Café e Livros escrita por oicarool


Capítulo 4
Capítulo 4




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As três Benedito tomavam café da manhã no balcão da cozinha. Elisabeta segurava a xícara com as duas mãos, assistindo sonolenta a totalmente acordada Jane separar legumes para um suco verde. Cecília segurava um pedaço de bolo, sentada em um banco, um meio termo entre as irmãs. Jane olhou de uma para a outra e abriu um sorriso de gato.

— Você sabia que Cecília chegou tarde ontem, Elisa? – a única loira entre elas comentou.

— Verdade? – Elisabeta ergueu a sobrancelha. – Com quem você estava?

— Com Edmundo. – Cecília revirou os olhos. – Não foi nada demais.

— E como ele está? – Elisabeta perguntou, coçando a cabeça.

— E pra que você quer saber? – Cecília respondeu, um pouco mais ácida do que de costume.

— Quando você vai entender que as coisas só não deram certo entre nós, Cecília? – a mais velha bufou.

— E você não poderia ter dito isso à ele? Ao invés de enrolar o garoto por tanto tempo? – Cecília acusou.

— Está muito cedo para uma discussão dessas. – Jane interviu. – Vamos mudar de assunto.

Cecília e Elisabeta trocaram um olhar severo.

— Soube que Darcy voltou. – Jane disse, com um sorriso.

— Verdade? – Cecília sorriu. – Talvez eu deva passar no Café hoje.

— Ele estava cuidado do Theo. – Elisabeta deu de ombros. – Por isso estava fora da cidade.

Jane e Cecília a olharam com interesse.

— E você sabe disso exatamente por qual motivo? – Cecília ergueu a sobrancelha.

— Bebemos uma cerveja ontem. – Elisabete disse, ainda irritada com a irmã.

— Vocês o que? – Jane disse, em voz alta. – Como, quando, por que?

— Darcy precisava conversar e eu estava lá. – a mais velha disse. – Não foi nada demais.

— Tenho certeza que pra você não foi nada demais mesmo. – Cecília resmungou.

— E o que você quer dizer com isso, Cecília? – Elisabeta encarou a irmã.

— Eu? Nada. – Cecília se fez de inocente.

Elisabeta revirou os olhos. Toda vez que Cecília encontrava Edmundo, uma nova campanha anti-Elisabeta começava. Cecília era muito amiga de Edmundo, e de seu irmão, Rômulo. No aniversário de Cecília, no ano anterior, Edmundo e Elisabeta se conheceram um pouco melhor. E apesar de não haver nada de errado com ele, Elisabeta não teve vontade de levar o caso adiante. Edmundo se afastou de Cecília, e agora a irmã a culpava sempre que lembra do assunto.

— Diga logo o que você está pensando. – Elisabeta reclamou. – Eu não tenho paciência para suas indiretas.

— Darcy é um cara legal, Elisabeta. – Cecília respondeu, irritada. – E todas nós sabemos que você prefere os babacas.

— Ah, pelo amor de Deus, Cecília. – Elisabeta irritou-se de vez. – Não é porque você planeja o casamento com um cara que mal conhece que eu faço o mesmo. Foi só uma cerveja.

— E Darcy sabe disso? Você lembrou de dizer isso à ele? – perguntou, irônica.

— Foi só uma cerveja! – Elisabeta resmungou.

— Eu disse que você seria a próxima. – Cecília olhou para a Jane. – E nós duas já sabemos o fim dessa história. Pode se preparar para não frequentar mais o Café, Jane.

— Eu não tenho nada a ver com isso. – Jane se manifestou. – Mas se Elisabeta está dizendo que foi só uma cerveja...

— Elisabeta é uma hipócrita. – Cecília olhou para a irmã mais velha. – Você precisa ver como Edmundo fala dela.

— Sabe o que me irrita mais do que tudo, Cecília? – Elisabeta virou o resto do café na pia. – É que você realmente não consiga ver os dois lados dessa história.

— E qual seria o seu lado? Brincar com os sentimentos de um cara legal?

— O lado do seu amigo ter se iludido sozinho depois de uma noite. E de ele não tolerar ser rejeitado sem me culpar e falar mal de mim, o que faz dele um babaca. – ela irritou-se. – Sim, ele parecia um cara legal. E ainda assim foi uma das piores transas que eu já tive na vida.

