantáculos nos ajudam a controlar nossa magia. Nós precisamos deles para não sermos consumidos por ela.

Um arrepio percorreu a espinha de Andressa.

— E se não tivermos um?

Jessé baixou os olhos para a mesa. Andressa percebeu que ele estava segurando o antebraço esquerdo, aquele com a tatuagem, com tanta força que suas juntas estavam brancas.

— Não é nada bonito – respondeu ele, em voz baixa.

Woodstock pousou a mão no ombro do amigo.

— Depende da sua habilidade – complementou ela para Andressa. – Se você é um Ilusionista, por exemplo, você se torna um dos seus glamoures, ou seja, uma coisa incorpórea, quase um nada.

 Andressa estremeceu ao pensar no formigamento bizarro que sentira ao tocar o anel de Hugo.

— De forma geral, o que acontece é que você perde total controle da magia – concluiu Woodstock. – E, bem, magia é uma coisa poderosa. Se você não tem controle sobre ela, ela acaba te destruindo.

Um silêncio tenso recaiu sobre a mesa. Jessé ainda parecia perdido em pensamentos, olhando fixamente para o copo à sua frente, Woodstock parecia preocupada com ele e Andressa estava simplesmente tentando controlar o pânico que começava a se acumular em seu peito. Ela repetiu para si mesma que não acreditava em nada daquilo – logo ela, que sempre fora tão prática –, e que, mesmo que acreditasse, ainda podia ir embora. Eles não haviam acabado de dizer que não haveria grandes riscos?

Subitamente, Jessé se levantou.

— Eu volto em um minuto – murmurou ele, antes de se precipitar porta afora.

A expressão de Woodstock ao vê-lo se afastar deixava claro que ela queria ir atrás dele, mas, por algum motivo, ela permaneceu sentada. A saída repentina assustou um pouco Andressa; ao perceber isso, Woodstock ofereceu um sorriso tranquilizador.

— Ele vai ficar bem – garantiu, embora não parecesse tão certa disso. Uma de suas mãos ainda estava fechada ao redor do anel em seu colar, e ocorreu a Andressa uma pergunta que ela tinha certeza que deveria ter ocorrido antes:

— O que vocês são?

Apesar de ela não ter explicado, Woodstock pareceu entender.

— Eu sou uma Usurpadora, como você. Ou era. Agora, eu sou uma Metalúrgica – disse ela. Andressa ergueu as sobrancelhas ao ouvir a palavra. – Manipulação de metais, et cetera, et cetera O Jessé é um Arsonista.

— Um Arsonista?

Na verdade, era uma coisa boa que Andressa não tivesse perguntado aquilo antes. Ela definitivamente não teria seguido alguém que se autodenominava um arsonista, pelo menos não sem nenhum contexto.

Woodstock deu de ombros. A sombra de um sorriso brincava no canto de seus lábios.

— Eu não inventei os termos. Acho que você pode imaginar o que isso significa.

Andressa lembrou da forma como Jessé segurara aqueles gravetos em chamas com as mãos nuas.

— Fogo.

— É – Woodstock concordou. – Fogo. – Ela ponderou por um instante. – Caso você esteja se perguntando, é hereditário, geralmente. Mas eu pensaria duas vezes antes de falar com seus pais a respeito. Você pode ser uma rara exceção, ou seus pais podem simplesmente não saber que magia existe, como você.

Andressa tinha noventa e nove por cento de certeza de que sua mãe não era nada mágica. Sobre o pai, por outro lado, ela não estava tão certa.

— Eu não estava me perguntando – resmungou ela. – Então, não é um segredo? Se eu decidir, sei lá, contar pra todo mundo sobre isso, alguma organização mágica vai me prender e apagar minha memória? Vou enfrentar um inquérito no Ministério da Magia?

A ideia pareceu divertir Woodstock.

