Doce Promessa escrita por Nah


Capítulo 15
Quinze


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, boa leitura ♥♥



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— Dalton...

A voz de Joana soou como a mais leve das repreensões, suficiente para o cão retirar o focinho da barra da saia de uma senhora que passava pelos dois naquele início de manhã. Eles já haviam percorrido toda a Rua Primeiro de Março e seguiam para a Travessa do Tuiuti, a passos lentos e despreocupados. Dalton marchava a frente, farejando todo caminho o qual seria percorrido por Joana, que agora ocupava-se em reposicionar seu chapéu de seda. A obra em verde-musgo ostentava um conjunto de pequenas flores brancas, fitas no mesmo tom de verde e uma em especial amarrada sob o queixo de Joana, que a incomodava. Ela nunca fora grande entusiasta de chapéus, mas o calor e sol ardente daquela manhã de sábado tornavam o passeio com Dalton uma tarefa um pouco menos deleitável.

Mesmo com um fiozinho de suor lhe escorrendo pelas costas, não era nisso que a mente de Joana estava concentrada. Permanecia revivendo os acontecimentos daquela semana, desde a discussão que tivera com o pai na segunda-feira até a longa conversa compartilhada com Joseph no dia que se seguiu. Perdendo a noção do tempo, os dois abrigaram-se na cozinha da biscoutaria, a preocupação estampada no rosto do inglês, bem como a consternação clara de Joana.

— Em um negócio, é preciso assumir riscos e muitas vezes não há espaço para sentimentalismo. Entendo seus motivos, mas o Sr. De Castro não parece aberto à opiniões. Deixe-o que lide com as consequências, boas ou ruins.

Fora apenas uma parte dos longos argumentos que Joseph usara com Joana. Ela se recusava a aceitar que Manoel havia dispensado um funcionário. Não lembrava quando isso já tinha acontecido na história da biscoutaria. E sim, ela estava sendo sentimentalista, porque não era apenas um funcionário. Não era apenas um bom cozinheiro.

Era o Bento.

O escravo fugido que a família De Castro abrigara e por quem Manoel havia travado uma disputa contra o Senhor de Engenho a quem Bento pertencera. O rapaz mal completara os 16 anos na época e Joana ainda lembrava-se da feição assustada e infeliz dele. Ela não teve palavras para descrever sua felicidade quando ele logo foi ensinado a trabalhar na biscoutaria. Bento, que nem mesmo possuía um sobrenome, foi dispensado sem pensar duas vezes por Manoel.

Tudo isso também fizera parte dos argumentos de Joana. Houve diálogos calorosos, momentos de contrariedade e uma necessidade mútua de compreender o outro que pegou ambos de surpresa. Então houve abraços de apaziguantes e beijos de saudade, assim como palavras que foram deixadas de lado. Joana não dissera que tudo aquilo confirmava ainda mais sua aversão às máquinas de ferro e Joseph achou que não era um momento adequado para declarar sua própria aversão à Alfredo e sua proximidade com Joana.

Joana foi surpreendida de diversas maneiras naquela semana, mas descobrir que Joseph começava a desenvolver alguma capacidade de tranquiliza-la a enterneceu, a ponto de faze-la desejar permanecer para sempre na ternura dos braços dele. Mas a realidade apareceu, informando que aquilo não seria possível. A mesma realidade que a colidira com força, ela pensou, ao notar que sentia falta de Joseph. Sentia falta das expressões – ou falta delas – em seu rosto, de suas respostas inteligentes e o modo paciente e professoral que ele assumia ao conduzir alguém no manuseio das máquinas. Mas mentiria se dissesse que era apenas isso. Era também os toques, beijos e a forma como ele buscava pela mão de Joana, preguiçosamente brincando com os dedos dela.

Os dois não encontraram um único momento para ficar a sós, desde que todas as outras noites de Joana foram preenchidas com compromissos que começaram a chegar para a família De Castro. Entre visitas à jantares ou teatros e eventuais ausências de Joseph na biscoutaria, eles não trocaram mais que reverências naqueles últimos dias.

Como um vendaval interrompendo a divagação de Joana, Dalton disparou a correr pela rua entre senhoras portando guarda-chuvas, senhores curiosos e comerciantes apressados.

— Onde você pensa que vai? Dalton!

Joana dava passos apressados no encalço do animal, que persistia em sua animada caçada por algo que ela ainda não conseguira identificar. Em uma tentativa falha de conte-lo, ela ergueu-se para perceber onde os dois se encontravam. Aquela era a rua do antigo sobrado de Manoel, o mesmo que ele concedera para Joseph.

De longe, bisbilhotou a grande porta de madeira azul. Nenhum sinal de movimento, as portas e janelas do pavimento superior também fechadas. O que ele estaria fazendo? Talvez nem mesmo estivesse acordado, Joana imaginou. Era cedo pela manhã e, diferente dela que acordara com os galos cantando, muitas pessoas ainda voltavam para casa da agitação noturna da capital. Mas não era como se ela pudesse dar uma batidinha na porta e se convidar para entrar. Para os que a viam, já era ruim o suficiente que Joana estivesse caminhando por aí apenas na companhia de um cachorro.

