PS: NÃO ESCREVA escrita por scarecrow


Capítulo 3
Terceiro capítulo




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CAPÍTULO 03

 

Saí quase correndo do meu próprio escritório, feito um adolescente. Meu coração batia milhares de vezes em um mesmo segundo,  e eu o sentia quicar do meu estômago até minha garganta, querendo sair pela boca. De repente, toda meu equilíbrio parecia ter espatifado no chão com um vaso frágil de vidro, e saí tonto do elevador. Sabia que minhas mãos estavam trêmulas, mas preferi não olhar para conferir. 

Foi só na recepção do imenso prédio que percebi a imensa bagunça que eu estava; o porteiro me encarava confuso, até um tanto surpreso, e só então notei que ainda vestia meu jaleco bem passado mesmo depois de sair do consultório. Dei um sorriso sem graça, fingindo naturalidade, e me acomodei no sofá mais próximo para respirar um instante e me arrumar apropriadamente. Puxei o ar com força, segurando-o nos meus pulmões por algum tempo, antes de soltar. Céus, era só um cara. Era só um moço mais novo e bonito, e isso não deveria afetar alguém tanto. Não a mim, no mínimo. Arrumei minha postura e tirei o jaleco com cuidado. 

Tentei me organizar da melhor maneira possível até perceber que tinha esquecido meu celular no escritório. Revirei a maleta mais uma vez antes de me amaldiçoar para sempre. Respirei fundo uma, duas vezes, antes de decidir fazer algo sobre o assunto. Okay, Brian, era só pensar um pouco, não é mesmo? Provavelmente Matt tinha saído do consultório por agora e esperando o único método plausível de se sair do décimo andar: o elevador. Dos quatro elevadores, apenas um estava parado no térreo. Corri feito um bobo e apertei o nono andar, para ter certeza que não o encontraria quando a porta abrisse. 

Sim, eu confesso que foi muito trabalho apenas para evitar de ver um garoto, mas não sei se consigo descrever o alívio que senti ao não encontrá-lo nenhuma vez durante o caminho, ou a vergonha que tive de mim mesmo por ter passado por tudo isso de coração acelerado. O importante, eu tentei me lembrar, era que meu celular já estava de novo em meu bolso, sem nenhuma ligação ou mensagem de Linda.

Segurando um suspiro, voltei minha atenção para o almoço. Apesar de trabalhar no mesmo consultório há alguns meses, nunca tinha me aventurado em nenhum dos restaurantes da região e não tinha certeza se iria começar por agora. Ir para casa pedir por alguma comida chinesa não me parecia uma ideia ruim. Talvez…

“Brian!” ouvi me chamar de longe, e não quis acreditar em meus próprios ouvidos quando percebi de quem era a voz. Não olhei para trás para vê-lo, mas o esperei chegar até a mim, esquecendo-me como se fazia para andar por alguns segundos. Matt veio alegre, com um sorriso cheio de dentes, e parou ao meu lado, apoiando as mãos nos joelhos.

“O que é?” perguntei, um tanto sem paciência. Antes mesmo de perceber, eu estava irritado comigo mesmo — tinha feito tudo aquilo para evitá-lo e, no fim, de baixa guarda e muita fome, deixei Matt vir até mim de sorrisos bonitos. 

“Aonde vai?” ele insistiu. Quis enfiar minha cabeça em uma parede.

“Onde está Sam?” questionei de volta no instante em que me dei falta da garota adoentada. Ele fez uma careta com minha resposta, desgostoso por não dar continuidade ao seu assunto. Não continuei a olhá-lo; procurei atenção nos mínimos fiapos de minha fina blusa de frio, forçando-me a não encará-lo. Matt, por outro lado, fitou-me por instantes sólidos, como se pensasse em uma resposta enormemente complexa para uma pergunta tão simples. Eu havia desviado de sua pergunta óbvia partindo para o ponto do qual nunca deveríamos ter saído, que é o motivo pelo qual Matt não deveria me seguir. Mas ele estava ali, de olhos fixos, como se não fosse responsável por uma garotinha doente.

