RK900 abriu os olhos e se viu novamente na Cyberlife, sabia que sua missão por agora era encontrar Amanda e que não seria tão difícil, apesar do lugar ser um pouco amplo não era um verdadeiro labirinto e ela não devia estar muito longe dali, andou através da ponte e ao fim dela percebeu que um pouco á direita havia um peixe fora na terra que se debatia sem sucesso de conseguir voltar a água, ele observou e por alguns curtos segundos acabou pensando se iria o por de volta na água ou se iria deixá-lo morrer ali mas acabou por decidir ajudar o peixe, andou até ele, se agachou e com cuidado tentou por o peixe em suas mãos, uma tarefa extremamente difícil já que sua escama era bem escorregadia e também se movimentava muito, com muita calma conseguiu apanhar o peixe e o pôs de volta ao lago, o mesmo deu um salto em resposta e nadou pelo rio em agradecimento

— Olá, Richard – Ele se levanta e vira-se para trás dando de cara com Amanda com um guarda chuva vermelho lhe protegendo da luz do sol daquele lugar – Eu realmente estava esperando por você, que bom que veio

— Eu ainda estou me acostumando com esse tipo de comunicação, tudo é muito recente para mim ainda, sinto muito

— Não há porque se desculpar, no começo é difícil se deparar aqui dentro de um momento para o outro mas acredite, logo você achará completamente normal, me acompanha para uma pequena volta?

O androide apenas consentiu com um gesto feito por sua cabeça e deu o braço para que Amanda pudesse por o dela sobre o seu e assim a mesma o fez, ambos passeavam lentamente por meio da pequena trilha no chão entre algumas árvores, se este lugar fosse físico ao invés de estar em uma "mente eletrônica" com toda a certeza os humanos usariam como uma praça para fazer um piquenique ou passar um tempo com a família

— E então, Richard, como foi a sua recepção de boas vindas na delegacia de Detroit?

— Eu não sei dizer, acho que foi do jeito que eu imaginava, tudo ocorreu normalmente sem grandes diferenças

— Isso é muito bom, queremos chamar menos atenção possível, e enquanto ao seu antecessor, o que decidiram fazer com ele?

— Pelo o que vejo os humanos lá tem uma certa afeição por Connor, eles descartaram qualquer possibilidade de eu ser sua substituição e me envolveram em outro caso

— Interessante... – A mulher pôs o dedo polegar e indicador entre o queixo em forma pensativa – Eu já tinha em mente que isso podia acontecer, mas me explique melhor sobre este "outro caso"

— Ao invés de meu parceiro ser o tenente Hank Anderson, o capitão Fowler me pôs no caso de mistério junto ao detetive Gavin Reed, pelo o que entendi ambos estão no ramo de investigações

— Excelente, confesso que fiquei surpresa de o plano sair melhor do que o esperado – Amanda esboçou um pequeno sorriso – Mas e enquanto a esse detetive, já teve sua primeira impressão sobre ele?

— Fiz uma rápida análise com meu sistema para descobrir um pouco sobre ele em geral – Richard levantou um galho de árvore que estava um pouco a frente deles para que Amanda não batesse de frente a ele – Percebi que o detetive também não gosta muito de androides e tem uma enorme necessidade de trabalhar sozinho, pude perceber que ele é um pouco egocêntrico

— Você está lidando com humanos, RK900, ego entre demais outros sentimentos negativos fazem parte deles – Ela andou um pouco mais á frente e parou em frente ao androide – De qualquer forma isso é muito bom, provavelmente vai impedi-lo de tentar impedir as instruções que estou prestes a lhe dar

— Mas hoje provavelmente irei fazer minha primeira missão com o detetive Reed

— Não se preocupe, isso não irá comprometer em nada a sua missão com ele, até irá servir como disfarce para não atrapalhar em sua missão principal

— E o que seria? – Pergunta com sua expressão séria, porém curiosa

— Quero que você obtenha informações sobre casos de alguns divergentes que já foram arquivados, precisamos começar do zero se quisermos saber como deter todos eles, espere o momento em que você não estará sendo vigiado por ninguém para acessar estes arquivos confidenciais, entendido?

— Sim, será um prazer cumprir minha missão

— Ótimo, estarei contando com você, logo mais lhe darei novas instruções. Já pode se retirar, nos veremos em breve.
Amanda andou para o lado direito em direção onde sempre fica e o androide andou na direção oposta em direção onde estava no inicio de tudo

(...)

