Eram quase 17h quando os membros do UVERworld se reuniram do lado de fora do estúdio. O show seria ás 22h, e precisavam se deslocar de ônibus para chegarem no local da apresentação. Estava praticamente tudo pronto; instrumentos e outras bagagens postas no interior do veículo, assim como parte do staff e alguns dos rapazes. Tudo o que estavam esperando para partirem era que o vocalista e o baixista parassem de brigar e entrassem dentro do veículo.

— Quantos baixos você vai levar, Nobuto? — gritou Takuya, botando as mãos sobre a cabeça.

— Quatorze, e o contrabaixo acústico — respondeu com desdém. Virou-se para voltar ao estúdio para pegar o resto dos instrumentos, mas foi impedido por um puxão forte em seu braço. — Que foi agora?

— Você não precisa disso tudo, caramba! — Takuya tornou a gritar, já sem paciência. Soltou o braço do companheiro de banda e apontou pro ônibus. — Vamos chegar atrasados. E lá no Tokyo Zepp tem tudo o que a gente precisa. Já tem três baixos lá dentro do ônibus, Nobu-chin. Vamo embora!

— Cala boca, chibi — resmungou, passando os dedos entre os fios azuis de seus cabelos. — Eu preciso de todos. Como tocar “Arubeki Katachi” sem o contrabaixo acústico? E ainda tem o da music man pra “PLOT”, além do meu azul...

E eles continuaram a perder tempo naquela discussão. Recostado no ônibus, alguns dos outros membros conversavam sobre aquela cena.

— Não é melhor alguém ir lá? — perguntou Seika, o saxofonista. — Sabe, só pra evitar que o Takuya mate ele.

— Seria perder ainda mais tempo, Sei-chan — respondeu Shintaro, sorrindo. — É melhor esperar. Eles sempre se resolvem.

Nobuto e Takuya sempre arranjavam algum motivo para discutirem, e sempre era por causa de coisa pequena. Durante as gravações, antes e depois dos shows, nos momentos livres, ensaios... O resto do grupo já estava mais do que acostumado com essas briguinhas imbecis, por isso não ficavam irritados ou preocupados. Eles eram amigos desde crianças, e eram muito próximos. Talvez por conta disso fosse mais fácil eles entrarem em conflito. A relação deles era como a de irmãos, só que um pouquinho diferente...

— Já terminaram? — Katsuya desceu do ônibus e esticou o pescoço para olhar Nobuto e Takuya. Eles gritavam e apontavam o dedo um para o outro, e parecia que iam cair na porrada a qualquer momento.

— Desiste, Ka-chan. — Shintarou suspirou e olhou para o amigo guitarrista. — Isso ainda vai demorar.

De volta a porta do estúdio, os dois companheiros  prolongavam sua discussão sem sentido.

— Tá falando que eu levo muita bagagem? — Nobuto fez cara de ofendido. — E aquelas três malas vermelhas lá no ônibus, ein? São de quem?

— São só roupas extras, seu animal! — O vocalista revirou os olhos. — Não compare isso com aquele trambolho de contrabaixo que você quer levar.

— Cansei! Você é muito chato, Takuya! — exclamou o baixista, caminhando em direção ao ônibus em seguida. Parou em frente a Shintaro com os olhos cheios de raiva e o cenho fechado. — Cadê o Akira?

— Lá dentro, dormindo — respondeu o baterista, indicando o local com o polegar.

— Olha lá, só sabe dormir esse aí!

— Não fala assim dele! — Takuya estava atrás de Nobuto, com o cenho tão fechado quanto o do baixista.

— Defende não. Ele é assim porque você mima ele demais. — Nobuto abaixou o tom de voz e desviou o olhar. Cruzou os braços fortes e bateu o pé no chão.

— Ciumento. — Takuya sorriu debochado.

— Nem vem com essa! — O baixista sentiu o rosto esquentar de leve. Estava irritado com muita coisa, mas não podia dar o luxo de transparecer o que sentia naquele momento. Virou o corpo para Shintaro e sorriu nervoso. — Cara, me ajuda com os baixos? Vai ser mais rápido com alguém forte como você ajudando.

Takuya torceu o nariz, e Katsuya começou a rir alto. Aqueles dois não tinham jeito. Mas fazer o que, era sempre assim.

— Olha, Nobu-chin, deixa que eu e o Seika pegamos ao menos o contrabaixo e o azul. — propôs Katsuya, sendo a voz da razão. — Enquanto isso, vocês fiquem no ônibus nos esperando, e tentando não brigar. Sei que vocês não querem acordar o Akira...

— Nem pensar. — Takuya e Nobuto falaram em uníssono. Se entreolharam e sorriram.

Alguns minutos depois, Seika e Katsuya já haviam guardado quase todos os instrumentos no ônibus. Traziam agora apenas o music man preto que Nobuto tanto gostava.

— Será que eles já se resolveram? — Seika puxou conversa, e recebeu de Katsuya apenas um sorriso de resposta.

Quando chegaram no veículo, viram Shintaro sentado ao lado de Akira, fazendo um cafuné em seus cabelos enquanto lia um livro. O guitarrista ainda dormia, e por isso tudo estava tão silencioso. Quando foram para os fundos, encontraram uma cena que parecia impossível de acontecer devido às circunstancias anteriores: Takuya e Nobuto sentados um ao lado do outro, com as mãos entrelaçadas, beijando-se ferozmente. Um segurava a gola da camisa do outro com a mão livre, enquanto atacavam os lábios. Seika se mostrou surpreso, mas Katsuya apenas ria.

— Não deveria estar com essa cara, Sei-chan. — O líder abraçou o saxofonista de lado e sorriu ainda mais largo. — É sempre assim mesmo.