As Cores de Meu Novo Mundo escrita por Miris


Capítulo 1
As Cores


Notas iniciais do capítulo

Essa coisinha linda foi escrita na metade do ano passado, eu a encontrei esquecida entre umas bagunças do Word no meu computador e adicionei algumas coisas.
Eu realmente amo essa one-shot, ela fala tanto de "mim"; como eu amadureci e cresci. Superei muitas coisas e descobri - após anos tentando - quem eu realmente sou!

Aproveitem ♥



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                Acordo em um quarto totalmente branco e vazio, não havia nada de especial no estranho ambiente. Olho para meu corpo e me vejo da mesma maneira em relação ao cômodo, sem cor alguma além do branco característico. Levanto no chão e continuo a procurar algo de diferente ou interessante em mim, mas tudo era em um monótono branco.

            Um grande espelho surge em uma das paredes do quarto que é minimamente analisado pelos olhos sem cor. Eu segui até o espelho e vejo meu reflexo colorido enquanto tentava manter um sorriso perto das pessoas, mas metade de si estava apagada. Eu transbordava cores, mas tais estavam feias e sem vida ou brilho.

            O espelho se rachou diante de mim, me fazendo saltar para trás e dar um grito apavorado, aquela imagem de antes se tornou deformada. Aquela garota mostrava o quão insegura e dependente dos outros um dia eu fui. Tentei voltar a ver meu reflexo através das grotescas rachaduras que surgiram no espelho de bordas douradas como ouro. Eu vi um alguém se aproximar e segurar meus ombros.

            As extravagantes fissuras desapareceram do vidro e mostrava alguém ao meu lado com um sorriso maníaco que me fez encolher de medo. Meu corpo tremia de pavor daquele ser asqueroso e desprezível.

            Coisas que meu reflexo de cores mortas precisava ouvir lhe eram ditas por aquele humano, que logo apareceu na metade apagada que faltava em meu reflexo. Eu pude ver o restante do brilho em meus olhos desaparecer...

            Essa pessoa que estava ao lado de meu reflexo só me fazia ver o quão perturbador era seu sorriso e como ele era frio, falso e cortante. Ele me envolvia, prendia, e sufocava como uma verdadeira cobra. O quarto antes totalmente branco se tornou totalmente negro e com um ar sombrio. Coisas ruins apareciam, as paredes machadas de sangue e arrependimentos, dores.

“Nunca mais corte seu cabelo, fica feio.”

“Você fica melhor com ele grande. Não gosto que corte.”

“Pra quê faculdade?”

“Pra quê falar com sua família?”

“Sua família te escraviza.”

“Eles não te amam!”

“Você não precisa de mais ninguém!”

“Essas roupas não agradam minha mãe, tome estas que são mais descentes.”

            Palavras de controle ecoavam pelo quarto me fazendo pressionar as mãos nos ouvidos, para não escutar o que me era dito. Mentira! Mentira, mentira, mentira. Tudo o que me dizia era mentira!

— CHEGA!

— O que é isso? – Ele estava com ódio. Estava em minha frente, me fazendo gelar. Neste momento, outras frases de outras vozes começaram a surgir no cômodo.

“Amiga, larga ele!”

“Ele não é para você.”

“Mana, isso é um relacionamento abusivo!”

“Amiga, ele tá fazendo você sofrer!”

“Sua família ‘tá sofrendo!”

“Saí dessa!”

“Filha, a gente te ama!”

“Irmã, eu te amo!”

            Essas frases me deram forças, trouxeram um pouco de minhas cores originais. Eu sabia que quem quer que esteja soprando essas falas, elas eram libertadoras e verdadeiras comigo.

— Eu disse – Abri meus olhos para encará-lo com raiva. – Chega!

— Pra quê isso? – Sua mão tentava se aproximar se meu rosto para tentar me domar como um animal que eu não era. Eu bati com força afastando aquele falso e nojento amparo de mim.