Richard abre os olhos e dá de cara com Perkins olhando-o com uma expressão de como se tivesse visto algo muito bizarro, o androide apenas o encarava em resposta analisando a expressão de seu rosto, por algum motivo ele não estava afim de saber quem era o homem a sua frente, apenas queria entender o porque de estar o encarando

— Vocês androides são mesmo uma aberração – o homem saiu com um copo de café em mãos e Richard o olhou sem entender muita coisa

RK900 olhou em volta e percebeu que a delegacia já estava aberta mas que haviam poucas pessoas perambulando por ali e ele não sentia a necessidade de explorar o lugar por enquanto, ele apenas andou em direção ao escritório a procura da mesa de seu mais novo companheiro detetive Reed, olhou pelas pequenas placas de papel indicando o nome de cada um e na quarta procura encontrou, como não sabia ao certo quanto tempo Gavin iria demorar a chegar o mesmo decidiu sentar-se e esperar enquanto isso, minutos foram se passando e mais pessoas chegavam, até mesmo Hank e Connor já haviam adentrado a delegacia com o tenente Anderson segurando uma caixa cheia de rosquinhas mas nada de seu parceiro, não vendo outra alternativa o androide passou a analisar a mesa de Gavin, a primeira coisa que reparou foi que havia um isqueiro com desenhos que pareciam pintas de uma onça cinza, Richard passou a brincar com o isqueiro passando entre seus dedos e jogando para outra mão em uma velocidade surpreendente, algumas pessoas de outras mesas o olhavam sem entender ao certo como isso era possível até mesmo para um androide, assim que acabou devolveu o objeto a mesa, notou que havia um retrato dele segurando um gato preto nos braços, ele não sabia se o detetive era de sorrir mas naquela foto dava pra ver a felicidade dele com o gato, olhou um pouco mais e viu que haviam migalhas de lanches, papéis amassados e alguns materiais bagunçados sobre a mesa, dava pra notar que organização do trabalho não era um dos fortes dele.

Gavin adentra no escritório devagar e bocejando, com certeza mais uma vez ele não teve mais uma noite de sono tão longa e pelo estado que estava suas roupas, seu cabelo e o seu rosto ele ainda estava completamente sonolento, ouviu o "Bom dia" de Tina e apenas acenou com a mão em resposta, andou até sua mesa e viu que o novo androide estava sentado em uma cadeira ao lado da sua

— Bom dia, detetive Reed

— Que porra você tá fazendo sentado ai? – Olhando-o com cara de poucos amigos – Vá me pegar um café, imbecil!

— Sinto muito, Detetive – Levantando-se da cadeira e indo em direção ao refeitório

— Foda-se...

O detetive ainda entre um bocejo e outro sentou-se na cadeira e procurou em uma das gavetas uma entre muitas pastas que teve que organizar ontem, após um pequeno tempo pegando e devolvendo achou a pasta certa, tratava-se de uma denuncia há qual foi ouvido gritos e choro de uma criança pequena em uma casa a noite há poucos quilômetros de distância, pela experiência do detetive já sabia muito bem que nem precisaria ir para saber que aconteceu um assassinato, quem sonha em ser detetive achando que só irá pegar casos de pessoas que sumiu ou tesouros escondidos com certeza irá se decepcionar e muito com essa profissão, logo Richard voltou com um copo de café quente e estendeu seu braço para que o mesmo pudesse pegar

— Não ache que irei lhe agradecer por isso, torradeira – Pegando o café e bebendo em seguida

O androide olhou em cima da mesa a pasta aberta e leu os detalhes da ocorrência, quem diria que seu primeiro caso ao invés de ser com divergentes como ocorreu com seu antecessor vai ser com pessoas, o bom disso tudo é que o androide irá ter um contato maior com humanos e poderá analisar mais de perto comportamentos e atitudes de cada pessoa

— Quando iremos ir atrás deste caso, detetive Reed?

— Eu irei agora mesmo, já você é melhor ficar aqui

— O que? – Richard olhou confuso

— Eu já disse que não quero ninguém se metendo no meu caso, muito menos uma bunda de lata igual você

— Sinto muito, detetive, mas estamos nisso juntos agora e precisamos agir com uma equipe

— Ah é mesmo?

Gavin levantou de sua cadeira e encarou o androide de uma forma mais agressiva, o mesmo mantinha-se neutro em sua expressão porém olhava o mais baixo no fundo dos olhos, Gavin discretamente cerrou o punho e tentou atingi-lo no estômago (isso se androides tem estômago) porém foi impedido por um movimento rápido da mão de Richard que parou o impacto, isso fez o detetive o olhar surpreso, em outro movimento rápido, Richard puxou o detetive para mais perto de si segurando ambos os seus braços com força, Gavin o olhava agora com espanto tanto pela força que ele tinha tanto por ter conseguido imobilizar seus braços ligeiramente

— Me escute, detetive, eu sei que você não pediu para ter um parceiro na sua equipe e que não gosta de androides – Richard podia sentir a respiração do mais baixo bater em seu pescoço, estava um pouco acelerada provavelmente pelo que acabará de acontecer – Mas quero que tenha em mente que eu também não fazia ideia de que isso iria acontecer e também não tenho culpa, não precisa falar comigo ou olhar na minha cara se não quiser, eu não ligo, a única coisa que quero é completar a minha missão e só podemos fazer isso juntos
— Me larga, baldroide! Você tá me machucando

Richard o olhou ainda mais fundo nos olhos, encarar aquela expressão e seus olhos azuis penetrantes estava sendo muito intimidador ao detetive, assim sendo, o androide o soltou e deu as costas

— Pode terminar o seu café, estarei esperando lá fora – Saindo do escritório

Gavin aos poucos foi recuperando sua respiração normal, aquela cena que acabou de presenciar o deu um enorme arrepio pelo corpo, sim, realmente Richard era um modelo mais avançado e bem diferente de Connor e agora isso ficou mais visível "Puta que pariu, esse desgraçado!" pensou enquanto tocou em seu cinto e sentiu a sua arma na calça, se não estivesse agora mesmo em uma delegacia seria certeza de que ele apanharia a arma e teria atirado em RK900, ele apenas voltou a pegar o seu café e tomou na tentativa de se acalmar

(...)

