Do Teu Toque escrita por Humberto Cotrim


Capítulo 1
Capítulo único — Afago


Notas iniciais do capítulo

Como havia dito, a carta que estrutura a história é a rainha de copas. Peguei referências sobre ela nesse site aqui (https://bit.ly/2JF7xDw) e utilizei na construção da personalidade de um personagem :) ou pelo menos era a intenção rs

Enfim, é isto. Boa leitura!



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Um sorriso sem jeito que atravessou duas mesas de bar foi o primeiro contato. Pronto. Estava feito. Depois veio um diálogo agradável. Um número trocado e, de repente, horas gastas com assuntos dos mais diversos, dos leves aos densos ou aleatórios.

Dois meses não é muito tempo para lidar com antigos relacionamentos. No entanto, Marcos se achava bem para estar com outra pessoa. No sentido mais restrito do verbo estar, é válido mencionar. Ele estava apto a conversar, sair e ter aquela pessoa na sua vida, mas só se ele não pensasse demais, porque caso contrário vida ganha um peso enorme e a taquicardia aparece, o fôlego some e de quebra surge uma agonia no estômago.

— Tu sabes que gosto de ti, né? — disse Túlio, tão repentinamente que fez Marcos se afogar com o café que tomava.

— Sei que você gosta de me constranger em público, isso sim — disse Marcos, sorrindo sem graça.

— Pois então, existe forma mais genuína de mostrar isso — riu. — Ou por que tu achas que a gente implicava com o coleguinha na sala de aula, na quinta série?

— Com essa idade eu não sabia nem amarrar meu cadarço, quanto mais flertar com o coleguinha. Além do mais essa é uma coisa muito complicada, se parar para analisar.

— Não, não. Não vamos analisar nada aqui — disse Túlio, acenando a cabeça e não deixando o assunto ir para um lado mais sério. — Mas assim, é verdade, viu? Gosto de ti. De verdade. Não pensa que é um pedido de casamento, não tô com a aliança escondida no meu bolso. Pode ficar calmo.

— Eu sei que não — disse Marcos, não deixando de transparecer seu desconforto. — Eu só não sei receber esse tipo de informação mesmo. Desculpa.

— Nem precisa, mas ó, vou te ensinar. Tu movimenta os lábios e a língua de forma que as palavras formadas sejam “Obrigado, fico feliz” — disse o rapaz, pausadamente para enfatizar o tom de brincadeira.

— Se eu dissesse isso, com certeza você ia ficar muito decepcionado.

— Como eu posso ficar decepcionado sabendo que tu fica feliz comigo?

— ‘Cê realmente é muito bobo — riu, sentindo todo seu rosto corar. — Eu também gosto de você.

— Ah há! Consegui — comemorou Túlio, levantando a mão no meio da cafeteria e recebendo uns olhares de soslaio.

— Então era tudo um plano pra conseguir uma declaração? Você é maquiavélico, menino Túlio.

— Sou, sim — riu e levou o croissant do prato a sua frente a boca. Ainda mastigando falou: — Agora falo sério. Tu tens que aprender a lidar com elogios. Nem parece que tu é leonino.

— Não quero entrar nesse mérito de signos, por favor. Não entendo nada. Só que leoninos não prestam. Arianos são odiados e escorpianos gostam de transar.

— Ah, prestam, sim. Arianos podem ser uns amores e, bem, quem não gosta de transar? Assexuais? Sim, mas né, só eles. — Túlio gesticulava com as mãos enquanto falava. — A questão é que tem gente que não sabe lidar com todo seu ego e postura.

— Você não pode dizer que leoninos não são ruins e depois dar exemplo de características ruins, moço. — Marcos realmente tinha ficado confuso, mas ria para não ser o chato da conversa.

— Bem, aí é uma questão de como se analisar as coisas. Porque, veja bem, se tu tá certo de algo e fala sobre isso, as pessoas podem achar arrogante, egocêntrico ou algo do gênero, mas tu não deixar de tá certo.

— É, verdade. O problema maior acaba sendo quando a pessoa não está certa.

— Eu acho que teu problema, na verdade, é não conseguir concordar com nada que eu digo — disse Túlio, semicerrando os olhos.

— Desculpa! Todo mundo me diz que eu sou o do contra, mas eu juro que não discordo por prazer. Não é discordar por descordar. — Marcos se perguntava se essa sua característica tinha começado a incomodar ou se Túlio estava brincando novamente.