Então, para desespero dela, Dalton finalmente sossegara, decidindo que à porta do sobrado em que Joseph estava era um bom lugar para sentar. Joana tentou, discretamente – ela bem que desejava dar um daqueles assobios de arrepiar os pelos—, chama-lo, mas o cão apenas permaneceu a encarando. “Estou te desafiando a se aproximar” ele parecia dizer e Joana o advertia com o olhar, quando...

— Senhorita Joana?

A voz masculina surgira por trás, fazendo Joana cambalear um pouco ao voltar-se para ela. E para sua surpresa, se tratava de um muito sorridente Bento, a olhando com um misto de curiosidade e estupefação.

— Bento! Não esperava te encontrar.

Por aqui. Foi o que Joana deixou de fora, sabendo bem os desafios que seriam para ele conseguir alguma função na cidade, com muitas chances de se refugiar nas propriedades do interior. Joana sentiu um arrepio ao imaginar Bento sendo aprisionado novamente, mas ignorou o pensamento com um sorriso gentil.

— Posso perguntar como a senhorita está?

— Estou bem.

Bento já havia notado o olhar ansioso de Joana em sua direção. Então, com um sorriso matreiro, ele enfiou as mãos nos bolsos de sua calça. Admirou a rua a sua volta, suspirou com o clima e achou graça dos olhares que aquelas duas figuras estavam recebendo, paradas ao meio-fio. Então, voltou a falar.

— Eu também estou bem, senhorita Joana. Sei o que está pensando. Também me questionei. Mas tenho muito ao que agradecer à sua família, então não tive tempo para realmente me aborrecer. Ainda mais quando percebo o quanto tenho tido sorte. Esta semana mesmo precisei dizer adeus a biscoutaria e agora caminho em direção ao meu novo trabalho.

A expressão de Joana desmanchou-se em maravilhoso espanto, provocando uma breve risada em Bento.

— É mesmo? – ela quis saber. – Não está tentando me agradar?

— Não, claro que não. Estou agora mesmo indo até meu novo patrão.

Com um sorriso enorme, Joana não se preocupou em conter sua satisfação.

— Espero que saiba que estou muito feliz pelo senhor.

— Não duvido disso, senhorita.

— E o que fará em seu trabalho? Tenho certeza que o senhor será tão bom quanto era para a biscoutaria.

Bento estava rindo novamente diante da empolgação daquela mulher. Como ele gostava da senhorita Joana. Sempre gostara, pensou, relembrando os momentos que vivera sobre os cuidados dos De Castro.

— Serei um atendente pessoal. Um valete, meu patrão disse. Não vê? Agora até me visto melhor.

O homem ergueu os braços, chamando a atenção de Joana para seu conjunto de calça e casaco pretos, com botões dourados que brilhavam sob a luz do sol.

— E o seu patrão? – Joana questionou com curiosidade e preocupação. Que ele não fosse mais um rico bruto e ignorante.

— Ele é... Veja, lá está ele. Bem, parece que estou encrencado por me atrasar.

Seguindo a direção que Bento indicara com um gesto discreto em sua cabeça, Joana voltou o olhar para o outro lado da rua, onde Joseph fechava a porta atrás de si. Com um mal disfarçado arregalar de olhos, ela o assistiu se espantar ao notar Dalton em seus pés. Com as mesmas vestimentas pretas que sempre usava, sua barba estava menor que o usual e ele escondia os fios rebeldes sob o chapéu quando seu olhar encontrou o de Joana.

Joseph dera um trabalho para Bento? Quando? E por que? O coração de Joana começou a palpitar sob o olhar dele, sentindo emoção e algum outro sentimento desconhecido a agitar.

Ao seu lado, Bento continuava a falar, mas a atenção de Joana estava presa no homem que caminhava com determinação em sua direção.

— Sr. Fretcher.

Bento o cumprimentou com uma pequena reverência, que Joseph prontamente devolveu.

— Bento. Senhorita De Castro.

Completamente desatenta, Joana mal notara que ainda encarava Joseph. Ela queria poder dizer que preferia quando ele dizia seu nome. Queria poder agora mesmo lançar-se em seu pescoço, beija-lo até faltar o ar. Queria agradece-lo por sua consideração. Não poderia ser tão fácil assim se apaixonar por aquele homem, mas, ainda assim, lhe parecia isso. Por favor, que eu não esteja apenas fazendo papel de boba. Se apaixonar por Joseph sempre parecia um risco.

— Estão reunidos aqui por algum motivo em especial? – Joseph quis saber.

— Nada em especial. Apenas encontrei a senhorita Joana por acaso.

— Estou levando Dalton para um passeio.

Joana comunicou, observando o fila brasileiro que agora estava prostrado aos pés de Joseph, o analisando atentamente.

