State Of Love And Trust escrita por LadyCygnus


Capítulo 1
State Of Love And Trust




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“State Of Love And Trust”

 

1.



Na primeira vez que Shun confessou algo importante para Hyoga, a noite foi uma montanha russa de sentimentos para os dois: Shun, ainda lutando para se esquecer da batalha contra Hades e dos pesadelos que o assolavam, entrou no quarto de Hyoga no meio da noite. O russo arrumava as malas, partiria para a Rússia no dia seguinte; as roupas dobradas em cima da cama, a caixa da armadura ao pé da cama e ele sentado no chão, observando algo em suas mãos.

 

“Você viaja pela manhã, Hyoga?” - a voz sempre otimista encontrava-se tímida e carregada de tristeza.

 

“Meu voo está marcado para às 2 da tarde, Shun. ”

 

O russo escutou os passos do japonês, abafados pelas meias, chegando cada vez mais perto de onde estava sentado no chão. Pode sentir o cosmo de Shun, a quentura que lhe era tão familiar o envolvendo - e pode sentir também a tristeza do outro. Quando o japonês sentou-se ao seu lado, havia uma distância entre eles que Hyoga queria encurtar, mas não possuía a coragem necessária para tomar tal atitude - existia algo entre eles, era inegável, mas os desejos não passavam de beijos ardentes trocados antes das batalhas onde as vidas de ambos estivessem em jogo, antes dos adeus e nunca passavam disso. Os dois não sabiam como seguir em frente - e se deveriam seguir em frente.

 

A foto nas mãos do russo havia sido tirada no ano anterior, alguns meses após a batalha das Doze Casas - um jantar na mansão Kido, alguma comemoração qualquer que não tinha importância para Hyoga. Na foto, Shun estava em pé atrás da cadeira onde Hyoga sentava, a mão em seu ombro esquerdo, sorrindo para a câmera. Os sorrisos, agora escassos, eram como uma luz em uma noite escura para o russo - desde que conheceu o japonês, vê-lo sorrindo esquentava algo dentro do coração do mais velho. Uma das razões pela escassez dos sorrisos de Shun era a sua partida, por um tempo indefinido, para a Sibéria.

 

Permaneceram lado a lado por algum tempo e Hyoga sentia-se incapaz de continuar a tarefa de arrumar as malas enquanto Shun permanecesse ao seu lado - sentia como se estivesse desrespeitando o amigo, especialmente por ter ciência de que ele não gostaria que o loiro partisse (e não conseguia dizer isso em voz alta). A distância já não era tão grande - eram dois imãs que se atraíam -, o calor de Shun tão próximo de seu corpo que a única coisa que gostaria era a de ser aquecido mais uma vez por ele.

 

Shun aproximou-se mais de Hyoga, o tronco girando e indo de encontro ao corpo do russo que tentava se conter; a mão direita do japonês apoiada no chão, sustentando o peso do mesmo enquanto a mão esquerda passeava pela clavícula do outro, num toque que parecia mal encostar na pele de Hyoga, eriçando-a e fazendo com o que o loiro perdesse o compasso de sua respiração.

 

“Shun...”

 

A voz rouca saiu baixa e a exploração continuou em direção ao pescoço de Hyoga, engalfinhando-se nos finos fios loiros. Os dedos pressionavam a pele mais bronzeada, deixando marcas avermelhadas e Hyoga fechava os olhos, perdido nas sensações. Sentiu-se sendo puxado por Shun, que roçava seu rosto contra o rosto do russo - sentiu também as lágrimas do outro escorrendo pela face alva e umedecendo o próprio rosto. O coração do russo parecia quebrar ali.

 

“Por favor, Alexei, não fala nada… não justifique a sua ida, eu consigo entender mas... Dói. Dói aqui dentro.”

 

Não conseguiu mais se conter e puxou o mais novo para junto de si - as mãos também entre as mechas castanho-avermelhadas do japonês, trazendo o rosto dele para perto do seu; seus lábios passeando pela pele de Shun, vez ou outra depositando beijos na face do amigo. “Amigo” era uma palavra que não cobria o que Shun significava para ele, mas não queria passar na frente do outro e assumir algo que talvez não existisse entre os dois.

