Settle escrita por Hiero


Capítulo 1
Esse lugar vai te engolir por inteiro (Único)


Notas iniciais do capítulo

Oi!

Essa história é basicamente o que os jovens chamam de “vent art”. Tive uma crise de ansiedade bastante longa, e o resultado foi despejar meus sentimentos no Word. (Além disso, o fato do Kakyoin e do Polnareff não terem uma exposição maior da amizade deles em canon é um crime contra a humanidade. É isto.)

Espero que gostem, etc. O título da história e do capítulo vêm da música Settle, do Two Door Cinema Club (porque a) ela me lembra do Kakyoin e b) eu não consegui pensar em mais nada).



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/778383/chapter/1

No meio de uma jornada conturbada, em um caminho povoado por uma variedade de inimigos, Noriaki Kakyoin encontrou tempo para relaxar.

Era uma noite egípcia bem quente, apesar de ser inverno. Logo depois de ter enfim derrotado a High Priestess de Midler, os Cruzados encontraram um lugar para passar a noite — um albergue humilde, porém confortável — antes de seguir para Assuã, onde o tempo curto deles como um grupo completo seria interrompido. Mas essa é outra história, para outro dia, sobre como a teimosia de um certo ruivo quase o deixou cego.

E lá estava Kakyoin, com uma xícara de chá quente, recém-feito por Avdol. Ele olhou para as estrelas, no que era um misto de admiração e curiosidade. Era um breve momento de desconexão do resto do mundo. Sem DIO, sem Stands, sem batalhas que lhe ameaçassem a vida, sem aquele sentimento constante de estar sendo observado. Naquele momento, era só Kakyoin, a xícara de chá dele, e as estrelas mostradas pelo céu egípcio.

Ele nem percebeu quando Polnareff se juntou a ele. E isso era bem estranho. O francês era notório por suas chegadas repentinas e altas, e essas eram normalmente ele pedindo por socorro, depois de cruzar o caminho de mais um banheiro nojento.

Mas hoje não. Ele foi quieto em sua entrada, com sua própria xícara de chá, e se sentiu confortável o suficiente para se sentar do lado de Kakyoin. Aparentemente, chegar ao Egito deixou um sentimento contemplativo em todos os Cruzados, até... nele.

“Que que tu tá fazendo aê?”, Polnareff perguntou. O vocabulário dele era assim, desleixado. Ele era uma subversão ambulante do estereótipo do “francês chique”. E isso refletia o fato dele, às vezes, não ser capaz de ler o ambiente. (Como agora.)

“Só tô... pensando. Às vezes eu faço isso.” Kakyoin estava prestes a adicionar um assim como você deveria fazer, mas talvez essa última frase tenha sido sarcasmo suficiente. Ele não tinha medo de ser ácido, mas, julgando a situação, era melhor segurar um pouco a língua. Quem sabe o que levou Polnareff a se sentar ali?

“É, tô tentando entrar nessa onda de pensar também. Mas, sabe, eu não sei se eu devia, não.”

“Por que não?”

“Pensar te deixa fudido da cabeça, cara. Se eu fosse sentar aqui e pensar em tudo que tá acontecendo agora... e, cê sabe, tudo que já aconteceu... melhor não!”

“Eu entendo. ...Sabe, às vezes eu invejo essa sua habilidade.”

“Que habilidade?”

“Essa, de não pensar.” A que você tá botando em prática agorinha mesmo, seu filho da puta imbecil. “Eu, pessoalmente, penso... muito. Não que não seja bom pensar, é o que me ajuda a solucionar as coisas em batalha.” Tipo aquela vez que vocês acharam que eu tinha ficado louco, mas eu só tava pensando. Pode-se dizer que, lá no fundo, Kakyoin ainda se sentia bravo pelo episódio do Death 13. “Mas quando você pensa muito, parece que o cérebro meio que só... decide que é bom fazer isso, e fica desenterrando coisas que você não queria mesmo ter lembrado.”

“Porra, mano, que que é isso daí que cê fica pensando tanto?”

Tópico sensível. Não que Polnareff soubesse que era um. Como já dito, ele não sabia ler o ambiente.

Kakyoin tomou um longo gole do chá. Ainda estava quente, mas não a ponto de queimar sua língua ou algo do tipo. Uma temperatura boa. E, então, ele olhou longamente para as estrelas, até finalmente responder.

“Na minha casa. Nos meus pais, no meu cachorro. E no DIO.”

