Cicatrizes e Flores escrita por Astraeus


Capítulo 23
Capítulo XXIII




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— O que foi, Harry? — Hermione perguntou, entrando no quarto do garoto na casa compartilhada. — Você não apareceu para jantar e não fala com ninguém desde que saiu da enfermaria. Aconteceu alguma coisa?

— No sexto ano, eu encontrei Malfoy chorando no banheiro. — Disse Harry. — Ele me viu, e eu lancei um Sectusempra nele. 

— É, eu sei disso Harry. Você já me contou. Isso tem algo a ver com o que aconteceu?

Harry suspirou, passando uma de suas mãos por seus cabelos, bagunçando-os ainda mais. — Eu vi ele sem camisa hoje. — Disse Harry, fazendo com que Hermione arqueasse a sobrancelha. — Nem começa. 

— Eu não disse nada. 

— Mas com certeza pensou. E não tem nada a ver com o que você está imaginando. Eu vi ele sem camisa na enfermaria, e…

— E?

— E no torso dele… Tem um rasgo gigante no torso dele, uma cicatriz que quase vai do ombro até o quadril. E a culpa dele ter aquela cicatriz é minha, Mione. — Ele suspirou. — Eu… Eu fui escolhido para salvar as pessoas, não para quase matá-las. 

— Harry, você não acha que já se remoeu o suficiente? Você sequer sabe como o Malfoy se sente sobre aquela cicatriz? Ou sobre o que aconteceu no banheiro, aquele dia? — Hermione perguntou, se sentando ao lado do moreno, que escondeu seu rosto no travesseiro. 

— Conhecendo ele, ele provavelmente já amaldiçoou os meus filhos. E os filhos dos meus filhos. — Harry disse, sua voz abafada pela almofada. — Com certeza ele detesta aquela cicatriz, Hermione, assim como eu detesto a minha. E é exatamente por isso que eu sei que ele me culpa, e tem toda a razão de fazê-lo. A culpa foi minha. Eu fiz aquilo com ele. 

— Sim, Harry, você fez aquilo com ele. E aí? Você não pode voltar atrás e mudar o que aconteceu! — Hermione disse. — E é por isso mesmo que você deveria parar de ficar se lamentando pelo que já aconteceu e fazer alguma coisa agora! 

— E o que você quer que eu faça? Peça desculpas? — Harry perguntou, finalmente olhando para a garota. 

— Se isso vai te ajudar a se sentir melhor, então peça desculpas. — Disse ela. — Harry, você já é… Você já é do tipo de pessoa que abraça o mundo e acha que tudo que acontece é culpa sua. Harry, a guerra já acabou, você não precisa ser um herói, você não é mais um herói. Você é só uma pessoa comum agora, e o que pessoas comuns fazem é pedir desculpas quando cometem um erro. Elas não saem em uma longa jornada para se redimir, elas não matam o homem do mal para justificar o que elas fizeram. Todos nós fizemos coisas ruins na guerra. O importante é nos arrependermos e aprendermos com isso. — Tomou fôlego. — Você não precisa bolar um plano para fazer com que Malfoy te perdoe. Você só tem que ir até ele e pedir desculpas. Se ele não te perdoar, então o que você pode fazer, se remoer pelo resto da vida?

— Eu posso tentar. — Disse Harry, cruzando os braços. 

Hermione lhe deu um soco no braço. — Ai! — Harry exclamou. — Por que essa violência?

— Porque você está sendo ridículo, Harry! Você é um Grifinório, pelo amor de Merlin, faça alguma coisa!



Harry tentava se lembrar das palavras de Hermione enquanto caminhava para a aula de poções sozinho no dia seguinte. Estava indubitavelmente atrasadíssimo, mas não poderia se importar menos com aquilo. Estava, na verdade, enrolando. Estava enrolando porque não queria ter que sentar com Draco Malfoy por mais de uma hora e fingir que nada aconteceu no dia anterior; ou pior, tentar pedir desculpas. 

Veja bem, Harry não tinha problema nenhum em pedir desculpas. Era difícil admitir um erro? Sim, mas para Harry nunca foi realmente complicado pedir desculpas. Talvez fosse pelo fato de que fosse Draco Malfoy a pessoa que receberia suas desculpas, e admitir que havia errado fosse como admitir algum tipo de derrota. 

“Ah, vamos lá, Harry”, ele disse para si mesmo, em sua cabeça. “Não pode ser tão difícil assim. Só chegue na sala, sente-se e peça desculpas. Não vai doer. Provavelmente.”

Chegando na sala, todos os olhos se viraram para ele. Normal, ele chegara atrasado. 

— Bom dia, Sr. Potter. — Disse Slughorn, com um sorriso. 

— Bom dia, professor. 

Harry caminhou até a sua mesa, onde Draco já estava sentado. — Bom dia. — Ele disse. 

— Bom dia, cicatriz. — Draco respondeu. 

— Eu sinto muito. — Soltou Harry. — Pela cicatriz. 

— Deveria sentir muito pelo feitiço que lançou, não pela cicatriz. 

— Foi o que eu quis dizer. — Disse Harry, já se arrependendo. Viu? Não haviam motivos para tentar ser decente com Malfoy. 

— Tudo bem. — Draco deu de ombros. — Eu já superei. Além disso, se você não tivesse me atacado rápido o suficiente, eu teria lançado um Crucio em você. — Disse ele, como se aquilo não fosse nada demais. — E você tem sorte, eu acordei de bom humor hoje. 

E realmente, Malfoy parecia estar de bom humor. Havia um pequeno sorriso em seus lábios, seus olhos tinham um brilho incaracterístico e embora as olheiras profundas em seu rosto ainda estivessem lá, ele parecia ter dormido muito bem. — Não precisa responder se não quiser, mas… — Harry disse, curioso. — Qual é o motivo do bom humor?

Draco olhou para os lados, como se checasse se alguém ainda olhava para os dois. Então, ele fez um gesto com a mão, pedindo para que Harry se aproximasse. 

Harry o fez, tentando não pensar muito na proximidade dos dois. Draco chegou com seus lábios perto do ouvido de Harry, e quando ele falou, o moreno sentiu-os roçando em sua orelha, enviando calafrios por sua espinha. 

— Não seria legal se fosse da sua conta? — Draco disse, com uma voz baixa, e se afastou. Harry olhou para o loiro irritado, mas a única coisa que Draco fez foi lançar-lhe um meio sorriso sarcástico e dar uma piscadela para ele, e Harry sentiu seu rosto esquentar com as observações inoportunas da aparência atraente de Draco Malfoy que sua mente insistiu em fazer. Estremeceu quando o loiro deu uma risadinha e perguntou: — Por que tão envergonhado, Potter?

Harry se sentiu meio puto com a zombaria de Draco. A outra metade de si estava ocupada demais corando ainda mais. Ele abaixou a cabeça, escondendo-a em seus braços, enquanto Draco voltava a prestar atenção na aula, mais contente do que estava antes. 

Harry mordia seu lábio inferior fortemente, tentando acalmar seu coração. 

Ele definitivamente não tinha se sentido atraído por Draco Malfoy, nem por um milésimo de segundo!


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