Cicatrizes e Flores escrita por Astraeus


Capítulo 20
Capítulo XX




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— Você fez o quê? — Pansy perguntou, claramente irritada. Draco simplesmente revirou os olhos e suspirou, tentando ignorá-la. — Draco, como você pode fazer isso? Esqueceu que vocês foram inimigos mortais por, tipo, sete anos? Esqueceu que ele invadiu a nossa casa? E que ele fica bisbilhotando quando acha que ninguém está olhando? E é um pé no saco? Como você pode ter feito um acordo com ele?

Draco deu de ombros. — Se não pode vencê-los, junte-se a eles. — Disse ele, dando de ombros. 

— Eu não achava que você fosse capaz de fazer uma coisa dessas. — Disse Pansy. Ela estava incrivelmente puta por uma coisa tão pequena, Draco não conseguia entender a razão do desgosto dela. 

Suspirou, sua mente viajando para Harry Potter. Não conseguia acreditar que estava prestes a entrar em uma vida cheia do menino-que-sobreviveu. Não conseguia acreditar que estava fazendo aquilo por vontade própria. 

Harry Potter era, e sempre foi, um pé no saco para Draco Malfoy. Desde o primeiro ano, desde o aperto de mão recusado, Harry Potter não deixara a mente do loiro, mas não por falta de tentativas da parte dele. O moreno era simples e extremamente irritante. 

Naquele momento, uma coruja entrou voando pela janela, deixando uma carta no colo de Draco. Ele suspirou. Só poderia ser uma pessoa, e ele não estava com vontade de falar com sua mãe naquele momento.

Abrindo a carta, porém, ele teve uma surpresa. A caligrafia de Harry Potter preenchia aquele pergaminho amassado.

"Malfoy,

Agora que temos um acordo, acho que deveríamos fazer alguns combinados. Eu sei que isso deve ser um pé no saco para você, mas foi ideia da Hermione, e eu meio que concordo."

Como esperado, o testa-rachada não conseguia pensar por si próprio. 

"Eu sei que temos um acordo em que eu vou mentir para a sua mãe, mas eu preciso saber que isso não está te fazendo mal. Você tem que concordar em ir conversar com o Sr. Lionheart. Ajuda, é sério. Eu sei que você já foi nele algumas vezes, mas eu não te vejo mais lá."

É… bem, Draco havia realmente desistido de ir ao médico do St. Mungus. Mas era por uma boa razão! Ele não sentia que a terapia estava ajudando em muita coisa, e por isso parou de ir, sem contar a ninguém. Não queria que os outros tivessem pensado que ele desistiu, embora aquilo realmente acontecera. 

“Você precisa voltar a ver o médico, e essa é a exigência número um. Eu não contei a sua mãe que você parou de ir ao terapeuta, espero que não tenha que contar. 

A segunda coisa é que você tem que parar de insultar Ron e Hermione todas as vezes que os vê. A guerra acabou, Malfoy, não precisa mais haver rivalidade entre nós, e quando você ridiculariza os outros, o único ridículo é você. Eu quero que pare de insultar os meus amigos, me insulte o quanto quiser, mas não mexa com eles. Eu não gosto de fazer chantagens, mas caso o contrário, eu vou contar tudo para a sua mãe. Eu me sinto tão estúpido escrevendo isso, você não tem ideia. 

Essas são as exigências por enquanto. São apenas duas, não são muito difíceis, mas se você nem tentar cumprí-las… bem, você sabe.

Harry Potter.”

Primeiramente, que audácia. Segundo, quem ele achava que era, para sair por aí ameaçando contar coisas para a mãe dos outros? Honestamente, que coisa! Ele pensava que teria que parar de se preocupar com a possibilidade de Potter contar as coisas para Narcisa, mas aparentemente o acordo não servira para nada! Potter poderia fazê-lo de escravo até o final do ano letivo, se quisesse! Malfoy nunca havia pensado nas chances do testa-rachada fazer aquilo com ele, mas parece que ele havia cometido um grande erro. 

Bufou, chamando a atenção de Blaise, que se sentava ao seu lado. O garoto bisbilhotou por cima do ombro de Draco, lendo a carta. Ele soltou uma breve risada, o que tirou Pansy de seu monólogo irritado. 

— Parece que o Potter não é tão inútil assim, Pansy. — Disse Blaise, pegando a carta das mãos de Malfoy, que não tentou resistir. — Olhe só. 