O senhor é mesmo um traidor.— ela voltou a sussurrar com reprovação na direção do cachorro, mas estava sorrindo.

Os dois homens achavam graça, a sua maneira. Joseph não olhou para Joana por mais que dois segundos. Olhar para ela sorrindo, por algum motivo, parecia fazer o dia tornar-se mais quente, o sol parecia mais nítido e seu humor tornava-se mais entusiasmado. Aquilo lhe parecia tão grande que não duvidava se toda a Recife pudesse notar. Ele não podia arriscar.

Tudo bem, talvez arriscasse mais uma olhada.

Joana agora dava risada de algo que Bento lhe falava e Joseph notou como aqueles dois soavam amigáveis. Estreitando os olhos, ele agora sentia um calor diferente.

— Mas está tudo bem da mesma forma. – Bento continuava a contar. – Eu...

— Senhorita Joana!

Os três se interromperam quando notaram Eugênia parada diante deles, o olhar acusador sobre Joana. Eugênia, melhor amiga de Francisca e esposa do negociante de açúcar Gonçalves Pereira Lima, desaprovava constantemente o modo como Joana, a quem ela chegara a considerar uma sobrinha, parecia ignorar as menores condutas de uma dama jovem e solteira.

— Senhorita Joana... Estou agora mesmo indo até sua casa, a convite de sua mãe para o desjejum.

O tom de advertência que Eugênia despejara na frase deixou claro para Joana o que ela insinuava, lhe provocando um sorriso astucioso.

— Está tudo bem. Estamos apenas conversando.

— Senhorita Joana... Não está sugerindo que eu siga o restante do caminho até sua própria residência sozinha, não está? Posso me sentir mal com o calor, ou ser abordada por ladrões. Ou...

Joana reprimiu o desejo de revirar os olhos. Eugênia sempre fora uma boa pessoa com ela e o restante da sua família, mas às vezes conseguia ser bastante obtusa.

— É claro que não, tia Eugênia. Posso chama-la assim, não é?

— Sim, minha querida. – a mulher de cabelos brancos muito bem escondidos em seu chapéu cor de violeta amoleceu em um sorriso, antes de virar-se para Joseph e Bento com um sorriso muito menos amistoso. – Senhores.

Depois de enroscar seu braço no oferecido por Eugênia, Joana imitou a reverência que ela fizera. Bento não escondia o sorriso, enquanto Joseph não movera um músculo do rosto, mesmo que seus olhos brilhassem com humor. Como ela queria saber como ele fazia aquilo, Joana pensou, sustentando o olhar dele por mais alguns segundos. Joseph o devolveu com a mesma força e ela só pode desejar que aquele olhar deixasse claro tudo que ela queria dizer, mas não podia.

— A senhorita o ama muito, não é?

Joana quase tropeçou.

— O que?

— Seu cachorro, nos seguindo.

Levando uma mão ao peito, como se isso pudesse impedir que seu coração saltasse pela boca, Joana deu um risinho nervoso.

— Ah, sim. Muito. Vamos rápido. Tenho certeza que a senhora não quer passar mal com o calor ou encontrar os ladrões dessa cidade, não é mesmo?

O tom de mal disfarçado sarcasmo usado por Joana em sua provocação resultou em resmungo contrariado de Eugênia, a quem, com passos apressados, Joana arrastou pelo restante das ruas que faltava.

Os dois homens mantiveram-se onde estavam, observando o conjunto de saias farfalhantes desaparecer pela rua. Joseph permaneceu quieto por mais tempo, contemplativo. Tal foi a sua surpresa ao encontrar Joana em frente à sua porta. Ela não teria ido vê-lo, teria? Joseph não podia culpa-la se fosse, quando ele mesmo já estava a ponto de bater à porta do casarão e arrasta-la consigo. 3 dias sem trocarem uma única palavra e Joseph achava que deveria ser proibido alguém possuir essa capacidade de se infiltrar em sua cabeça, a todo momento.

— Se me permite o comentário, considerando que fomos colegas de trabalho... – Bento falou, depois de algum tempo. – Acho a senhorita Joana assustadora. De um jeito bom.

Joseph olhou para a figura ao seu lado, o homem que ele contratara como seu valete. Ele não queria reavivar os motivos que o levaram a considerar ter alguém para cuidar de suas roupas, de algumas tarefas domésticas e pagar suas contas, mas já o estava fazendo. O que aquela mulher estava fazendo com ele...

— Acho que concordarei com o senhor. – Joseph respondeu, por fim.

— À propósito, Sr. Fretcher, sinto muito pelo atraso. Não imaginei que o senhor já estaria acordado.

— Não precisa se desculpar. Eu realmente acordei cedo.

Na verdade, Joseph mal dormira. Sua mente estava inquieta demais com o fato de que todos os seus antigos clientes de Londres pareciam ter decidido solicitar a presença dele na cidade inglesa. Ele até mesmo escrevera para Olivia, em resposta à sua notícia e desejando descobrir como raios todos pareciam saber onde Joseph estava.

