Queen of love and beauty escrita por Lillac


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem :)



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Aos nove anos, Sansa sonhava em ser rainha um dia, mas seus sonhos não mudavam o fato de a menina já sentia-se como uma princesa, em todos os sentidos possíveis. Winterfell era um castelo um tanto rústico, com suas pedras de granizo cinza e palhas acumuladas no pátio interno, frio e inexpugnável, sim, mas, quando ela estava passeando pelos corredores, com um braço enlaçado no do senhor seu pai, direcionando olhadelas discretas para onde o mestre de armas treinava os meninos, Sansa podia fechar os olhos e imaginar-se em um grande torneio, com cavaleiros esbeltos em seus corcéis brancos e lanças que refletiam a luz do sol, o aroma do vinho e das flores, o resfolegar dos bobos e das meninas da corte e o som de um harpista com voz de mel no fundo, lhe cantando sobre o Príncipe Aemon...

E, claro, Sansa também tinha seus príncipes ali. Eram meninos, ainda, bamboleando em torno de espadas de madeira com suas vestes de verde brilhante e calças pomposas, caindo por cima uns dos outros e rindo. Quando Lorde Eddard estava ocupado demais para passear com ela, Sansa ficava na murada do mezanino de Winterfell, observando-os sendo puxados pelas orelhas por Sor Rodrik, que lhes espetava com as pontas das espadas de madeira e dizia-lhes, naquela voz robusta, com as suíças, na época ainda grisalhas, balançando: de novo Robb! Levante-se!

Robb era seu príncipe favorito, e irmão favorito também, ela supunha, embora a senhora sua mãe insistisse que não chamasse Jon de irmão na sua frente, e Arya fosse nova demais para apresentar qualquer competição. Mas mesmo que não fossem, Sansa duvidava que gostaria mais deles do que gostava de Robb. Toda vez que brincavam de alguma coisa, quando ela era uma donzela presa em uma torre por um terrível rei cruel, Robb surgia para salvá-la, todo cachos cor de fogo e a bravura que um menino de 12 anos podia ter. Nessas histórias, Jon quase sempre era o monstro, silencioso e assertivo, que surgia das sombras para arremessar Robb ao chão e manter Sansa presa em seu horrível castelo, sua cabeleira negra caindo-lhe sobre o rosto e criando sombras nos seus olhos cinzentos. Às vezes, no entanto, eles trocavam, e Sansa saía de cima do seu banco pendurada nas costas do meio-irmão, enquanto Rob fingia-se de morto no chão. Na maior parte das vezes continuava sendo ele, Robb, quem a rodopiava do no ar uma vez antes de pegá-las nos braços e sair carregando a irmã para onde a senhora mãe deles os aguardava com um sorriso amável.

A medida que os anos passavam, eles brincavam cada vez menos. Robb precisava passar mais tempo com o Meistre Luwin, aprendendo sobre lordes e castelos e baías e cada vez mais com Rodrik e as suas espadas que já não eram de madeira. Jon também ia com ele, e então ficava Sansa, com Beth, Jeyne e a pequena Arya que nunca parava de espernear nos seus braços.

Antes, todavia, havia Theon Greyjoy. Dos cabelos cor de cobre e sorrisinho de canto, que seguia Robb para todos os cantos e sempre olhava engraçado para ela. Theon, que gostava de chamar Jon de bastardo e de ficar atirando flechas nos alvos até altas horas da madrugada.

Theon havia sido seu príncipe, uma única desastrosa vez. Mas tivera o infortúnio de encontrar a torre da princesa protegida por dois temíveis monstros, que o colocaram no chão em pouco tempo. O protegido de Lorde Stark ficara um pouco violento demais com a derrota do que Sansa esperaria de um príncipe, e, quando ele a carregou do banco, colocou-a no chão tão rápido que ela achou que fosse derrubá-la. Sansa nunca mais quisera Theon como príncipe, ele não insistira, e, a partir de então, o menino ficava em um canto com seu arco e suas flechas e seus cachos que lhe lembravam os tentáculos de uma lula gigante. Mas sorrindo. Sempre sorrindo. Como se ele soubesse uma piada para a qual o resto do mundo era ignorante.

Aos dez anos, eles trocaram torres e monstros por torneios. Arya, aos oito, nunca se calava sobre o grande torneio de Hanrenhal, e, como era a única coisa que tinham em comum, Sansa sentava-se com ela e lhe contava sobre os galantes herdeiros, as donzelas e as promessas, enquanto Arya lhe perguntava sobre lanças, espadas e armaduras.

Robb apareceu certo dia, com uma lança de madeira, e as coisas mudaram desde então. Sansa distribuiu dádivas, fez os jovens cavalariços ruborizarem e retirou suspiros... e, mesmo assim, só foi coroada uma única vez.