Pansy passou os olhos pela carta. — Hm… — Disse, meio contrariada. — Parece que o complexo de herói dele finalmente serve para alguma coisa. — Disse ela. 

— Vocês não estão surpresos? Vocês sabiam que eu não estava mais indo para a terapia?

— É claro que sabíamos, Draco! — Disse Pansy. — Não somos idiotas, sabemos que você não vai mais na terapia, mas como você nunca contou, achamos que era melhor se deixarmos você fazer o que quisesse. Pensávamos que sua mãe sabia, mas é claro que não. Você sempre quer fazer as coisas sozinho, não é?

Draco se sentia um pouco culpado em ter mantido segredo de seus amigos, em ter mentido para eles. — Desculpa. — Ele murmurou. 

Pansy se sentou em uma das poltronas da sala, suspirando. — Eu acho que nunca vou me acostumar com você pedindo desculpas. É estranho demais. 

Ele sorriu, triste. É, ele sabia que era estranho. Ele mesmo ainda não havia se acostumado completamente.  

— Mas já que a sua mãe não sabe sobre isso, acho que Potter está fazendo um bem. — Disse Pansy. 

Draco bufou. — E quando ele não faz? Salvador do mundo bruxo, o Santo Potter. — Ele resmungou. 

— Começou de novo… — Blaise disse, suspirando. — Quando você vai deixar isso para trás? Você ainda está tão fissurado naquele aperto de mão? Por Merlin, Draco, já fazem o quê? Sete anos?

Draco fez um bico. Sim, ele ainda estava "fissurado" naquele aperto de mão recusado. Afinal de contas, foi a primeira vez que o disseram não, a primeira vez que ele não conseguia o que queria. Foi um marco e tanto em sua vida, ok?

Mas aquele, obviamente, não era o único motivo para não gostar de Potter. Havia o óbvio favoritismo que Dumbledore tinha por ele, e agora, a idolatria de todo o mundo bruxo. Harry Potter era certinho demais, o garoto de ouro. Ele era perfeito demais aos olhos dos outros, mesmo que fosse um imbecil impulsivo e que acreditava que o mundo era preto no branco. E isso irritava Draco. Todas essas coisas conseguiam dar nos nervos dele. 

Revirou os olhos, pensando no menino de ouro do mundo bruxo. Não acreditava que tinha feito um acordo com aquele… aquela coisa. 

Suspirou, esfregando o rosto. Blaise riu. 

— Já está se arrependendo, Malfoy? — Ele perguntou, arrancando uma risada de Pansy. Até mesmo Goyle, que estava calado até aquele momento, deu uma risadinha devido às más escolhas de Draco. 

Sim, ele já se arrependa. Só esperava que a realidade não fosse tão ruim quanto ele imaginava. 



Draco ouviu passos apressados atrás de si, e então uma voz irritantemente familiar disse: — Bom dia, Malfoy.

Harry Potter parecia ter acabado de acordar e aparatar ali. Seus cabelos eram a mesma tragédia de sempre e ele parecia animado, sabe-se lá o motivo. O loiro não respondeu o cumprimento, o que fez com que o outro franzisse o cenho depois de alguns segundos, mas nada disse. Provavelmente já esperava. 

— Qual o motivo do bom humor, Potter? — Perguntou, depois de algum tempo andando em silêncio. Os dois se dirigiam para a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas dos segundanistas. 

— Não posso mais acordar feliz? — Perguntou ele, lançando um sorriso para Draco, que revirou os olhos. 

— Sinceramente? Não, não pode. Essa sua felicidade está incomodando a minha beleza. Ninguém é tão alegre assim de manhã. — Disse ele, fazendo com que Harry risse. Definitivamente, tinha alguma coisa de errado com aquele cara. 

— Posso te fazer uma pergunta? — Ele pediu, depois de alguns segundos de silêncio. 

— Pode. — Draco disse, sabendo que provavelmente se arrependeria de sua escolha. 

— O que a sua mãe tem com flores? —  Perguntou ele, visivelmente curioso. — Ela me mandou um outro buquê há alguns dias… Eu queria entender o porquê.

— Ela sempre gostou muito de flores. Caso você não saiba, minha mãe é uma Black. Ela é a única com o nome de flor. Um Narciso em um mar de estrelas, é isso que ela gosta de dizer. Ela sempre foi apegada às flores, e quando ela descobriu sobre os significados que elas poderiam ter, ela decidiu que aprenderia a linguagem das flores. De acordo com ela, é uma ótima maneira de ser agressivo com alguém, sem ela saber. — Ele explicou tudo para Harry, que o escutava atentamente. 

