Vinho escrita por Lux Noctis


Capítulo 1
A culpa é sempre do vinho




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“We don't have to be lonely tonight

I know we shouldn't, but I don't care

I don't wanna be right, I don't wanna be strong”



Aquela, como muitas outras noites, terminava em uma bebedeira quase desenfreada, como se eles vivessem se desafiando à mais, a beber mais, a ser mais forte para bebida que o outro. Comemoravam, o quê já era querer saber demais. Nem eles saberiam dizer naquele momento. Crowley também não sabia dizer o porquê de ser olhado daquela forma por Aziraphale, mas não reclamava.

Sentia algo estranho fomentar em seu peito, ou era só culpa do vinho que descia rápido pelo gole que deu.

—  Você lembrou dos livros.

Ah sim, era por isso então que estavam bebendo. Os livros! Claro que ele lembraria, sabia a paixão do anjo para com aquelas coisas pesadas que ele não ousava chegar perto.

Aziraphale tinha as maçãs do rosto num tom mais corado, era o álcool, ou era a felicidade de não ter perdido livros tão estimados. E mesmo que sentado naquela cadeira de madeira, parecia flutuando de alegria e olhava sim de modo diferente para Crowley, com um toque a mais de gratidão.

Não era comum um anjo… nutrir sentimentos de tal forma, ia contra as regras de vários modos, únicos e no geral! Mas o que ele poderia fazer se quando Crowley “miraculosamente” salvou não só os livros, mas o livrou de papeladas, algo a mais havia acontecido? Ele não tinha culpa se… acontecimentos inefáveis aconteceram naquela noite. Eram desígnios do Senhor?

—  Vai ficar me olhando com essa cara, anjo? —  Era possível mesmo que Aziraphale o estivesse olhando daquele modo? Do mesmo que via os humanos olharem para outros… Oh não!

Nem notou que moveu a cabeça numa negativa veemente fazendo os óculos deslizarem na ponte do nariz, quase caindo. Estava sentado na mesa, a distância era pouca mas o fazia ficar ainda mais alto que Aziraphale, olhando-o de cima como se fosse superior, sendo que apenas notava as peculiaridades que faziam aquele anjo… o seu anjo.

—  Bem, essa é a única cara que eu tenho, não sou como você que consegue mostrar a face de uma serpente. —  Os sorrisos vinham em maior frequência. E quando se colocou de pé, um tanto rápido demais, Aziraphale se arrependeu de forma amarga, fazendo cara de desgosto, sentindo a mão de Crowley em seu cotovelo, lhe dando sustento. —  Obrigado.

Os óculos àquela altura jaziam sobre a mesa.

—  Por ter ido até mim quando precisei, por ter conseguido deixar os livros intactos.

—  Sei que são importantes pra você, anjo, não os deixaria destruir num bombardeio numa igreja. —  Fez uma careta ao lembrar do solo sagrado que esquentava-lhe os pés de modo ruim e nada caloroso e receptivo.

Era o vinho não era? Que fazia Aziraphale manter a proximidade enquanto Crowley parecia se inclinar em sua direção. Sim, era o vinho. E em nada tinha a ver o modo como mais cedo o anjo havia olhado apaixonado para aquele demônio que se provava ser cada vez mais bom de coração.

O beijo, bem aquele era consequência aos anos de convívio. Uma curiosidade singela, sem agregar peso à nenhum dos lados naquela balança entre o bem e o mal. Era um singelo selar de lábios, com a mão do demônio na nuca do anjo? Sim. Significava algo? Sim. Mas diriam que não. E mais que isso, quando o dia raiasse colocariam a culpa no vinho.  Porque a culpa é sempre do vinho.


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