Estava quase na minha hora de dormir. Acontece que desde que voltei da última luta com o akuma, fiquei atirada na cama, encarando o teto e refletindo sobre a nova informação descoberta por mim.

Eu parecia um meme.

Adrien Agreste é Chat Noir. E Chat Noir é Adrien Agreste. Às vezes eu me repreendia por ficar repetindo isso, porque quanto mais eu falava, mais fazia sentido.

Caramba, eu já acusei o pai dele de ser Hawk Moth. Eu já disse que não estava apaixonada por ele. Disse que ele não tinha nada a ver com o Chat Noir. Já soquei a cara dele quando ele tinha sido pego por algum akuma.

Meu Deus! Eu sou um completo desastre!

— Pensando em mim? – Chat Noir apareceu na minha frente e eu armei o peito para dar um grito daqueles com o susto, no entanto ele foi mais rápido e tapou a minha boca. – Shh! – ele tirou assim que eu assenti – Desculpa por entrar sem bater, está muito frio na rua.

— T-Tudo bem. – ele me ajudou a levantar e aproximou seu rosto do meu, no entanto eu recuei em reflexo.

As novas informações na minha mente estavam me deixando paranoica e maluca.

— Está tudo bem mesmo?

— Sim. Está. Claro. – respondi e notei que ele não pareceu estar convencido, afinal, nem eu estaria – É só que... Só estou cansada, é isso.

Tá, eu sei que não era certo mentir para ele agora que eu sabia sua identidade. Mas a minha cabeça ainda me dizia que eu precisava de mais provas concretas para constatar com cem por cento de certeza que Chat Noir era Adrien.

— É só isso mesmo? Porque se tiver algo incomodando você, pode me falar, ok? – ele segurou as minhas mãos, me encarando com um olhar profundo. Senti minhas bochechas esquentarem. – Somos namorados.

Sua última fala fez com que eu me arrepiasse.

O loiro se aproximou novamente e dessa vez eu deixei que ele me beijasse, retribuindo o gesto. Segurei seu rosto entre as minhas mãos e assim que nos separamos, permaneci o encarando.

Então é isso? Depois de tanto quebrar a cabeça me questionado sobre o meu amor por Adrien e por Chat Noir, eu descubro que eles são a mesma pessoa?

— E então, como foi o seu dia?

— Não fiz nada demais e você? Como foi a luta com Sr. Pombo?

— Bem ruim, pra falar a verdade. – ele riu – O difícil não foi derrotar ele em si, mas sim as malditas penas que fazem minha alergia vir à tona!

— Deve ser bem ruim ser alérgico a penas, meu amigo também é. – falei para ver a sua reação – O Adrien. Você deve conhecê-lo.

— Ah sim, ele é bem famoso. – riu e colocou a mão na nuca. Exatamente como Adrien fazia.

— É. – ficamos em silêncio.

Eu podia estar calada, mas os meus pensamentos estavam a mil.

— Mas me diz, o que você vai fazer amanhã à noite?

— Provavelmente nada, por quê?

— Pensei em termos um encontro romântico. – o herói sorriu, enquanto eu permanecia atenta – Eu imagino que namorar um super-herói deve ser bem chato, já que nós só podemos nos encontrar à noite.

— Não, claro que não.

— Ah, vamos! Eu sei que é. – sentou na minha cama – Mas isso vai mudar, eu prometo. – arregalei os olhos e sentei ao lado dele.

— Como exatamente vai mudar?

— Bom, algum dia você vai saber quem eu sou, não é? – deu de ombros.

— É, claro. – parei por alguns segundos – Acho que podemos ter esse encontro, então. – ele me encarou com um sorriso.

— Prometo que você não se arrepender! Vai ser incrível! – me abraçou apertado. Ponderei por alguns segundos, porém depois fechei os olhos com um sorriso e deitei minha cabeça no seu ombro.

— Eu sei que vai.

***

No domingo não fiquei livre de ajudar meus pais na padaria. Embora não achasse ruim, eu adorava ajudá-los, eu estava preocupada com meu encontro com Adrien... Digo, Chat Noir!

Eu precisava parar de confundir as informações. Se não chegaria lá falando seu nome.

E foi assim que passei o meu dia, ajudando meus pais e fazendo lembretes mentais sobre o que poderia ou não falar.

Quando percebi já estava quase na hora que Chat Noir tinha combinado em vir me buscar, mas eu não fazia ideia do que vestir. Nada parecia perfeito para um encontro com um namorado super-herói. Não que fizessem roupas pra essa ocasião – eu até poderia ter feito, mas a minha criatividade tinha sido bloqueada pelo meu surto interno.

— O que eu devo usar?

— Hum... Um vestido?