— Ela me mandou flores roxas da primeira vez…

— Da primeira vez foram Jacintos, eu me lembro. — Disse ele. — Ela me pediu para montar o buquê. Se eu soubesse para quem seria, não teria aceitado. 

— Ai. — Disse Potter. — Essa doeu. 

— Espero que tenha, mesmo. — Draco disse, desgostoso. 

— Mas o que Jacintos significam? — Perguntou Harry. 

— Você conhece a história de Jacinto, da mitologia grega? —  Perguntou Draco, recebendo uma negação como resposta. Ele revirou os olhos. — É claro que não conhece, por que eu perguntei? Apolo, o deus do Sol, era apaixonado por Jacinto, um mortal. Resumindo bastante, o deus do vento oeste, Zéfiro, era apaixonado por ele, também. Um certo dia, Apolo e Jacinto estavam jogando discos, se divertindo. Zéfiro, vendo isso, ficou enciumado, e quando Apolo jogou o disco para Jacinto, Zéfiro mudou a trajetória do objeto, e o mesmo atingiu a cabeça do mortal. — Draco disse, entrando na sala. Os alunos ainda não haviam chegado, então ele poderia continuar com a sua história. — Apolo foi correndo tentar socorrer Jacinto, mas nem todas as suas habilidades médicas conseguiram salvá-lo, e ele morreu. Apolo, extremamente transtornado, criou uma flor em homenagem a ele. Alguns dizem que as pétalas do primeiro Jacinto eram da mesma cor de seus olhos. 

Harry olhava para ele, horrorizado. — E por que a sua mãe me mandou uma flor dessas?! O que isso quer dizer? — Ele perguntou, exasperado. 

— Algumas versões dizem que Zéfiro se arrependeu. Significados de flores variam muito, mas os Jacintos podem querer dizer jovialidade, diversão, mágoa, e por aí vai. Os roxos normalmente significam “me perdoe”. — Disse Draco, sentando-se na mesa. 

O rosto de Harry relaxou. O que se passava na cabeça daquele idiota? Que tipo de hipóteses ele criara em sua mente que lhe causaram tanto espanto ao saber da história de Jacinto? 

Draco não percebia que encarava o rosto de Harry até que o moreno decidiu encarar-lhe, também. Então, ele desviou os olhos rapidamente, como se nem estivesse olhando para o-menino-que-sobreviveu para início de conversa. 

— E você, o que acha da história? — Harry perguntou, a voz cautelosa, como se ele estivesse com medo de que Draco explodisse a qualquer momento.

— Como assim, o que eu acho? É uma história trágica, e…

— Não, o que você acha de Apolo estar apaixonado por Jacinto?

Ah, era lá que ele queria chegar. Claro, não importa a situação, Harry Potter sempre gostaria de tirar vantagem e arrancar alguma informação de Malfoy. Ele queria saber se ele se importava com o amor de Apolo e Jacinto, que sutil maneira de perguntar se ele era gay ou não. Ah, como Potter era mestre na arte de perguntas discretas. 

Os alunos começaram a entrar na sala aos poucos, e Draco desviou de vez os seus olhos de Harry, observando os segundanistas grifinórios e sonserinos preenchendo o local com suas carrancas de quem acabara de acordar. Viu só? Ninguém era feliz logo pela manhã. 

Harry suspirou ao seu lado, cruzando os braços e se apoiando na parede atrás da mesa do professor, na qual Draco se sentava. O loiro conseguia sentir como os olhos verdes do outro estavam fixados em si, mas não demonstrou desconforto ou sequer um sinal de que sabia que Potter o encarava. 

Não importa se tinham um acordo, não importa se Potter iria contar para a mãe dele. Draco poderia abrir mão de muitas coisas em sua vida, poderia contar muitos segredos e demonstrar muitas fraquezas, mas aquilo era algo que ele nunca mostraria para ninguém. 

— Bom dia. — Ele disse quando os alunos acabaram de entrar na sala de aula. — Hoje vamos nos aprofundar um pouco mais na arte de duelar. 

Sim, ele precisava de um bom duelo para poder afastar as suas preocupações. Azarar Potter parecia a melhor maneira de fazê-lo. 


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