Até os Ossos escrita por Otsu Miyamoto


Capítulo 1
Único




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— Você não está atrasado? – Naruto disse para um Sasuke que fingia estar interessado em alguma coisa no seu celular – E o trabalho com a Hina-chan?

Sasuke bufou. Estava sentado naquele balcão há uns quinze minutos apenas perdendo tempo. Enquanto Naruto fazia seu trabalho de auxiliar da biblioteca, relacionando alguns livros devolvidos, antes dela abrir para os alunos da tarde.

— Hm... – O moreno murmurou. Não estava nenhum pouco com pressa de ver Hinata. Ultimamente, a morena vinha lhe sendo um belo problema.

Estavam trabalhando juntos em um projeto. Antes disso, eles apenas se esbarravam na sala, mas graças à professora Kurenai ter escolhido, por vontade própria, as duplas, Sasuke e Hinata vinham se encontrando, pelo menos, três vezes por semana, todas as semanas, há quatro meses.

Mas, isso estava acabando. Ele só precisava aguentar um pouco mais, já que o projeto está sendo finalizado. Era a ultima visita a casa da jovem, para então Sasuke ser livre...

É tudo o que ele quer, ser livre da morena que lhe roubava os pensamentos.

— Teme, não é certo deixar a Hina-chan esperando. Sabe que ela é extremamente pontual... ‘tô certo! – Disse o loiro, emburrando a expressão antes de completar – Se bem que, você também é pontual. O que é, está fazendo birra?

— Eu não faço birra – Rebateu.

— E eu não sou loiro – Riu do olhar mortal que recebeu – Por que está dando um chá de cadeira nela, esses dias? Ela vai acabar irritada com você.

— Nem se eu quisesse, a irritaria... Aquela garota está tentando ganhar o Nobel da paz – disse azedo, com sua tranquilidade habitual.

— Como é? – Naruto parecia mesmo confuso.

— Não importa o que aconteça, ela está sempre sorrindo. Sempre falando manso, parece que nunca se estressa... Eu não confio em gente assim não, ela consegue ser mais passiva que eu... É irritante demais.

Aquela morena podia até ser a personificação da tranquilidade, mas era um tormento para o Sasuke. Embora ele não conseguisse entender por que.

Naruto gargalhou.

— Qual é a graça?

— Achei que você gostasse dessas coisas, Sasuke... Principalmente em uma garota, já que a maioria das meninas que te persegue ou é escandalosa, ou é inconveniente... Ou os dois... – Ainda sorria.

— Eu gosto... – Sabia que estava sendo contraditório, porem era difícil explicar – Sei lá, achei que gostasse... Ela é diferente...

— Explique-se... – Após alguns momentos de silêncio, Naruto, que até então permanecia fazendo anotações, parou o que estava fazendo para fitar o amigo  – Então?

— Acho que toda a paciência dela é muito forçada, toda sua gentileza, suas expressões... Não é possível existir alguém assim. Tão... Tão... – Não conseguiu continuar.

— Tão doce? Linda? Sublime? – Naruto jogou, recebendo desdém de volta – Sasuke, você está me dizendo que gosta dessas qualidades, mas não gosta dessas qualidades na Hina-chan, especificamente. É isso?  

— Não é que eu não goste... – Pensou por um momento, sendo mais convicto – É, eu não gosto dela... É isso.

— Mas a Hina-chan sempre foi assim, cara.

— Nunca precisei conviver com ela antes.

— E é porque você não gosta da Hina-chan que você fala tanto dela? – Naruto provocou.

— Eu não falo tanto dela...

— Com certeza fala, Sasuke. Sou eu que escuto. – Naruto sorriu voltando as anotações. Faltavam apenas dois livros.

— Ela me irrita... É isso – Soltou apenas.

— Hina-chan te irrita porque ela é pacifica demais?

— Eu só não gosto da pose perfeita dela, Naruto.

— Então, Hina-chan te irrita porque ela é perfeita? – Terminou o que estava fazendo e voltou-se totalmente para o amigo.

— Dá para você parar de dizer “Hina-chan”?

— Por quê?

— Por que eu não gosto.

— Por quê?

— Quer brigar comigo mesmo Naruto? – Falou alterado.

— De maneira nenhuma... Só que pra mim parece outra coisa – Naruto sugeriu com a voz arrastada.

— E mesmo? E o que parece, dobe?

— Que você gosta dela e por alguma razão incompreensível não quer admitir.

— Você prestou alguma atenção em mim nos últimos minutos? – Sasuke refutou.

