Verde é a cor mais quente escrita por vilã do mundo


Capítulo 4
Capitulo quatro: Elizabeth




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Era por volta das 15:00 horas e eu estava pesquisando sobre o trabalho de Direito Penal, quando ouvi a campainha tocar, o que achei estranho, pois as pessoas que costumavam vir em casa não eram de aparecer sem avisar antes, mas resolvi ir ver quem estava na porta, pensando ser um vendedor desses que passam de porta em porta oferecendo potes de plástico, tapetes e outras coisas ou talvez fosse um grupo de testemunhas de Jeová querendo converter as pessoas para a sua religião, mas eu estava errada e fiquei paralisada quando vi quem estava tocando a campainha.

— Oi minha filha, tudo bem? – Perguntou minha mãe – Posso entrar?

— Claro, entra – respondi automaticamente, enquanto me afastava da porta para deixa-la entrar, enquanto me perguntava que caralhos que ela queria vindo aqui em um horário em que ela sabe que meu pai não está em casa.

— Queria tanto te ver, faz muito tempo que não te vejo – ela disse depois de se sentar no sofá.

— Quer um café? – Perguntei por educação.

— Não obrigada, mas aceito um copo de água – ela respondeu.

Fui até a cozinha pegar a água e reparei que minha mãe parecia cansada, mas não quis perguntar o que estava acontecendo. Durante algum tempo ela me perguntou sobre a minha vida, mas não parecia muito interessada nas respostas, na verdade ela parecia que queria pedir algo, mas não sabia como pedir.

— Como você está? – Perguntei, tentando faze-la parar de perguntar sobre a minha vida.

— Eu estou com câncer de mama. Os médicos não sabem se o tratamento vai fazer efeito, porque o câncer já está muito avançado. Talvez eu não sobreviva – ela respondeu chorando.

Vê-la chorando me deixou furiosa, por que ela simplesmente veio atrás de mim não porque queria aceitar que estava errada e queria tentar arrumar as coisas entre nós duas, mas porque precisava de alguém para cuidar dela enquanto ela fazia o tratamento e só por isso ela lembrou que tem uma filha, a qual ela simplesmente abandonou quando mais precisava do apoio dela.

— E você quer que eu faça exatamente o que? Volte correndo para a sua casa e cuide de você enquanto você está doente, assim como você cuidou de mim e me deu todo apoio do mundo depois que aquele cretino do caralho me estuprou? – Perguntei para ela, furiosa.

— Não é isso querida, eu só quero passar mais tempo com você antes de morrer, mesmo sabendo que você mentiu para prejudicar seu padrasto, que te criou como se fosse uma filha – ela respondeu e isso me deixou mais furiosa ainda.

— EU MENTI PARA PREJUDICA-LO? VOCÊ ESTÁ SE OUVINDO? POR QUE NÃO SEI SE VOCÊ SE DEU CONTA, MAS AQUELE FILHO DA PUTA ESTUPROU A SUA ÚNICA FILHA. QUE TIPO DE MÃE É VOCÊ QUE NÃO CONSEGUE ACREDITAR E APOIAR A PRÓPRIA FILHA, MESMO E PRINCIPALMENTE QUANDO TODAS AS PROVAS DIZEM QUE ELA ESTÁ FALANDO A VERDADE? -  berrei para ela. – Você deveria ter ficado do meu lado quando tudo aconteceu.

— Eu não criei uma filha, eu criei a meretriz da babilônia, que só sabe trazer o mal para este mundo e fazer as pessoas boas sofrerem – ela disse me lançando um olhar de puro ódio. – Foi um erro meu ter vindo aqui na esperança de que você pudesse ter mudado, mas pessoas como você nunca vão mudar.

— FORA DA MINHA CASA – Berrei.

Assim que ela saiu eu desabei no chão e comecei a chorar, tentando afastar as lembranças daquele pesadelo que tinha me acontecido a anos atrás. Como não estava conseguindo eu resolvi ir até a casa da Victoria, por que ela conseguiria me fazer esquecer disso por um tempo.