 

Os lábios de Shun estavam salgados pelas lágrimas, mas ainda assim eram a coisa mais pura que Hyoga já experimentara em seus 18 anos de vida; os beijos eram correspondidos com um melancólico desespero que fazia com que Hyoga quisesse arrancar todo esse sentimento que dominava Shun, queria ele tomar toda aquela melancolia para si e deixar que Shun sorrisse radiantemente para tudo e todos. Perdido em seus pensamentos, Hyoga não percebeu que Shun estava em seu colo e que as mãos que antes afagavam seus cabelos desciam por seu tronco, puxando a camiseta velha que vestia.

 

Tudo parecia automático, embora algo do tipo nunca houvesse acontecido entre os dois e isso assustava Hyoga - como ele deveria agir? O que ele deveria fazer? Ele tinha algum preservativo para se protegerem? Não era a hora mais interessante para que a imagem de Camus viesse à sua cabeça com uma das aulas sobre educação sexual, mas tinham que se preocupar, tinham de se proteger - e, acima de tudo, deveria haver consentimento. Respirando fundo e invocando todas as forças que possuía, segurou as mãos de Shun, trazendo-as para perto de seu tórax e pediu para que ele olhasse em seus olhos.

 

“Shun, Shun, me escuta, por favor. Olha pra mim e me diz o que você quer…”

 

“Hyoga, você vai embora e tudo o que eu queria era saber, sentir você…” - Suspirou fundo - era uma das coisas que Hyoga mais queria em sua vida.

 

“Shun, eu não quero fazer algo que te machuque, eu não quero fazer algo que você se arrependa depois.” - Viu os olhos quase azuis do cavaleiro de Andrômeda suavizarem, como se parte da tempestade que os assolava se dissipasse; o semblante desesperado mudou também.

 

“Hyoga, eu não me arrependeria… eu não me arrependeria de ter esse momento com você.”

 

Os orbes de Shun focaram nos olhos azuis de Hyoga e suas testas então se encostaram; encaravam-se enquanto as mãos de ambos passeavam por seus corpos, tocando e mapeando músculos e a pouca pele exposta - foi assim que Hyoga conseguiu acalmar Shun e, quando sentiu o outro completamente relaxado, começou a falar.

 

“Shun, a ideia de voltar à Rússia é estranha para mim, pela primeira vez em minha vida… não é que eu não queira ir, mas voltar a um lugar onde não há nada ou ninguém me esperando é algo que me deixa mais angustiado do que ansioso ou mesmo feliz… estar aqui com você, tê-lo tão próximo de mim e sentir seu calor, meu deus! Não há nada que eu queira mais do que isso, mas é o que você realmente quer?”

 

Andrômeda ponderou as palavras do russo por algum tempo, as mãos ainda percorrendo pelos braços de Hyoga - agora em uma carícia mais tímida; as maçãs do rosto de Shun coradas e os lábios sendo abusados pelos próprios dentes, como se ele estivesse se segurando para não dizer alguma coisa.

 

“É dessa maneira que as pessoas se relacionam, não?”

 

“Só é assim se as duas se sentirem bem para seguir adiante, Shun. Nós dois é algo que te faria bem…?”

 

“Muito, Hyoga” - a resposta, seguida de um sorriso, veio rapidamente. “Estar junto de você é algo que me faria bem e eu penso muito sobre isso, mas a coragem de dizer alguma coisa, o medo de você me rejeitar…”

 

“Estar com você é algo que eu também quero muito, Shun… eu não te rejeitaria de maneira alguma!” - Olhou diretamente para o japonês, segurando a face dele com suas mãos e então acariciando a pele rosada com os polegares, num gesto de carinho. “Mas se formos dar esse passo, transar, nós dois temos que estar bem para isso.”

 

“E é o que você quer?”

 

“É o que você quer agora?” - Retrucou a pergunta.

 

Shun desviou o olhar, respirando fundo. Sentia que os filmes que assistira, os conselhos que lera e recebera e tudo mais o que sabia que era o ‘correto’ para uma relação não eram o padrão para ele mas, com medo de perder alguém, deixou tudo isso de lado ao tomar uma decisão a qual não encontrava-se completamente seguro.

