Hanaru escrita por ngtskynebula
Lin e Amy observaram silenciosamente Holy cair da árvore. A menor caiu de bunda e, de algum modo, ralou os joelhos no meio tempo.
As três se entreolharam e riram.
— Ainda bem que todas somos sacerdotisas — disse Holy, olhando para os joelhos. O arranhão não foi nada preocupante, mas ardia de todo modo.
— Ainda bem que nem todas somos Holy — disse Amy, torcendo o nariz.
Holy a olhou feio, mas logo a ignorou. Se levantou, bateu a poeira da bunda e pôs as mãos na cintura, olhando pensativa para o galho de onde caíra. Como iriam pegar aquela bola agora? Amy não sabia subir em árvore e Lin tinha medo de altura...
As três estavam numa clareira cujo centro tinha um jardim, na Floresta da Vida de Kricktika. Jogavam três-cortes ali, aproveitando o clima agradável de uma tarde de primavera.
Enquanto Holy pensava que forma tentaria subir novamente na árvore, uns arbustos ali perto começaram a se mexer. As três olharam atentas pro local. De lá surgiu uma flor.
Uma flor enorme, provavelmente da altura de Lin, que mais parecia um guarda-sol. Segurando ela vinha uma... fada?
A criança foi andando calmamente até Holy, o olhar brilhante de curiosidade, e ao chegar perto olhou sério para os joelhos machucados da cavaleira. Ele olhou pra cima, fitando a jovem, e se virou pro arranhão de novo. E então o curou com sua magia.
As três continuaram olhando para ele, sem reação. Era muito baixinho, com aparência de alguém de cinco anos. Tinha cabelos verde claro encaracolados, olhos bicolores grandes e expressivos e uma roupa engraçada, cuja parte mais chamativa com certeza era um laço rosa bem no peito.
Depois de curá-la, ele fitou Holy de novo, como quem diz "não vai me agradecer, não?"
Holy pigarreou.
— Muito... muito obrigada? Isso foi, huh, incrível.
O menino (com a voz dele finalmente descobriam que era um menino) sorriu de orelha a orelha.
— Mas é claro que Hanaru é incrível!
Amy riu, se aproximando da criança.
— Que adorável. Você se perdeu, pequeno?
— Vocês que me acharam — ele respondeu.
— Seus pais não vão ficar preocupados de você estar falando com estranhas? — perguntou Lin.
Hanaru trocou a grande flor de mão, fazendo as pétalas farfalharem. Amy aproveitou para ficar debaixo da sombra que ela produzia.
— Papai e mamãe estão ocupados cuidando da Nephilim. Eu estou com a Nymphyr.
— E onde está essa Nymphyr? — perguntou Holy.
— Vocês vão me levar até ela?
— Vamos.
— Então não sei, não — ele respondeu, sorrindo travesso. Amy e Lin riram.
Holy se virou para Lin.
— Não podemos deixar ele aqui. Não sem saber se ele pode, ao menos. Essa Nymphyr pode estar procurando por ele.
Lin suspirou, concordando. Resolveram que iriam procurar pela tal Nymphyr e deixar o jogo de lado, por hora.
Quando olharam para Amy, ela já estava abraçando Hanaru e tudo.
— Sabe... hoje o Hanaru quer brincar — ele murmurou, brincando com as maria-chiquinhas da dançarina. Lin sentiu pena ao ver sua expressão tristonha. Suas bochechas rechonchudas eram simplesmente irresistíveis.
— Ah, Holy — ela disse —, vamos brincar com ele só um pouquinho? Depois a gente leva ele.
— Mas...
— Só um pouquinho, vai — ela insistiu, fazendo manha. Amy e Hanaru entraram no jogo, fazendo suas melhores caras de pidoncho. Holy eventualmente cedeu.
No fim, Hanaru não ficou brincando com elas—ao invés, Holy deu a ideia de treiná-lo, já que ele tinha potencial para ser um sacerdote. Hanaru não ficou muito feliz com a notícia, mas depois delas prometerem brincar consigo, ele aceitou.
