Documentoxxt escrita por R Marxx


Capítulo 1
Distrações


Notas iniciais do capítulo

Yeeeap o/
Faz tanto tempo que não posto histórias ou escrevo que estou nervosa
Escrevi a sinopse enquanto assistia Friends, então caso você seja um fã, provavelmente percebeu hahaha
O nome do capítulo pode não fazer muito sentido, mas era esse nome que eu havia colocado na fic originalmente, então até eu ter terminado de escreve-la o arquivo estava salvo assim, então decidi homenagear a ideia original.
Espero que desfrutem xD
Um beijo e um cheiro >.



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— Porque você não escreve uma história de amor dessa vez?

Continuei digitando e ignorando a pergunta de Ino. Queria conseguir escrever pelo menos uma página completa que fizesse algum sentido e tivesse algum futuro como uma long-history até o final daquele dia. Por enquanto tinha somente três linhas – em longas quatro horas. Bloqueio de artista, alguns dizem que não existe coisa desse tipo e eu não sou bem um artista, mas me sinto bloqueado – criativamente falando. E Ino e suas constantes interrupções não ajudavam em nada sendo ela uma distração por si só.

— Vamos lá Gaara, você já escreveu histórias de suspense, de terror, focadas em animes, em séries, qual o problema de fazer uma de amor? E me dê uma resposta melhor do que “porque eu não quero”.

Encarei a beleza surreal da minha amiga – desde que comecei a escrever histórias só consigo descrever os outros como se estivesse em uma – e suspirei cansado. Ela era insistente, as vezes isso era algo bom, outras (como agora) eu adoraria coloca-la para fora de casa.

— Eu acho que histórias de amor te expõem demais. – Respondi simplesmente depois de calcular um pouco as palavras. Ino continuou com as sobrancelhas arqueadas, esperando, e percebi que, como sempre, não seria tão fácil. – Caso eu escrevesse uma história de amor eu sinto que a base dela seria muito pessoal, já tentei, parece uma declaração.

Ela ficou parada durante longos segundos me encarando e por fim sua face se contorceu em decepção. Fiquei confuso, parecia que era a primeira vez que Ino admitia para si que não conseguiria mudar a ideia de alguém, e o mais chocante é que ela sempre foi muito confiante sobre sua habilidade de me convencer — talvez porque ela sempre conseguisse.

— Se for o caso, qual o melhor jeito de se declarar do que esse? Qualquer história sua fica incrível, ela iria amar.

A situação tinha acabado de ficar ainda mais estranha. Ino tinha essa mania meio bizarra de enxergar bromances em todo o lugar e nunca perdia a oportunidade de falar sobre meu inexistente relacionamento romântico com Naruto, meu melhor amigo. Eu tinha acabado de lhe dar a melhor oportunidade para suas divagações e ela parecia estar me dando apoio emocional?

— Ino você ‘ta bem? – Perguntei. Parecia que era a primeira vez que eu realmente prestava atenção nela desde que chegara. Estava linda, como sempre, mas parecia triste. Deixei o computador de lado e quando ameacei me aproximar ela levantou.

— Eu estou bem. – Seu sorriso estava mais murcho do que as milhares de plantas que tentei criar durante minha vida e nunca consegui. – Você precisa se concentrar e eu preciso ir, então vou parar de atrapalhar. – Ela pegou sua bolsa e foi em direção ao seu guarda-chuva que estava na soleira da porta sem se aproximar para se despedir. – Me liga quando terminar a história da vez.

— Sempre ligo certo? Quem mais eu usaria para betá-las? – O sorriso da vez foi mais iluminado e o dedo do meio que ela mostrou me fez pensar que nem tudo estava perdido. – Sabe que estou aqui sempre que precisar conversar certo?

— Eu sei, embora você seja péssimo nisso. – Eu revirei os olhos sabendo que ela estava certa. Minha falta de habilidade com comunicação se igualava com Ino e sua incapacidade de falar sem gritar.

