Colegas de apartamento escrita por calivillas


Capítulo 20
Tomei uma decisão




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Voltamos para casa, em silêncio, eu com a cabeça recostada no banco, olhando a cidade passar pela janela, tentando entender o que havia acontecido. Repassando e remoendo toda a minha relação com Felipe. Ed respeitou o meu silêncio, não disse nada, nem tão pouco, tentou segurar minha mão ou bancar o amigo. Foi melhor assim.

Quando entramos no apartamento às escuras, ainda não podia acreditar no que havia acabado de acontecer, parecia um sonho, ou melhor, um pesadelo.

Pretendia ir direto para o quarto, me atirar na cama, abraçar um travesseiro, de preferência que não tivesse o cheiro dele, e chorar até cair no sono, até curar a ferida da traição.

— Boa noite, Ed. E obrigada.

— Boa noite, Paula.

Andei cabisbaixa e a passos lento em direção ao corredor, deixando Ed para trás, parado no meio da sala, de repente, estanquei e me voltei para ele.

— Não consigo entender o que aconteceu. Por que Felipe me traiu de um modo tão sujo? Não tínhamos nenhum compromisso. Era só ele terminar — falei em um rompante.

Ele ficou parado olhando para mim, acreditei que ele tinha uma resposta. Esperei.

— Eu não sei.

— Por favor, não minta para mim. Diga-me a verdade. O que você acha? —pedi, com a voz branda.

Ele olhou para baixo, evitando os meus olhos, depois ergueu a cabeça e me fitou, diretamente.

— Talvez, porque ele ache que é responsável.

— Responsável por quê? Por ser o primeiro a transar comigo? Por que pensaria assim? Foi uma decisão minha! É o meu corpo, ninguém tem nenhuma responsabilidade sobre a minha opção — rebati, exaltada.

— Talvez, ele não pense assim — Ed deu de ombros.

— Ou talvez, eu seja a namorada ideal. Como você disse, a nora perfeita para uma família tradicional.

— Eu não sei, Paula — Ele abre os braços em desistência.

— Como você poderia saber?— disse, resignada. — Boa noite e obrigada, Ed.

— Boa noite, Paula — ele sussurrou, quando me virei e vou para o meu quarto.

Eu me deitei, mas vejo as horas passarem arrastadas, insone, até a claridade da manhã invadir minha janela.

Tinha posto o meu telefone no silencioso, queria apenas me isolar do mundo exterior, pelo menos, por enquanto, mas por força do hábito, olhei para tela, havia um monte recado de Felipe:

Precisamos conversar (Não, sei se estou preparada para isso).

Não queria que acabasse assim (Então, você ficaria me enganando?).

Eu sei que errei, não sei como me desculpar (Sim, você errou feio, não tem desculpa).

Assim por diante, coloquei o telefone de lado. Ponderei, no entanto, não era o momento de termos uma conserva séria, eu precisava ainda me recompor, colocar os pés no chão e a cabeça no lugar.

Mesmo não querendo sair do refúgio da minha cama, a natureza clamava, necessitava ir ao banheiro, me arrastei para fora do quarto, sai no corredor silencioso, Ed ainda devia estar dormindo.

Fiz o que tinha que fazer, ao abrir a porta, percebi que todo o apartamento estava envolto no reconfortante cheiro de café fresco. Sou atraída por ele até a cozinha, encontrei Ed com uma caneca de café com leite na mão.

— Bom dia, eu fiz café.

— Obrigada — Eu, também, me sirvo de café e leite, coloquei açúcar, mesmo sem vontade, tomei um gole que desceu como uma pedra.

— Eu sei qual é a resposta, mesmo assim, como você está? — perguntou.

— Não muito bem. Felipe me mandou um monte de mensagem.

— Você não vai conversar com ele?

— Por enquanto, não. Obrigada pelo café — Deixei a caneca quase intacta sobre a mesa. — Vou voltar para o meu quarto.

No meu refúgio, fechei muito bem as cortinas, não queria ver a luz do sol, deitei-me na cama e me enrosquei entre as cobertas, só queria ficar ali parada, esperando a dor da traição passar ou, pelo menos, amenizar.

Adormeci, não sei por quanto tempo, mas acordei com o som do interfone, seguida da voz ríspida de Ed:

— Ela não quer falar com você!

—...

— O que você queria, depois do que fez?

—...

— Acho melhor dar um tempo.

—...

Eu me levantei, me arrastando em direção da cozinha.

— Ed, deixe ele entrar — murmurei.

Ele se voltou para mim, perplexo.

— Você tem certeza?

Assenti com a cabeça, ele apertou o botão para abrir a portaria.

— Entre! — Ed falou, um tanto contrariado, depois se virou para mim. — Estou no meu quarto, lendo, qualquer problema, é só chamar.

— Obrigada — disse, quando ele passou por mim.

Esperei a campainha tocar, em outro dia, eu correria para o banheiro, lavaria o rosto, pentearia os cabelos, passaria um batom, mas, hoje, só fiquei ali parada, com se esperasse uma sentença.

Assim que a campainha soou, eu abrir a porta, sem nenhuma preparação. Reparei no semblante de Felipe, assustado com minha aparência destruída. Não estava nem aí, com a opinião dele, não ia esconder como me sentia.

Ficamos parados nos encarando por alguns intermináveis segundos.

— Posso entrar? — ele perguntou, humildemente, e eu sai da frente para lhe dar passagem. — Como você está?

— O que você acha? — respondi, exasperada.

Continuávamos em pé no meio da sala, um de frente ao outro, a uma boa distante, olhos nos olhos.

— Não queria que fosse desse modo — ele falava com suavidade, o que me deixava ainda mais zangada.

— Então, por quanto tempo você pretendia me enganar?

— Eu não sabia o que fazer. Não entendia o que estava errado, só que não estava feliz ao seu lado — ele confessou, aquelas palavras foram como um soco no meu estômago, fechei os olhos de dor.

— Por quê? — perguntei, abrindo os olhos e o encarando.

— Eu não sei. Você é a namorada perfeita.

— A namorada perfeita? Mas, só que não para você.

— Sim, talvez, não para mim. Mas, daqui a pouco, você vai perceber que foi melhor assim, que não daria certo entre nós, porque eu não gostava de você da maneira que merece.

— Então, por que você, simplesmente, não foi sincero e me disse a verdade?

— Eu não sei — Ele dá de ombros.

— É por causa daquele lance de virgindade? Escute aqui, Felipe, transar com você foi uma decisão só minha, minha responsabilidade e ninguém tem nada a ver com isso. Você não tem nenhuma obrigação para comigo! — rebati, exaltada. Ele ficou parado me olhando, sem entender. — Se é só isso, eu o liberto de qualquer obrigação ou responsabilidade. Agora, cai fora da minha vida!

— Mas, Paula...

— Cai fora, Felipe. Não quero mais ver você! — Fui até a porta e abri. Ele me fitava desalentado, porém, sem outra solução, saiu.

Já do lado de fora, Felipe se voltou para mim.

— Eu sinto muito — falou, com sinceridade, eu não podia esmorecer, fechei a porta.

Diante da porta fechada, respirei fundo, uma, duas vezes, tomando uma decisão. Fui direto para o quarto de Ed e bati na porta, ele abriu quase de imediato, apenas de bermuda e sem camisa, uma visão do pecado.

— Tudo bem, Paula? — Ele perguntou realmente, interessado.

— Tudo — falei, com firmeza. —Tomei uma decisão. Quero transar com você.


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