 

“Hey, você sabe que pode me dizer qualquer coisa, Shun. Qualquer coisa.”

 

Moveu-se no colo do russo, sentindo-se um pouco envergonhado - a situação em que se encontrava agora lhe parecia estranha. Respirou fundo, sabia que precisava ser sincero com Hyoga. Num tom quase que suspirado, revelou:

 

“Eu acho que tem algo quebrado em mim, diferente.”

“Shun, o que está quebrado ou diferente?” - Antes de seguir em frente, abraçou o mais novo junto ao seu corpo, como se quisesse protegê-lo de qualquer coisa. - “Eu quero que você seja honesto comigo, assim como eu serei honesto com você.”

 

“Alexei, existe algo entre nós que eu não sei explicar o que é, mas eu gosto disso, me sinto bem estando perto de você. O problema é que quando eu tento pensar em te desejar de outra maneira, não acontece nada...”

 

“Quando você tenta me desejar…?” - A princípio, Hyoga não conseguiu entender o que Shun dizia, mas quando a ficha caiu, sentiu-se estúpido. “Oh… sexo, é isso?”

 

Ao ver o japonês afirmando com a cabeça e ficar envergonhado, Hyoga sentiu-se mal. Óbvio que desejava Shun de todas as maneiras possíveis, mas não sabia o que poderia dizer ao outro e a última coisa que queria era magoar aquele por quem tinha um carinho enorme. Respirou fundo - a situação não se resumia a ele e sim a Shun.

 

“Shun, me escuta quando eu digo que isso não mudaria nada do que sinto por você. Essa ligação que a gente tem significa tanto pra mim que isso é o de menos, eu juro.”

 

“E no futuro, vai ser da mesma maneira?”

 

O coração de Hyoga deu um pulo em seu peito - Shun pensava num futuro para eles! A possibilidade deles estarem juntos por um bom tempo o fez sorrir e sentir-se feliz, afinal, tinha uma razão concreta para voltar ao Japão e que deixaria os meses que passaria longe do japonês mais amenos (pensando pelo lado positivo, já que Hyoga não queria focar na saudade ou na solidão que sentiria). Porém, ao pensar em não consumar uma relação, a cabeça do russo encheu-se de dúvidas em relação a ele próprio.

 

Havia um laço cheio de carinho, respeito e amor entre os dois - o amor poderia não ser romântico ao ponto de mover montanhas, mas era presente há tempos. Para Hyoga, sexo e amor eram diferentes um do outro mas poderiam andar juntos, um poderia complementar o outro - pelo menos, era isso o que a sociedade dizia, não? Não ousava negar que desejava Shun - por várias vezes, acordara no meio da noite em sonhos que o faziam corar ao olhar para Shun pela manhã; o corpo dele respondia aos beijos trocados e, quando estava sozinho e  lembrava-se deles, arranjava um jeito de lidar com a situação. Aprendeu a gostar da sensação que um orgasmo lhe causava - mesmo sentindo-se um pouco sujo por fantasiar com o amigo que, até então, nunca lhe dissera nada sobre o que sentia por ele.

 

Ao perceber que as feições de Shun se tornavam tristes pela demora em lhe responder, o loiro então abriu seu coração, sendo sincero como prometera.

 

“Estou extremamente feliz em saber que considera um futuro para nós, Shun… isso é… isso é algo que venho pensando há tempos, mas também tinha medo que você me rejeitasse.” - Sorriu. “E, respondendo sua pergunta, eu honestamente não sei. Digo, eu gosto muito de você e nunca faria algo que lhe machucasse, mas eu nunca pensei na possibilidade de amar e não dormir com essa pessoa, se é que você me entende.”

 

“Oh… eu entendo...” - O japonês já fazia menção em sair dos braços do russo quando o outro continuou a falar.

 

“Shun, espera, eu não terminei. Como eu disse, eu nunca pensei que um relacionamento pudesse existir sem sexo, mas se sexo pode existir sem um relacionamento, a questão é nos adaptarmos a isso. Quero dizer, eu me adaptar a isso.”

 

“Mas você não vai sentir falta disso?”

