O Segredo da Capital do Oeste escrita por Izzy Aguecheek


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Depois de 84 anos escrevendo só YA de ficção LGBT+, eis que eu decido escrever uma história de fantasia! Na verdade, faz um tempo que eu tô trabalhando nela, então vamos ver no que dá.



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O Memorial da Resistência fora construído para ser um ponto turístico da cidade de Mossoró, no interior do Rio Grande do Norte, uma exposição permanente sobre a história do município e sua famosa resistência ao grupo de cangaceiros de Lampião. Woodstock duvidava que a prefeitura tivesse adivinhado que o local se tornaria uma espécie de point da cidade, lotado de jovens vagabundando, fazendo coisas inapropriadas para menores e poluindo o meio-ambiente com garrafas de cerveja e embalagens de preservativos na grama. Entretanto, ali estavam eles.

Woodstock apreciava esse fato; tornava muito mais fácil passar despercebida. Ela chegou no interior do memorial sem atrair um olhar sequer, nem do casal que estava se beijando no pequeno túnel decorado com imagens de cangaceiros e textos que, ela suspeitava, ninguém se dava ao trabalho de ler. Foi fácil saltar a grade que delimitava o caminho até o outro lado e andar até a porta preta sem nenhuma marcação, a menos de dois metros de distância. Por muito tempo, Woodstock havia se perguntado o que havia atrás daquela porta, mas isso fora antes de ela ganhar os meios necessários para abri-la.

Lançando um olhar por cima do ombro para se certificar de que o casal não estava prestando atenção nela, ela puxou para fora o pingente da corrente que levava ao pescoço, normalmente escondido sob a blusa. Era um anel, grande demais para seus dedos. Ela o pressionou contra a porta, e só precisou esperar cinco segundos antes de abri-la sem nenhuma resistência. Claro, ela tinha outros meios de arrombar uma porta de metal, mas era satisfatório não ter que usá-los.

Ela fechou a porta atrás de si, escondeu o anel sob a camiseta e começou a descer os degraus que levavam até o Mercado. Na primeira vez em que fora ali com a mãe, Woodstock ficara impressionada com o tamanho do local: tendas e quiosques se espalhavam em todas as direções, em uma confusão de cores e sons dos mais diversos. Segundo sua mãe, era o segundo maior mercado mágico do Rio Grande do Norte. Vez ou outra, uma explosão ou baforada de fumaça colorida surgia entre os camelôs, e discussões acaloradas irrompiam entre os clientes e vendedores. Era um caos completo. Woodstock adorava o Mercado.

Quando criança, ela costumava se perder da mãe com facilidade. Agora, quase seis anos depois da primeira vez em que fora até ali, Woodstock estava mais do que familiarizada com todos caminhos, e sabia exatamente para onde estava indo. Como no Memorial acima, poucas pessoas prestaram atenção a ela. Uma vendedora de quem sua mãe era amiga acenou quando ela passou por sua tenda. Um senhor cujo quiosque seu amigo Jessé havia incendiado por acidente lhe lançou um olhar assassino. Woodstock cumprimentou a mulher de longe e deu ao velho um sorriso amarelo. Ela não parou para conversar com nenhum dos dois.

A tenda que Woodstock estava procurando ficava longe da entrada, e ela já estava se cansando quando a alcançou. Marcos, o vendedor do turno da noite, lhe ofereceu um copo d’água, pelo que ela ficou grata.

— Deixe-me adivinhar – começou ele, enquanto ela bebia. – “Alguma novidade sobre a Tábua, Marcos? Não, eu não vou fazer churrasco, mas boa tentativa.”

Era uma imitação bem ruim, mas Woodstock não pôde deixar de sorrir.

— Na mosca – disse. – Pelo menos, assim, a gente pula as piadinhas.

Enquanto falava, Marcos se virou para mexer nas prateleiras cheias de livros atrás de si.

— Então, vamos ver. O livro que você encomendou ainda não chegou, mas tem aquele outro... – Ele voltou ao balcão, digitou algo no computador sobre ele e franziu a testa. – Aquele lá que você tava procurando semana passada, daquele pesquisador gaúcho? Bem, chegar, ele chegou, mas alguém comprou o último dois dias atrás. – Ele ergueu os olhos para Woodstock e deu de ombros. – Vai ter que ficar pra próxima.

Woodstock deixou os ombros caírem. Ela não podia dizer que estava surpresa.

— Deixa eu adivinhar. Cara chique, de terno, pagou tudo com notas altas.

Marcos deu de ombros novamente.

— Não sei. Não foi no meu turno. Mas esse cara já apareceu por aqui antes, então é possível que sim.

Woodstock suspirou.

— Entendi. Obrigada, Marcos.

— Disponha.

Woodstock visitou mais alguns camelôs, mas, quando foi embora, ainda estava de mãos vazias – e, além disso, tinha um mal pressentimento. Aquilo vinha acontecendo havia algumas semanas: o tal cara de terno sempre comprava os mesmos livros que ela, e, às vezes, era o último exemplar. Estava atrasando sua pesquisa, e Woodstock definitivamente não tinha tempo a perder.

Em casa, ela mandou uma mensagem para Jessé, na esperança de que ele estivesse acordado:

Aquele cara de novo. Levou o último exemplar.

Ela esperou. Nenhuma resposta veio; talvez ele estivesse ocupado. Ou talvez estivesse no refúgio deles; nesse caso, ele não teria levado o telefone. Woodstock hesitou, então mandou outra mensagem:

A gente precisa descobrir o que tá acontecendo. E rápido.


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Notas finais do capítulo

Se você quiser saber um pouco mais sobre a cidade e os pontos turísticos, vou deixar alguns links ao longo dos capítulos (mas nada obrigatório - o que é necessário pra história, vai ser explicado e descrito na própria história, claro). Sobre o Memorial da Resistência:
encurtador.com.br/howPV

encurtador.com.br/DEKW2



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