Verde é a cor mais quente escrita por vilã do mundo


Capítulo 2
Capítulo dois: Tom




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Estava tudo perfeito naquele mês de dezembro. Eu e minha esposa tínhamos nos mudado para um apartamento maior, já que em breve teríamos um novo membro na família. Era a nossa primeira filha e estávamos muito felizes com isso, tanto que fiz uma reserva em um dos restaurantes mais chiques da cidade para comemorarmos tudo de bom que estava acontecendo conosco.

                - Como foi seu dia no trabalho, querida? – Perguntei

                - Foi ótimo. Consegui aquela promoção que estava te falando semana passada e isso será ótimo para minha carreira – ela respondeu.

                Não pude deixar de ficar feliz por ela. Gabriela trabalhava na parte de marketing de uma multinacional e queria muito ir trabalhar no exterior, embora eu não quisesse sair do Brasil, já que eu estava com a minha carreira como advogado feita aqui e queria me tornar juiz na área cível, mas não tenho o direito de impedi-la de conquistar o sucesso profissional, não quando ela batalhou tanto para chegar até onde chegou.

                - Se tudo der certo em dois anos consigo ser transferida para a filial de Londres, que é onde estão os grandes projetos de marketing da empresa, e de lá vou conseguir vários outros projetos ao redor do mundo – Ela me disse.

                - Parece ótimo, mas será que a nossa princesinha vai se acostumar com a mudança? – perguntei.

                - Pretendo fazer tudo com calma para que nossa filha não sofra muito com a mudança de país – ela respondeu, enquanto dava uma garfada na comida.

                - Meus pais nos convidaram para o almoço de natal. Eles estão muito ansiosos para a chegada da nossa pequena. – falei.

                - Vou adorar comemorar o natal com seus pais e é impossível que eles estejam mais ansiosos do que você – Disse Gabriela.

                Durante as quase três horas que ficamos no restaurante eu não me dei conta de que havia bebido demais e que seria melhor ter deixado a minha esposa dirigir até em casa. Eu jurava que estava bem para dirigir. Quando passei pelo semáforo de um cruzamento eu não vi que tinha um caminhão vindo em alta velocidade na avenida transversal. Por causa da minha imprudência sofremos um acidente, do qual fui acordar dias depois no hospital a primeira coisa que ouvi foram as pessoas desejando feliz natal para as outras. Eu acordei no dia de natal e havia passado uma semana desde o acidente. A segunda coisa que notei foi que meus pais estavam no quarto conversando.

                - Ele tem que saber, querida, já passou da hora dele se tornar responsável pelos erros que comete – meu pai sussurrou para minha mãe. Eles não perceberam que eu estava acordado.

                - Pelo amor de Deus, Victor! Agora não é o melhor momento para contarmos que Gabriela e a criança estão mortas. Hoje é natal e nosso filho não merece receber essa notícia no dia de natal – minha mãe chamou a atenção do meu pai.

                Nesse momento eu senti meu mundo desabar. Eu era um assassino. Eu deveria estar preso, mas não estava algemado. Eu era um monstro.

                - Não, isso não pode ser verdade – eu disse para os meus pais.

                - Querido, você acordou! Como está se sentindo? – Minha mãe perguntou, enquanto ia para o lado da cama.

                - Por favor, me diz que a Gabriela não está morta – pedi, chorando.

                Minha mãe olhou para o meu pai como se não soubesse o que me falar. Meu pai olhou para o chão, desconfortável, e percebi que nenhum dos dois queria me contar a verdade, mas também não queriam mentir para mim, o que fez com que eu me sentisse pior ainda. Não queria ter sido o responsável por isso. Eu só queria que tudo isso fosse um pesadelo e que, quando eu acordasse, Gabriela estivesse do meu lado, alisando meus cabelos. Mas o que tinha acontecido não era um pesadelo. Era a realidade e Gabriela e nossa filha estavam mortas.

                Passei duas semanas no hospital e acabei não podendo ir no enterro delas. Na verdade, não sei se teria coragem de ir sabendo que eu era o assassino delas. Enquanto estava no hospital descobri que o caminhoneiro estava dirigindo sob efeito de drogas e que ele estava respondendo pelo acidente. Tentei falar várias vezes para a polícia que aquele homem era inocente e que eu tinha causado o acidente, mas, tanto meu pai como os médicos disseram que eu estava confuso por causa do luto e que não estava me lembrando direito do acidente e, por isso, minha confissão não poderia ser levada em consideração.

Quando sai do hospital minha mãe passou o caminho inteiro discutindo com o meu pai, que estava insistindo em me chamar de irresponsável por ter dirigido bêbado. Ele não precisava jogar isso na minha cara, eu já sabia que fui extremamente irresponsável quando dirigi bêbado e isso tinha custado caro demais para mim. Eu juro que tentei ficar todo o período de recuperação na casa dos meus pais, onde minha mãe poderia me ajudar com algumas coisas que eu não conseguia fazer direito por causa do braço imobilizado, mas meu pai não me dava um minuto de sossego para nada. Ele falava que eu deveria estar preso por homicídio, que se Gabriela nunca tivesse me conhecido ela ainda estaria viva e mais um monte de coisas que só me deixava pior ainda. Foi quando eu resolvi voltar para o meu apartamento e ficar sozinho.

Durante quase quatro anos eu me afundei nas bebidas, perdi meu emprego no escritório de advocacia e cheguei a tentar suicídio. Só não me matei de fato por que naquele dia minha mãe foi me visitar e conseguiu me levar para o hospital a tempo. Depois disso ela procurou ajuda psicológica para mim e me ajudou a sair do fundo do poço, primeiro com o tratamento e depois conseguindo um emprego para mim.