 

“Como posso sentir falta de uma coisa que nunca fiz, Shun?” - sorriu, não sentindo-se envergonhado pela confissão. Verdade fosse dita, sabia que já poderia ter transado com quem quisesse mas não sentia-se preparado para isso. No fundo, esperava que fosse com a pessoa certa, algo que o fazia corar dado tamanho sentimentalismo, mas sabia que caso fosse de qualquer maneira, arrependeria-se muito no futuro. - “Eu sei que é algo sentimental, mas não gostaria que fosse com qualquer pessoa só para saciar uma vontade e me arrepender disso depois.”

 

“Mas você sente desejos, não?” - Saiu do colo do russo, sentando-se de frente para ele, esperando pela resposta.

 

“Sim, Shun… eu sinto esses desejos e bem, faço o que posso para saciá-los.” - Corou ao responder o japonês, baixando os olhos ao se lembrar das inúmeras vezes em que o imaginou junto de si e chamou pelo seu nome nos momentos de clímax. Respirou fundo, não imaginava que uma simples conversa poderia mexer com seu íntimo de tal maneira que agradecia a todos os deuses possíveis por Shun não estar mais em seu colo.

 

“São esses desejos que eu não entendo, Hyoga. Eu não os tenho, não do mesmo jeito que você… meu corpo não reage.”

Hyoga então percebeu a linguagem corporal de Shun, que mexia num fio invisível em sua calça: o japonês estava lhe confiando um segredo, algo bem particular que não falaria com mais ninguém, mas sentia-se envergonhado. Estaria mentindo se dissesse que entendia exatamente o que se passava com Shun - não fazia ideia do que acontecia, da mesma maneira que não entendera quando seu corpo começou a reagir em momentos inapropriados e, depois de uma conversa com Camus (este mais o técnico possível, com uma cara de quem não gostaria de ser a pessoa a falar sobre esse assunto com dois adolescentes), começou a entender melhor a situação - mas lembrou-se da mesma conversa onde Camus dizia que pessoas tendem a ter diferentes abordagens e visões sobre sexo em geral.

 

“Eu tive essa conversa com o Camus, quando entrei na adolescência… foi algo esclarecedor, de certa maneira… eu me via interessado no Isaak, mas sabia que ele não me via do jeito que eu queria, mas havia também algumas garotas da cidade que mexiam comigo também… Camus me explicou que era algo normal para a minha idade e que não havia nada de errado em me sentir atraído por meu amigo...”

 

Após algum tempo em silêncio, digerindo o que Hyoga havia lhe confessado, Shun desatou a falar.

 

“Daidalos teve a mesma conversa conosco na Ilha de Andrômeda. Sabe, quando essa conversa aconteceu, eu achava que eu não sentia nada por estar focado no treinamento, mas eu sabia que não era só isso. Eu sabia que a June sentia algo por mim, mas nunca me senti interessado em corresponder do jeito que ela gostaria. Havia uma ligação entre nós, mas não do jeito que ela queria que fosse; eu a tinha como uma irmã, como uma amiga mesmo… quando ela veio ao Japão impedir que eu fosse ao Santuário, quis fazer algo que a apaziguasse mas aí percebi que não era a mesma coisa; o beijo não foi algo como aqueles que trocávamos.” Ao ver Hyoga com os olhos arregalados, sorriu ladinamente. “Sim, eu beijei June e, um tempo depois, percebi que aquele deve ter sido o pior beijo da vida dela!”

 

“Você sentia algo por ela?”

 

“Não… quer dizer, sinto admiração e carinho, mas não é a mesma coisa que sinto por você… Todas as vezes que nos beijamos, algo bom dentro de mim acendia e me deixava feliz, mas não ao ponto de… de ter uma ereção ou algo do tipo...”

 

Hyoga sorriu; sabia que não era fácil falar de coisas tão íntimas para as pessoas, por mais próximas que elas fossem.

 

“Shun, muito obrigado por dividir coisas tão particulares comigo… sei que não é fácil e eu agradeço a confiança.” - Segurou as mãos do japonês, acariciando as palmas com os dedos.