— Nos últimos minutos, nos últimos dias, nos últimos meses... – Debochou – Sasuke, eu sou lerdo, mas até eu percebo algumas coisas.

— Quer saber, já estou indo – Levantou. Ele sempre ia para lá, quando Naruto estava de plantão na biblioteca, para lhe fazer companhia, não para se estressar. Ele nem sabia por que se dava o trabalho de ainda ir até lá com ele. Naruto também o irritava.

— Foge mesmo – Sorriu vitorioso – Você pode negar o quanto quiser teme, mas vai por mim, você gosta dela.

— Eu já disse que não. Ela... Olha, você tem razão, ela perfeita demais... É isso que me irrita – Completou, mas tudo que Naruto fez foi rir.

O loiro percebeu que Sasuke era incapaz de formular uma frase objetiva. Tudo o que ele sabia dizer era que ela o irritava. Era tão obvio, que se pressionasse um pouco mais...

— Muito bem, o primeiro passo é admitir. Agora vamos lá... Perfeita como? – Jogou lenha.

— Naruto, chega... – Colocou a mochila nas costas.

— Isso é medo, Sasuke? – Alfinetou.

— Só estou dizendo que ela é certinha demais, Naruto. Você me entendeu – Disse ríspido.

— Entendi Sasuke, mas como? – Insistiu.

— Como o que? O que você quer de mim?

— Que você fale! Anda, certinha como?

— Você é insuportável sabia? – Falou alto.

— Você não sabe a resposta ou só é difícil de responder? Estou tentando entender... – Naruto precisou conter a risada quando Sasuke o fitou com raiva crescente nos olhos.

— Chega! É o jeito como ela anda, sempre ereta. O empenho em tudo o que faz. Nunca atravessa fora da faixa, pede desculpas até pelo que não fez. Só come coisas saudáveis. Pega todos os papeis que oferecem na rua porque não quer ignorar as pessoas. O cabelo sempre bem alinhado, e aqueles olhos que parecem ver tudo. O jeito como ela olha pra mim. O jeito como ela fica corada. O jeito como ela fala. A voz doce, a pele, o sorriso... - Sasuke bufa com a lembrança dela e então fita o amigo, quase ofegante. Naruto parecia totalmente entretido, como se ele estivesse narrando uma descoberta científica.

     O imbecil fez de propósito e ele caiu como um patinho.

     Naruto abriu um enorme sorriso travesso e incentivou:

— Vai, continua...

— Vai se ferrar, dobe, e me deixa em paz.

— O que eu fiz? Estava aqui todo interessado em ouvir como você não gosta dela – Sorriu quando o amigo jogou um livro, que estava solto da bancada, em sua direção, caminhando para a saída – Ei, cuidado com os livros, teme. Não fica bravo comigo não, você que estava se entregando agorinha mesmo, eu não fiz nada.

— Você também me irrita, Naruto – O moreno disse alto.

— Exato, mas você continua vindo aqui, não é? – Debochou.

— Fui! – Saiu, sem nem olhar para traz. Colocou seus fones de ouvido enquanto descia as escadas até o pátio e caminhou para fora da escola. Apertou play, sem nem olhar o que tocaria.

 

Você traz uma energia que eu nunca havia sentido

Algum tipo de química que atravessa meu núcleo

Parece que, sobre você e eu, eu nunca tive uma escolha

Você parece meu lar

     

Aquele imbecil...

Ele foi à biblioteca matar o tempo, não receber aconselhamento... O problema era justamente não gostar da Hinata... Não gostar!

 

Você é como o oposto de todos os meus erros

Derruba as maiores paredes e me coloca no meu lugar

Eu sei, esse tipo de conforto você não pode replicar

Você parece meu lar

 

Sasuke respirou fundo. Estava acabando. Era só mais este dia e terminariam.

Pela ultima vez desceria essa ladeira. Pela ultima vez, iria até o terceiro ponto daquela rua, onde sempre se encontrava com Hinata.

Pela ultima vez pegariam o ônibus até a casa dela.

Só mais esta vez ele teria que ouvir suas mesuras na casa dela, tentando fazer com que ele ficasse a vontade.

Só mais essa vez ele precisaria olhar naqueles olhos claros... Só mais essa vez ele a teria perto... Só mais essa vez ele teria que se controlar perto dela.

Só mais essa vez...

 

Tantas pessoas simplesmente entram e saem da sua vida

Eu trocaria algumas centenas só para ter algum tempo de volta, isso mesmo

Porque para você e eu, eu não tenho álibi

Você parece meu lar, oh

 

Acertariam os detalhes finais do projeto, entregariam e... Fim. Voltaria a sua realidade sem ela. Teria sua paz, sua rotina, seus pensamentos de volta.