“Ela está com o pai dela” ele respondeu fácil, como se não tivesse passado por inúmeros segundos se  perguntando se me contaria aquilo ou não. “Vamos andando?” 

E então, Matt seguiu seus passos para fora do enorme prédio, passando pela minha frente, como se eu o estivesse seguindo. Bufei nervoso e, cansado de tentar evitar suas investidas insistentes para o almoço, decidi perguntar outra coisa: “Você não é Scott? Digo, não tem o mesmo sobrenome da Samantha?”

“Pode se dizer que sim, na verdade. Esse é mesmo meu sobrenome.” ele respondeu, virando seu rosto minimamente para os lados antes de atrevessar a rua. “Nathan é meu irmão mais velho e aparentemente a pessoa mais ocupada do mundo, já que o trabalho tem consumido a vida dele. Aí eu o fiz um favor levando a pequena no médico” 

Soltei um grunhido fingindo interesse. Um alívio desconhecido correu pelo meu corpo, e eu quis rir de mim mesmo. Quero dizer, era um alívio saber que Matt não tinha responsabilidade com ninguém quando veio cheio de intenções conversar comigo na boate, enquanto eu fazia exatamente todas essas coisas? Porque eu bebi do seu lado e ri de suas piadas em uma sexta-feira a noite, de aliança no dedo. E eu, certamente, não deveria ser tão hipócrita assim. E mesmo se fosse, pensei, não ter uma filha não significa que Matt era solteiro, e me matar de pensar sobre o assunto não mudaria nada em nossa relação, nunca.

“Onde você disse mesmo que estava indo?” perguntou ele, sem virar para trás. “Aquele restaurante ali é muito bom, acho que você vai gostar”

Vi seu dedo fino apontar para o quarteirão da frente, em um elegante estabelecimento italiano. Seus passos acabaram de repente, esperando que os meus chegassem até ele, ao seu lado. E debochado, perguntei: “você sequer sabe se eu gosto de comida italiana para estar tão seguro assim de que vou gostar”

Ele gargalhou uma risada leve, e eu senti meu estômago embrulhar. 

Aquele dia foi a primeira vez que prestei atenção nos seus olhos. Não na boate, bêbado, com luzes coloridas no meio do escuro. Foi ali, parado no meio da rua, com a luz de meio dia batendo em seus olhos mesclados, me mostrando diferentes tons de verde no mar acastanhado de suas íris. Eu estava tão distraído e atento, que só fui sair do meu pequeno delírio no instante em que alguém, apressado, trombou em meu ombro e pediu desculpas apressado. 

“Tudo bem, eu te dou essa honra por hoje” eu disse, fechando os olhos por mínimos segundos para descarregar as novas sensações que corriam pelo meu corpo. Seus olhos continuaram os mesmos, ali, me olhando, por todo esse tempo que ficamos calados (ou por tempo nenhum).

Ele abriu o sorriso mais uma vez, antes de continuar andando na minha frente. Matt não me desferiu um olhar vitorioso ou palavras de sarcasmo. Não pulou de felicidade e também não soltou um obrigado. Seu rosto não mudou uma linha antes de se direcionar para o tal restaurante, e voltou falar como se nunca tivesse existido a possibilidade desse almoço não existir.

“Sabe, Brian, você é mesmo uma pessoa hilária” Matt comentou, iniciando um novo assunto quando entramos dentro do pequeno e aconchegante restaurante. “Aquele dia, na boate, você me contou que amava tanto comida italiana que poderia  viver de lasanha o resto da sua vida.”

Merda.

Senti minhas bochechas arderem de vergonha. Gaguejei tantas vezes que desisti de falar, mostrando-lhe o dedo do meio. 

“A gente precisa sair mais pra beber se isso for acontecer sempre” ele falou entre risadas, seguindo para a mesa para dois no canto indicado pelo garçom. 

“Não vai acontecer de novo” eu murmurei, rancoroso, aceitando o menu que me foi entregue logo em que me acomodei. O lugar era confortável, pequeno, de aparência cara, e o cardápio tinha poucas opções de pratos, o que me fez pensar se aquele era um restaurante tradicional. Perguntei-me qual deveria ser o motivo de Matt, em seus plenos 26 anos e roupas surradas, conhecer um estabelecimento daquela magnitude. 