— Não, embora seja inteligente da sua parte perguntar isso. Esse tipo de pergunta nem me passaria pela cabeça, se eu estivesse no seu lugar.

Na verdade, Andressa estava apenas tentando descobrir se teria problema contar sobre tudo aquilo para sua melhor amiga. Ela não sabia como lidaria com toda aquela confusão sem Michelle e sua predisposição para acreditar em coisas místicas.

— Mas eu não aconselharia sair espalhando – acrescentou Woodstock. – Foi esse tipo de comportamento que originou a caça às bruxas.

Andressa olhou para ela, tentando descobrir se ela estava brincando. O sorriso de Woodstock era quase tão desconcertante quanto o olhar de Jessé.

Contudo, ela ficou séria assim que viu a expressão atordoada de Andressa. Ela se inclinou para a frente, apoiando os cotovelos na mesa.

— Olha, eu sei que é muita coisa pra digerir – disse. – E que você provavelmente pensa que a gente é doido, e que isso foi só um desmaio normal.

Depois de ouvir tudo aquilo, Andressa nem sabia mais o que estava pensando, mas ela assentiu mesmo assim.

— Talvez você devesse ir pra casa e descansar um pouco – sugeriu Woodstock. Havia gentileza em sua voz; Andressa se pegou pensando que, em circunstâncias diferentes, ela teria gostado de conversar com aquela garota. – Afinal, quase desaparecer é uma experiência cansativa.

— Não brinca – murmurou Andressa.

— Se você quiser, eu posso te dar meu número de celular. Você pode deletar, se decidir fingir que nada aconteceu... Ou pode me mandar uma mensagem, caso tenha interesse em saber mais sobre o assunto.

Saber mais ainda?, pensou Andressa. Ela já se sentia sobrecarregada com a pouca informação que recebera.

Apesar disso, ela tirou o celular da bolsa e abriu na agenda de contatos.

— Pode dizer – disse.

Ela salvou o número de Woodstock, então decidiu que era hora de ir embora. Ela havia se preparado para um encontro, quem sabe alguns beijos e no máximo uma decepção com a aparência de Hugo, e não havia dormido o suficiente para lidar com toda aquela história de poderes mágicos, glamoures e o que quer que fosse.

Woodstock lhe ofereceu um sorriso encorajador quando ela se levantou.

— Qualquer coisa, é só ligar – disse. Andressa retribuiu o sorriso, embora o seu fosse um pouco mais falso.

— Obrigada, mas acho que não vai ser necessário.

Mesmo assim, ao deixar a mesa, Andressa sabia que acabaria ligando, fosse só para descobrir de onde eles haviam tirado tudo aquilo, fosse porque ela acabara, de alguma forma, acreditando neles.

***

Woodstock encontrou Jessé sentado na calçada em frente ao Subway, com a cabeça entre os joelhos, como se estivesse passando mal. Ela se ajoelhou ao lado dele, mantendo uma distância cuidadosamente calculada.

— Tudo bem? – perguntou, apesar da resposta ser óbvia.

Jessé ergueu um dos polegares em um sinal positivo.

— Só um instante.

Ela esperou. Por fim, Jessé ergueu a cabeça e abriu um sorriso fraco. Ele estava com aquele brilho anormal nos olhos que dizia a Woodstock que ele ainda não estava completamente fora de risco, mas pelo menos suas roupas não estavam chamuscadas. Ela pensou que eles precisavam adiantar a pesquisa sobre a Tábua; embora ele não fosse admitir, Woodstock suspeitava que Jessé estava cada vez mais perto de perder completamente o controle.

— Pronto – Ele flexionou os dedos da mão esquerda, com cautela. O anel em seu dedo médio estava queimado e enegrecido, mas, aparentemente, ainda dava conta do recado, porque Jessé suspirou, relaxando. – Sabe como é. Às vezes eu só preciso tomar um ar.