Demorou cerca de dez minutos até que Gavin finalmente tomasse iniciativa de ir até a casa, agora ele e Richard estão em cima de sua moto enquanto o GPS os guiava até o lugar certo, o detetive ainda estava se sentindo incomodado pela situação que teve com o androide e isso ainda o incomodava (ainda mais por Richard estar na garupa da moto e com os braços por volta de sua cintura) mas por mais que não queria admitir o mesmo sabia que aquilo foi uma pequena dose de adrenalina que ele precisava, RK900 não conseguia parar de reparar em cada detalhe de onde passava, as árvores, alguns parques com crianças se divertindo e até mesmo um cachorro ou outro que corria atrás ao ver ambos em cima da moto, era sua primeira interação com o mundo real e tudo aquilo era muito novo, se sentisse algum sentimento com certeza seria algo similar a uma criança visitando um shopping center pela primeira vez, logo em pouco tempo Gavin parou sua moto em frente a uma casa ao ouvir "Você chegou ao seu destino". Era uma casa feita de madeira como qualquer típica casa americana pintada de vermelho, a casa parecia estar completamente normal exceto pela janela quebrada e que uma cortina azul que parecia estar manchada não os deixava ver o que tinha na casa

— Seja lá o que aconteceu aqui acho que não queriam bagunçar a casa, pode ser um maníaco por organização – Disse em sarcasmo enquanto retirava o seu capacete

— Aquilo nas cortinas – Richard apontou em direção as pequenas manchas

— Não tenho total certeza mas parece ser sangue humano – Também retirando o seu capacete e saindo da moto, chegando mais perto da casa

— Caralho, sua visão é tão boa assim?

O androide chegou mais perto da cortina mas mesmo assim não conseguia ver muito bem através dela, porém conseguia ver uma pequena luz e ouvia vozes um pouco distantes, com isso sabia que a casa foi abandonada com a televisão ligada, chegou mais próximo da casa e parou em frente a porta, assim que pôs a mão na maçaneta foi barrado

— Espere ai, torradeira, o que pensa que está fazendo? – Gavin pôs a mão em seu ombro e o androide virou em sua direção – Você não pode entrar sem saber se tem alguém ai dentro

— Eu fiz uma pequena analise e tenho 85% de certeza de que está vazia

— Blábláblá, isso ainda não é 100% – Pegando sua arma do bolso – Sempre esteja preparado pra qualquer coisa

Gavin girou a maçaneta e já deu de cara com um pequeno imprevisto, a porta estava trancada, Richard pôs seu braço na frente do detetive como e fez um gesto de assentir com a cabeça indicando para que o detetive tomasse um pouco de distância e mesmo com uma sobrancelha erguida assim o fez, o androide tomou um pouco de impulso e deu um chute na porta forte o suficiente para que a porta viesse ao chão, Gavin olhou surpreso pensando se aquilo aconteceu pela força do outro ou se a porta já estava velha e fraca, esse era o real mistério que agora se passa na cabeça dele. Ambos adentraram e Gavin ainda mantinha sua arma em mãos preparado para dar um possível tiro em alguém que aparecesse, o cheiro de um cadáver recente pode ser sentido por ambos e estava bem perto dali, passaram pela sala e viram a televisão com o volume baixo e já na entrada da cozinha viram o corpo caído próximo á uma cadeira que foi derrubada, era uma mulher com um tiro na cabeça e com o olho aberto, sua blusa branca agora estava quase tingida de vermelho por completo pelo sangue que escorreu, além disso ela tinha uma marca de sola de sapato sujo próximo á sua barriga

— Bem, não é tão ruim quanto eu pensei que fosse – Guardou a arma em seu bolso – Mas olha essa bala, atravessou o crânio dela
Richard chegou mais perto e se agachou próximo á mulher, o LED em sua cabeça que antes estava azul mudou para amarelo e girava pronto para analisá-la

— Não chegue muito perto, idiota, pode acabar atrapalhando a perícia – Alertou cruzando os braços

— Não se preocupe, detetive
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Nome: Sharon Blake
Idade: 30 anos
Estado civil: Casada
Profissão: Desempregada
Status: Falecida há aproximadamente 2 dias
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— O nome dela é Sharon, morreu há apenas alguns dias, preciso analisar um pouco as pistas pra tentar reconstituir a cena

— Faça o que tiver que fazer, eu vou procurar pistas no andar de cima e quando eu voltar é melhor que tenha descoberto algo importante – Terminou subindo as escadas, Richard apenas deu um olhar como quem dizia "Mas você não disse que esse era o seu trabalho?"