Quando cheguei lá, Victória percebeu que havia acontecido alguma coisa e contei o que aconteceu em casa. Ela ficou chocada quando terminei de contar. E Victória não foi a única a ficar chocada e pelos mesmos motivos.

— Sua mãe deve ser uma pessoa horrível para não conseguir ficar ao lado da filha depois dela sofrer um estupro – disse Tom entrando na cozinha.

Merda! Eu tinha esquecido totalmente que Victória não estava mais sozinha no apartamento e que quem dividia o apartamento com ela era o meu professor de civil.

— O quanto você ouviu da conversa? – Vic perguntou.

— Praticamente tudo, as paredes são finas e eu conseguia escutar do meu quarto – ele respondeu. – Mas é difícil acreditar que existem mães que não conseguem apoiar os filhos, a minha mãe fez tudo o que podia para me ajudar quando eu estava na pior.

— Você tem filhos, professor? – Perguntei, me esquecendo de que mais cedo ele havia me pedido para chama-lo de Tom.

— Minha filha faria quatro anos em setembro deste ano, se estivesse viva – ele respondeu e pude perceber um misto de tristeza e culpa na voz dele.

— O que aconteceu com ela? – Vic perguntou.

— Ela nem chegou a nascer – ele respondeu e nos contou do acidente que ele e a esposa sofreram, que causou a morte dela e da criança que ela estava esperando.

Quando ele terminou de contar eu me levantei, enxuguei as lagrimas que escorriam por aquele rosto tão bonito e abracei-o dizendo que ele teria sido um ótimo pai e que nunca deixaria de apoiar a filha em nenhum momento. Ele retribuiu meu abraço e disse que o que tinha acontecido não era minha culpa e que minha mãe se arrependeria de não ficar ao lado da filha dela.

— Garotas, que tal vocês me ajudarem a preparar as aulas da próxima semana – convidou Tom.

— Eu topo – respondeu Vic.

— Eu também – respondi e Tom nos levou até o quarto dele, onde ficamos até quase meia noite ajudando ele a preparar as aulas. Nessas horas eu aprendi várias coisas relacionadas ao direito civil e acho que isso ajudou Tom a se preparar para possíveis duvidas que poderiam aparecer durante a aula. Sabe ele realmente é um ótimo professor e o que o atrapalhava na hora da aula era o nervosismo. Quando falei isso para ele eu senti que ele ficou muito aliviado. Ele devia se sentir despreparado para ensinar e um pouco de incentivo não iria fazer mal nenhum, já que pude perceber que ele entendia muito do assunto que estava falando.

— Nossa, já são quinze pra meia noite, meu pai deve estar preocupado comigo – falei.

— Liga pra ele e avisa que você vai dormir na minha casa, assim podemos ficar conversando a noite toda. – Disse Vic.

— Tá bom, meu pai não vai falar nada, afinal ele não sabe que tem mais gente vivendo aqui – falei para ela.

— Você não contou pra ele que Tom está morando aqui? – ela perguntou.

— Não deu tempo, afinal eu fiquei sabendo disso hoje – respondi, já ligando para o meu pai.

Como eu imaginei meu pai não se importou que eu passasse a noite na casa da Victória, mas achei melhor não contar para ele que Tom estava morando aqui, já que depois do que aconteceu comigo ele não me deixava ficar sozinha com nenhum homem, conhecido ou não, então, se eu contasse para ele era bem capaz dele não deixar eu ficar e vir me buscar fazendo escândalo e chamando Vic de irresponsável por deixar “qualquer homem” morar na casa dela.

— Você não vai contar para o seu pai que Victória não está sozinha no apartamento? – Tom me perguntou.

— Não porque meu pai vai surtar e não quaro que ele venha até aqui chamar minha amiga de irresponsável por dividir o apartamento com um homem – respondi.

— Confesso que achei um pouco imprudente Victória me deixar morar aqui, não que eu vá fazer algo com ela, mas sou um estranho para ela e não tinha como ela saber o que eu poderia fazer contra ela – ele disse.