 

“Confiança é a base de qualquer relacionamento… Mas, me diga: se vamos ter alguma coisa, como podemos contornar esse problema?”

 

A pergunta feita pelo japonês que sustentava o olhar no do olhar do russo era válida e crucial. Hyoga olhou para as mãos de ambos; os dedos entrelaçados e Shun correspondendo ao carinho recebido, acariciando com o polegar as costas da mão esquerda do loiro, esperando por alguma resposta.

 

“Shun, eu não vou te forçar a fazer nada que você não queira ou não se sinta à vontade para fazer...”

 

“Sim, você foi claro em relação a isso, mas talvez eu… talvez eu não tenha sido claro sobre algumas.” - Respirou fundo, antes de continuar. - “Não é porque eu não pense sobre sexo que você não deva pensar ou deva se privar disso.”

 

O japonês viu o russo arregalar os olhos, aparentemente assustado com as possíveis interpretações da afirmação de Shun.

 

“Hyoga, preste atenção: não estou sugerindo que não fiquemos juntos ou que você procure outra pessoa para se satisfazer, mas eu queria… eu queria dar uma chance para nós dois. Eu sei que tudo conspira contra nós, você está indo para a Rússia em… meu deus, menos de doze horas!” - Antes que perdesse o raciocínio, recompôs-se. - “E… estamos embarcando em um relacionamento de longa distância. Quero que você saiba que eu não vou impor que você não sinta nada ou que simplesmente reprima os seus desejos. Vamos pensar em algo juntos mas eu só te peço uma coisa: quando você se cansar disso, não me traia… não aja sem me dizer alguma coisa antes, por favor.”

 

“Não faria isso com você, Shun, de maneira alguma!”

 

Pensar que poderia trair Shun por algo que poderia não significar nada para ele mas muito para o japonês o corroeu por dentro. Não conseguia pensar nisso, mas sabia que essa era uma insegurança para Shun - eram jovens e poderiam mudar de ideia em relação a muitas coisas, mas a traição por prazer era algo que não passava pela cabeça dele, afinal, o amor bastava, não?

 

Não deixou que o pensamento seguisse adiante e resolveu pensar no agora, naquele momento sendo construído ali: estava deixando o Japão, mas começava um relacionamento com o homem que tanto adorava. Sem pensar duas vezes, atirou-se nos braços do mais novo, derrubando-o contra a mala que fazia antes da chegada do mesmo. Elevou o corpo, apoiando-o em seus cotovelos e admirava a figura embaixo dele: o rosto em formato de coração, os olhos amedoados, as íris azuladas; as maçãs do rosto tomadas pelo rubor e as covinhas nas bochechas rosadas. Observou tudo, tomando cada detalhe para si antes de parar o olhar nos lábios de Shun. Como se pedisse permissão, olhou nos orbes que se fechavam e então sentiu uma mão envolver-lhe a nuca, o levando para perto dos lábios que tanto desejava. Os lábios de ambos se tocavam sem pressa - os dois alheios ao tempo, como se este não fosse passar ou se esgotar: o que interessava era que estavam ali. Quando a língua de Shun tocou os lábios de Hyoga, o russo deixou o beijo ser aprofundado, dando ao outro total liberdade para seguir em frente ou mesmo parar.

 

Continuaram assim por algum tempo, até que Hyoga percebeu que as posições haviam sido invertidas e Shun agora o observava: os lábios inchados, o sorriso presente e uma aura mais leve do que antes. Imaginou que seus próprios lábios deveriam estar tão abusados quanto os do japonês e, involuntariamente levou os dedos à boca para senti-los.

 

“Acho que você não beijou June desse jeito de propósito, Shun… Esse, sem dúvida, foi um dos melhores beijos que eu já recebi e eu faria qualquer coisa que você me pedisse agora. Estou enfeitiçado!”

 

“Bem, pode ser que eu não tenha me empenhado tanto àquela época, mas já que você faria qualquer coisa agora, acho que você deveria aceitar esse pedido que eu tenho para te fazer… Parece algo infantil, mas… você poderia ser meu namorado.... O que acha desse pedido?”