“Por que não?” ele me perguntou, sorridente “está com medo de me contar mais coisas vergonhosas? Não se preocupe, Brian, eu não vou contar pra ninguém”

“Eu sei que não falei nada do tipo, idiota” o xinguei, tentando me concentrar no cardápio a minha frente. Meu rosto queimava, tímido, e a facilidade com que meu corpo demonstra o que sinto me irritou ainda mais. Ajustei minha postura, determinado em afinetá-lo de volta: “na verdade, eu só quero evitar essa sua mania de ficar me perseguindo. Nós só saímos uma vez e você já apareceu no meu consultório hoje”

Ele riu, despreocupado. “Ok, eu sou mesmo culpado por isso. Mas não posso fazer nada se você parece ser uma pessoa tão interessante, Brian. Praticamente me deixa sem escolhas e, de uns meses para cá, tomei a inteligentíssima decisão de fazer o que quero sem me preocupar tanto com as consequências.”

“Você me parece mesmo um inconsequente” eu disse, curioso. Quis perguntar todo tipo de coisas a ele e esperei por uma mínima explicação em seguida, mas tudo o que recebi de volta foi um curto “obrigado”. 

Nada mais falamos depois de fazer os pedidos. Ele ficou ali, olhando para minha cara de tonto como se esperasse por alguma coisa. O silêncio estava me mastigando, mas eu também nada disse. Não queria me mostrar interessado e não sabia como conversar uma conversa naquele ponto do nosso convívio sem fazer nenhuma pergunta. Mais do que isso, aliás: eu não deveria me interessar. Quanto menos soubesse sobre Matt, mais fácil seria fingir que ele nunca existiu depois.

“Vamos pedir um vinho” ele sugeriu, tempo depois, pedindo ao garçom o cardápio de vinhos “por minha conta, hoje” 

Pensei um pouco para aceitar, mas aceitei. Um vinho tinto, seco e caro, no início da semana com uma pessoa que não era minha esposa. Quis rir.

Quando nossas taças vieram enormes e se encheram de vinho, Matt levantou com elegância a bebida em suas mãos. “Um brinde ao nosso encontro” 

“Eu sou casado, Matt. Isso definitivamente não é um encontro” respondi, sem brindar de volta, bebericando da bebida densa. Seu nome saiu tão doce pelos meus lábios que sequer percebi que tinha o chamado por outra coisa senão garoto. Senti algo se revirar dentro de mim, como se minha fala tivesse sido errada. 

Não sei dizer porque me foi tão estranho contar a ele que era comprometido; eu já havia repetido aquilo tantas vezes que, a esse ponto, sequer deveria mais me causar qualquer coisa. E eu me encontrei desconfortável por sentir que nunca deveria ter dito algo que eu disse. Como se eu não pudesse ser casado naquele momento.

Mas eu sou. E agora, Matt sabia disso.

“Eu sei que sou muito bonito, Brian, mas não precisa ficar emocionado” ele retrucou, despreocupado, “amigos também vão a encontros juntos, sabia? Qual o nome da sua esposa?”

Olhei para ele de canto. Não sabia se queria responder. Ele inclinou de leve as sobrancelhas esperando uma resposta, curioso, e estava tão bonito que eu me garanti, mesmo que inconscientemente, de gravar aquela sua nova expressão na minha memória por muito tempo, tatuando seus meios sorrisos nas cores sóbrias do restaurante. 

“Linda” respondi, curioso para saber qual tipo de expressão ele faria em seguida.

“Linda Gallagher” ele disse, parecendo anunciar o nome em voz alta para descobrir como ele  soava. “É um nome bonito. Como ela é? Também é médica, eu imagino” 

“Ela é maravilhosa, e foi a melhor aluna de medicina na minha época” eu respondi, saudosista. Um sorriso pequeno brotou em meu rosto, porém acabou não durando muito tempo. Se pudesse escolher, teria preferido não falar sobre minha esposa agora. Não queria me lembrar de Linda, da europa ou das ligações prometidas que eu nunca recebi.