Ele amassou carta por carta, em algum momento chegando até a questionar sua permanência em Recife. Era certo e não havia dúvidas de que ele faria muito mais dinheiro se voltasse a sua rotina habitual, pulando de cidade em cidade. Mas, no fim, não se tratava de dinheiro. Se tratava da paz que Joseph passava os anos procurando, e não a encontrava. Se tratava de realização pessoal, amor e, quem sabe, felicidade. Nenhuma dessas coisas ele poderia ter vivendo no mesmo lugar que Edward Fretcher.

— Sim, senhor.

Bento o trouxe de volta, as mãos unidas em frente ao corpo mostrando que estava pronto para desempenhar suas tarefas.

— Joseph. – o inglês o corrigiu, retirando uma chave do bolso e entregando à Bento.

— Não me sentirei confortável o chamando assim, senhor. Pode confundir a hierarquia das nossas posições.

Resoluto, Joseph apenas concordou.

— Vocês pareciam muito amigáveis.

Aturdido com a mudança de assunto, Bento demorou-se a perceber a quem ele estava se referindo. – Bem, sim. O suficiente, eu acho. Conheço a senhorita Joana desde que era pequena.

Joseph concordou mais uma vez. A imagem do sorriso de Joana e o som de sua risada estavam impregnados em sua mente e ele achou que o sol forte estava afetando seu juízo, porque queria que aquele sorriso fosse exclusivamente para ele.

— Terei dificuldade em chamá-lo pelo nome, mas parece que alguém não tem nenhum problema com isso. – Bento indicou o fim da rua.

Pedro corria em direção à eles, os cabelos escuros saltando assim como suas roupas surradas, enquanto ele chamava por Joseph.

— Aqui está a sua primeira tarefa. Manter o pirralho longe de mim. – Joseph provocou, mas Pedro já estava perto o suficiente para ouvir e lhe respondeu com uma careta zangada.

— Ele me provoca porque somos amigos e... Espera, o senhor trabalha na biscoutaria. – Pedro apontava um dedo magricela na direção de Bento.

— Não mais. Sou Bento, e agora trabalho para o Sr. Fretcher.

Ainda parecendo confuso, Pedro voltou seu olhar para Joseph.

— Trabalha para você?

— Bento agora é meu assistente pessoal.

Então a curiosidade do garoto se transformou em perplexidade e Joseph revirou os olhos, sabendo o que estava por vir.

— Você o contratou? E quanto a mim? Eu também poderia ser seu assistente.

— E ter você morando comigo? Não sabia que começaria a pagar tão cedo por meus pecados.

— Sinto que meus sentimentos foram feridos.

Pedro levou uma mão ao peito, no apogeu de sua encenação dramática. Joseph tentava a todo custo conter uma risada quando deu meia volta e começou seu caminho em direção a biscoutaria. Já Bento permaneceu no lugar, indeciso sobre qual caminho seguir e decidindo por fim que seguiria seu patrão.

— Ei! Me esperem! – Pedro reclamou mais uma vez, voltando a correr.

Em resposta, Joseph apressou ainda mais o passo e os dois entraram em alguma espécie de disputa, onde um tentava afastar-se e o outro se aproximava a todo custo, deixando Bento confuso mais uma vez.

Pela primeira vez, Joseph deixou um sorriso escapar, levando uma mão ao ombro de Bento.

— Ficarei bem na biscoutaria, pode ficar no sobrado. Deixei uma lista para ajudá-lo. Não sei a que horas estarei de volta.

Se eu der sorte de manter a senhorita Joana por mais algumas horas.

*

Joseph não dera sorte. Quando as atividades na biscoutaria se encerraram, uma nova onda de agitação começou. Aparentemente, Manoel não tivera nenhum problema em ceder o local para os festejos de casamento de Ramos, na manhã do domingo. Entre a movimentação de alterar a disposição das mesas e preparar arranjos de flores e comidas, Joana desapareceu da sua vista.

Seus olhos só voltaram a encontra-la na manhã seguinte e ele quase engasgara ao fazê-lo. A visão de Joana provocava a sua sanidade, encoberta em um vestido vermelho de mangas curtas e ramos de flores feitos linha de prata, com um grande decote que revelava áreas por onde Joseph já havia se aventurado. Ainda assim, eles não ousaram se aproximar, entre a população de familiares e amigos de ambos os noivos. Então ele permaneceu a observando distante e discretamente, fantasiando poder a agarrar pela mão e leva-la para longe dali. Longe de todos.

Mesmo que disfarçasse bem, Joana o tinha estudado. Em um terno preto de sempre, ela não sabia se esperava vê-lo, desde que Joseph não parecia muito inclinado à festejos. Mas lá estava ele, parecendo deslumbrante e fresco, como uma tarde de inverno. Ela o assistiu iniciar uma conversa com Manoel, e Bento, que estava ao seu lado, apertou a mão do antigo patrão. Parecia que eles haviam feito as pazes, Joana ponderou, diferente da sua situação com o pai. Os dois ainda teimavam em não trocar mais que poucas palavras.