 

“Hmm...” - Batia a ponta dos dedos contra os lábios de uma maneira jocosa enquanto fingia considerar o pedido de Shun. - “Você promete me beijar mais se eu disser que sim?”

 

“Posso considerar o seu pedido...”

 

O russo então sentou-se, fazendo com que o japonês sentasse também. Um de frente para o outro, olhavam-se até que o russo se aproximou mais, fechando os olhos e encostando seus lábios nos do japonês.

 

“Sim, Shun, eu quero ser o seu namorado.”

 

***

 

Permaneceram algum tempo entre beijos, risos e amenidades - era a maneira de evitarem pensar no tempo que tinham. No fim das contas, Hyoga teve que pedir ajuda de Shun para arrumar a mala - roupas básicas, livros e dois casacos, já que Hyoga dizia que era mais fácil conseguir casacos mais pesados quando chegasse a Yakutsk do que levá-los do Japão. Aproveitou e entregou um casaco para Shun, dizendo que ele deveria usá-lo quando fosse visitá-lo na Sibéria.

 

“Você poderia me visitar por lá e eu poderia te levar para conhecer as lindas planícies geladas… o que acha disso?”

 

“Eu gostaria de conhecer o lugar onde você mora, Hyoga...”

 

“Hey, eu não moro lá…pelo menos, acho que não moro mais lá. Mas gostaria que você passasse algum tempo comigo em Yakutsk, já que minha volta depende de uma ordem de Saori e pode demorar algum tempo até que Camus esteja completamente recuperado para que possamos discutir sobre aquela região...”

 

A iminência da partida de Hyoga voltou a trazer a melancolia para o quarto onde estavam; o ar pesado e os rostos dos dois demonstrando os sentimentos conflitantes. Shun sentou-se na cama, olhando o namorado terminando de colocar algumas peças de roupas na mala. Deitou-se, puxando um dos travesseiros do russo contra o seu rosto, inalando o cheiro do perfume do outro - algo cítrico e uma nota de canela, o que o fez sorrir- e perdendo-se em seus pensamentos. Passou algum tempo assim, até que sentou-se novamente e disse ao russo que logo voltaria.

 

Dirigiu-se ao seu quarto, por onde correu os olhos procurando por algo que poderia dar ao russo para que pudessem dar um jeito na saudade que sentiriam um do outro, mas não tinha ideia do que poderia entregar como uma lembrança. Após algum tempo olhando, procurando por algo, resignou-se. A batida na porta o tirou de seus pensamentos.

 

“Cansou-se de mim?”

 

“Não… queria dar algo meu para que você se lembrasse de mim enquanto estivesse fora, mas não consigo pensar em nada. Há algo aqui que você queira? Só não leve o meu Nintendo Switch, por favor!”

 

Hyoga riu, se aproximando mais de Shun. O quarto do japonês era impecável, arrumado e organizado - Shun sempre fora assim, enquanto ele aprendera a ser mais organizado à duras penas - mas ele não conseguia pensar em nada.

 

“O que você quer que eu te dê?” - Viu o mais novo corar e respirar fundo antes de responder.

 

“Queria algo que tivesse o seu perfume…  Eu gosto dele.”

“Tem algo particular em mente?” - Viu o outro acenar com a cabeça, ficando mais vermelho ainda. - “Okay, então eu vou aceitar a mesma coisa que você quer de mim, pode ser?”

 

Antes de acenar que sim com a cabeça, Shun sentou-se em sua cama e bateu com a mão direita no colchão, sinalizando para o russo que queria que ele se sentasse ali e, quando viu que este já estava ao seu lado, tirou o moletom que vestia e, prontamente, também tirou a camiseta que usava, entregando-a ao russo e colocando o moletom de volta. Viu o russo segurar a camiseta como se fosse algo precioso, cheirando-a antes de dobrá-la com cuidado e colocá-la ao seu lado. Levou as mãos à barra de sua camiseta - uma velha camiseta preta, cheia de furos, mas uma de suas preferidas - puxando e a entregando a Shun. Não tinha nada por baixo e, quando fez menção de ir ao seu quarto colocar outra camiseta qualquer, sentiu a mão do japonês circulando a sua, chamando sua atenção.

 

“Não precisa… só encoste a porta e fique aqui comigo.”

