Shinomiack escrita por Marina Ruanna


Capítulo 1
Capítulo 1




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Podia ouvir o estalar das cinzas da fogueira naquela noite mais fria que o normal, o silencio absoluto era quase uma presença que se podia encarar. os semblantes a minha volta eram graves e decorosos. O homem a minha frente, do outro lado da fogueira, mantinha o olhar placido e ainda sim determinado. Não tenho certeza se minhas feições transpareciam toda ansiedade que meu coração carregava naquele instante, mas tentei me manter estavel enquanto meus pensamentos viajam por todos os planos que permeavam minha mente, todas as vontades e desejos que inundavam meu ser de inquietação e euforia. Taenou sempre enfatiza o quanto os meus olhos revelam o que se passa em minha cabeça e habitualmente não é algo que me preocupa, mas naquele momento eu desejaria poder manter meus olhos fechados.
Todos os olhos estavam voltados para a grande tenda no centro do acampamento, não havia nenhum sussuro, especulação ou duvida. Apesar do silencio palpavel, não havia urgencia. Todos carregam a certeza de que o homem a minha frente sera chamado em breve. A noite estava iluminada pela luz branca e palida de uma grande lua cheia, Onu'o, dona de minha devoção, parecia especialmente interessada naquela pequena tribo de nomades, filhos de ninguem, pertencentes a lugar nenhum, então pedi pra que em sua sabedoria guiasse os anciões a decisão que fosse mais benefica para nossa tribo, ainda que dentro de mim ardesse uma chama de vontade anseando por ouvir o meu nome ser chamado.
O frio incomodava a dias, e naquela noite parecia especialmente determinado a nos testar com ventos cortantes. Foi permitido a mulheres e as crianças ficaram nas tendas, os homens usaram suas peles mais felpudas e se aproximaram das poucas fogueiras o quanto puderam, contudo se mativeram imoveis, como sentinelas estaticas, enquanto o tremular das fogueiras davam vida as suas sombras. Ouviusse um ruido vindo da grande tenda dos anciões, e uma onda de tensão se espalhou pelo acampamento, fazendo todos se moverem em seus postos como estatuas ganhando vida.
O velho Shau se arrastou para fora da tenda devagar, com seu pequeno corpo curvado e mãos tremulas, tão fragil e com o semblante carregado de sabedoria, seus longos cabelos brancos e opacos pendiam em duas tranças assimetricas sobre seu peito fraco, a pele morena enrugada e as grossas sobrancelhas brancas quase escondiam seus olhos. Esse debilitado ser humano era o mais jovem dos tres ancioes, o unico ainda capaz de se mover sem auxilio. Um delicado recipiente que carrega toda historia de nossa tribo.
Ao ver aqueles finos labios rachados se moverem no que me parecia quase um sussuro, me deixei inundar com a resignação, afim de apagar o fogo da vontade que ardia em meu peito, me voltando para dentro de mim negociando a aceitação comigo mesmo. Então senti toda a tesnão no ar se encorpando, e os olhos pareciam pontas certeiras de flechas em minha direção. Impeli minha mente pra fora da nevoa que se formava em torno dos meus pensamentos e pude ver os rostos perplexos e urgentes a minha volta, olhos apreenssivos se tornando confusos, as vozes surgindo crescentes, os barulhos preenchendo a noite. Voltei meus olhos em direção ao velho Shau, o burburio das vozes desorientadas não me deixou ouvir suas palavras, mais pude comprender os movimentos dos seus labios que diziam:
— Katsu, venha comigo!


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