Shh! Cala a boca e aceita o elogio escrita por Lux Noctis


Capítulo 1
Beleza incomum




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Bakugou notou o dia, não era um besta como o Kaminari que havia até mencionado semanas antes sobre um presente, mas que obviamente perdeu-se nas datas e no dia dos namorados pisou na bola esquecendo o que havia comprado para o namorado. Bakugo não lhe deu ouvidos, não às lamentações de quem teria de correr para achar algo que fosse agradar o outro, aquilo não lhe cabia. O que lhe cabia, na verdade não lhe ‘pertencia’.

Sentado naquele sofá da área social onde agora habitavam, Katsuki olhava para além, não muito longe na verdade, o foco de sua atenção estava no pufe, há poucos metros de distância conversando com os amigos, rindo enquanto Iida gesticulava veementemente, tudo isso porque Uraraka havia lhe segurado a mão. Afinal, o que tinha de errado naquilo, eram namorados, não? Deku também estava com eles, jogado no tapete enquanto falava animado com Shōto, fazendo o meio a meio sorrir enquanto desviava a atenção do casal de enamorados, dando-lhes mais privacidade.

Katsuki esperou, pacientemente, assim ele podia jurar. Mas na verdade fechava as mãos em punho a tal ponto que os nós dos dedos esbranquiçavam pela pouca circulação sanguínea. Quando Iida e Uraraka se levantaram alegando que tinham um compromisso, deixou Bakugou ainda mais ansioso. Haviam restado apenas o meio a meio, e Deku. E ele tinha pressa, aquela porcaria de dia logo findaria, e sabe-se lá quando teria aquela maldita onda de… não chamaria de coragem porque daria a entender que no restante do tempo era um covarde. Chamaria de total falta de noção, era isso.

—  Eu já vou indo, Todoroki. —  Midoriya apoiou-se no ombro do amigo ao se levantar, despedindo-se enquanto se afastava. Midoriya tinha um encontro, algo novo, que havia confidenciado apenas ao amigo. Mas visto de longe Katsuki não sabia as intenções dos toques, era por isso que sentia as mãos suarem e o desejo que quase sempre era irrefreável de mandar à merda tudo o que estivesse ao redor. —  Não quero me atrasar, nos falamos depois! — Estava animado, isso era perceptível mesmo dali, onde Katsuki estava.

O loiro esperou, tinha um plano e era essencial que ele mesmo o seguisse. E que Shōto o seguisse, mesmo sem saber do plano! Sorriu quase vitorioso demais quando o meio a meio se aproximou de onde estava sentado, jogando-se no sofá ao seu lado, como se nada mais tivesse para fazer naquele fim de tarde, início de noite, dia dos namorados.

—  Sem planos? —  Havia ignorado o plano, estava mais curioso, queria saber o que Todoroki e Midoriya estavam planejando para depois.

—  Hm? —  Shōto não virou muito o rosto, e Katsuki já havia notado isso, que o rapaz evitada lhe olhar de frente, que sempre optava por mostrar apenas seu lado direito, como se escondesse o olho azul, os fios vermelhos…

—  Todo mundo está saindo, e você veio se sentar aqui.

Não passou pela cabeça de Bakugou que Todoroki pudesse achar que o estava incomodando, por isso surpreendeu-se ao notar a postura mais rígida do outro ao se arrumar no sofá, como se prestes a sair dali o quanto antes.

—  Está pensando em usar a sala? Eu não.. —  moveu as mãos, como se pedisse desculpas previamente, agora sim inclinando-se para se colocar de pé e sair dali.

—  Não. —  cortou-o antes que Shōto desse explicações, ou antes que saísse dali como um gato assustado. Moveu então a mão para acalmá-lo, chegando a lhe tocar o braço. —  Pensei que você tivesse, Pavê.

Foi perceptível o rubor que tomou a face do outro, a forma como levou a mão à nuca, livrando-se do toque de Bakugou, coçando-se nervoso e balançando a cabeça em extrema negativa. E então também foi perceptível à Bakugou a forma como o olhar mudou de envergonhado para tristonho. Notou o instante exato no qual Todoroki olhou para baixo fazendo os fios bicolores lhe taparem os olhos. Será que ele tinha algum amor não correspondido, era isso?

— Não vai comemorar o dia de hoje? —  Tornou a questionar, como quem nada queria, mas esperando por uma resposta, afinal, tinha curiosidade a respeito. Manteve os olhos fixos em Todoroki, vendo-o virar ainda mais o rosto. Mas que porra? —  Tá escondendo a cara por que, meio a meio?