— Na verdade eu tenho um irmão que trabalha na polícia e pedi pra ele verificar se tinha alguma coisa contra você antes de deixar você morar aqui e, como ele não encontrou nada, achei que não teria problemas em deixar você morar aqui – disse Victória.

— Isso me parece sensato – observou Tom, enquanto desligava o computador dele.

— Vou ver se acho um pijama para você dormir – disse Vic, saindo do quarto.

— Elizabeth, o que te fez querer cursar direito? – Tom me perguntou.

— Acho que eu posso ajudar as pessoas que passaram por situações parecidas com a que eu vivi e garantir que elas não fiquem sem defesa, ou que tenham um advogado que pense que estão mentindo – respondi.

Tom ficou em silencio por alguns minutos depois da minha resposta e pude perceber que ele estava pensando no que eu tinha falado, pois a expressão dele mudou um pouco e foi como se ele percebesse que também fosse culpado.  Ver aquela pontada de culpa naqueles olhos azuis já entristecidos pela perda da família me fez me sentir muito mal, por que ele não tinha culpa de nada, nem do que me aconteceu e muito menos pelo acidente que matou a esposa dele. Perceber que ele se culpava por tudo o que tinha acontecido me fez perceber que ele tinha sofrido muito mais do que deixava transparecer e era terrível ver que uma pessoa tão boa e dedicada tinha tanto sofrimento guardado dentro de si.

Quando me levantei para abraça-lo eu só queria que ele soubesse que não tinha culpa de nada, mas não sabia como dizer isso em voz alta, pois tudo o que eu pensava em falar parecia superficial demais ou simplesmente bobo demais e ele provavelmente já teria escutado esse tipo de coisa antes. Enquanto eu o abraçava pude sentir o perfume delicioso que ele usava. Era um perfume amadeirado e não muito forte, mas que era marcante. Também pude notar que ele tinha o hábito de se exercitar, pois seu corpo era bem definido, não do tipo definido de tanto malhar na academia, mas do tipo que se preocupa em apenas estar em forma. Talvez ele se exercitasse para esquecer de tudo, da mesma forma que eu faço quando vou todo sábado de manhã para o parque da Mooca para correr, pois isso me fazia esquecer do mundo e só lembrar da minha respiração. Ao olhar para o rosto dele pude ver que o semblante de tristeza tinha desaparecido para dar lugar a um semblante de tranquilidade, o que me deixou mais aliviada, pois ele merecia ter um pouco de tranquilidade depois de tanto sofrimento.

— Você é uma pessoa maravilhosa, Elizabeth – disse ele, colocando a mão no meu rosto e sorrindo. Era o primeiro sorriso verdadeiro que eu o via dar e isso me deixou muito feliz.

— Obrigada, você é muito gentil – respondi muito sem graça com o elogio, pois eu não estava acostumada com um homem me elogiando.

Quando percebi que ele não queria que aquele abraço terminasse eu me aproximei mais dele e a mão dele puxou meu rosto para perto do dele, o que me fez ficar na ponta dos pés, e ele me beijou. Foi um beijo tímido no começo, como se ele estivesse com medo da minha reação, mas quando retribui o beijo, Tom me beijou com mais intensidade, pegando na minha cintura e me colocando contra a parede. Eu passei minhas pernas em torno da cintura dele e, quando fiz isso, percebi que o pau dele estava duro. Na hora que percebi isso eu não consegui pensar em mais nada, pois minha mente me levou de volta para quando fui estuprada. Eu não queria me lembrar daquilo. Eu já tinha superado isso e isso não poderia mais interferir na minha vida, muito menos na minha vida amorosa, mas eu não conseguia me livrar das lembranças, eu estava presa em um ciclo sem fim, onde só existia aquele maldito momento.

Eu só consegui sair daquele maldito ciclo quando ouvi Victória me chamando. Foi quando percebi que eu não tinha mais dezessete anos e nem estava voltando da escola, mas que tenho vinte e um e estou no apartamento da Victória e que tudo aquilo já era parte do passado, uma parte que eu não conseguia esquecer.