Evitando o pensamento, Joana desviou a atenção para a cerimônia dos noivos. Ela descobrira que Marieta, a noiva, era apenas dois anos mais velha e agora, em seu vestido branco virginal, parecia acanhada e modesta. Provavelmente sentindo-se oprimida pelo que tudo aquilo significava para ela, Joana tentou entende-la, lhe oferecendo um forte aperto de mãos mais cedo. Já Ramos, era o contrário, a própria personificação da animação. Em seu elegante terno, sorria e cumprimentava, arrancando gargalhadas de todos.

Após a cerimônia, seguiram da Igreja até a Praça Guadalupe, onde foram recebidos com empolgação e cantos de alegria. A praça se tornou um grande salão aberto de forrobodança e quando o acordeão começou a tocar a diversão tomou conta das saias e dos pés arrastando no chão.

— Como eu amo essas festas... – Matilda murmurou, enlaçando seu braço no de Joana.

Juntas, entraram na biscoutaria, que aberta servia como palco da comilança das bodas. Enquanto servia as duas com taças de limonada, Joana notou o olhar distante de Matilda por além das grandes portas e em direção aonde os casais formavam filas de dança.

— Queria que alguém me tirasse para dançar. – confidenciou, parecendo sonhadora.

Joana bufou, achando aquilo insensato.

— E por que não a chamariam para dançar?

Tomando um pequeno gole de sua bebida, Matilda balançou os ombros, movimentando os babadinhos no final das mangas de seu vestido rosa.

— Creio que não chamo atenção o suficiente.

Mais um resmungo de Joana e ela dispensou aquilo com um movimento da mão enluvada. Então analisou os cabelos escuros encaracolados da irmã mais nova e contrariou-se um pouco mais.

— Que bobagem é essa? Você é linda. Quem está tentando te mostrar o contrário?

Desviando espertamente das pessoas, as duas dirigiram-se para o centro da praça outra vez. Matilda ia mais atrás, sorrindo levemente ao ponderar as palavras da irmã. De Joana, a quem ela sempre considerou ser a mais bonita de toda a cidade, agora dizendo aquelas coisas.

— Venha. – Joana interrompeu-se, segurando o braço de Matilda. – Vou te conseguir um par de dança.

— O que? Não acho que seja necessário Joana...

— Se você quer dança, irá dançar. Nem que seja comigo.

Agora Matilda estava dando risadas e as duas percorreram a praça com calma, os olhares atentos em todos os rapazes sozinhos. Avistaram Isabel tentando formar par com um homem que elas não reconheceram, com Dalton ao seus pés atrapalhando o processo, e elas riram ainda mais. Encontraram seus pais entretidos em conversas com seus respectivos grupos – Francisca com suas amigas da vizinhança e da igreja, Manoel com o que ele gostava de chamar de “homens de negócios”. Então Joana investigou, em busca de uma pessoa em especial...

— O Sr. Fretcher! – Matilda sobressaltou.

Ela dissera o nome dele em voz alta?

Cautelosa, Joana perguntou. – O que tem o Sr. Fretcher?

— Ele está logo ali, e não está dançando. Considerando que já nos conhecemos e trocamos muitas palavras, suponho que ele não se importaria ou acharia indiscreto se eu o chamasse para dançar. O que acha?

— Eu...

— Vamos, vamos.

Matilda a arrastou em direção à Joseph, que se encontrava encostado à entrada da biscoutaria na companhia de Pedro e Bento. Pedro parecia lhe aborrecer com algo e Joana acabou sorrindo. Pela cena e por imaginar a figura séria de Joseph se arriscando naquela dança.

Após cumprimentar os três, Matilda concentrou-se em Joseph.

— Sr. Fretcher... – ela começou, as bochechas queimando com a ousadia que sentia. – Levando em conta que o senhor provavelmente nunca dançara essa dança em especial, imaginei se o senhor não gostaria de tentar. Comigo.

O profundo azul do olhar de Joseph analisou como Matilda parecia animada e envergonhada e ele sorrira, como em poucas vezes àquele dia. Então observou por além dela, para Joana que tentava esconder o seu próprio sorriso – e o seu olhar na direção dele.

— Eu gostaria...

Antes que ele pudesse terminar de responder, uma interrupção indesejada para Joana surgiu ao seu lado e ela empertigou-se.

— Sr. Fretcher!

A voz afetada de Carlota ressonou aos ouvidos de Joana e aquilo bastava para lhe provocar irritação. O vestido de cetim laranja cintilava na luz do sol, assim como os cabelos claros ganhavam vida. É claro que ela estava chamando a atenção. Era filha do barão de Tavares, afinal.