 

Um pouco desconcertado ao ver Shun deitando-se em sua cama e o observando, Hyoga encostou a porta do quarto e voltou para a cama, onde Shun logo acomodou a cabeça em seu ombro e o braço em seu torso.

 

“Podemos ficar assim por algum tempo? Caso isso te incomode, pode me dizer, tá?”

 

“Sim, eu te aviso.” Com um beijo no topo da cabeça de Shun, Hyoga ajeitou-se mais e acariciava os cabelos do japonês, novamente esquecendo-se que o tempo não era amigo deles nesta situação.

 

***

 

Foram acordados com as pessoas que moravam e trabalhavam na mansão Kido iniciando suas rotinas: os ruídos de pessoas andando pelo jardim e cuidando do mesmo, alguns dos empregados fazendo seus trabalhos, os residentes - poucos, mas ali presentes estavam Jabu, Ichi, Nachi e Ban. Geki voltara ao Canadá, para treinar e estudar - acordando e se preparando para as rotinas de treinos e estudos. A mansão passara por períodos onde parecia estar abandonada, mas o cotidiano havia voltado ao normal há pouco tempo.

 

Shun foi o primeiro a abrir os olhos, ainda confuso pelo sono e por perceber que havia mais alguém em sua cama, até lembrar-se de tudo o que acontecera na noite passada. Ainda despertando, percebeu que as posições que haviam adormecido mudaram; Hyoga estava de lado, contra seu peito e numa posição mais abaixo, sentia o braço esquerdo do russo em sua cintura e os cabelos loiros e desalinhados tocando em seu queixo. A hora disposta no antigo rádio relógio mostrava que passava um pouco das 7 da manhã e, então, permitiu-se ser um pouco egoísta e ignorar que, em pouco tempo, o homem que dormia em seus braços, não estaria mais ali. Não ficaria triste agora, aproveitaria um pouco deste tempo. Com a mão direita, acariciava as costas do loiro, subindo em direção à nuca e ajeitando o emaranhado de fios loiros com os dedos, cuidadosamente para não acordar o outro. Quando se deu por satisfeito, a mão voltou a acariciar a pele disposta do pescoço, passeando e mapeando os contornos do rosto de Hyoga. Ainda havia algo que remetia ao rosto infantil que tanto chamava a sua atenção quando criança, mas pensou que talvez fossem somente as lembranças que tinha - Hyoga já portava um rosto mais adulto, a pele já era diferente, alguns cravos aqui e ali, algumas regiões mais ásperas que indicavam que teria que fazer a barba logo. Notou os cílios claros, as sardas que quase não apareciam na região dos olhos e nariz, a forma arqueada da sobrancelha e o quão relaxado o rosto do mais velho estava. Sorriu, memorizando cada um desses detalhes.

 

Ao tirar a franja do loiro do rosto para que pudesse continuar guardando todos esses detalhes, o outro franziu o nariz e ajeitou o rosto em seu peito, apertando-o contra si e grunhindo algo - sabia o quanto Hyoga gostava de dormir e sentiu-se mal por perturbar o sono do russo, voltando então a acariciar os cabelos dele. Continuou assim por algum tempo, até escutar os roncos abafados e rir baixo, mas em seguida o próprio corpo não aguentava mais e, além do braço dormente, a bexiga também precisava de alívio.

 

“Hyoga… Hyoga, acorda...”

 

“Nyet.”

 

“Hyoga...” - riu quando o outro grunhiu mais uma vez e, sem aguentar mais, saiu da cama com o maior cuidado possível para não perturbar o sono do outro.

 

Como todos os quartos da mansão eram suítes, não precisou se preocupar em encontrar alguém e explicar os risos àquela hora; aliviou-se e fez sua higiene matinal antes de retornar ao quarto. Olhou o relógio, já faltava pouco para às 8 da manhã e sabia que teria de acordar o loiro. Sentou-se ao lado de Hyoga - que agora já ocupava a cama toda e abraçava o travesseiro de Shun - e calmamente chamava pelo nome do russo, até que este começou a dar sinais de que estava despertando. Após algum tempo, o loiro virou-se para Shun: os olhos entreabertos, tentando se acostumar com a luminosidade que adentrava o quarto; a cara amassada de sono e os lábios inchados que se curvavam em um tímido sorriso.

