Hanaru escrita por ngtskynebula


Capítulo 1
Capítulo Único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/778026/chapter/1

Lin e Amy observaram silenciosamente Holy cair da árvore. A menor caiu de bunda e, de algum modo, ralou os joelhos no meio tempo.

As três se entreolharam e riram.

— Ainda bem que todas somos sacerdotisas — disse Holy, olhando para os joelhos. O arranhão não foi nada preocupante, mas ardia de todo modo.

— Ainda bem que nem todas somos Holy — disse Amy, torcendo o nariz.

Holy a olhou feio, mas logo a ignorou. Se levantou, bateu a poeira da bunda e pôs as mãos na cintura, olhando pensativa para o galho de onde caíra. Como iriam pegar aquela bola agora? Amy não sabia subir em árvore e Lin tinha medo de altura...

As três estavam numa clareira cujo centro tinha um jardim, na Floresta da Vida de Kricktika. Jogavam três-cortes ali, aproveitando o clima agradável de uma tarde de primavera.

Enquanto Holy pensava que forma tentaria subir novamente na árvore, uns arbustos ali perto começaram a se mexer. As três olharam atentas pro local. De lá surgiu uma flor.

Uma flor enorme, provavelmente da altura de Lin, que mais parecia um guarda-sol. Segurando ela vinha uma... fada?

A criança foi andando calmamente até Holy, o olhar brilhante de curiosidade, e ao chegar perto olhou sério para os joelhos machucados da cavaleira. Ele olhou pra cima, fitando a jovem, e se virou pro arranhão de novo. E então o curou com sua magia.

As três continuaram olhando para ele, sem reação. Era muito baixinho, com aparência de alguém de cinco anos. Tinha cabelos verde claro encaracolados, olhos bicolores grandes e expressivos e uma roupa engraçada, cuja parte mais chamativa com certeza era um laço rosa bem no peito.

Depois de curá-la, ele fitou Holy de novo, como quem diz "não vai me agradecer, não?"

Holy pigarreou.

— Muito... muito obrigada? Isso foi, huh, incrível.

O menino (com a voz dele finalmente descobriam que era um menino) sorriu de orelha a orelha.

— Mas é claro que Hanaru é incrível!

Amy riu, se aproximando da criança.

— Que adorável. Você se perdeu, pequeno?

— Vocês que me acharam — ele respondeu.

— Seus pais não vão ficar preocupados de você estar falando com estranhas? — perguntou Lin.

Hanaru trocou a grande flor de mão, fazendo as pétalas farfalharem. Amy aproveitou para ficar debaixo da sombra que ela produzia.

— Papai e mamãe estão ocupados cuidando da Nephilim. Eu estou com a Nymphyr.

— E onde está essa Nymphyr? — perguntou Holy.

— Vocês vão me levar até ela?

— Vamos.

— Então não sei, não — ele respondeu, sorrindo travesso. Amy e Lin riram.

Holy se virou para Lin.

— Não podemos deixar ele aqui. Não sem saber se ele pode, ao menos. Essa Nymphyr pode estar procurando por ele.

Lin suspirou, concordando. Resolveram que iriam procurar pela tal Nymphyr e deixar o jogo de lado, por hora.

Quando olharam para Amy, ela já estava abraçando Hanaru e tudo.

— Sabe... hoje o Hanaru quer brincar — ele murmurou, brincando com as maria-chiquinhas da dançarina. Lin sentiu pena ao ver sua expressão tristonha. Suas bochechas rechonchudas eram simplesmente irresistíveis.

— Ah, Holy — ela disse —, vamos brincar com ele só um pouquinho? Depois a gente leva ele.

— Mas...

— Só um pouquinho, vai — ela insistiu, fazendo manha. Amy e Hanaru entraram no jogo, fazendo suas melhores caras de pidoncho. Holy eventualmente cedeu.