            O que eu fiz não o agradou e ele estava com muita raiva de mim, eu podia ver por seus olhos de demônio. Era isso o que ele era: um monstro. Manipulador.

— Você não é mais a garota por quem me apaixonei. – Ele se vitimava para tentar me comover. Eu não iria cair em seus truques baratos.

— Talvez seja porque você a estragou. Matou-a pouco a pouco até sua personalidade desaparecer por completo. Transformou-a em uma depressiva dependente. Você me matou! – Eu dizia com convicção misturada ao ódio por aquele ser.

— Vadia. – Um tabefe em meu rosto e logo um falso olhar amoroso para me fazer chorar e correr para seus braços enquanto suas amarras surgem em meu corpo.

            Eu nunca iria voltar a ser aquela menina que ele destruiu e manipulou por um ano inteiro. Imaginei uma mesa e uma grande tesoura grande e bastante afiada que realmente apareceram. Corri até lá sendo observada com ira por ele. Com a tesoura em mãos eu o olhei e puxei uma mecha desajeitada de meu cabelo.

— Chega! Acabou! – Eu gritei enquanto cortava o cabelo. – Chega dessa coleira em forma de colares falsos. – Cortei os cordões de pedra que um dia foi considerado ouro; não se passava de ouro dos trouxas. – Chega dessa camisa de força xadrez idiota! – Eu retirei o xadrez que parecia impregnar meus ombros e a despedacei com a tesoura. – Chega de controlar minhas roupas! Não ligo para o que pensam e se são ou não descentes! – Rasgo a saia deixando-a na metade da coxa e corto a barra da blusa, fazendo um nó acima da cintura enquanto rasgava as mangas e um decote. – ACABOU!

            Eu não pude ser atingida por seu ódio ali mesmo, pois ele desapareceu. Mas eu senti os cortes, machucados e hematomas surgirem por meu corpo. Sangue começou a escorrer de minhas feridas abertas em meus braços nus, eram cortes. O quarto voltou a ser branco, mas rachaduras grandes permaneciam nas paredes. Eu havia sido despedaçava de todas as formas possíveis.

            Sentei escorada em uma das paredes e assisti sua face horrenda desaparecer da metade de meu reflexo de cores mortas. Enfim toda a manipulação havia acabado e o espelho começou a deixar cair um pó, como se fosse maquiagem. Um balde com água surgiu ao meu lado e eu sorri.

            Com as poucas forças que me sobravam, mas com muita força de vontade eu me ergui e levei o balde até na frente do espelho onde joguei o líquido contra o vidro. O objeto em si estava muito pior do que antes e meu reflexo muito mais ferido do que eu, suas feridas no rosto sangravam e estavam inchadas, enquanto chorava muito. Estava feia, mal cuidada e abusada por aquele falso alguém.

            A água que havia jogado no espelho e que se acumulou no chão começou a se espalhar e subir pelas paredes até se acumular totalmente no teto como uma piscina. Não demorou a que começasse a cair como a mais maravilhosa das chuvas lavando a minha pessoa que agora se via sem os machucados e os cortes que antes sangravam.

— Não se preocupe – Disse olhando para o espelho – Eu irei curar nós duas. – Pisquei para meu reflexo que sorriu grata.

            Já livre e dona de meu corpo e opiniões, eu pude começar a andar pelo cômodo e imaginar as coisas que me faziam feliz e que começaram a decorar o quarto. Porém uma coisa me surpreendeu quando eu tornei a ser totalmente branca.

            Pessoas surgiram e logo notei que era, na verdade, versões de minha vida. Como eu havia mudado. Desde aquela criança doce e ingênua que pensava que o mundo era um lugar mágico, até a última versão que estava maltratada e ferida. Eu sabia que algo deveria ser feito, mas não exatamente como e o que.