“Tu pensa no DIO? Ele te recrutou ou o quê? Sabe, eu não lembro se eu já conhecia algum desses caras que o DIO botou do lado dele...”

Kakyoin tirou o cabelo da testa da frente da cicatriz de sua semente de carne, para que ela ficasse visível. A luz no ambiente não era grande coisa, mas a cicatriz foi vista.

Polnareff parecia um tanto triste, à visão dela. Talvez ele estivesse, internamente, se dando um sermão. Não que fosse culpa dele não saber; ele não tinha visto a remoção da semente de carne, como os outros viram. E, de novo, ele era o último a saber.

“Ah. Entendi”, ele disse, a voz anormalmente baixa. “Desculpa. Eu não sabia.”

“Tá tudo bem”, Kakyoin o confortou.

Polnareff sabia que não devia ficar perguntando, mas ele era... muito enxerido. Kakyoin, de qualquer maneira, já esperava a pergunta.

 

“Ele... ele te prometeu alguma coisa? Tô perguntando porque, cê sabe, ele disse que ia atrás do J. Geil pra mim se eu ajudasse ele...”

“...Amizade.”

”Peraí, QUÊ?”

Kakyoin suspirou com o julgamento, e se virou para Polnareff com um olhar que oscilava entre o raivoso e o entristecido.

“Eu tava muito sozinho. OK? Eu era um adolescente imbecil e sozinho. Eu já tenho meu auto-ódio e meus julgamentos sobre essa minha decisão desesperada. Eu não preciso ouvir um ‘peraí, quê’ de você.”

Passou mesmo voando pela cabeça de Polnareff, a possibilidade de Kakyoin ser um sozinho no mundo. Mesmo quando ele disse “não precisa”, em resposta aos outros dizendo que ele deveria ligar para seus pais (era surpreendente ouvir que ele sentia saudades de casa depois dessa, mas o choque de ver DIO mencionado como uma preocupação era mais forte). Mesmo quando, embora todos aqueles homens se amassem como um grupo de amigos, Kakyoin era quem parecia ser o mais protetor e amável.

Puta merda, ele não tem mais ninguém!

Não que Polnareff tivesse. Mas esse francês falastrão não passou a vida inteira só perambulando pelo mundo, sozinho. Ele sabia o que era a sensação de ser amado. E, mais importante, ele era um ser social. Se dava com todo mundo. Teve lá suas namoradas, e tudo.

Esse moleque? Essa porra dessa criança? Ele tinha acabado de dizer a Polnareff que tinha se colocado em uma situação vulnerável e simplesmente manipuladora porque ele queria um amigo. Não por dinheiro, não por vingança, não por fama. Ele só queria, de verdade, alguém que pudesse chamar de amigo. (E, Jesus Cristo, Polnareff se sentia muito grato porque esse pivete conseguiu achar gente melhor.)

E isso tudo fez o francês sentir duas coisas, antes de mais nada: um sentimento genuíno de tristeza pela situação de Kakyoin, e um instinto esmagador de irmão mais velho. Ele não ligava se o ruivo tivesse objeções ao que ele estava prestes a fazer. Ele simplesmente sentia a necessidade primal de fazer aquilo.

E “aquilo” era largar a xícara de chá e dar um abraço apertado, quentinho e cheio de lágrimas naquela criança. Kakyoin não protestou. Mesmo que ele tivesse seus acessos de raiva pela estupidez de Polnareff de vez em quando, ele via um amigo naquele grandalhão francês que tinha uns neurônios faltando aqui e ali. Ele realmente via. E, de verdade, a ideia de sentir o amor fraternal de um amigo tinha sido o sonho dele por mais tempo que ele queria que tivesse sido. E ele abraçou Polnareff de volta.

“ME DESCULPA!”, um Polnareff lacrimejante gritou, não se importando com esconder as lágrimas. “Eu... eu não quis te julgar!”

“Tá tudo bem. Eu nunca contei isso pra ninguém, mesmo. Nem os outros sabem. Eu não ligo se você sair contando. Não importa mais, não quando eu posso chamar todos vocês de meus amigos.”

Kakyoin sorriu. Um sorriso suave e genuíno.

Aquele abraço estava apertado demais, mas ele não ousava reclamar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí?

Tenho headcanon de que o Kakyoin tem um cachorro, e o nome dele é Tamura, em homenagem a um ator que ele gosta canonicamente. O motivo é simples: porque eu quis. Nóis.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Settle" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.