Todos utilizaram de algum jeito para a cumprimentar, seja com reverências ou apenas a citando como “senhorita De Garcia”, com exceção de Joana, que se manteve com os braços cruzados, a encarando.

— A senhorita foi convidada?

— Joana! – Matilda se alarmou, dando um risinho sem graça em seguida.

— Meu pai foi convidado, Joaninha. Ele é o barão de Tavares, afinal.

As duas encaravam-se como se não existissem pessoas a volta, o sorriso presunçoso de Carlota estampado em seu rosto, bem como o princípio de risada sem humor que Joana dera em reposta.

— É claro que mamãe e eu não consideramos aparecer, visto o modo como você a tratara. Sim, estou ciente de tudo. – não do modo com a sua mãe me tratara, Joana pensou. – Mas acho que é possível ouvir essa agitação a quilômetros e eu fiquei... curiosa. E, não menos importante, o Sr. Fretcher está aqui.

Forçando um sorriso amável, Carlota se voltou para Joseph, que arregalara os olhos ao engasgar-se com horror. Pedro lhe deu tapinhas nas costas e Joana um passo ameaçador em direção à mulher loura a sua frente.

— Vocês não vão discutir aqui, à luz do dia, não é?! – Matilda interviu, colocando-se entre as duas e com medo da atenção que começavam a chamar.

Joana olhou para a irmã e tentou controlar-se um pouco. Era melhor se conter, ou acabaria ensinando a Carlota uma lição bem ali. Olhando para Joseph daquela maneira. Como ela se atrevia.

— Tudo bem, Matilda. – Joana falou, após respirar fundo. – Contanto que ela fique fora do nosso caminho. Vá, dance com o Sr. Fretcher.

— Sr. Fretcher, irei lhe conceder a minha companhia nesta dança. – Carlota adiantou-se, quase atropelando as palavras de Joana.

Ela a estava provocando, Joana teve certeza, soltando uma risada atônita. Sem pensar, Joana agarrou o braço de Joseph, o puxando para perto de si.

— O Sr. Fretcher irá dançar com a minha irmã. A senhorita pode retirar-se daqui.

Em uma rapidez impressionante, o rosto de Carlota assumira um tom avermelhado e seus olhos pereciam ainda maiores e maldosos, quando ela capturou o outro braço de Joseph, também o puxando em sua direção.

— Ele dançará comigo, não é, Sr. Fretcher?

— Senhoritas... – Joseph tentava interferir, sem sucesso.

Pedro já sentia as dores na barriga de tantas risadas, enquanto Matilda tentava dispersar a atenção voltada para as duas que continuavam a disputa.

No fim, tudo acabou em desvantagem para Joana. Seus pais logo apareceram, estarrecidos com a confusão, tal como Iolanda aproximou-se, destratando Joana daquela maneira sutil que só ela conseguia. Joseph fora arrastado para a dança com Carlota, deixando Matilda sem par e Joana com a irritação em seu limite.

A festança durou até o entardecer, quando todos se espalharam em direção à suas casas, deixando para trás votos de felicidade ao casal de noivos. Poucos funcionários continuaram na biscoutaria para limpar a bagunça, Joana mal notando que era uma delas.

— Quem aquela mulher pensa que é. – resmungou, arrastando cadeiras para seus locais de origem.

— Deixando minha irmã sem par apenas para provocar-me. – murmurou consigo mesma outra vez, sacodindo a poeira das toalhas. – Ainda insinuando-se para Joseph daquela maneira.

Todos a olhavam torto, sem entender porque ela tanto balbuciava. Joana limpara o salão de entrada e estava “mais irritada que nunca, tendo que aturar Carlota e Iolanda achando-se superior aos outros”. Cuidara do corredor e desejou “poder colocar as mãos naquelas duas”. Até estar no centro da cozinha, as mãos na cintura ao perceber que não sobrara uma sujeira sequer, tanto quanto não sobrara ninguém além dela. O último partira, lhe deixando as chaves para que tratasse de fechar o lugar.

Joana olhou a sua volta. Para as mesas, louças e até para as máquinas de ferro. Ela precisava de algo que a acalmasse. Então seus olhos repousaram sobre uma caixa cinza escuro mantida em uma prateleira. Com cuidado e como se fosse a coisa mais preciosa do mundo, ela a abriu, encontrando todas as receitas dos biscoitos da De Castro anotadas, algumas anunciando sua idade em papéis amarelados e envelhecidos. Escolhendo biscoitos de leite, Joana dispôs os ingredientes na mesa.

Ela juntou o leite, a manteiga, o açúcar e a farinha de trigo, começando a sovar a massa e percebendo que não sabia muito bem se seu intuito havia sido alcançado. Ela a amassava furiosamente, descontando sua raiva no alimento, quando braços fortes a envolveram com firmeza, quase lhe fazendo um grito escapar da garganta.

Virando-se pronta para atacar quem quer fosse, Joana encontrou um sorriso de canto que ela conhecia muito bem.