Tive de levantar e ir até ela já que esta parecia estar pregada ao chão e nada disposta a pular em mim em mais uma de suas despedidas entusiasmadas (e exageradas). Quando cheguei perto percebi seu suspiro e me senti compelido a abraça-la o mais forte que podia sem sufoca-la. Ela tinha o melhor cheiro que existia, embora eu nunca tenha conseguido distinguir do que era seu shampoo (Ino era alérgica a perfumes).

— Wen ich liebe, bist du.

— Um dia eu vou aprender alemão e vou tirar todo o seu poder, sabe disso né?

— Se for com a mesma velocidade que você está aprendendo italiano eu ainda tenho três anos de vantagem.

— Imbecil. – Devo dizer que para alguém que se preocupava tanto com manicure o tapa era bem forte.

Ino passou a mão no meu rosto como um carinho – já que seu teatro sobre estar brava aparentemente a impedia de me dar um beijo – e saiu pela porta finalmente me dando sossego para escrever, o sossego mais barulhento da minha vida. Minha cabeça zumbia.

Voltei para o computador e abri um antigo arquivo, salvo a tanto tempo que eu já havia esquecido dele. Foi fácil de achar dentro da minha pasta com incríveis 237 documentos salvos, isto porque era o único arquivo sem nome e sim “documentoxxt” uma atribuição dada pelo meu computador. O nome nunca tinha sido definido uma vez que eu desisti do projeto ainda no esboço, mas ali continha palavras mal organizadas sobre um garoto que tinha a vida constantemente atrapalhada por sua melhor amiga que adorava distraí-lo das coisas que deveria fazer...e é claro, ele era completamente apaixonado por ela.

Era uma ideia imatura e mal desenvolvida, mas com a devida atenção – e os detalhes vívidos que seriam facilmente transmitidos – poderia se tornar algo. Para o meu primeiro romance, talvez fosse um bom começo. Continuei olhando para a tela em um dilema interno entre arriscar e as consequências disso. Ino havia dito que seria o melhor jeito de se declarar e que “ela” iria amar, mas... Ino estava inclusa nisso ou era só a opinião de alguém que ela estava reproduzindo para me animar? A história ficaria ao nível dela?

A zona na minha cabeça parecia aumentar cada vez mais e decidi fechar o computador quando senti minhas têmporas dando o primeiro sinal da minha enxaqueca. Era uma decisão que eu poderia tomar depois, quando meu estomago parasse de queimar e a cabeça de latejar. Eu tinha gastrite nervosa e enxaqueca desde que me reconheço como pessoa – desde os meus quinze anos mais ou menos – por conta da minha ansiedade e Ino sempre fora um fator contribuinte dela, embora fizesse um certo tempo que não me sentia assim. Eu nunca tinha pensado em me declarar, mas será que aquele poderia ser o momento?

***

Duas semanas depois e eu estava com uma séria dúvida sobre quem estava ignorando quem - eu que decidira fazer o que qualquer sábio não faria e começara a dar vida àqueles rabiscos, ou Ino que não tinha me procurado durante todo aquele período, embora costumasse aparecer em casa com mais frequência que meus irmãos. O problema era, eu tinha o meu motivo, agora qual era o dela? Ela tinha respondido todas as minhas vagas mensagens de forma mais vaga ainda, afirmando estar bem quando era notável o contrário, uma vez que suas mensagens pareciam diretas e sem enrolação (e sem nenhuma história aleatória do cachorro obeso dela que adorava se enfiar em lugares que não cabia).

Procurei ignorar o incômodo que sua falta me trazia, tentando convencer-me de que aquele sossego era uma dádiva para minha escrita e não um castigo por me dar condições mentais e tempo de pensar no peso do que eu estava fazendo - minha mente caminhava cada vez mais rápido na direção de excluir o “documentoxxt” para sempre (eu ainda não tinha alterado o nome para algo mais profundo ou que chegasse perto do que eu estava para transmitir com aquela história).

O ruim de escrever uma história de romance não demorou a me atingir, uma vez que passar para o papel sentimentos tão complexos - que, sinceramente, eu duvidava que conseguisse compreende-los em sua totalidade - era desgastantemente desesperador. A pior coisa para um escritor é quando este não consegue expressar-se adequadamente, e eu estava preso nesse limbo a duas semanas.