            Ali estava eu aos dez anos, sorridente. Eu aos onze anos perdida e confusa, com medo. Aos doze eu era alguém totalmente fria que desejava a morte. Aos treze eu não sabia mais quem eu era e trouxe muita dor para algumas pessoas que ousaram se aproximar de mim. Aos quinze anos uma persona gentil, porém falsa e indiferente. Ainda não havia me encontrado. Aos dezessete alguém que estava totalmente machucada e manipulada. E por último, aquela em quem sempre desejei ser: forte, impiedosa, alguém que fizesse qualquer um tremer de medo, uma verdadeira pessoa má.

— O que está acontecendo? – Alguém que eu não tinha visto, minha representação de pureza: sete anos. Estava assustada e confusa e ao ver a situação de várias sucessoras começou a chorar. – O que aconteceu com a gente?

— Pessoas. Machucaram a gente. – Meu eu de quinze anos respondeu.

— E o nosso príncipe encantado? Nossa-...

— ELES NÃO EXISTEM! – Aquele alguém que desejei ser gritou.

— Para! – Essa era eu, realmente. Olhava para a garotinha boa que já fui um dia. – Não precisamos de príncipe encantado. O que sempre vimos nos filmes de princesa?

— Que devemos ser fortes. – A menininha secava as lágrimas.

— Não precisamos de príncipes encantados, nós somos nossa princesa encantada, podemos lutar por nós mesmos e nos defender. – Olhei para o que um dia desejei ser. – Eu não sou isso e nunca serei, mas você é uma pequena parte de cada uma de nós. Manteve-nos viva, de certa forma. – Toda aquela imagem de durona se dissolveu em arco-íris e se repartiu para dentro de cada uma de nós.

            Ao meu redor pessoas foram aparecendo, pessoas que me ajudaram a descobrir quem eu realmente era. Pessoas que junto a mim montaram momentos únicos e que construíram a confiança pouco a pouco. As garotas desapareceram, viraram fumaça arco-íris e foram para dentro de mim.

            Eu transbordava as mais belas e vivas cores que existiam. Os cabelos cortados desleixadamente tinham as mais belas cores do arco-íris em tons pastel, minha roupa mostrava minha singularidade, assim como minha maquiagem. Minha orientação sexual estava bem exposta para todos entenderem e se viessem me criticar, um sorriso e um “foda-se” sempre tinha espaço em mim.

            As grandes rachaduras foram preenchidas por amor próprio que era colorido e contrastava com a sala totalmente branca. Quer dizer, agora as paredes tinham manchas de pingos e respingos de tintas coloridas, pôsteres e fotos com amigos, histórias guardadas em livros e tudo ao que eu tinha direito.

            Inclusive aquela pessoa especial de minha infância, o meu primeiro amor que não me completava – até porque eu mesma já o fazia—, mas que me fazia transbordar.

— E não lhe incomoda? – Minha amiga questionou.

— Quem precisa de metade para ser completa é laranja. – Eu dizia arrumando o cabelo colorido bagunçado e a maquiagem sempre acompanhada do batom escuro. – A verdade é que você só precisa achar alguém te chupe bem.

— Love! – Ri do rubor de minha amiga.

— Alguém que faça você transbordar, eu quis dizer. Um relacionamento que seja sinônimo de liberdade, não prisão.

— Entendo. – Ela murmurou com um sorriso.

— Vamos, temos uma sala para bagunçar. – Passei meu braço por seus ombros.

— Você não pode simplesmente deixar os professores descansar e tentar fazer as pessoas não te odiarem?

— Eu não resisto. Preciso acabar com a paz deles, principalmente os alunos. Adoro acabar com a felicidade deles. – Ela riu.

— Como você é má. – Revirei meus olhos. – Louca.

— Anda logo.

            Ninguém nunca mais tiraria minhas cores de mim...

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Notas finais do capítulo

Eu realmente espero que tenham gostado, por que eu amei haha ♥

Até a próximaa! ♥



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