Todoroki não era de se abrir, não tanto quanto da forma que precisaria se viesse a encarar Bakugou e responder sua pergunta. Precisou então respirar fundo, sentindo o rosto esquentar e não apenas pela vergonha, como também pela quirk que se manifestava em momentos de extremo nervosismo, descontrole, ou receios. Como agora acontecia.

Katsuki sentiu o clima esquentar e não figurativamente, ele de fato sentiu o calor. E não desviou o olhar um minuto sequer, notando como Shōto se ajeitava no sofá para encará-lo, mostrando uma feição imponente, como se nada temesse, mesmo que todo o resto deixasse o extremo oposto evidente.

—  Não vou comemorar o dia de hoje, não teria o porquê, já que não tenho ninguém com quem dividir a data.

—  Por que não?

O sorriso veio com escárnio em demasia, fazendo o ar sair anasalado. Era uma piada de mau gosto?

—  Está brincando? Não tem a menor graça se estiver.

Não. Não estava, e Bakugou sequer conseguiu entender o porquê de Shōto ter lhe acusado de brincar. Brincaria com o quê? Aquele maldito Pavê tinha noção do quanto ele era desejado? Mas que porra tava acontecendo? Ele queria alguém que não poderia ter? Midoriya…?

—  A pessoa que você gosta está saindo com outra pessoa? —  apontou automaticamente para trás, como se isso por si só bastasse para que indicasse Deku.

—  Não, Bakugou. Olha pra mim, olha bem pra mim.

Katsuki viu apreensão naqueles olhos bicolores, viu o rubor na face, assim como sentiu novamente o calor de modo mais intenso, notou o olhar cabisbaixo e quando Shōto desviou o olhar escondendo o lado que começava a involuntariamente arder em chamas. A cicatriz. Nunca antes havia notado. Não a mancha no rosto dele, mas que ela o incomodava. Bufou, fora um tolo não notando algo como aquilo. E droga!, Shōto havia basicamente lhe dado todas as pistas, a mais recente fora quando lhe sorriu após o treino, mas coçou a testa escondendo o olho e a cicatriz. A queimadura que carregaria para sempre no rosto tão belo.

Moveu-se no sofá, aproximando-se de Shōto, mesmo correndo o risco de se queimar, muito embora agora as chamas já estivessem controladas, havia sido um pequeno foco no rosto, nada que se alastrasse rápido, ou que fosse impossível deter.

Tocou-o na mão, testando até onde poderia ir, até onde Shōto o deixaria ir. Subiu-a pelo braço alheio, ombro, pescoço e por fim pode tocar a face maculada, forçando-o a manter o olhar sobre si, inconscientemente lhe acariciando a bochecha.

—  É isso? Você…

—  Sim. —  Tocou a mão de Bakugou, não querendo afastá-la de seu rosto, mas começando a fazê-lo mesmo assim, sentindo uma relutância por parte do outro.

—  Você só pode estar de brincadeira comigo, Shōto. —  Havia usado o primeiro nome, estavam muito íntimos naquela proximidade toda no sofá, com direito à carícias distribuídas no intento de enfiar na cabeça daquele meio a meio que ele era um desgraçado bonito pra caralho. —  Você já se viu no espelho? Você é um desgraçado bonito pra caralho.

—  Bakugou! —  vermelho. VERMELHO! Quente. QUENTE!

Nem mesmo Bakugou conseguiu manter a mão na pele quente que agora de fato ardia em chamas, precisando que tapas fossem distribuídos no intento de controlar o fogo. Um ou outro palavrão foi ouvido, por parte de Katsuki que pulou do sofá, arrastando Shōto consigo antes que o outro colocasse fogo naquela merda. Tropeçaram, desequilibraram-se e caíram o chão, onde Bakugou ainda espalmou as mãos mais algumas vezes nas vestes de Shōto, controlando as chamas.

—  Você tá mesmo sozinho nessa merda de data porque tava se achando feio? E eu achava que você era inteligente.

—  Mas eu-

—  Shh!, cala a boca e aceita o elogio.

Riu, ambos riram na verdade. Era um fim de tarde atípico, com os dois rapazes deitados no chão daquela sala social, Bakugou sobre o corpo do outro enquanto o encarava e novamente lhe tocava a tez maculada, inclinando-se para lhe selar um beijo, não nos lábios, mas sobre a pálpebra fechada às pressas. Sobre a cicatriz, a mancha que o fazia sentir-se feio, mas que aos olhos daquele loiro explosivo era uma beleza incomum.


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