Eles se levantaram. Ao longe, perto da entrada do teatro, Woodstock conseguia ver a figura indistinta de Andressa. Ela se perguntou como a outra garota estava se sentindo. Tendo crescido com pleno conhecimento sobre magia, Woodstock não conseguia imaginar como seria ter tudo aquilo simplesmente jogado em cima dela no meio da adolescência, ainda mais por uma dupla de desconhecidos.

— Você vai encontrar o Luiz agora? – perguntou Woodstock.

Luiz costumava ser amigo do irmão mais velho de Jessé; sua única fonte de renda era fazer truques no sinal em troca de alguns trocados. Agora que seu irmão não podia mais fazê-lo, Jessé o substituía de vez em quando, e deixava que ele ficasse com o dinheiro. Ele dizia que era bom para o tédio, principalmente agora que as aulas haviam acabado, e era melhor malabarista que Luiz, principalmente com objetos em chamas.

Jessé assentiu.

— Você vem comigo?

— Pode ser. – Ela lançou um último olhar na direção do teatro. Andressa havia desaparecido de vista. – Depois, a gente pode ir no Mercado ver se tem alguma novidade – Ela revirou os olhos. – Antes que o cara do terno compre tudo.

Havia frustração o suficiente em seu tom para fazer Jessé lhe lançar um olhar esquisito.

— Você realmente acha que não pode ser uma coincidência?

— Jessé, meu anjo, ele literalmente compra tudo em que eu tô interessada. Não, não tem como ser coincidência.

Eles pararam, esperando o sinal fechar para poderem atravessar a rua. Um rapaz alto com cabelo cacheado e volumoso havia assumido o posto de Jessé na outra calçada, segurando pinos ao invés de objetos em chamas.

— Então o quê? Você acha que ele tá te stalkeando? – perguntou Jessé.

— Eu, não – respondeu Woodstock, em voz baixa. – Talvez ele esteja procurando a Tábua.

O sinal mudou para vermelho. Eles atravessaram, enquanto o rapaz de cabelo cacheado se posicionava em frente aos carros e começava a apresentar seu truque. Ao invés de esperar, Jessé colocou o dinheiro que havia ganho dentro da mochila que o rapaz havia deixado na calçada. Woodstock tinha certeza de que tinha mais do que ele havia arrecadado ali, mas não comentou nada.

Quando eles retomaram o caminho para o Memorial da Resistência, Jessé disse:

— Bem, nesse caso, a gente não pode fazer nada. Vai dizer que você realmente achava que nós éramos os únicos interessados nela?

A Tábua de Esmeralda era um objeto antigo que supostamente revelava segredos sobre a substância primordial, também considerada a principal base da magia. Era possível encontrar o texto contido na Tábua em bibliotecas e até mesmo na internet, mas acreditava-se que apenas com a possessão do objeto seria possível visualizar todos os segredos e realizar feitos que não seriam viáveis com magia comum. Não, Woodstock definitivamente não achava que era a única interessada na Tábua de Esmeralda.

— Não – admitiu ela. – Mas isso me deixa preocupada. E se esse cara achar a Tábua antes da gente?

— Aí ele achou, oxe – Jessé deu de ombros. – A gente pode negociar uma guarda compartilhada ou algo do tipo.

Woodstock parou de andar para encará-lo.

— Eu ainda não sei como você consegue fazer piada com essas coisas, Jessé. Isso é sério – Ela fez uma pausa. – Isso é a sua vida.

O sorriso de Jessé esmoreceu, e ele desviou o olhar.

— É um dom – disse ele. Woodstock bufou e voltou a caminhar, sacudindo a cabeça.

— Por que eu pareço mais preocupada em salvar você do que você mesmo? – Jessé permaneceu em silêncio. Ela suspirou. – Certo. Vamos pegar a droga do livro.


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Notas finais do capítulo

Queria agradecer à minha amiga Helô que betou esse capítulo, é isto. Como sempre, críticas construtivas sempre são bem-vindas!



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