Na véspera de ano novo, um músico frustrado repensava sua vida.

Gajeel Redfox era um cara meio maluco, que gostava de músicas pesadas e excêntricas, influenciando diretamente em sua aparência e estilo. Os cabelos negros eram compridos, só usava roupas escuras e acessórios de metal e couro, daqueles que chamavam muita atenção. Era cheio de piercings, tatuagens e cicatrizes. Além disso, a personalidade dele não era muito boa. Era rabugento, falava palavrão e tinha como maior característica seu jeito debochado de ser. Tinha poucos amigos por conta disso, mas nunca deu importância a esse fato. Ele funcionava melhor sozinho.

Ao menos, era o que pensava.

Por conta de seu jeito de ser, ninguém ao seu redor acreditava que Gajeel se daria bem na vida. Era péssimo em conviver com as pessoas; vivia sozinho desde quando sua mãe adotiva faleceu, e achava melhor assim. Gajeel não tinha empatia. Não conseguia gostar das pessoas. Elas o julgavam, até mesmo os poucos fãs que tinha diziam que deveria mudar algumas atitudes.

Por quê deveria mudar para agradar as pessoas?

Bem desse jeito

Antes de você roubar meu coração

Venha para mim, assim mesmo

Eu quero o segredo do seu coração

Então só eu posso saber

Era feliz sendo assim, como era. E uma música que ele gostava dizia que em algum momento, todos teriam o reconhecimento e admiração de alguém sendo quem era. Estava desacreditado disso até pouco tempo atrás. Havia entrado em uma fase difícil em sua vida por conta desses pensamentos negativos e solidão constante. Mesmo rodeado de pessoas, ele se sentia sozinho. Porém, nunca dava o braço a torcer. Era orgulhoso, e preferia quebrar todos seus álbuns do Jack White do que mudar sua personalidade para agradar os outros.

Talvez fosse contraditório, mas apesar de tudo o que foi dito, Gajeel havia sim mudado. E não só isso, mas por conta de uma pessoa.

Levy McGarden era uma fã de suas músicas. Conheceu-a em um show; a garota se destacava no meio da multidão, apesar de ser bem pequena. Seus cabelos azuis e beleza ímpar chamaram a atenção do roqueiro de imediato, e ele não pode evitar se interessar por ela. Se aproximou da garota depois do show, conversaram sobre as músicas e então, Gajeel foi parar em um estado de satisfação que nunca havia chegado antes, apenas conversando com ela.

Levy era uma pintora e admiradora de seu estilo e aparência. Além disso, gostava verdadeiramente de suas músicas, e acabou comparando seu estilo com o do White Strikes e do Foo Fighters. Gajeel se sentiu tão preso nas palavras e no jeitinho meigo de Levy, que acabou por se sentir muito à vontade. Confessou não ter uma boa personalidade e disse que preferia ficar sozinho a conviver com as outras pessoas. Pensou que Levy o desprezaria por aquele simples comentário, mas isso não aconteceu. Ela apenas assentiu, dizendo que o entendia.

Depois daquele dia, os dois se tornaram amigos. Era muito estranho para Gajeel Redfox ser amigo de alguém, principalmente de uma garota completamente diferente de si. Mas se sentia tão bem ao lado dela, pois ela o compreendia e o aceitava como era. Nunca foi julgado por Levy, nunca recebeu nada além de carinho e atenção dela. Ela recomendava o som de Gajeel para outras pessoas, e por conta disso ele recebia novos fãs todos os dias. Ela o incentivava, o inspirava.

Ela o fazia feliz, e por isso acabou se apaixonando.

Sentimentos que eu nunca senti antes

Envolva-me e floresce em mim

Eu tento esconder isso, mas

Meu coração que está cheio de você

Continua procurando por você

A inexperiência naquele assunto veio à tona no momento em que se confessou a Levy. Contudo, isso não influenciou na resposta da garota. Acabaram iniciando um relacionamento, e então, Gajeel sentiu que estava mudado. Continuava excêntrico, com seu estilo meio maluco e jeito debochado de ser. Porém, ele passou a ter certeza de algo: não conseguiria viver sozinho novamente.

Como uma estrela cintilante

Você é uma luz no meu coração

Como a lua clara

Estou em você, sem ninguém saber

Bem desse jeito

Levy se tornou sua musa inspiradora, dona de todas as suas melodias. Quando acordava de manhã, era o rosto dela que vinha à mente. A amava tanto, que não conseguia se imaginar vivendo sozinho por muito tempo. Em um dia de inverno como aquele, Gajeel pediu Levy em casamento, chamando-a para morar em sua casinha.

Gajeel morava em um bairro distante do centro, na casa que era de sua mãe. O lugar não tinha luxo, mas era bem aconchegante. Apesar disso, ele sentiu-se inseguro e pensou que ela não gostaria de viver com ele naquelas condições. Mas Levy disse que ela gostava das coisas daquele jeito, e que ele não precisava mudar por causa dela.

Pensando bem, Gajeel ouviu muito aquelas palavras de Levy. Quando ele dizia que o público não gostava mais daquele estilo de música pesado, ela falava que as canções eram maravilhosas exatamente do jeito que eram. Quando ele dizia que ia mudar suas roupas e parar de usar preto, ela falava que “O Dragão Negro Gajeel” não seria o mesmo com roupas coloridas. Quando falava mais grosso, quando fazia piada com as pessoas, quando xingava um palavrão ou era obsceno... Levy nunca o repreendeu por isso. Ela geralmente o olhava e sorria, dizendo que o amava assim, do jeitinho que ele era.

O olhar que você me deu

Seu lindo sorriso

Sem saber, isso me puxa

Eu estou seguindo você mais e mais

Estavam na véspera de ano novo. Gajeel estava deitado em sua cama, vestido apenas com as calças, ignorando o frio lá de fora. Seu olhar firme encarava um ponto no teto, com os braços postos atrás da cabeça. Queria se mexer, mas sabia que levaria um esporro caso o fizesse.

— Já terminei, Gajeel. — A voz doce da pintora fez com que o roqueiro suspirasse aliviado. Olhou para a noiva e viu um papel em suas mãos, com sua imagem desenhada. — É só um esboço, mas pretendo pintá-lo essa semana. O que achou?

— Está incrível, baixinha — disse ele, soltando sua risada característica. Agarrou ela pela cintura e puxou para um beijo apaixonado, apertando-a em seus braços fortes. Levy parecia tão pequena e tão frágil, mas apesar do que aparentava, ela era a pessoa mais forte daquele relacionamento. Quando Gajeel estava a ponto de explodir, era ela quem o apoiava. Ela trouxe cores para seu mundo em escala de cinza, e não havia nada mais gratificante que isso.

E para ele, Levy McGarden era o ser mais puro existente no universo, só por ser daquele jeito.

Em cada linha de visão

Eu não quero sentir sua falta

Eu não quero esconder isso

No mesmo lugar

Só nós os dois

Estou colorindo você esta noite

— Você gosta mesmo de desenhar alguém como eu? — perguntou ele de repente, mas só para ouvir a resposta.

— Claro — disse ela, com um sorriso. — Eu te amo, Gajeel. Do jeitinho que você é. Você é minha obra de arte.