“Ah! Aposto que vocês tem uma casa enorme, cheia de vidro e quadros de arte moderna. Desses que só médico compra, sabe? Que só existem em paredes brancas de consultório e tem qualidade duvidosa” ele brincou, divertido. O garçom chegou logo em seguida com nossos pedidos e, após agradecer, Matt voltou a falar: “quero conhecer sua casa”

“Não, não. Eu nem sei seu nome direito, garoto.” Tossi, surpreso, quase me engasgando por bobagem, mas não menti. Matt conhecia meu nome completo (o que faz todo sentido, já que ele foi até meu consultório, onde havia uma enorme placa anunciando Brian Gallagher, pediatra), sabia minha comida preferida e minha profissão. Eu mal sabia seu sobrenome, além de ter apenas um apelido curto.

“Matthew Scott Não tem muitas outras opções para o apelido Matt, sabia?” ele me perguntou. Seus olhos me encararam com força. Eram tão castanhos e bonitos que eu tinha quase certeza que poderia me ver dentro deles. 

Fugi do seu olhar, acanhado. 

Seja por ter percebido meu desconforto ou não, Matt trocou de assunto. 

E nós conversamos sobre tanta coisa, que senti meu peito se aquecer da mesma maneira que havia se aquecido na sexta-feira anterior. Mathew não perguntou sobre minha esposa, meu casamento ou porque estava sozinho na boate semana passada. Não questionou meu trabalho, minha formação ou meu consultório. Ele não quis saber de nada que eu não queria falar, e eu acabei falando mais do que deveria. Mas eu não me importo tanto, para ser sincero. 

Era bom estar ali, bebendo de um vinho tinto e me divertindo em uma conversa entrelaçada como se não tivesse que voltar ao hospital durante a noite. Agradeci a Matt internamente por ter um almoço tão agradável em plena segunda-feira.

“Cabernet Sauvignon é minha uva preferida, aliás. Não provei ainda de um vinho com ela que tenha me decepcionado” ele comentou quando o garçom trouxe a garrafa de vinho mais uma vez para encher nossas taças.

“Eu até concordaria com você, mas isso daqui é Merlot” rebati, seguro de mim. Ele rolou os olhos, em um gesto simples de discordância, e eu logo me monte na defensiva: “você está duvidando?”

“Bom, sim. Se a uva fosse Merlot eu definitivamente saberia, ao contrário de você, pelo visto” ele respondeu. 

Fiz uma careta de indignação. Eu não era, claro, um entendedor de vinhos (Linda era, e na minha cabeça isso era o suficiente), mas certamente sabia do que estava falando. Decidi, então, entrar em seu jogo “Se eu ganhar, você paga o almoço.”

“Sem problemas.” ele disse, colocando ambas as mãos para cima, “mas se eu ganhar, eu vou conhecer sua casa qualquer dia desses. A gente toma um chá da tarde e fala mal do seus quadros”.

Abri minha maleta de peito cheio e confiante, pegando uma caneta e um bloco de papéis. Escrevi meu endereço e coloquei em cima, antes de chamar o garçom para trazer a garrafa com o resultado de nossa aposta.

***

 

Beber uma da tarde não foi uma das minhas decisões mais inteligentes, mas tudo bem.

Após um longo cochilo de tarde, acordei atrasado para minha volta ao hospital. Não tive tempo de lavar meus cabelos, e acabei saindo de casa com o celular descarregado. Apesar disso, as coisas no trabalho ocorreram como era de costume  — de sete e meia até as duas fiz o melhor que poderia ao atender as crianças que me procuraram, e terminei a madrugada exausto.

Não me lembrei da aposta com o garoto de olhos castanhos durante toda a noite, mas a sensação gostosa de tê-lo durante o almoço ainda fazia cócegas no meu estômago. Sensação esta que acabou 15 minutos depois da minha última consulta, quando Linda me ligou da frança. 

Ela me disse, toda contente, ter dormido tarde por ficar horas ouvindo a música boêmia que vinha das ruas francesas mesmo durante o domingo. E ela, que sempre foi de dormir até tarde, tinha acordado cedo espontaneamente. Daqui até a França são seis horas de fuso horário, e não sei dizer se acordar às oito horas era tão cedo assim, mas nada disse. Contou-me depois que pegaria o trem para Paris ainda naquela manhã, e que passaria os últimos dias na capital, antes de ir para a Itália. Prometeu me trazer uma lembrancinha da cidade das luzes.

