Ele suava de nervosismo, conseguia ver os seus olhos irrequietos e os constantes morder de lábios e alguns olhares significantes para o céu (naquele caso para o tecto, mas eu sabia que estava a ver outra coisa). Estávamos rodeados de pessoas. Estávamos a cinco minutos de entrar em cena. As maquiadoras davam os últimos retoques na nossa maquilhagem. Outras noonas arranjavam-nos o cabelo. E ele suspirava profundamente para o ar. Cantava baixinho a sua mais que sabida e aprendida música. E eu lia os meus cartões de MC.

Alguém veio gritar que estava tudo pronto. E então as pessoas que nos rodeavam dispersaram. O showcase de Onew ia começar. Aproximei-me dele, depois de puxar de um lenço de papel de uma caixinha da maquiadora, coloquei o cartões seguros por baixo do braço, agarrei nas suas mãos, pequenas e grossas, másculas mas suaves (um contraste com as minhas longas e esguias) e limpei-lhe o suor.

— O que se passa? - Questionei. Era normal estar nervoso. Jinki ia finalmente fazer a sua muito esperada estreia como cantor a solo. Ele trabalhara por meses a fio naquelas músicas. Eu vira as noites em branco, eu vira todas as indecisões, as voltas e contravoltas. Eu estivera na linha da frente a convencê-lo a fazer aquele álbum. Ele colocava as actividades de todos os outros primeiro que as suas. Mas estava na altura de ele brilhar, estava a altura de ser ele a estrela. Porém, eu conseguia ver que alguma coisa mais o perturbava.

— Ficas tão bonito assim com o cabelos. - Eu sabia que ele gostava dos meus cabelos assim, era por isso que pedira à cabeleireira para os colocar assim. Ele fez um festa sobre os cabelos que me caiam sobre a testa. Normalmente eu preferia os cabelos longe dos olhos, mas hoje era o dia dele e eu queria estar para ele como ele sempre estava para mim quando eu fazia alguma atividade fora do SHINee. Além disso, queria que ele estivesse bem e visse as coisas que mais gostava, e isso incluia-me a mim.

Ouvimos os fãs gritar. O VCR do inicio do show tinha começado. Perto de nós os dançarinos tinham-se posto a postos, preparados para entrar. Um dos técnicos de som entregou-nos os microfones e pediu-nos para esperar-mos pela sua indicação para ligarmos os transmissores. Havia uma excitação nervosa e entusiasta no ar. Falava-se em sussurros.

— Não mudes de conversa Yeonggam! - Ripostei finalizando de limpar as suas mãos. Dei uma última mirada. Ele estava perfeito. O seu cabelo era de azul prateado, as roupas assentavam-lhe bem na figura do seu corpo. Dava para imaginar o que estava por baixo. E as lentes de contacto davam-lhe um ar de ser de outro mundo. Um elfo, um anjo, algo divino.

— Kibum, achas que sou mesmo capaz de fazer isto!? - Estava outra vez a duvidar dele mesmo. Ele era a dualidade em pessoa. Ele tinha tanta confiança como de duvida. Ele tinha tanto de trapalhão como te organizado. Tão confiante em liderar a sua equipa, mas tão desconfiado quanto a si mesmo.

— Eu não acho, eu tenho a certeza que és! - Assegurei-o.

— Eu não tenho assim tanta a certeza.

— Jinki, como é que tu podes não ter a certeza de uma coisa que já estás a fazer? - Perguntei-lhe. Ele não conseguia ver, não conseguia sentir que do outro lado daquele palco já estavam algumas centenas de fãs à sua espera? À espera de o ver. Só a ele. Ele não percebia que já era um sucesso e que já tinha começado.

Ele continuava a olhar com incerteza para mim. Como queria abraçá-lo naquele momento, mas não podia pois não queria amarrotar-lhe a roupa ou estragar o seu cabelo. Queria-o perfeito para quando fosse para debaixo dos holofotes. Mas eu realmente queria fazer algo naquele momento. Então olhei em volta e reparei de o staff estava todo ele demasiado ocupado, pelo menos naquele momento, todos focados para a entrada de Onew em cena.

Levantei os cartões de MC, tapando parte da minha cara e debrucei-me para a frente de forma a dar-lhe um pequeno beijo, um rápido beijo, um toque suave de borboleta com os lábios. E ainda tive a coragem de roçar a minha boca perto do seu ouvido para lhe dizer:

— Tu és um espectáculo! - E quando me afastei quase que não conseguia olhar para o ar de espantado dele. Eu não era de fazer aquelas coisas. Não era muito da minha personalidade mostrar aquele tipo de carinho e muito menos em público. Acho que se não tivesse uma camada tão grossa de maquilhagem na cara, eu estaria mais vermelho que um tomate maduro ao sol. Mas eu estava realmente debaixo do sol… Jinki era o sol.

Ai, Jesus ele sorriu de tal maneira que deixou o meu coração a sair pela boca. Mas então ele estendeu uma das mãos e puxou-me com o seu braço. Ele, ao contrário de mim não tinha problemas em abraçar pessoas, fosse no palco ou fora dele, abraçou a minha cintura e puxou-me para ele.

— Eu sou o espectáculo e tu és o meu público. O único que eu realmente preciso e que me dá força para continuar. - Todas as forças do meu ser pareciam estar a fugir do meu corpo. Mas ele agarrava-me fortemente. As suas palavras pareciam tiradas de alguns daqueles livros que ele adorava ler (e eu também). Queria responder-lhe, mas… fui interrompido.

— Podem ligar os microfones! - Anunciou o técnico.

Ele soltou-me, ainda com o seu sorriso e piscou um dos olhos para mim. Depressa o momento passou. E nós gritamos “fighting” com os técnicos e bailarinos. E o momento dele entrar debaixo das luzes chegou. Fixei os meus olhos nas suas costas, ele parecia maior. E aquela pessoa que três segundos antes me dizia que estava nervoso e não sabia se tinha a certeza de tudo aquilo, cresceu, e ficou aquele gigante de palco que era capaz de roubar um coração apenas com um sopro da sua voz. Uma presença enorme que fazia desaparecer todas as sombras. Aquele era o momento de Lee Jinki. Era uma música R&B, com uns tons tropicais bastante mexidos e sensuais. Diferente daquilo que as pessoas esperavam dele. Sorri vendo-o dançar por entre dançarinos. Sorri abertamente. Orgulhoso. A sua voz saiu com tanta força e suavidade. Ia correr tudo bem. Ele era um espectáculo.