“Nenhum lugar para correr de todo esse estrago

                Nenhum lugar para se esconder de toda essa loucura”

Meu corpo parecia uma imensidão de ossos e carne moles demais para poderem me ajudar a levantar, minha cabeça parecia uma enorme roda gigante que não parava de rodar por um minuto e a minha visão que eu tanto prezava estava resolvendo falhar... Mas como um soco no estômago, as memórias vieram como uma intrusa prestes a me desarmar, senti que apenas uma lágrima escorria de meu olho, como se meu corpo já tivesse esgotado demais para isso e então aquelas palavras martelavam em minha mente.

— Por que está fazendo isso Nick? – Eu dizia aos berros, meus olhos já estavam vermelhos de tanto chorar –Você é a porra do meu melhor amigo ....

Limpei a única lágrima que caiu de meu olho e tentei me recompor, não queria ficar relembrando isso agora, na verdade eu nem tinha forças pra isso.

Não queria ver ninguém, nem mesmo meus pais, não estava em uma situação que seria uma companhia agradável, podia sentir em meu âmago que eu seria tão amarga quanto um chá sem açúcar, mas pra minha infelicidade eu não teria o prazer de ficar sozinha. Meu primo James surgiu na porta do meu quarto, sua expressão era a que mais me assustava, em todos meus anos nunca tinha visto James Tiago Potter tão assustado.

Ele não disse nada, apenas se aproximou lentamente da minha cama, passando seus braços delicadamente sobre meu corpo, como se a qualquer momento eu fosse estilhaçar... Mas não poderia reclamar, aquele abraço era talvez tudo que precisava no momento e então eu deixei os muros caírem, deixei o caos transparecer perante meus olhos, as lágrimas vieram com tanta força que sabia que sua blusa ficaria molhada.

Fazia uma semana que eu tinha finalmente tido alta do hospital, mas as sensações não tinham sumido como achei que fosse sumir, na verdade elas se intensificavam diariamente me deixando a mercê da loucura... talvez eu realmente estivesse ficando louca. Mas não aguentava ficar em casa, precisava ocupar minha cabeça e foi com muito esforço que consegui convencer minha super protetora mãe a deixar eu voltar a estudar, mas ela não queria que eu voltasse a Beauxbatons, então ela me revelou que já tinha conversando com a diretora de Hogwarts para eu poder estudar por lá.

Quando eu ouvi aquelas palavras “Minha querida, você vai estudar em Hogwarts, pode arrumar suas coisas, mas me prometa que vai me escrever sempre”, eu não pensei duas vezes e a abracei tão forte e sai correndo para tomar um banho.

A euforia tinha tomado conta de meu corpo e pela primeira vez naqueles dias eu tinha sentido algo que não fosse beirado a sentimentos péssimos, estava tão distraída que tinha até esquecido que ainda tinha algumas feridas abertas que a água quente fizera com que eu retomasse a realidade me lembrando através da ardência. Não queria, como eu não queria chorar e nem sentir tudo aquilo novamente, mas esse sentimento me invadia como um usurpador prestes a me dilacerar e antes que eu pudesse me dar contar as lagrimas já enfeitavam minha face.