Era tudo o que ele queria... Voltar à normalidade, sem ela.

Só isso... Mais nada.

Repetia isso continuamente, como se precisasse se convencer.

Já no fim da ladeira, a avistou de longe. Estava sentada em um banco de ônibus, lendo um livro, totalmente tranquila. Totalmente linda...

O pensamento involuntário fez o coração do rapaz disparar. Foi quando Hinata levantou o olhar e o viu, sorriu pondo-se de pé em um pulo. E permaneceu assim, fitando-o enquanto ele se aproximava.

E a cada passo que ele dava mais suas mãos tremiam.

 

Então, se você está me perguntando

Dizendo: Oh, como você sabe?

Eu não sinto apenas no meu coração

Não sinto apenas no meu coração, não

 

“Estava aqui todo interessado em ouvir como você não gosta dela”, a frase voltou a sua mente e neste momento ele soube que era tarde demais.

 

Eu sinto isso nos meus ossos.

 

— Oi Sasuke. Com você está?

— Bem... – falou baixo, tirando os fones e colocando no bolso. Sem desviar o olhar dela, em momento algum. A morena corou e não sustentou o olhar, passando a obervar os carros que passavam – Me desculpe, eu estou atrasado.

— Ah, imagina tudo bem – Ela voltou a olhá-lo com aquele maldito sorriso perfeito – Eu sempre chego antes do horário de qualquer jeito... – Em outros dias passados, Sasuke teria rido internamente vendo-a assumir uma responsabilidade que não era dela, de novo. Mas não hoje – Sem contar que eu estava lendo, então... Tudo bem... – falou baixo, colocando o livro de volta em sua bolsa lateral.

Sasuke permaneceu olhando-a sem reservas. Cada movimento, cada expressão em seu rosto, cada detalhe dela...

Tarde demais... Não importava se era a ultima vez que faziam o trabalho juntos, ele não estaria livre dela depois disso... Não importa mais o quanto ele tentou evitar. O quanto ele fingiu não gostar...

Ela já estava impregnada até os ossos.

— Tarde demais... – Acabou falando alto e observou Hinata o fitar alarmada.

— Não, é serio. Tudo bem... Foram só alguns minutos e... – Para surpresa de ambos, Sasuke a beijou.

Sem que ele mesmo percebesse, havia se inclinado sobre ela e tocado seus lábios de maneira firme. O toque o agradou tanto que não quis parar. Fechou os olhos, passando uma mão por sua cintura, trazendo-a para mais perto. Ele percebeu que ela se surpreendeu, mas não resistiu, então apenas continuou.

Permitiu-se deixar levar naquele momento, aproveitando cada sensação que aqueles lábios, tão perfeitos quanto ela era em tudo, lhe transmitiam.

 A vontade de tê-la era tão grande que mal conseguia assimilar. Não sabia quanto tempo vinha reprimindo toda essa vontade, mas não importava mais. Estava liberando-a toda de uma vez, neste beijo. Beijo que Hinata não só passou a corresponder, como a incentivar.

Ela até podia ser a personificação da paz, mas aquele beijo estava fazendo um inferno na cabeça de dele.

Assim que ele se afastou, sem fôlego, não pode evitar que o pensamento de que foi um erro passasse por sua mente. Porém, antes que ele pudesse racionalizar qualquer coisa, a visão de Hinata, ainda tão perto, ofegante, corada e surpresa, o desmontou.

“Você pode negar o quanto quiser teme, mas vai por mim, você gosta dela”, a voz estridente de Naruto ecoou em seus pensamentos, chocando-se com sua teimosia.

— Naruto, eu quero muito te bater agora – As palavras novamente saíram antes que percebesse. Um vinco de duvida formou-se na testa da morena.

— Naruto? O qu... – Hinata não teve a chance de completar, pois Sasuke cortou-a com mais beijo.

Sasuke pousou as duas mãos no rosto dela e a trouxe para si, enquanto se permitia parar de brigar com o que sentia.

Na verdade, agora que desfrutava daqueles lábios, não conseguia entender o motivo de resistir tanto antes.

Pelo visto, nada do que ele havia previamente decidido em relação aquela morena, seria pela ultima vez. Exceto, talvez, pelo seu controle perto dela. 

 

E eu sei quando isso corta profundamente

Através do seu peito até sua alma

É assim que você sabe, é assim que eu sei

 

Eu sinto isso nos meus ossos


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Notas finais do capítulo

OneRepublic - Bones



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