— Filho, eu sei que não é nada parecido com o escritório onde você trabalhava e que o salário é menor, mas é em outro estado e uma mudança de ambiente pode te fazer bem – ela me disse quando contou da entrevista de emprego.

— Onde é, mãe? – perguntei.

— É em uma universidade, em São Paulo. Eles estão procurando por um professor de Direito Civil e como essa era a área que você trabalhava no escritório achei que você poderia ser um ótimo professor – ela respondeu.

— Eu vou fazer a entrevista, mas dificilmente eles darão a vaga para mim, já que estou a muito tempo fora do mercado – falei desanimado.

Apesar do meu pessimismo, eu consegui o emprego na faculdade. As aulas iriam começar em fevereiro, então eu tinha quinze dias para arrumar um lugar onde morar, o que não seria um problema muito grande para mim, pois eu poderia alugar um apartamento próximo da faculdade.

Assim que eu aluguei o apartamento, bom não foi bem um apartamento, mas um quarto no apartamento de uma jovem chamada Victória, que precisava de alguém que a ajudasse a pagar as contas. Confesso que achei a decisão dela de colocar um completo estranho dentro de casa muito arriscada, mas não falei nada para ela, já que ela só estava me pedindo para dividir as contas, sem cobrar de fato um aluguel. Quando terminei a mudança eu tive apenas um final de semana para preparar as aulas que eu daria durante a semana, o que não foi fácil, já que eu estava dando aulas para cinco turmas diferentes e todas em semestres diferentes na faculdade, fora que eu tinha que pensar em quais trabalhos que passaria para essas turmas. 

A semana passou voando e pude perceber que em todas as turmas em que eu entrei quase nenhum aluno realmente estava prestando atenção no que eu estava falando, o que era um indicio de que eu precisava melhorar e rápido o meu jeito de dar aulas. Outra coisa que também notei foi que a grande maioria das alunas ficavam de conversa paralela durante a aula e o assunto, em qualquer sala de aula que entrei, era o fato de que elas me acham bonito. Na sexta-feira eu daria aula para uma turma do primeiro semestre, então resolvi explicar na primeira aula qual seria o cronograma do semestre e o conceito histórico do Direito Civil. Como nas outras salas, as garotas estavam falando da minha aparência e tentei ignorar isso, mas quando uma das alunas falou da minha bunda eu achei que aquilo já tinha passado de todos os limites e resolvi chamar a atenção das duas.

— As senhoritas querem café e biscoitos para poderem conversar mais a vontade? – perguntei olhando para as garotas que estavam conversando.

— Um cafezinho seria ótimo, já que sua aula está dando sono de tão chata que está – Respondeu a mais velha das duas, ironizando a pergunta que fiz. Na mesma hora a sala começou a murmurar concordando que a aula estava realmente chata e que elas não eram as únicas que estavam conversando na sala.

Quando a sala concordou com aquela garota eu me senti um bosta, porque eu não estava conseguindo sequer a atenção dos alunos, quem dirá passar algum conhecimento para eles.

— Creio que se o senhor nos trouxesse uma garrafa de café, daquelas que tem na sala dos professores e nos falasse um pouco mais sobre as profissões que podemos seguir depois da faculdade a sua primeira aula seria bem mais legal, já que nenhum outro professor nos disse nada sobre as profissões relacionadas ao Direito e muito menos como essas profissões se relacionam com a matéria que eles estão lecionando – disse a garota, como se tentasse consertar o que havia feito. Quando ela falou isso me perguntei se ela sabia que eu era um professor novo na faculdade.

 Essa garota é realmente muito bonita. Ela tem a pele clara, olhos verdes, cabelos pretos e usava uma camiseta da banda iron maiden e calça jeans escura. Eu não conseguia saber exatamente a altura dela, mas ela deveria ter aproximadamente 1,65 de altura e era bem magra.

— Bom, não vai rolar café, mas se vocês querem saber sobre o que fazer depois da faculdade, saibam que tudo começa pelo advogado, que é uma das partes mais importantes no processo, uma vez que é o responsável por ouvir o que o cliente fala, explicar ao cliente o que a lei diz a respeito, o que deve ser feito e as consequências de se fazer algumas coisas, que serão faladas ao longo do curso, além de representar o cliente perante o juízo. –Falei, aproveitando a dica da garota e fui explicando cada uma das profissões ligadas ao Direito.

Percebi que, conforme eu explicava sobre as profissões a sala prestava cada vez mais atenção no que eu estava falando. Foi aí que percebi que se eu ligasse o que estava falando com o que acontecia na prática os alunos prestariam mais atenção do que se eu só falar a teoria.

Quando a aula acabou eu fui agradecer a garota por ter me dado a dica de como melhorar as aulas, mas acabei não conseguindo, pois na hora que me aproximei ouvi a amiga dela me elogiando e não tive como não agradecer pelo elogio. A garota ficou sem graça e saiu rapidamente da sala, com o namorado, ou pelo menos eu creio que seja, logo atrás dela.

— Sua amiga é sempre tão apressada assim? – Perguntei para a garota que me deu a dica.

— Geralmente não, professor, mas, se não me engano ela tem um compromisso essa tarde – ela respondeu, enquanto fechava a bolsa.

— Por favor, me chame apenas de Tom – falei sorrindo.

Quando eu ia agradece-la, ela se despediu e saiu da sala digitando no celular. Eu peguei minhas coisas e fui caminhando até o meu apartamento, onde comi uma fruta como almoço e comecei a preparar os trabalhos e as aulas da semana seguinte.


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