— Você me assustou. – Joana agarrou as lapelas do casaco preto de Joseph, deixando a marca de farinha no lugar. Seu coração estava disparado e não era apenas pelo susto. – Não sabia que ainda estava aqui.

Joseph olhou o rastro branco em sua roupa e seu sorriso aumentou um pouco. Então ele ergueu o rosto, para colar seus lábios nos de Joana em um longo e roubado beijo.

— Estava esperando o momento em que você ficaria sozinha.

Ele realmente esperara por ela, furtivamente descansando no escritório de Manoel. E quando Joseph a encontrou ali, parecendo querer atravessar a massa de biscoito pela mesa, tudo que ele conseguia pensar era: parece que tive sorte dessa vez.

Joana utilizou a posição de suas mãos para puxa-lo novamente, o contato de mais um beijo lhe provocando arrepios por todo o corpo. E por um momento, não havia mais nada além dele. Joseph capturou os lábios dela e jogou para longe suas preocupações, o toque de suas mãos procurou pela pele dela e acalmou sua mente, agitando seu coração com uma emoção que a tirava o fôlego. Beijaram-se com ferocidade e Joana agarrou-se a Joseph como ele pudesse escapar a qualquer momento, como se desejasse que ele não escapasse nunca.

— Céus, como eu senti a sua falta. – ele sussurrou contra o pescoço dela.

— E eu a sua. – Joana segredou, os dedos entrelaçando nos fios de cabelo de Joseph.

Com os lábios, ele percorreu o caminho que o levava de volta até a boca de Joana, deixando claro no percurso quanta saudade ele sentira e como ela era mulher mais linda que ele já vira. Tudo que Joana podia fazer era sorrir quando ele tornou a olha-la nos olhos. Joana lhe acariciou o rosto, sentiu a aspereza da barba sob seus dedos. Em um instante, ela lembrou-se do que ele fizera por Bento e seu sorriso estava de volta, assim como seus braços envolta do pescoço dele em um abraço apertado.

— O que foi? – ele questionou, intrigado com a reação dela.

— Não é nada. – foi a resposta abafada por um sorriso que ela deu, antes de suspirar lentamente. – Infelizmente, estou de péssimo humor.

— Jamais teria pensado isso, te vendo carinhosamente preparar aquela massa.

Joana voltou a olha-lo estreitamente diante da provocação. Os lábios de Joseph ameaçaram um sorriso.

— Uma vez... – ele continuou a falar. – Alguém me disse que utilizava dessas mesmas mãos para fazer isso, com amor.

O foco de Joana instintivamente desviou-se para o montante de ferro atrás dos dois, que ela rapidamente tratou de se afastar.

— Quer mesmo tocar nesse assunto?

Ambos tornaram-se sérios, um incapaz de desviar os olhos do outro.

— Uma hora teremos que falar e você sabe disso.

— Agora é uma péssima hora.

Joseph não disse nada e Joana agradeceu por isso. Ela não queria estragar o momento com assuntos que aborreceriam os dois. Por que não poderiam viver na ignorância?! É claro que não podiam e ela sabia, mas sentir o calor do corpo dele junto ao seu era bom demais para ser arruinado.

Ela se voltou novamente para a mesa e Joseph continuou atrás, os braços a mantendo próxima e o queixo descansando em seu ombro.

— O que está fazendo?

Joana pensou em diversas formas as quais ela poderia responder àquilo, mas resolveu escolher a mais divertida. Com um sorriso esperto, ela o moveu com o ombro.

— Lave as mãos ali.

— O que? – a voz de Joseph não poderia soar mais confusa.

— Vá.

Intrigado, ele fez como ela dissera. Em seguida e com os braços de Joseph novamente a sua volta, Joana lhe tomou as mãos e, com firmeza, as posicionou sobre a massa de biscoito. Assim ela o conduziu ao seu próprio ritmo, em uma dança em que ela era perita. Juntos, moveram a massa até atingir a consistência perfeita e um risinho brotar em Joana, achando graça da situação. Joseph a acompanhou com um sorriso, mesmo quando sua mão coberta de material branco atingiu suavemente a lateral do rosto dela.

— Ei! – Joana protestou, ainda que estivesse rindo mais.

— Sinto muito, senhorita.

Dessa vez, Joseph lhe atingiu o nariz, a marcando de branco novamente.

— Serei obrigada a revidar.

Ela não teve tempo, pois a risada de Joseph preencheu seus ouvidos e a deixou aturdida. O som caloroso a envolveu, talvez até mais que o corpo de Joseph naquele momento.

— Acho que a sujei aqui e... aqui.

Colocando as mãos sobre as dela, Joseph começou a lentamente deslizar os dedos por seus braços. Uma lenta agonia que deixou todos os sentidos de Joana em alerta. Quando os lábios dele lhe atingiram um ponto atrás da orelha, a respiração dela se alterou, sua cabeça encontrando o apoio do ombro de Joseph.

