Puxou a coberta para cima da cabeça, mas já era tarde demais. Aquela simples fresta deixando a luz passar era o suficiente para acordá-lo. Takeo não gostava do quarto no breu durante a noite, mas também não gostava daquela claridade tão cedo.

Praguejou baixinho enquanto se espreguiçava longamente, então rolando devagar para o outro lado da cama, parando ao se encontrar com o corpo do namorado, afastando os fios castanhos  e depositando um beijo em sua testa.

— Bom dia… – murmurou divertido, mesmo que Hayato ainda estivesse dormindo, pois sabia que ele não despertaria só com aquilo, depois rolou de volta para o outro lado, seguindo com suas atividades matutinas.

Takeo já havia notado que estar em um namoro há tanto tempo podia deixar o relacionamento meio morno. Os jantares fora, antes frequentes, foram substituídos por um telefonema e um pedido de comida pra entregar em casa; os passeios no cinema seguidos de uma visita ao motel agora eram passados na varanda, acompanhados por cerveja e vinho. Arrumar pra sair, se podiam ficar em casa de moletom e camiseta velha? Bem melhor! Algumas dessas trocas eram boas, convenientes, mas era inegável que o namoro esfriaria se não fizessem nada para atiçar um ao outro.

Hayato sabia provocar quando queria; fazia charme para conseguir qualquer coisa, seduzia, se oferecia e depois mostrava o lado inocente, como se não soubesse de nada. Takeo fazia o tipo romântico-pegador; cheio das gentilezas e cantadas ao pé do ouvido, com alguns sorrisos e olhares sugestivos, mas gostava de presas fáceis. Eram diferentes em quase tudo, exceto no amor pela música, mesmo que os estilos também fossem distintos, mas aprenderam da forma mais difícil como fazer dar certo.

Takeo chegou da caminhada e retirava os tênis na entrada quando ouviu barulhos vindos da cozinha. O namorado devia ter acabado de levantar e estava pegando café, quase duas horas depois que ele mesmo acordou. Os horários raramente batiam, mas isso não os impedia de aproveitar os momentos juntos.

Passando rapidamente pela cozinha, Takeo cumprimentou o namorado com um selinho, para depois roubar um pedaço de seu lanche antes de ir para o banho. Infelizmente, o convite para irem juntos foi negado.

Na maior parte da semana, Hayato cuidava da cafeteria que era sócio, mas nos dias de folga como aquele, costumava ficar em casa, aproveitando a companhia do namorado e dos gatos, mas também gostava de tirar um tempo só para si, indo para a sala de música improvisada onde seu piano ficava.

Não que Takeo o deixasse sozinho por muito tempo quando estava em casa… O guitarrista se acomodava numa poltrona próxima para ouvir, em outras vezes tomava a ponta do banco de Hayato, observando os dedos se movendo pelas teclas. Não eram raros os momentos em que ele interrompia a música, tomando-lhe os dedos entre os seus, beijando as costas da mão e também a palma.

No começo do anoitecer, era comum se sentarem na varanda para conversar amenidades, contar como foi o dia de cada um, ou apenas para namorar. Em noites quentes eles dormiam por ali mesmo, onde montavam um acampamento e testavam as mais variadas decorações, cortesia da criatividade de Hayato. Em outras noites, nas mais frias ou quando sentiam vontade de um momento mais íntimo, iam aos tropeços por todo o caminho até o quarto, parando por um instante no corredor, onde Hayato era erguido no colo e Takeo iniciava uma sessão de beijos, focando muito no pescoço e ombros, mas sempre terminava marcando cada pedaço de pele onde conseguia por as mãos e os lábios.

Naquelas raras noites em que Takeo estava exausto e dormia primeiro, Hayato provava que não era tão mimado e retribuía os carinhos no namorado, acariciando-lhe os fios avermelhados enquanto sussurrava um desejo de boa noite, acompanhado de um beijo na face.

E então começavam tudo de novo no dia seguinte.