Após um de seus torneios, Beth cutucou-a com o ombro e Sansa percebeu que estava emburrada.

“O que foi?” a filha do castelão perguntou.

“É que...” Sansa retorceu as mãos sobre o colo. “Você e a Jeyne sempre são as rainhas de amor e da beleza dos meus irmãos... eu só fui coroada uma vez”.

Jeyne abriu a boca para dizer algo, mas a voz risonha de Theon se interpôs: “Eu posso ser o seu campeão”.

“Você?” Sansa o olhou, surpresa.

“Não ouviu? E digo mais” o menino se debruçou sobre a cerca atrás dela “eu vou vencer dos seus irmãos, e aí você vai ser a minha rainha do amor e da beleza, que tal?”.

Tudo foi organizado para uma semana depois. E lá estavam Robb, Jon, a pequena Arya e o ainda menor Bran, e até mesmo a Senhora Catelyn, com o bebezinho de colo, Rickon. Lorde Eddard observava tudo com um pequeno sorriso nos lábios finos, ao lado de Sor Rodrik, que tocou uma pequena corneta para anunciar o começo do tão esperado torneio de três pequenos cavaleiros sem cavalos no pátio ocupado por cavalariços, cozinheiros e o Meistre Luwin.

Jon foi uma batalha difícil. Sem montaria, Robb avançou contra ele e espetou-lhe na barriga coberta de um acolchoado de pele de coelho, mas o menino resistiu, empurrando o meio-irmão de volta. Bran gritava e se agitava com cada golpe, e Arya quase não piscava, mas Sansa estava dividida entre torcer pelo irmão e desviar o olhar. Por fim, Robb saiu vitorioso, estendendo uma mão para Jon levantar ao final. O menino veio para o lado dela, abraçando o dorso com uma expressão aborrecida. “Robb vai ser um grande cavaleiro um dia”.

Beth lhe disse algo como “Você também vai ser”, mas Jon pareceu não ouvi-la.

Do outro lado do estrado, Theon se preparava com a sua lança de madeira. Talvez ele tenha uma chance, Sansa pensou, Robb está cansado. Mas não cansado o suficiente. Eles avançaram um contra o outro, e houveram grunhidos e resmungos, mais pontapés do que golpes de lança, mas, por fim, Robb o empurrou com tanta força pelos ombros que Theon caiu de bunda no chão.

Meu galante cavaleiro. Mas estou falando dele ou de Robb?

Sansa pensou ver Jon, seu sempre austero meio-irmão, reprimir uma risadinha. Arya muito a contragosto foi obrigada a entregar a coroa de flores lilases e azuis para Robb, que colocou-a na ponta da estaca e caminhou, surpreendentemente, até a irmã. Sansa quase sentiu os olhos inundando de lágrimas quando Robb a colocou sobre os seus cabelos ruivos, mesmo que irmão houvesse dado uma olhadinha de desculpas para Jeyne, ao seu lado.

Houveram aplausos, pelo Sor Robb e a Lady Sansa, Rainha de amor e da beleza, e a senhora Catelyn afagou ambos os seus cabelos quando tudo terminou. Arya saiu puxando os irmãos pelas mangas da veste, pedindo detalhes sobre golpes e esquivas, Bran logo atrás, e Beth e Jeyne sumiram para dentro do castelo.

Sansa caminhou até o seu cavaleiro caído e colocou a coroa de flores no seu colo. Theon torceu a boca, irritado. “Não sou uma garotinha, não quero suas flores”.

Mas ela pegou as mãos dele nas dela e o forçou a fechar os dedos em torno do arco. “Não são para você. São minhas”.

“Eu sei que são. Robb as ganhou-” só então ele pareceu vê-la, com a cabeça inclinada e o olhar em expectativa. Seus dedos flexionaram e tensionaram sobre os dela, e ele limpou a garganta sorrindo. Sempre sorrindo.

Não haviam muitos para vê-los ali, enquanto Theon lhe coroava pela segunda vez, com os olhos grudados no rosto vermelho dela e as mãos trêmulas. “Não pense que isso te livra da responsabilidade”.

“Que responsabilidade?”.

“De ser meu campeão, um dia”. Ela levantou-se, limpando as saias do vestido.

Theon sorriu. “Lady Sansa” disse, e ela reconheceu pelo menos uma pontinha daquele tom arrogante que ela tão ardentemente detestava, mas que lhe parecia apropriado ali. “Se for do seu agrado, eu ganharei uma noventa e nove dias de torneios para você um dia”.

“Noventa e nove torneios” ela disse. “E, de quantos jardins eu precisarei para todas essas flores?”.

“Talvez a resposta venha no centésimo”.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, comentários são sempre apreciados :)



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