A primeira a aconselhá-lo foi Lin.
— Hanaru, escute bem — ela disse, postura ereta e expressão determinada. — Uma das coisas mais importantes de se curar é saber com exatidão o quanto de mana você pode usar sem se exaurir. Se você—
— O quê é "exatidão"?
— Ah, a gente tem que falar em linguagem de criança — Amy observou. Lin piscou duas vezes e se recompôs.
— Tá, vou explicar de outro modo. Pra você curar do modo... certo, você tem que saber se controlar pra não se cansar, entende?
— Sim.
— Então. Aí você tem que se conhecer bem, porquê se você se cansar, só vai atrapalhar na hora de uma luta. A função— Não, essa palavra não... Um sacerdote serve pra ajudar o máximo que pode. Você não pode se cansar de tanto curar, ok?
— Mas aí é só eu me curar.
— Não pode — disse Holy. — "Curar" que ela tá falando é curar ferida. Curar cansaço é outra coisa, e é bem mais difícil. Curar a si mesmo te deixa mais cansado do que curar outra pessoa, então se você estiver curando por muito tempo numa batalha, aí ficou cansado e quer curar a si mesmo, você não vai ter forças, porquê antes de conseguir curar seu cansaço, a ação de estar se curando vai te deixar tão cansado que você só vai acabar ficando duas vezes mais cansado. Entende?
— ...Quê?
Holy se preparou pra explicar de novo, mas Lin a interrompeu.
— Você não pode se curar porquê você vai ficar fraco, é isso o que ela quis dizer — ela disse rapidamente.
— Vocês são péssimas professoras — Amy comentou, segurando o riso. Lin se virou irritada pra ela.
— Tente ensiná-lo você mesma, então.
— Ok. Hanaru, presta atenção aqui na tia. Olha, pra você começar a saber se vai ou não ficar cansado se curar, você tem que treinar seu corpo. Você precisa fazer sua magia ficar maior, porquê aí você vai ficar menos cansado e curar mais.
— Mais forte?
— Mais forte.
— Mas o Hanaru já é incrível!
— Okay, mas você tem que ficar mais incrível ainda—
— Hanaru já consegue fazer as florzinhas abrirem, Hanaru é a fada mais forte da Floresta da Vida. A Nymphyr também fica toda hora dizendo pro Hanaru ficar mais forte, mas eu só quero brincar — ele reclamou, ficando triste. Holy o pegou e o abraçou.
— Então a gente vai te ensinar uma magia só, pra você fazer na frente da Nymphyr e impressionar ela, ok?
— E depois vamos brincar?
— Sim.
Hanaru balançou a flor que carregava em contentamento.
♡
Holy, Lin e Amy estavam estiradas no chão, completamente exaustas. Ofegavam. O arrependimento era palpável.
— Como... como pode... — começou Lin.
— Apenas um feitiço... — continuou Holy.
— ...E demoramos três horas pra conseguir ensinar a ele... — terminou Amy.
Hanaru, por sua vez, pulava de um lado pro outro curando duas ou três plantinhas das feridas de lagartas. Tinha aprendido a curar mais de um alvo e estava tilintando.
Pulando, com sua leveza de fada, por sobre os arbustos, ele chegou até as três jovens esticadas no chão.
— Ei... Hanaru ainda quer brincar.
— Ah, peraí — Holy pediu, balançando a mão em gestos vagos. — Estamos cansadas, deixa pra outro dia.
— Mas vocês prometeram!
Elas gemeram.
— Essa seria uma boa hora pra Nymphyr achar ele — disse Amy. A concordância foi geral.
Infelizmente a Nymphyr só o achou duas horas depois. Quando as jovens voltaram para a casa de Grandiel, dormiram feito pedra e se prometeram nunca mais cair nos encantos de uma criança fofa.
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