1962 escrita por Robert Judd


Capítulo 1
Capítulo Único




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Acordei cedo, mesmo quando não precisava, estava acostumado, quis me levantar e rapidamente tomar um banho gelado, outro costume que adquiri quando estava na marinha. Olhei no relógio ao lado da minha cama em cima do criado mudo e marcavam exatamente cinco e meia da manhã, eu sorri de canto, pois me lembrei do quão é gracioso acordar por conta própria do que impulsionado como acontecia lá.

Depois de tomar banho, me vesti confortavelmente com um moletom e fui à padaria comprar pão, não era muito longe da minha casa, então deixei a água esquentando na cozinha para quando voltar já preparar o café.

Assim que voltei, a água já estava fervendo, coloquei a sacola com pães ainda quentinhos em cima da mesa e rapidamente fui terminar de fazer meu café. Quando pronto, me sentei à mesa e tomei meu café da manhã enquanto lia o jornal que um garoto, que me lembrou muito meu neto quando mais novo, o deixou em minha porta.

Sempre costumava dizer "amanhã, depois, semana que vem", mas hoje eu percebo o quão o tempo de verdade passa rapidamente, juventude, momentos, paixões, tudo isso deve ser aproveitado como se não houvesse amanhã, pois de fato o próximo segundo não existe e quando passa a existir é tão rápido que se torna passado na mesma velocidade que se aproxima. Olho no relógio de parede na sala que marca duas e quarenta e cinco da tarde, percebi o quão o papel de parede está desgastado, "preciso trocar antes do natal" pensei, quando meus netos e minha filha vem comemorar comigo. Hora do meu remédio, estava cansado de tomá-los, pra falar a verdade.

Uns quatro meses atrás descobri um câncer na próstata em estágio avançado, não poderiam fazer muito, o que praticamente só me resta esperar o meu fim chegar, disse pra mim mesmo que não iria perder tempo tentando lutar contra algo que já estava decidido a me vencer, quimioterapias só iriam piorar meus últimos dias na Terra, eu precisava ao menos ter um fim sem obrigações.

A noite chegou e eu estava me sentindo nostálgico, tanto que decidi ir ao mesmo bar que frequentava quando tinha folgas na marinha para beber uns martínis, mesmo que dessa vez eu esteja indo em uma condição diferente de antes: sozinho, velho e doente.

Me ajeitei e me arrumei como se estivesse indo encontrar alguém, ainda no fundo com aquele espírito jovem como antes, caminhei até a garagem e entrei em meu opel rekord 66 de cor azul, ainda que muito desgastado agora por conta da doença que me impediu de cuidar como costumava fazer, eu ainda sigo o amando e é ele que ainda me leva pra muitos lugares.

Cheguei no bar, estava bem mais moderno só que as poltronas e bancadas seguiam no mesmo lugar de antes, uma explosão de lembranças me fizeram viajar no tempo, rapidamente fui me sentar e pedir meu martíni. Enquanto esperava o barman me servir, alguém na jukebox selecionou uma música, mas não era qualquer música, era Working My Way Back to You do The Four Seasons, a música que marcou boa parte da minha história e eu não pude deixar de me virar para ver quem havia escolhido, foi quando pra completar esse dia nostálgico, quem estava deixando a JukeBox e vindo em direção ao bar era ele, aquele rosto conhecido do qual jamais iria me esquecer, mesmo na velhice, mesmo com marcas da idade seguia o mesmo...

Meu coração parecia que iria explodir, cheguei a pensar por um momento que iria infartar, não conseguia terminar de engolir o martíni que havia acabado de colocar na boca e então o assisti caminhar, ele se aproximou e se sentou ao meu lado, mas não pareceu me reconhecer, até que me surpreendi quando ele pediu seu martíni e então falou comigo:

— Eu também fiquei surpreso quando te vi entrar por aquela porta, a única ação que tive foi ir até a jukebox e colocar nossa música pra tocar, Stu. - ele já estava no bar e eu não havia percebido, parecia que tudo estava planejado, eu não conseguia me concentrar mais no ambiente ao meu redor, estava hipnotizado pelo som de sua voz, ainda me chamando como fazia antes: Stu.

— Jack... - a única palavra que consegui dizer, me fazendo acreditar que depois de tanto tempo ele estava ali em minha frente.


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Notas finais do capítulo

own, que fofinho, né nom? (tá vendo, sou o Rei dos Dramas, mas também sei ser cute -nnn kkk)
Às vezes dá até vontade de transformar em long, but...



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