— Mas isso poderia melhorar! – Cecília advogou.

— Não, eu não acho que melhoraria. – Jane finalmente começou a falar. – Elisa tem razão, Cecília. Não é como se ela tivesse prometido algo à Edmundo. É um pouco infantil que ele não supere esse fora.

— Ele já superou. Está com Fany agora. – Cecília revirou os olhos.

— E ainda assim é capaz de fazer você me atacar como se nem me conhecesse. – Elisabeta disse, cansada. – Eu considero uma sorte ele ter se afastado de você. Esse garoto tem problema.

Cecília encarou Elisabeta e depois, Jane. Percebendo que nenhuma das duas estaria à seu lado, ela suspirou.

— Só não brinque com Darcy, por favor. – Cecília pediu.

— Foi uma cerveja, Cecília. – Elisabeta disse, em voz baixa. – E se você está tão interessada em Darcy, por que não o convida você para alguma coisa?

— Eu não estou interessada em Darcy. – Cecília disse. – Não de verdade.

— Ah, não? – Elisabeta duvidou. – Eu acho que esse seu pequeno surto é prova suficiente de que está interessada.

Cecília ficou em silêncio, e Elisabeta entendeu com uma confirmação. Por isso foi até Jane, dando um abraço na irmã, e depois passou por Cecília, dando um beijo no topo de sua cabeça.

— Não me odeie, por favor. – Elisabeta pediu. – Eu não me importo com a opinião do Edmundo, mas é muito dolorido que você pense como ele.

Antes que a irmã pudesse responder, Elisabeta retornou à seu quarto, terminou de se arrumar, e saiu para trabalhar. Quando chegou ao escritório já havia uma mensagem de Cecília dizendo “Eu não penso como ele. “, seguida de uma figurinha feita por ela mesma, que era uma foto de Thor com a legenda “Thor das pazes”. Elisabeta sorriu, triste. Odiava brigar com qualquer uma de suas irmãs, especialmente com Cecília ou Jane.

Lídia e Mariana tinham personalidades parecidas com a sua. Era comum terem discussões intermináveis, e cinco minutos depois não lembravam mais o motivo da briga. Jane e Cecília eram outro departamento. Eram sensíveis, pensavam muito antes de entrar em uma discussão. E por isso tudo o que diziam tinha mais valor. Elisabeta odiava pensar que Cecília realmente pensasse aquilo sobre ela.

O dia passou lento, e Elisabeta não conseguiu deixar de lado o sentimento de tristeza. Estava com o coração pesado, e precisava conversar com a irmã. Ainda assim, no mesmo horário de sempre, entrou na “Café e Livros”. Darcy estava no caixa, e sorriu para ela assim que entrou. Seus fones foram colocados e Elisabeta entrou em outro mundo, tentando dedicar todo o seu foco aos estudos.

Darcy a observou enquanto o tempo passava. Não o tempo todo, mas as vezes olhava para ela. Havia algo diferente, e ele não sabia dizer o que. Mas Elisabeta não pediu nada para comer naquele dia, e nem tantos cafés quanto o costume. Quando o último cliente saiu, ele finalmente decidiu se aproximar. Ficou um par de minutos em pé, ao lado da mesa, até que Elisabeta o notasse.

— Ah, oi Darcy! – ela disse com um sorriso, retirando os fones.

— Você precisa de alguma coisa? – ele perguntou.

Elisabeta o encarou incerta.

— Não, eu acho que não. – ela disse.

— Hoje é sexta-feira... nem uma torta de chocolate? – Darcy sorriu abertamente.

— Você não tem, eu não sei, um irish coffe? – ergueu a sobrancelha.

— Isso parece um sacrilégio vindo de você. – ele fez uma careta. – Tão ruim assim?

Elisabeta deu de ombros.

— Talvez seja um bom dia para aquele vinho? – Darcy perguntou. – Se você não tiver nada para fazer, claro.

— Não sei. Eu acho que eu realmente não sou uma boa companhia. – Elisabeta tentou negar.

— Eu achei que era o objetivo dessas trocas alcoólicas. – ele riu. – Talvez você possa se sentir melhor.

Elisabeta não sabia se deveria. Não sabia exatamente quais eram os sentimentos de Cecília em relação à Darcy. Mas não havia nada de errado em serem amigos. Talvez ela inclusive pudesse facilitar as coisas para Cecília e Darcy. E seria bom conversar com alguém. Já havia dispensado Lucas e a ideia de ir para casa ter uma conversa difícil com a irmã não era a mais animadora.