Enquanto tentava escrever mantinha minha visão periférica em meu celular e acabava desviando minha atenção para o mesmo com qualquer reflexo que a luz fazia em sua tela, sempre acreditando que Ino finalmente tinha mandado um enorme texto sobre como Bob (o cão obeso) tinha tentado se esconder debaixo de sua cama novamente e ficara preso novamente - ou para ser sincero qualquer outra história que mostrasse que ela continuava sendo a pessoa sem parafuso que eu amava e estava me matando para escrever uma história sobre. Mas foi uma espera inútil.

No décimo sexto dia, com três páginas e meia escritas no word, decidi que era o momento de procurá-la. Eu não tinha história nova para mostrar – o que era normalmente um bom início de assunto – e a pressão da situação parecia me impedir de pensar em alguma desculpa boa para aparecer em sua casa – ou de perceber que eu não precisava (e nunca precisei) de uma.

Bati em sua porta, decidindo que seria muito ousado da minha parte utilizar a chave que ela havia me dado para esse exato fim, uma vez que ela odiava ter de levantar para atender a porta. Minha cabeça realmente não funcionava direito. Era como se nossa amizade fosse uma configuração de um programa e ela estivesse passando por um bug.

Um minuto depois ela gritou pela porta:

— Quem é?

E o bug continuava. O que eu deveria responder? Eu tinha a chave da casa, então por que raios estava batendo na porta? De onde veio essa ideia estúpida?

— Sou eu, Gaara! – Respondi em um fio de voz. Meu estômago tinha embrulhado e ficou difícil falar sem estar produzindo saliva.

Ela abriu a porta e eu pude notar a confusão em seu rosto – quase tão palpável quanto a que estava em minha mente. Ino vestia uma camisola comprida, com os dizeres “plante uma flor, plante uma vida” em peças de Scrabble. Era nova (para mim), mas eu tinha certeza que era coisa do seu pai.

Em outras palavras, ela e seu cabelo desgrenhado estavam lindos.

— Gaara? Desde quando precisa bater na porta? – Ela perguntou e percebi seu esforço em tentar não transparecer seu desconforto, mas era óbvio que eu estava certo sobre algo estar errado. Embora soasse como uma frase normal e uma pergunta completamente válida, a falta de xingamentos me alertou.

— Eu esqueci minha chave. – Disse simplesmente, embora a pequena chave estivesse guardada no meu bolso, no mesmo chaveiro que a minha. Ino sabia disso, mas ignorou o fato e ficamos nos encarando em silêncio até eu perceber que teria de me esforçar mais. – Queria te ver. Percebi que o silêncio é mais perturbador que você. - Embora tentasse descontrair, a verdade contida naquela frase fez o comentário sair mais sério do que eu previa.

Seu rosto se abriu em um sorriso tão sincero e natural que tranquilizou todo o meu interior instantaneamente. Era a sensação de finalmente emergir a superfície após um longo período debaixo da água – se todos no mundo possuíssem uma Ino a indústria farmacêutica perderia seu setor de calmantes.... ou talvez triplicasse ele.

— Entra! – Ela pediu gentilmente me dando passagem. Ino estava disposta a conversar agora.

Passei pela porta incerto sobre o cumprimento que aquela situação estranha exigia, mas sentir o cheiro dela e simplesmente não a abraçar era um sacrilégio, então quando ela virou para fechar a porta eu a abracei por trás, cafungado em seus cabelos.

— Eu amo o seu abraço. – Ino comentou apertando minhas mãos que se entrelaçaram na sua frente. Aumentei a pressão do abraço "eu também". Sabia que ela entenderia, afinal sempre fora boa em ser a única a entender minhas demonstrações de carinho.

Fomos até seu sofá e eu segurei sua mão, agradecendo a todas as entidades por ter parado de tremer. O contato causou um pequeno choque, uma vez que a sua mão estava quente e eu possuía uma incapacidade de manter a temperatura corporal – ou pelo menos era isso que eu costumava dizer para mim mesmo toda vez que aquilo acontecia. Talvez na história "documentoxxt" eu devesse acrescentar isso de um jeito diferente e mais romântico.