— Relaxa, não fiquei ofendido. Quer dizer... Fiquei extremamente ofendido. Tem que me recompensar — disse, com um largo sorrido. — Mas como sou uma pessoa benevolente, vou deixar que tu decidas.

— Ah... Que tal...? Que tal uns beijos?

— Ótima sugestão. Posso aceitar isso.

— Então podemos ir pra minha casa — disse Marcos, tentando soar o mais galanteador barato que pôde.

Os rapazes acabaram seus cafés. Pagaram a conta e Túlio insistiu para levar um pedaço generoso de red velvet para mais tarde.

— Isso é para caso o almoço saia um desastre. Uma sobremesa gostosa sempre salva — disse o rapaz ao levantar a sacola com o bolo. — Se bem que tu que vai cozinhar, né? Difícil sair ruim.

— Não ponha tantas expectativas, eu não estou em um bom dia sempre — retrucou Marcos, mais que querendo evitar frustrações do que qualquer outra coisa.

— Ah, tu é muito chato. Aceita meu elogio, leonino.

— Desculpa de novo! Eu tô tentando melhorar, eu juro.

— Mas, espera... — Túlio assumiu um semblante confuso. — Tu não está em um bom dia? Eu posso ir pra casa, viu?

Marcos não pôde deixar de rir. A preocupação do rapaz foi tão genuína que pareceu uma criança descobrindo algo novo.

— Não foi o que quis dizer. Era na cozinha só, às vezes a mão não tá boa pra tempero, entende?

— Ah, ótimo. Então tá bom — disse Túlio lançando um sorriso. Depois apertou as mãos de Marcos e o puxou para a saída. — Nossa, que mão fria. Tu morreu e tá esperando o IML?

— Ah, tem partes de mim que são mais quentes, se você quiser experimentar. — Marcos ficou perplexo com a própria capacidade em gerar a frase, mas manteve a postura do flerte.

— Eu não sei se fico com medo, tesão ou vergonha, porque eu tenho quase certeza que a moça perto da saída te ouviu te dizer isso,

— Ai, não! Meu Deus, que vergonha. Eu sou muito besta. — O plano de Marcos em manter a pose fracassou.

— Tô zoando, não tinha ninguém ali, mas ainda tô impressionado em te ouvir falar uma coisa dessa, menino — disse Túlio, rindo.

— Tu é uma pessoa horrível. Já disse isso hoje?

— Hoje não, mas já disse que gostava de mim e que eu era maquiavélico, acho que essa última serve.

— Sim, acho que serve mesmo.

Os rapazes chegaram em casa. Um pequeno apartamento que Marcos dividia enquanto terminava os estudos, mas naquele fim de semana estaria vazio só para ele e Túlio.

— Tu podes me emprestar uma toalha? Queria tomar um banho — perguntou o rapaz para seu anfitrião.

— Posso, claro. Deixa só eu achar uma limpa. Não lavei roupas nesses últimos dias. — Marcos achou uma e a entregou para Túlio. Depois decidiu se deitar na cama e não percebeu quando pegou no sono.

Ao sair do banho, Túlio encontrou com Marcos deitado sobre a cama, agarrado a um travesseiro. Se aproximou em silêncio e tocou seus cabelos. Havia certo magnetismo no modo como Túlio bagunçava os cachos do outro rapaz. Então, desceu sua mão para seu pescoço e o jovem despertou com um leve sorriso. Decidiu beijar sua testa, a ponta de seu nariz e por último seus lábios. Um toque leve e macio que rapidamente virou um beijo mais intenso.

Túlio posou sua mão sobre a cintura de Marcos e a puxou para si, diminuindo ainda mais a distância entre os dois. Passou seus dedos para dentro da camisa e a levantou, como quem diz que o momento não precisa de muitas peças de roupa. Assim o fez. Ele próprio só estava de cueca e não queria ser o único a permanecer daquele jeito.

Os beijos eram longos. Apreciados pelos dois da mesma forma que o café de mais cedo. Em cada segundo e sem pressa de acabar. Então, Marcos parou por um momento, manteve distância suficiente para olhar para o outro rapaz e sorriu. Era sua forma de registrar o momento. De guardar para si toda a tranquilidade e segurança que dali emanava.

Marcos encontrou Túlio no meio do caos emocional, saindo de um relacionamento que terminou por motivos mais confusos que seus sentimentos. Não percebeu quando estava ligado ao jovem, mas percebeu que aquilo o fazia bem. O que bastava era receber seu toque manso e assim se manteve.


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