— Liz, fala comigo – disse Victória, desesperada.

— Vic, Tom me desculpem por isso – eu sussurrei.

— Está tudo bem – disse Victória me abraçando.

 - Quem tem que pedir desculpas por isso sou eu. Não devia ter feito isso – disse Tom de cabeça baixa.

Quando olhei para eles eu vi que Vic estava extremamente preocupada e que Tom estava chorando. Mas que merda que eu fiz. A última coisa que eu queria era exatamente isso. E o pior era que eu não sabia o que fazer, pois Tom estava se culpando de novo por algo que não era culpa dele.

Antes que eu pudesse pensar no que dizer, Vic me levou para o quarto dela, mas antes de sair do quarto do Tom eu tentei pedir desculpas para ele, mas duvido que isso fosse diminuir a culpa que ele estava sentindo.

— O que aconteceu lá? Eu fiquei desesperada quando te ouvi gritar – perguntou Vic.

— Eu entrei em pânico – respondi.

— Por que você entrou em pânico? – Ela me perguntou e parecia disposta a expulsar Tom no meio da noite pelo que havia acontecido.

— Eu e Tom... nós nos beijamos, só que, quando eu percebi que ele estava com o pau duro eu me lembrei do que aconteceu e entrei em pânico. Não foi culpa dele – eu respondi.

— Eu sei que não foi culpa dele, porque ele ficou desesperado tentando te tirar do ataque de pânico – ela disse – eu só queria ter certeza de que ele não tentou fazer nada contra você.

— Ele não fez nada que eu não quisesse – falei para ela, me deitando na cama.

Foi difícil dormir naquela noite, pois eu demorei para parar de chorar e fiquei mal pelo que havia acontecido e o pior de tudo foi que isso acabou afetando outras pessoas, pessoas que eu só queria o bem. Fui pegar no sono perto das quatro da manhã e, quando era sete da manhã eu acordei sentindo o cheiro delicioso de café fresquinho. Quando vi que Vic ainda estava dormindo eu me levantei e fui até a cozinha tentar conversar com Tom.

— Bom dia, você dormiu bem? – Ele me perguntou, enquanto me servia uma xicara de café.

— Bom dia, eu mal consegui dormir essa noite – respondi – me desculpa pelo que aconteceu ontem.

— Quem tem que pedir desculpas sou eu. Eu nunca deveria ter feito aquilo – ele disse.

— Não foi sua culpa – eu falei – você não fez nada de errado.

Ele se aproximou com a xicara de café e me deu um beijo delicado, antes de me entregar a xicara. Eu sorri quando ele me beijou e agradeci pelo café. Ele sorriu de volta e pareceu muito aliviado quando percebeu que realmente não tinha culpa nenhuma pelo que havia acontecido. Enquanto eu tomava o café, que estava delicioso, Tom começou a preparar torradas para comer e eu aceitei as torradas de bom grado, já que não tinha jantado no dia anterior.

Enquanto comíamos aproveitamos para conversar sobre nossas vidas e eu disse o quanto estava animada por ter começado a faculdade e que era muito bom conhecer novas pessoas. Ele concordou que conhecer pessoas novas era ótimo e que estava um pouco nervoso com o novo emprego, já que ele nunca tinha dado aulas antes.

— Como vocês conseguem dormir tão pouco e acordar tão animados assim? – Perguntou Vic, enquanto eu e Tom estávamos rindo de uma piada que ele tinha contado.

— Eu não sei amiga, mas quando descobrir te conto – respondi, pegando na mão do Tom.

Ela olhou bem para nós dois e disse que logo estaremos namorando, o que achei que é um absurdo.

— Vocês vão formar um casal tão bonito – ela disse para me provocar. Eu fui me trocar e disse para eles que iria até o parque correr um pouco antes de voltar para casa. Tom perguntou se poderia ir ao parque comigo e concordei só para ter uma visão privilegiada daquele homem correndo.


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