Darcy observou diversas emoções passarem pelo rosto de Elisabeta. Não deveria ter convidado. Era óbvio que ela tinha algo melhor para fazer. Uma mulher como ela certamente teria algo melhor para uma sexta-feira do que sair com um homem como ele. No que é que estava pensando ao fazer o convite? Ela talvez estivesse apenas constrangida de negar.

— Podemos deixar para outro dia... – Darcy sorriu, aproveitando o silêncio dela.

— Não, não. Vamos. Eu realmente preciso de um pouco de companhia. – Elisabeta suspirou. – E algumas bebidas.

Elisabeta pediu alguns minutos para deixar suas coisas em casa, agradecendo mentalmente quando nenhuma de suas irmãs estava presente. Trocou de roupa, retocou brevemente a maquiagem, e menos de vinte minutos depois Darcy estava trancando a porta do Café.

— Onde você prefere ir? – ele arqueou a sobrancelha.

— Eu não sei, qualquer lugar está bom. – Elisabeta deu de ombros.

— Eu não costumo sair à noite, então talvez seja melhor você escolher um lugar. – Darcy coçou a cabeça.

— Podemos simplesmente andar um pouco e entrar no que parecer menos intimidador? – Elisabeta sugeriu.

E assim fizeram. O primeiro era um boteco de esquina, com música alta demais e um ambiente que não parecia nada aconchegante. O seguinte era um restaurante pomposo. E então, havia uma pequena placa de madeira com sinais medievais. A música não parecia horrível, e por isso subiram as escadas que levavam ao local. Era como um pub do exterior. O ambiente era grande, mas não estava cheio.

Darcy e Elisabeta optaram por uma mesa no canto, e para a tristeza de Elisabeta não havia vinho no cardápio. Mas havia uma série de drinks, e Darcy escolheu um rótulo importado de cerveja. Suas bebidas chegaram e nenhum dos dois sabia exatamente como agir com o outro. Falaram um pouco sobre o dia, sobre o ambiente em que estavam, ao menos até a bebida descer e as inibições diminuírem.

— E então, qual é o seu problema? – Darcy perguntou, direto.

Elisabeta terminou de beber seu drink.

— Briguei com a minha irmã. – ela deu de ombros.

Darcy piscou, olhando para ela.

— Cecília. – ela elucidou.

— Cecília? Eu não consigo imaginar Cecília brigando com ninguém. – Darcy sorriu.

— Eu desperto essas coisas nas pessoas. – Elisabeta sorriu, triste. – E eu sei que ela tem um fundo de razão.

— Você quer me falar sobre o motivo dessa briga? – Darcy perguntou. – Eu estou aqui para ouvir.

Elisabeta o encarou. Será mesmo que deveria falar sobre aquilo com Darcy? Ao mesmo tempo, ele havia contado sobre seu filho no dia anterior. Não eram completos desconhecidos.

— Eu não costumo ter sorte com os homens. – Elisabeta disse, por fim. – Na realidade, eu não costumo fazer boas escolhas em relação aos homens.

Darcy piscou novamente. Estava esperando qualquer conflito familiar, e não uma conversa sobre a vida amorosa de Elisabeta. E se ela tinha problemas amorosos, o que deixar para a inexistente vida amorosa dele?

— Eu escolho sempre os babacas. – ela disse, quando Darcy permaneceu em silêncio.

— Me desculpe, eu não sei como responder à isso. – Darcy sorriu.

Eles pediram mais bebidas, e Elisabeta já sentia a língua um pouco mais solta, afinal não havia comido quase nada durante o dia.

— Cecília me culpa pelas coisas não terem dado certo com um amigo dela. – Elisabeta disse. – O que na verdade me surpreende, porque ele se mostrou um babaca e ainda assim eu não penso em dar uma chance.

Ela riu, amarga, fazendo Darcy sorrir.

— Nem sempre as coisas dão certo. – Darcy deu de ombros. – Senão eu estaria casado.

— Eu não consigo imaginar casamento sem um pacote completo, entende? – Elisabeta olhou para ele. – Eu quero um homem incrível, mas parece que toda vez que eu conheço alguém legal, ele não parece tão incrível assim.

