Pele escrita por slytherina


Capítulo 2
Dean e amigos




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Ben

Ben Braeden, um menino nos seus 10 anos, foi acordado pelo despertador. Ele custou a atender o chamado insistente daquele monocórdico alarme de bombeiro. Ele gostaria de viver em um mundo paralelo, onde as crianças não fossem obrigadas a acordar cedo para ir estudar. Já que acordou, era melhor ir direto ao banheiro fazer suas necessidades, antes que sua mãe viesse bater na sua porta, com aquela voz de inspetora de classe. Sério, às vezes as mães eram pessoas muito chatas. Ele vestiu sua jaqueta da escola e desceu para o café da manhã que, surpresa, não estava pronto. Subiu correndo as escadas para acordar a mãe relapsa. Que droga! Se ele soubesse que ela ainda dormia, tinha desligado o maldito despertador e dormido mais um pouco.

— Mãe! Mãe, acorda! Você não fez meu café, mãe. — Ele gritou, batendo na porta do quarto da mãe.

Logo um barulho de móvel derrubado e o de chaves na fechadura anunciaram que sua mãe havia despertado e já o atenderia. Lisa Braeden, sua mãe, abriu a porta descabelada e com a cara amassada de tanto dormir. Ela estava fechando os botões de uma blusa de flanela para esconder sua nudez.

— Desculpa, filho! Já vou fazer seu café. — Ela falou enquanto passava por ele descalça e descia as escadas rapidamente.

Ben a observou, com medo que ela acabasse caindo da escada pois estava bêbada de sono. Ele então se virou para o quarto entreaberto de sua mãe. Tudo estava na penumbra, e sua visão custou a se adaptar, mas ele conseguiu divisar a forma de um corpo deitado na cama de casal. Devia ser o novo namorado dela, um cara chamado Dean. Ben balançou a cabeça e foi cuidar da própria vida. Ele não interferia na vida da mãe. Ele nunca conheceu o pai, mas sua mãe disse que ele era um bom sujeito, apenas não quis criar raízes e constituir família. Era um espírito livre e inquieto demais para ficar preso a uma só pessoa. Talvez por isso sua mãe procurasse tanto por um substituto. Um sujeito que quisesse ficar com ela e ser um pai para Ben. O garoto gostaria de dizer para a mãe que ele não se importava. Para ele sua família de duas pessoas já era o suficiente.

— Mãe, aquele era o Dean? — Ele perguntou para a mãe, enquanto aguardava o desjejum ficar pronto.

— Sim, filho. Ficou muito tarde para ele voltar pra casa ontem, então eu o convidei para dormir aqui. Fiz mal? — Ela perguntou candidamente.

Ben fez uma careta. Sua mãe não precisava da sua aprovação para trazer namorados para casa, mas teimava em fazer essas perguntas pra ele.

— Não, o Dean é legal. Não sei por que me pergunta isso, como se você fosse me ouvir, se eu dissesse que fez mal.

— Claro que sim, querido. Você e eu somos unidos. O que você não gostar eu me modifico, e vice-versa. — Ela sorriu e fez um afago no alto da cabeça dele.

Após Ben tomar seu café, sua mãe, já vestida e com o cabelo preso, o levou de carro pra escola, pois afinal, ele perdera a carona do ônibus escolar. Sua escola não era tão distante assim. Ele inclusive algumas vezes voltara a pé pra casa, mas sua mãe insistia em que isso era perigoso. Ben tinha outras idéias sobre o que era ou não perigoso, como por exemplo, levar homens desconhecidos para sua casa, mesmo que aparentemente estivessem apaixonados e cheios de boas intenções. Quando Ben crescesse e fosse um adulto, ele jamais faria isso com seu filho. Ele tinha certeza disso. Afinal de contas, por que essa necessidade de ter um namorado ou namorada? O cara que estava dormindo com sua mãe não era má pessoa, mas Ben já havia visto outros como ele. Estavam de passagem, sem intenção de ficar. Ben não se importava, melhor assim. Ele não queria um pai. Ok, ele até gostaria de ter um, mas não gostava de ver sua mãe triste e de coração partido, quando eles iam embora e não voltavam mais. Não valia a pena.