No fim, Hanaru não ficou brincando com elas—ao invés, Holy deu a ideia de treiná-lo, já que ele tinha potencial para ser um sacerdote. Hanaru não ficou muito feliz com a notícia, mas depois delas prometerem brincar consigo, ele aceitou.

A primeira a aconselhá-lo foi Lin.

— Hanaru, escute bem — ela disse, postura ereta e expressão determinada. — Uma das coisas mais importantes de se curar é saber com exatidão o quanto de mana você pode usar sem se exaurir. Se você—

— O quê é "exatidão"?

— Ah, a gente tem que falar em linguagem de criança — Amy observou. Lin piscou duas vezes e se recompôs.

— Tá, vou explicar de outro modo. Pra você curar do modo... certo, você tem que saber se controlar pra não se cansar, entende?

— Sim.

— Então. Aí você tem que se conhecer bem, porquê se você se cansar, só vai atrapalhar na hora de uma luta. A função— Não, essa palavra não... Um sacerdote serve pra ajudar o máximo que pode. Você não pode se cansar de tanto curar, ok?

— Mas aí é só eu me curar.

— Não pode — disse Holy. — "Curar" que ela tá falando é curar ferida. Curar cansaço é outra coisa, e é bem mais difícil. Curar a si mesmo te deixa mais cansado do que curar outra pessoa, então se você estiver curando por muito tempo numa batalha, aí ficou cansado e quer curar a si mesmo, você não vai ter forças, porquê antes de conseguir curar seu cansaço, a ação de estar se curando vai te deixar tão cansado que você só vai acabar ficando duas vezes mais cansado. Entende?

— ...Quê?

Holy se preparou pra explicar de novo, mas Lin a interrompeu.

— Você não pode se curar porquê você vai ficar fraco, é isso o que ela quis dizer — ela disse rapidamente.

— Vocês são péssimas professoras — Amy comentou, segurando o riso. Lin se virou irritada pra ela.

— Tente ensiná-lo você mesma, então.

— Ok. Hanaru, presta atenção aqui na tia. Olha, pra você começar a saber se vai ou não ficar cansado se curar, você tem que treinar seu corpo. Você precisa fazer sua magia ficar maior, porquê aí você vai ficar menos cansado e curar mais.

— Mais forte?

— Mais forte.

— Mas o Hanaru já é incrível!

— Okay, mas você tem que ficar mais incrível ainda—

— Hanaru já consegue fazer as florzinhas abrirem, Hanaru é a fada mais forte da Floresta da Vida. A Nymphyr também fica toda hora dizendo pro Hanaru ficar mais forte, mas eu só quero brincar — ele reclamou, ficando triste. Holy o pegou e o abraçou.

— Então a gente vai te ensinar uma magia só, pra você fazer na frente da Nymphyr e impressionar ela, ok?

— E depois vamos brincar?

— Sim.

Hanaru balançou a flor que carregava em contentamento.

 

 

Holy, Lin e Amy estavam estiradas no chão, completamente exaustas. Ofegavam. O arrependimento era palpável.

— Como... como pode... — começou Lin.

— Apenas um feitiço... — continuou Holy.

— ...E demoramos três horas pra conseguir ensinar a ele... — terminou Amy.

Hanaru, por sua vez, pulava de um lado pro outro curando duas ou três plantinhas das feridas de lagartas. Tinha aprendido a curar mais de um alvo e estava tilintando.

Pulando, com sua leveza de fada, por sobre os arbustos, ele chegou até as três jovens esticadas no chão.

— Ei... Hanaru ainda quer brincar.

— Ah, peraí — Holy pediu, balançando a mão em gestos vagos. — Estamos cansadas, deixa pra outro dia.

— Mas vocês prometeram!

Elas gemeram.

— Essa seria uma boa hora pra Nymphyr achar ele — disse Amy. A concordância foi geral.

Infelizmente a Nymphyr só o achou duas horas depois. Quando as jovens voltaram para a casa de Grandiel, dormiram feito pedra e se prometeram nunca mais cair nos encantos de uma criança fofa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Hanaru" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.