— Não dá. Se ele vai me levar em algum lugar, não seria uma boa ideia saltar por aí com um vestido. E de qualquer maneira está frio.

— Então vai ter que usar uma calça. E que tal aquela sua blusa rosa com as mangas soltas?

— Ficaria ótimo. – sorri pegando a peça no armário – E qual casaco?

— O marrom claro ficaria incrível!

— Excelente escolha! – peguei o casaco e a calça jeans clara – Mas não sei se combina muito com o meu penteado. – analisei a combinação no meu divã.

— Solte seu cabelo. Ele fica muito bonito solto. – corei.

— Você acha mesmo?

— Sim. – sorri para a minha kwami, que fez uma expressão fofa.

— Obrigada, Tikki.

Depois de agradecer, comecei a jornada de me arrumar para o encontro. Não faria algo exagerado, se não, não seria eu. Mas gostei do resultado.

Estava em frente ao espelho, fazendo os últimos ajustes no cabelo e ouvi batidas na janela.

— Se esconde, Tikki. – abri o casaco e ela entrou para dentro dele. – Pode entrar.

— Boa noite, foi aqui que pediram um namorado incrível? – ri da sua fala e ele veio até mim com uma rosa. Em seguida se ajoelhou e a estendeu. – Hoje é o nosso dia dos namorados.

— Obrigada, Chat. – peguei a rosa e dei um rápido beijo na sua boca assim que ele ficou de pé.

— Você está muito linda, Marinette! Muito linda mesmo! – disse em um tom sério, me encarando nos olhos. Corei e desviei o olhar.

— Obrigada. – agradeci, fitando os meus pés. Senti a mão de Chat Noir levantar o meu queixo, me fazendo olhar para ele, que sorria. Em seguida ele aproximou o seu rosto do meu e me beijou.

— Detesto interromper esse momento incrível, mas agora precisamos ir para o nosso encontro, se não vai ficar muito tarde.

— Certo.

— Trem Chat Noir partindo da estação. – o loiro disse e me pegou em seus braços – Apertem os cintos! – ri da sua fala e logo ele saiu pela janela.

— Devo fechar os olhos?

— Não será necessário, a não ser que queira dormir durante a viagem.

— Melhor não! – nós rimos e ele saiu saltando sobre os prédios.

Não prestei muita atenção no caminho pelo qual Chat estava indo, apenas parei para reparar na noite estrelada e no seu rosto angelical. Quanto mais eu olhava, mais me acostumava com a ideia de que ele fosse Adrien Agreste. Não que eu não gostasse, mas sim que imaginar os dois sendo a mesma pessoa era uma loucura.

— Chegamos ao destino. – Chat me colocou no chão, e notei que estávamos na frente da Torre Eiffel. Ele segurou a minha mão e me conduziu até o André, o sorveteiro dos apaixonados, aquele que eu sem querer fiz com que fosse vítima do akuma. – Boa noite, André.

— Ah, Chat Noir! – ele sorriu – Vejo que trouxe alguém especial. Marinette, não é? Lembro de você.

— Olá. – o cumprimentei.

— Será que você tem algo para nós?

— É claro! – André pegou o boleador de sorvete, lembro bem do nome pois Chat Noir tinha me corrigido quando eu disse que era um “treco”, e começou a servir – Vermelho morango para o amor, verde menta para os olhos do rapaz e blue ice para os olhos da moça. – ele nos entregou, então eu e Chat nos entreolhamos.

— Muito obrigada. – agradeci.

— Não há de quê.

Nos afastamos e sentamos em um banco qualquer para comer. No começo fiquei com medo que pudéssemos ser vistos, mas o movimento estava bem fraco. As pessoas que passavam por ali, iam até André, compravam o sorvete e iam embora. Por sorte ninguém reparou em Chat Noir, já que sentamos mais afastados, nos misturando com a paisagem.

Chat estava segurando os sorvete, enquanto nós dois comíamos. Por um momento parei para analisar o quanto ele ficava fofo.

— O que foi? Eu estou sujo?

— Não. Não é isso. – ri do jeito que ele perguntou – É que você fica muito fofo comendo sorvete. – admiti um pouco envergonhada e ele sorriu.

— Muito obrigado pelo elogio. – fez uma reverência curta – E eu já disse o quanto você está bonita hoje?

— Já.

— É, mas eu preciso dizer de novo. Você está linda hoje, Marinette. – desviei o olhar, sentindo minhas bochechas esquentarem – Na verdade, você está linda todos os dias. Você é linda.

— Assim você me deixa constrangida.

— É apenas a verdade. – deu de ombros – Você faz com que eu me apaixone por você mais ainda todos os dias, mesmo eu não achando que fosse possível.