Castiel

Longe dali, em uma delegacia de polícia, um sujeito com a barba por fazer tentava ficar confortável no sofá da sala do delegado de polícia. Tinham lhe oferecido uma cela com cama, mas sabe como é, ele não gostaria de ficar acostumado a dormir em celas, por isso um sofazinho duro tinha que dar pro gasto. Acordou quando uma boa alma abriu as persianas da janela, fazendo com que o brilho da manhã quase queimasse suas pálpebras. Ele tinha dúvidas quanto à bondade dessa alma.

— Acorda pra cuspir, Novak! — O delegado ordenou em alto e bom som. Não contente com a imobilidade de seu detetive, ele o cutucou com uma caneta.

— Ei! Eu já acordei, não precisa me torturar. Eu confesso tudo! — Jimmy Novak exclamou.

— Confessar? Nós precisamos é te manter calado. Vá lavar a cara! Parece que um rolo compressor o amassou. E pelamordedeus, vê se troca esse sobretudo por uma jaqueta decente.

— Não posso! Hannah, minha ex, me limpou completamente quando nos divorciamos. E isso se chama trenchcoat e é um clássico. Constantine até usa um desses.

— Mais respeito que isso aqui é uma delegacia de polícia. Não lemos gibis, nem somos nerds. Você entendeu?

Novak, já de pé, olhou incrédulo para o delegado, com a boca entreaberta.

— Quero dizer não ostensivamente. — O delegado se explicou em um tom mais baixo. Ambos riram.

Jimmy Novak foi ao toalete da delegacia e fez a barba. Lavou bem o rosto, pra ver se as marcas de uma noite mal dormida se evaporavam, deixando-o com a aparência fresca e saudável. Quase conseguiu. Mais tarde ele iria até um motel barato, levar seus parcos pertences, que sua ex-esposa não conseguiu tomar legalmente. A ironia de tudo é que ela era um perfeito anjo quando se conheceram. Ao fim de quatro longos anos, onde ele fez de tudo para cair fora daquela relação enquanto era são, ela finalmente aceitou o divórcio, ficando com todos os bens do casal, em troca de abrir mão da pensão. Jimmy Novak saiu literalmente com uma mão na frente e outra atrás. E o trenchcoat.

Ele era um bom detetive, dando o melhor de seu espírito analítico e raciocínio lógico, para a solução de problemas legais. Nas noites de quarta-feira, entretanto, ele era Castiel, anjo guerreiro dos galardões celestiais, combatendo o bom combate na comunidade de RPG. Ele até levou alguns de seus colegas para sua legião. E a notícia de que era um nerd de carteirinha se espalhou como rastilho de pólvora. As piadinhas começavam quando aparecia para trabalhar, mas nunca chegaram a ser ofensivas.

Naquele dia, Jimmy Novak passou sua primeira noite fora de casa. A primeira de muitas em um ambiente barato, de lençóis puídos, higiene precária e móveis gastos, mas por outro lado, estava livre e era senhor de seus domínios, como há tempos não o fazia. E o que mais poderia querer? Talvez sentir o ar puro em seus pulmões e os músculos tinindo de energia. Não havia coisa melhor para produzir tais efeitos em seu corpo do que acampar. Pegou o telefone e ligou para um velho amigo.

— Dean? É Jimmy Novak! Como hã? Tá bom, sou eu, Castiel. Que tal acamparmos no fim de semana, você topa? Combinado, chapa!