— Em que sentido?

— Nos mais diversos. Edmundo, o amigo de Cecília, foi uma das piores transas da minha vida. E tem Lucas, um colega de trabalho que insiste em me chamar para sair, mas é sempre tudo muito chato. – ela suspirou. – Eu não sei se estou sendo muito exigente.

— Eu não poderia julgá-la, Elisabeta. – ele riu, também sentindo o efeito do álcool. – O maior problema do meu casamento sempre foi na cama.

Elisabeta quase engasgou ao ouvi-lo falar sobre aquilo. Mas estavam ali, em plena sexta-feira à noite, na terceira ou quarta rodada alcoólica. Qual seria o problema de falar sobre suas vidas sexuais?

— Mesmo? – ela ergueu a sobrancelha.

— Ema é uma mulher linda, uma companheira incrível, mãe dedicada. – Darcy suspirou. – Mas a nossa vida sexual era monótona, ela gostava de tudo o mais tradicional possível.

— E você não? – Elisabeta sorriu como um gato.

— Não me leve a mal, eu não estou falando de nenhuma esquisitice. – Darcy coçou a cabeça. – Só que a mesma posição, uma vez por semana?

— Parece horrível. – Elisabeta riu.

— Não tem casamento que sobreviva. – ele deu de ombros.

— É sobre isso que eu penso... será que não deveríamos apenas nos contentar? – Elisabeta questionou. – Será que vale a pena viver nessa busca? Eu nem sei se acredito mais em romance.

— Todo mundo acredita em romance. – Darcy ergueu a sobrancelha. – Romance não tem nada a ver com isso.

— É claro que tem. Todos os caras românticos que eu conheci eram chatos. Criavam expectativa e não cumpriam. – Elisabeta suspirou. – Já os babacas sabem o que fazer na cama, e eu sei que eles vão embora sem olhar para trás.

— Essa é uma generalização injusta. – Darcy riu. – Talvez você já assuma que vai ser chato toda vez que conhece um romântico.

Elisabeta pensou sobre isso. Não deixava de ser verdade.

— E as vezes nós somos tímidos. – Darcy continuou. – Eu, por exemplo, nunca fui bom em me aproximar de uma mulher que me interessa.

— Mas você foi casado. – Elisabeta disse, como se fosse óbvio.

— E agora eu estou divorciado porque a minha vida sexual era uma merda. – Darcy riu. – E de forma bastante patética eu troquei sexo ruim uma vez por semana por nenhum.

Ele estava bêbado. Sabia disso. Sabia que devia ficar quieto e parar de embaraçar a si mesmo. Ainda assim, Elisabeta não era uma opção para ele. Uma mulher como ela jamais o veria com interesse.

— O que? – Elisabeta abriu bem os olhos. – Não é possível.

— Bem-vinda à minha vida. – ele deu de ombros.

— Mas não tem ninguém por quem você se interesse?

— É claro que tem. – Darcy sorriu, constrangido. – Eu só não sei tomar iniciativa, e por isso vou dormir sozinho.

— Baladas? Aplicativos de namoro? – ela perguntou, em choque.

— Eu já tentei. Eu simplesmente não sou bom em me aproximar. – Darcy riu. – Eu gosto de pensar que sou bom no resto, mas não em uma primeira abordagem.

— Já eu não tenho qualquer problema com a abordagem. – Elisabeta sorriu. – É o resto que me deixa insegura.

— Que bela dupla nós fazemos. – ele bebeu mais um gole.

— Talvez a gente pudesse... ajudar um ao outro? – Elisabeta perguntou, insegura.

O coração de Darcy acelerou.

— Ajudar?

— Talvez eu possa ajudar você a melhorar a abordagem inicial. – Elisabeta sugeriu. – Enquanto você me ajuda a lidar com o romance.

— E como isso funcionaria?

— Nós podemos fazer encontros de mentira, eu não sei. – ela o encarou, séria. – Você poderia me levar para jantar, eu poderia levá-lo para algum lugar com pessoas solteiras.

— Isso parece confuso. – Darcy riu. – Mas pode funcionar.

Talvez se estivessem mais sóbrios as luzes de alerta teriam acendido. Os sinais da confusão que aquilo poderia causar. Ainda assim, quando se despediram mais tarde naquela noite, já havia um encontro programado para a semana seguinte.


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