— Eu senti sua falta! – Exclamei rouco, o desconforto ameaçando me calar agora que seu sorriso não estava mais presente.

— Segunda vez que você diz isso em menos de trinta minutos. Sua mãe ficaria com ciúmes.

Eu ri, ao mesmo tempo em que meus ombros foram relaxando.

— Eu comecei a história. – Comentei. – O romance.

Ino arregalou os olhos e arfou.

— Sério? Que legal, não vejo a hora de ler. – Sua falsa animação era digna de um framboesa de ouro.

— Não parece. Achei que quisesse ler um romance meu. – Frustrei-me. Eu tinha entendido algo errado?

— E eu queria. – Ela suspirou e notei como ela não se corrigiu. “Queria”, não “quero”. Ela retirou suas mãos das minhas. – Estão soando.

— E desde quando isso importa?

Havia segurado suas mãos em tantos momentos da nossa vida e um simples suor nunca me impediu de lhe dar afago. Ino continuou encarando as próprias mãos e eu me senti afogando de novo, sem ar disponível para puxar, totalmente submerso em uma angústia repentina. Quando comecei a sentir os sinais de hipóxia ela me encarou, olho no olho, e eu fui capaz de puxar um pouco de ar – isso porque não suspirar com a sua imagem tão decidida quanto ela parecia naquele momento era impossível.

— Eu queria ler um romance seu, antes de saber que você os considerava declarações. – Suas mãos começaram a tamborilar freneticamente no sofá e embora tivesse desviado o olhar ela não parecia ter terminado de falar o que queria. – Para se declarar você precisa ter alguém por quem está apaixonado, certo?

— Certo. – Respondi com um fio de voz.

— Então se você começou a escrever o romance, significa que você está apaixonado, certo?

— Certo. – Sussurrei.

Quando ela levantou o olhar novamente e este estava brilhando em lágrimas eu percebi que o caminho que aquela conversa tinha tomado era sem volta. Eu não poderia esperar concluir a história para me declarar... nós dois precisávamos de uma conclusão agora.

Wen ich liebe, bist du.

— O que raios isso significa? –  Ino não era uma pessoa muito paciente, vale ressaltar.

— “Quem eu amo é você!”.

Ino parecia tão chocada quanto o dia em que ela descobriu que o Bob tinha engravidado a cachorra do vizinho.

 - A história é sobre você. A declaração é para você. Quem eu amo é você

— Filho de uma puta!

Essa não era a reação que eu esperava depois de uma pausa de cinco minutos – onde eu posso afirmar que eu soei mais do que em toda a minha vida, incluindo o dia em que decidimos ir a pé para o parque com o Bob e fazia 32 graus.

— Você me deixou em pânico por duas semanas, DUAS SEMANAS, quando tudo que tinha que fazer era falar em PORTUGUÊS!

— Você podia ter falado algo tamb...

— Estúpido narcisista com ego inflado...olha só, eu consigo falar outra língua e você? Lembra como fala “bom dia” em italiano ainda? – Sua voz engrossou de uma forma não condizente com seu tom e ela parecia estar fazendo um péssimo ASMR. – Infeliz, putinho, projeto de esperma...

E antes que ela me assustasse mais – ou me insultasse mais – eu a beijei.

E nossa.....

Quando eu comecei a escrever histórias, li uma que me inspirou muito que falava sobre coisas que te bagunçam por dentro, pura euforia, que te fazem transbordar..e Ino era assim, ela me fazia transbordar. Tinha vezes que era bom, outras nem tanto, mas ser capaz de sentir aquilo fazia valer a pena – eu nunca me senti mais zoneado na minha vida do que com aquele beijo. E talvez nem fosse o beijo, talvez fosse a sensação de ser correspondido, da ansiedade abandonando meu corpo, – quase como a pressão caindo – de ter uma conexão que fizesse sentido.

— Puta que pariu eu te amo! – Ela sussurrou entre meus lábios ao nos separarmos, e pude ver no meio daquela infinitude azul – que leigos chamavam de olhos – que ela estava tão bagunçada quanto eu.


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