Dean era seu companheiro de RPG. Ele sempre escolhia o personagem do caçador. E ambos formavam uma dupla invencível. Tanto faz se na vida real Dean fosse um hipster acostumado à boa vida dos bem nascidos, e portanto, nunca teve que se preocupar em arranjar trabalho para sustentar uma família, ou custear seus estudos. Por tradição, ele trabalhava no negócio da família, uma loja de armas. Era correto e tinha uma boa índole. Isso bastava para ser seu amigo. Ele só gostaria que Dean se lembrasse do seu nome civil, e deixasse o apelido de Castiel pros grupos de RPG.

Dean

Meia hora antes, Dean revirou-se na cama estranha com perfume de flores do campo. "Que diabos?" Pensou. Aí lembrou-se de Lisa e da noite movimentada que tivera. Sorriu. Lisa era um vulcão. Ele gostaria muito de fazer parte da vida dela permanentemente, mas paciência e canja de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Eles ainda estavam se adaptando, aparando arestas, e se a estratégia estava ganhando, pra que mudar? Além disso havia o filho dela, Ben. O garoto ainda o encarava como um bad boy. Como se a alertá-lo que ele vinha em primeiro lugar na vida da mãe. Dean não queria se desentender com ele, e se fosse preciso mais tempo para convencer Ben a aceitá-lo como pai, Dean lhe daria todo o tempo do mundo.

"Pai? De onde veio essa idéia?" Ele fez uma careta. Dean ainda era muito jovem pra constituir família, e escolher uma mulher para ficar com ele pelo resto da vida. Ele e Lisa se davam muito bem, mas ainda era cedo para se amarrar. Melhor deixar as coisas como estavam. Ela era sua namorada. Eventualmente dormiam juntos e faziam programas juntos. Talvez, num futuro não muito distante, eles viriam a se casar, mas não agora. E quando resolvesse se casar de uma vez por todas, teria que arranjar um emprego melhor. O negócio da família não seria o suficiente para sustentar a todos.

O telefone celular tocou. O display mostrou o nome "Castiel". Dean atendeu prontamente. Não se pode deixar um anjo do Senhor esperando na linha. Ele riu ante esse pensamento. Seu amigo Jimmy Novak usava o codinome Castiel nos grupos de RPG, e tinha mais a ver com ele do que seu nome civil. Coitado! Estava se separando da esposa megera. Ela fizera gato e sapato da vida de Castiel. Enganando, mentindo e traindo. Fora isso, era o tipo de mulher controladora e exploradora. Todos viam que aquele casamento não tinha futuro, mas ninguém se envolveu. A única pessoa que poderia ajudar Castiel naquela situação, era ele mesmo. Por esse e outros exemplos que Dean ficava cabreiro quanto a se casar. A intimidade muda as pessoas, pra melhor e pra pior. Ele não se surpreenderia se após o casamento, Lisa se revelasse uma pessoa má. Ou talvez o próprio Dean viesse a aflorar o seu lado sombrio.

— Dean? Já acordou? — Lisa perguntou, entrando no quarto e trocando de roupa rapidamente. O corpo voluptuoso e bronzeado era um convite à tentação. Dean mordeu os lábios pensando num replay da noite passada. Lisa percebeu. — Sinto muito, garanhão! Preciso levar meu filho na escola e já estou atrasada. Me espere! — Ela soprou um beijo.

— Esperar? É o que venho fazendo minha vida inteira. Certas coisas um homem não pode esperar. — Dean falou sonhador, enquanto se desvencilhava dos lençóis e ficava de pé, mas Lisa já estava à porta e fez um sinal de "não" com a mão, sorrindo.

— O dever me chama, Dean. Não posso pensar em diversão agora. E cubra-se, não quero que Ben o veja assim. Quando voltar daremos um jeito no seu problema. — Lisa se foi, rindo da situação em que deixara seu namorado, pronto e armado.

Dean deixou-se cair na cama, ardendo de desejo. "Não demore muito, Lisa, ou farei justiça com as próprias mãos." Pensou, iniciando uma carícia no torso.


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