— Nunca imaginei que a veria com ciúmes. – Joseph sussurrou em seu ouvido, relembrando o que acontecera mais cedo.

— Eu não... estava com... ciúmes.

Joseph apenas sorriu contra o pescoço dela, antes de mordiscar no mesmo lugar. Um som escapara entre os lábios de Joana e ela não soube discernir o que era. Sua voz agora era apenas um fiapo quando ela atreveu-se a tentar falar.

— O que você está fazendo?

— A deixando suja. – ele respondeu, as mãos agora deslizando pelos ombros em direção a cintura comprimida pelo vestido. – Mas não da maneira que eu gostaria.

A risada de Joana morrera no segundo em que uma audaciosa mão de Joseph lhe atingira o seio.

— Cedo demais. – ela o relembrou.

— Eu sei.

Então, sentindo-se suja e ousada, Joana juntou sua mão a de Joseph, o fazendo apertar aquela parte de si que ele ainda mantinha. Ela fechou os olhos no momento em que Joseph rosnara de frustração.

— Você é uma mulher má. Não me provoque.

Abruptamente, ele a virou para si, encarando aqueles olhos expressivos que ele tanto gostava. Pensou na cena que presenciara naquela manhã, na ideia de Joana sentir-se ciumenta em relação a ele e pensou em seus próprios sentimentos em relação a ela. Nunca poderia reivindica-la para si, pois simplesmente não acreditava nisso.

— Mesmo desejando que nenhum outro homem seja capaz de toca-la dessa forma, não ousarei dizer que você é minha, porque não acho que isso é possível. Cada parte de você lhe pertence exclusivamente.

Deslizando o polegar sobre os lábios de uma muito atordoada Joana, ele continuou.

— Essa boca lhe pertence, mas, ainda assim, devo pedir permissão para que a compartilhe comigo.

Joana já duvidava da sua capacidade de se manter em pé quando aquele homem continuava a olha-la daquele jeito, mas encontrou forças para enroscar os braços em seu pescoço, aproximando-se dele até que suas respirações se misturassem.

— Não sei porque ainda está falando.

De uma só vez, afogaram-se em sorrisos e beijos desenfreados, que renderam a Joana uma noite inteira de suspiros.

*

Joana não voltou a vê-lo na segunda-feira. Na terça-feira, não encontrou um único momento para que pudessem se encontrar quando Manoel insistiu em fechar a biscoutaria por si próprio e no dia seguinte a inquisição de Isabel e Matilda a manteve longe da biscoutaria logo que o dia terminou. Estava tudo bem, ela repetia para si mesma a todo tempo.

— Senhorita Joana, chegou uma carta.

Prazeres a interceptou quando Joana seguia para a cozinha, a fim de fazer o desjejum. Ela pegou o envelope que a mulher estendia, o cenho franzido em confusão. Joana quase nunca recebia cartas e ver o remetente se nomear como “Thomas” não melhorava sua perturbação. Quem era Thomas?

Voltando para seu quarto em busca de privacidade, Joana não demorou a abrir o conteúdo, seu coração quase lhe saltando pela boca com o que seus olhos encontraram.

“Acho que terei que recorrer a medidas drásticas para conseguir falar com você. A realidade de nossas rotinas tem se mostrado contra minha vontade de permanecer ao seu lado, mas não estou desistindo.

Estou usando esse pedaço de papel, no ápice do que parece ser minha loucura (quando imaginei fazer isso por uma mulher?), para deixar claro que já sinto saudades.

Caso não deseje responder, um sorriso seu hoje será suficiente.

P.S. estou assinando com meu segundo nome para dificultar para aqueles que tentem descobrir quem a escreve. E, afinal, lhe serve como mais uma informação sobre mim.

De alguém ansioso para vê-la, senhorita do gênio forte,

Thomas.”

Joseph Thomas Fretcher.

Joana testou o nome e não percebera que estava chorando, até uma lágrima solitária pousar em sua mão. Ah, o que aquele homem estava fazendo com ela...

E ela desejava o responder, mas não haveria tempo naquele momento. Escondendo a carta em sua penteadeira, Joana correu para o café da manhã e então para acompanhar seu pai até a biscoutaria, onde ela escolheu entrar pelos fundos. Queria colocar os olhos sobre Joseph e nem precisaria esforçar-se para oferecer o sorriso que ele queria. O mesmo não largava seu rosto.

Mas antes que pudesse avista-lo, um burburinho estava tomando conta do lugar. Uma comoção fora do comum deixou Joana apreensiva a medida que entrava na biscoutaria. Ela encontrou seu pai direcionando-se até a entrada e Joseph seguia logo atrás dele, quando os três foram interditados por Aurélia.

— Senhor, tem mais um inglês aqui.

Manoel proferiu alguns impropérios confusos e com pressa eles avançaram no salão de entrada, até o chão de Joseph ser retirado de seus pés por um curto espaço de tempo que pareceu durar uma eternidade.

Edward Fretcher acabara de entrar.


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