Dia dos Namorados escrita por Arymura


Capítulo 1
Capítulo 1




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Sabe aquele dia de merda? Sim, foi hoje...

Dia dos namorados e finalmente eu tinha alguém. É, isso era um milagre! Parece que eu sempre acabo sozinha perto dessas datas comemorativas. Ok, eu economizo algum dinheiro, mas, somente uma vez, eu queria algo diferente.

Não.

Eu queria algo igual ao que todos têm no dia dos namorados. Aquele clichê, do bom e velho buquê de flores, acompanhado da caixa de bombons — que nem precisava ser importada — bonitinha. Só isso. Seria pedir demais?

Pro universo, parece que sim...

Marcamos às 21h no shopping, no dia seguinte não teríamos que trabalhar, portanto não importava ser tão tarde. Além disso, eu moro sozinha, não devo satisfações a ninguém.

Não há quem ligue se eu não voltar para casa. Talvez meu gato, o Bóris, mas só se acabar a água ou a ração. Ah! Sim. Se ele soubesse como, seria capaz de colocar um chip na minha cabeça para me obrigar a voltar para casa e servi-lo, meu reizinho é um pouco temperamental.

Ok, voltando para o dia de hoje...

Cheguei meia-hora antes do combinado, fiz algumas compras extras na loja de chocolates, nunca se sabe se o dia precisará de uma dose extra de alegria. Talvez meu erro seja estar sempre esperando pela decepção.

Dois pacotes diferentes, azul para o Marcus e vermelho para mim. Joguei na bolsa, junto ao presente que comprei há meses e sentei em um banco para esperar pelo meu amado.

Uma hora depois, nada dele chegar. Sim, poderia ser só um atraso. Trânsito? Hora extras? Sei lá, tem chefe que se aproveita dessas datas para sacanear os funcionários.

Mais quinze minutos, e eu já pensava que era melhor que tivesse realmente acontecido um acidente. Daqueles que ele não pudesse andar ou mandar uma mensagem pelo celular. Isso! Ele está no hospital em coma, por isso se atrasou! Logo, logo estará aqui um enfermeiro me avisando, e eu o acompanharei até o leito do meu amado e cuidarei de suas feridas. Novela mexicana, tá eu sei...

Abri a bolsa, peguei o fatídico pacotinho vermelho. Por que fatídico? A atendente trocou os chocolates e no meu pacote colocou os com lactose...

E com certeza, eu sou alérgica. Enchi a mão e levei tudo a boca, tentando engolir junto com a suposta rejeição ou a possível morte do meu companheiro. Nem prestei atenção ao sabor, meu nariz estava tão entupido por causa do choro que não percebi.

Um minuto depois e meu estômago se contorcia, a descrição correta é: nó nas tripas. Eu corria para o banheiro, na mesma velocidade que os lojistas fechavam suas portas, tão rápido quanto pude.

O bom é que, neste horário, tudo está vazio. Enquanto o remédio não fazia efeito e não continha aquela desgraça, eu podia fazer todo o barulho que quisesse. No fim, era uma mistura de morte interna, com explosão de bombas e uma pitada de sentimento de abandono em forma de lágrimas.

Não havia o que fazer, eu segurava o celular indecisa. Queria ou não que ele tivesse vindo? Precisava respirar e me acalmar, mas não era um bom momento para respirar fundo, se é que você me entende.  

Quando a onda passou, tentei recolher o que me sobrava de dignidade. Diante do espelho gigante do toalete, percebi que havia feito duas cagadas: uma que dei a descarga e me livrei, outra na maquiagem que estava toda borrada. Como a minha vida amorosa.

Ajeitei tudo da melhor forma que pude, pelo menos ninguém me veria naquele estado deplorável. Fui até a saída em passos firmes, decidida a não demonstrar fraqueza, e puxei com toda força a porta...

 Ela... estava... trancada...

Isso mesmo, senhoras e senhores! A porra do universo é uma vadia suja que adora brincar com a minha cara! Eu bati com toda fúria naquela porta e nenhuma viva alma me escutava.

Viva alma...

De novo, a palavra correta.

Senti algo tocar meu ombro, um frio correu pela espinha, graças a Deus o remédio funcionou. Olhei lentamente para trás, era o Marcus, pálido, segurando somente o cabo das rosas e algo que parecia ser o resto de uma caixa vermelha.

Seu rosto estava ensanguentado, assim como sua camisa, ele sorria e percebi que lhe faltavam alguns dentes. Uma das pernas estava quebrada, com o osso exposto visível pela calça rasgada. Não havia uma parte dele que estivesse intacta.

Marcus tentava se aproximar de mim, enquanto eu recuava, até que começou a falar:

— Estou atrasado, mas consegui chegar — ele falou sorrindo. — Eu ouvi você me chamar, querida. Ouvi e vim correndo para ti.

“Bosta”, pensei, “Por que raios, logo esse pedido foi atendido”

O fantasma do homem começou a se aproximar, pedindo um beijo. Tentei fugir, mas não havia para onde. Eu só queria a má sorte de estar sozinha no dia dos namorados novamente...


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