Desligou sem perguntar como eu estava.

Xinguei alguma coisa baixinho, cansado e triste. Sem muitas opções, segui para fora do hospital em direção a minha casa. Na porta, de cabeça baixa e cachecol enrolado no rosto, vi meu irmão em pé, me esperando do lado de fora. “Michael? Tá fazendo o que aqui?”

“Brian! Porra, que demora! Tá frio pra caramba aqui” ele reclamou, vindo até mim com pressa. “Vim te buscar, oras. Seu quarto ainda tá no conserto, não é?”

Fiz que sim em silêncio e entrei em seu carro vermelho. Mike falou o tempo todo como sempre, angustiado com o frio do outono, já temendo pra quando o inverno viesse. Eu nada disse; ele sempre tinha sido muito friorento e não vejo porque isso mudaria a essa altura do campeonato. 

Agradeci a carona quando cheguei em casa, mas Mike me seguiu até a porta.

“O que foi?” ele perguntou, me empurrando pra dentro, “vim te fazer companhia hoje. Vamos, entra logo”

“Eu não preciso de companhia, seu doido. Vai pra casa que tá tarde e amanhã ainda é terça” eu disse, revirando os olhos. Empurrei-o de volta para rua, em uma tentativa inútil de tirá-lo de dentro da minha casa. Michael podia ser meu irmão mais novo, mas sempre foi mais alto e bem  mais atlético que eu, e não moveu um músculo durante minha investida de braços cansados. 

“Vai ser chato assim na puta que pariu, Brian, meu deus!” Mike exclamou, fazendo drama. “Vai logo fazer um chocolate quente pra mim que vou ligar a televisão.”

Fui derrotado para a cozinha, calado, com a cabeça cheia de coisas. 

O dia pareceu ter o dobro de horas e minha dor de cabeça havia voltado pela falta de sono. Duas das crianças que apareceram durante a noite estavam em quadro grave, e uma ele sequer havia conseguido chegar em algum diagnóstico final. Trabalhar no hospital era inegavelmente melhor do que no consultório, mas a rotina estressante desgasta até aqueles que gostam do serviço. E ainda tinha Linda, claro. Era a cara da minha esposa ligar após horas infernais de trabalho com uma conversa que só me tiraria do sério. 

Entreguei uma das duas xícaras que estava comigo para Mike, que logo deu início a um filme bobo de romance que ele tinha escolhido. Por fim, a história clichê havia me distraído mais do que eu esperava, e eu agradeci por isso. 

Porque perder minha cabeça com os pacientes do hospital sem estar lá não me levariam a nada, e pensar em Linda me causava aflição. E quando o filme acabou e eu fui até o quarto me preparar para dormir, notei que foi bobagem minha querer me ficar sozinho o tempo todo. Michael estava ali só pro estar, acordado em horários inexplicáveis apenas para me fazer companhia. Sem pedidos, programações, nada. Ele só tinha aparecido. Assim como Matthew em ambas as vezes que o encontrei.

Me perguntei se o incômodo da solidão estava tão estampado assim em minha cara.

“Que livro é esse?” Mike me perguntou, pulando em minha cama feito o folgado que era.

“Não sei, esse lado do quarto é da Linda, então  provavelmente é um livro dela” eu respondi do banheiro, enquanto escovava os dentes. “Vai logo pro quarto de hóspedes e chega de me perturbar”

“Nem fodendo, vou dormir aqui com você nessa cama enorme. Tem mil cobertores aqui cara” ele retrucou, se fazendo confortável. “Meu deus, o livro é  do S. T. Miller! Ele é tipo o maior romancista da atualidade! Me empresta!”

“Não. É da Linda, já te disse” neguei, entregando-lhe um pijama “Vai dormir logo, eu te imploro”

“Ninguém tá te segurando, insuportável” Michael respondeu, e eu ri da sua cara antes de apagar as luzes.


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