Pele escrita por slytherina


Capítulo 4
Esboços e desenhos




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Suspeito

Dean estava conferindo as mensagens no whatsapp quando um estranho entrou na loja. Era verão, mas o cara veio de sobretudo, luvas e boné. Deu uma olhada rápida nas armas na vitrine e se dirigiu ao balcão. Não fez contato visual e parecia querer esconder o rosto. Muito estranho.

— Eu quero uma arma. Uma pistola. Por favor.

— Qual marca tem em mente?

— Nenhuma. Serve qualquer uma. Sendo pequena pra carregar comigo, já está bom.

— Sabe atirar, rapaz?

— A-atirar? ... não. Isto é ... eu não preciso atirar. Só quero me proteger de ladrões.

— E pra isso quer uma arma que não sabe usar.

— Eu só preciso apontar a arma. Eu não quero matar ninguém.

— Não é uma boa idéia empunhar uma arma contra alguém que sabe como usa-la e você não. Essa arma provavelmente será usada para mata-lo.

— Problema meu.

— Pois não. Mostre-me um documento para que possa preencher o formulário.

O indivíduo encapotado mostrou o documento de identidade. Dean passou a preencher o requerimento de posse de arma.

— Nome: Samuel Mills. Endereço: ... Preciso do comprovante de residência.

O indivíduo procurou documentos nos bolsos. Ele já estava suando em bicas.

— Por que não tira esse casaco? Aqui está quente. Você pode passar mal com tanto calor.

O indivíduo o olhou de relance, e foi a primeira vez que fez isso. Pareceu hesitar, mas aí fechou a cara, pegou o documento que havia entregue e saiu rapidamente da loja de armas, sem dizer mais nada.

— Cada louco que me aparece. — Dean reclamou com seus botões. Ficou olhando para a ficha que começara a preencher. Deveria rasgar o formulário e joga-lo no lixo, mas lembrou-se de Castiel. Resolveu diverti-lo com teorias conspiratórias. O Senhor encapotado seria o "unabomber" nesse fim de semana.

Invasão

Sam entrou em seu apartamento e saiu tirando a roupa. O calor era sufocante e a última peça de roupa estava colada a seu corpo. Sentou-se em uma cadeira e passou a mão pelos longos cabelos castanhos. Seria melhor corta-los, mas aí perderia sua proteção do rosto e pescoço. Quanto maior o cabelo, menos pele revelaria. Olhou para o próprio corpo e lamentou as extensas cicatrizes e manchas, como se tivesse caído em uma fogueira. Há meses estava em remissão, mas as manchas continuavam lá. Ele nem se importava mais. Maldita psoríase.

Tomou um banho refrescante e vestiu roupas cavadas. Foi para o computador. Precisava de trabalho para manter a mente ocupada. Ainda estava sobressaltado pelo que ocorreu na noite anterior. Acordara com barulho na sala. Aquele tipo de barulho que indica que você tem companhia indesejada. A princípio não acreditou que pudesse ser tão azarado, mas então, a estranheza e inquietude de ter um invasor na sua casa e que possivelmente poderia usar de violência contra si o deixou agoniado. Um senso de auto preservação surgiu do seu âmago, o suficiente para tira-lo do torpor que o pânico produziu. Esgueirou-se da cama no escuro e se escondeu atrás de um rack. Evitou fazer barulho, mas era difícil controlar a própria respiração ofegante. O ladrão levou um mac pro e uma câmera digital que estavam na sala que lhe servia de estúdio de trabalho. Não entrou no quarto de Sam. Deve ter considerado que o morador era um free-lancer que não guardava suas economias em casa. Foi-se como entrou, devagar e silenciosamente. Somente depois que o ladrão saiu do apartamento, Sam pôde respirar direito. Sentiria falta dos aparelhos, mas a sensação de vulnerabilidade era pior. Ele não gostou de sentir-se a mercê de outra pessoa, como um idiota patético e indefeso. O que ele era na verdade, mas não aceitava. Por isso decidiu comprar uma arma.

O atendente da loja de armas não facilitou as coisas. E desgraçadamente era bonito como um modelo do instagram. Loiro, olhos claros, ombros largos e musculoso. Sem sombra de dúvida a vida dele deveria ser perfeita. Um bom emprego, amigos, mulheres, autoconfiante e seguro de si. Tudo o que Sam não era.

Talvez ... talvez Sam pudesse desenha-lo.

Sam pegou seu bloco de esboços e passou a rabiscar o rosto do outro de memória. Ao fim de algumas horas tinha vários desenhos mostrando um jovem de queixo proeminente, nariz grego e olhos românticos. Camisa xadrez de lenhador e um meio sorriso de canto de boca. Ele não sabia seu nome e por isso apelidou-o de Adonis. Os desenhos fizeram companhia aos dos outros musos de Sam, nas paredes do apartamento. O próximo passo era postá-los no deviant art. O que foi feito automaticamente, sem considerar quaisquer problemas legais de se apropriar da imagem de outra pessoa. Afinal era só um desenho que nem devia fazer jus ao modelo.

Somente no dia seguinte Sam se lembraria de que ainda precisava de uma arma.


        Desenhos


        — Dean, é igualzinho a você. Veja!

Charlie Bradbury, autora de livros infantis, e uma das amigas mais leais de Dean, fizera questão de ir até seu local de trabalho para lhe mostrar alguma foto na internet de um sujeito que se parecia consigo.

Dean não se fez de rogado e pegou o celular da amiga pra ver que idiota tinha os mesmos traços que ele. Ficou surpreso ao constatar que era um desenho de um artista da internet. E ... não podia negar, era ele mesmo ali, retratado como um hipster ou um ator de seriado.

— Caraca! Sou eu.

— E não é? Como? Como ele conseguiu retrata-lo tão bem? Você o conhece? Você posou para ele?

— Quem? Eu? Nunca o vi mais gordo. Nem sei quem é. Não entendo como um cara que eu nunca vi na minha vida possa me conhecer tão bem.

— Já sei. Vou perguntar a ele quem é o modelo e como faço para conhecê-lo, ok?

— Faz isso. Agora fiquei intrigado. Olha esse queixo. Eu tenho um queixo assim mesmo?

Charlie achatou a mão nos olhos de Dean como para fazê-lo parar de se gabar. Logou na sua conta do deviant art e mandou uma mensagem para o artista de pseudônimo "alienboy82": "Oi, adorei seu último desenho. Você é muito talentoso. Pode me dizer quem é seu modelo?" Charlie não obteve resposta.

— Ele está se fazendo de difícil ou é tímido.

— Ou é doido. Não me surpreenderia se fosse um stalker.

Charlie resolveu insistir. "Gostaria de encomendar um trabalho seu para dar de presente a um amigo. É possível?"

— Estou pedindo que faça um desenho pra mim. Ele com certeza vai responder. Vamos esperar.

Algum tempo depois, Charlie recebeu aviso de resposta.

— Dean, ele respondeu. "Cobro 10 pratas por desenho simples a nankim. Nas proporções ... x ... x ... Mande a foto do seu amigo e eu vejo o que posso fazer." Bem profissional. Tenho uma idéia. Dean, vou tirar uma foto sua e mandar pra ele. Vamos ver o que ele irá dizer.

Dito e feito, Charlie enviou um arquivo com uma foto de Dean. Ao abrir o e-mail com a imagem, Sam tomou um susto. Começou a hiperventilar e ficou nervoso. Bloqueou Charlie, saiu deletando todos os desenhos e excluiu sua conta do site. Sentia-se exposto e acusado de algum crime imaginário. E o pior de tudo, seu muso sabia o que ele fizera.


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