 

“Dobroye utro… Ohayou, Shun!”

 

“Ohayou, Hyoga!”

 

Continuavam se olhando, se observando como se estivessem repassando a noite anterior e se vendo com outros olhos, sob uma nova dinâmica. Em tese, nada havia mudado entre os dois - já conheciam a rotina um do outro, já haviam dividido quartos ou até mesmo dormido juntos, no mesmo sofá, enquanto maratonavam séries ou jogavam vídeo games noite afora, mas era como se um interruptor tivesse sido ligado e essa nova ótica lhes mostrasse um novo tipo de intimidade. Ainda hipnotizado pela figura que despertava, Shun levou a mão ao rosto do outro, tirando a franja que insistia em cair sobre os olhos azuis do russo, aproveitando para acariciar o rosto dele. Comprometido em aproveitar todo o tempo que tinham, Hyoga se rendeu aos afagos antes de se levantar da cama e depositar um beijo rápido nos lábios do japonês.

 

“Volto já para te dar um beijo de verdade!” - A voz ainda estava rouca de sono.

 

Shun riu, pensando no como se acostumaria rápido com essa intimidade - e, propositalmente, não olhou para o relógio para, assim, adiar o inevitável. Viu Hyoga entrando em seu banheiro mesmo, fechando a porta e, depois de alguns minutos, perguntando se poderia usar o enxaguante bucal que estava por ali.

 

“Eu deveria escovar os dentes, mas vai demorar!”

 

“Na primeira gaveta há uma escova nova, pode usá-la!”

 

Quando o loiro voltou ao quarto, Shun tinha a camiseta velha em seu colo - olhava para a peça como se esta fosse algo importante, querido; um amuleto. Sorriu e sentou-se ao lado do japonês, encostando a cabeça em seu ombro.

 

“Alguém me prometeu um beijo decente de bom dia...”

 

“Aquele beijo não foi decente?”

 

“Não muito… foi fofo, mas tenho certeza que até a June diria que aquele beijo que eu dei nela foi mais convincente e profundo do que aquele!”

 

“Ouch!”

 

A risada contagiante de Shun era inebriante e Hyoga queria ouvir mais dela. Sabendo que o namorado era sensível às cócegas, procurou pelos pontos onde sabia que ele iria ir: cutucou a barriga, as costelas, os joelhos de Shun, fazendo com que o japonês risse e se debatesse, implorando para que o loiro parasse. Estavam deitados na cama, esperando que a respiração de Shun se normalizasse, quando o mais novo o olhou novamente.

 

“Oi...”

 

“Olá...” - Se aproximando, Hyoga tomou o queixo de Shun em sua mão, aproximando o seu rosto do rosto do japonês.

 

O beijo, que começou inocente, logo se tornou mais profundo - as línguas se tocavam e as mãos de Shun seguravam Hyogas pelos cabelos, como se não quisesse que aquele beijo terminasse. Quando um se separava para tomar ar, os lábios do outro logo estavam de volta. Hyoga não percebeu que o próprio corpo começava a reagir até ouvir os ruídos que Shun fazia: ele parecia ronronar, satisfeito com o momento. Tentou abstrair, mas sentia o corpo quente, o coração acelerando e uma sensação gostosa no baixo ventre.

 

“Shun...” - Os lábios ainda roçavam nos do japonês, que por estar com os olhos fechados, não via o estado em que o loiro estava.

 

“Hmm?”

 

“Vamos parar por aqui…?”

 

A resposta demorou a vir, mas quando Shun acenou com a cabeça, havia um sorriso em seus lábios; algo puro, feliz. Hyoga sorriu, depositando um beijo na testa do namorado antes de sentar-se na cama.

 

“Eu… eu preciso tomar um banho e aí vamos tomar café da manhã, ok?”

 

“Está bem!” - o sorriso ainda estava lá.

 

Hyoga não sabia como deveria proceder - Shun iria perceber que ele estava excitado, o moletom que vestia o denunciaria e era uma daquelas situações que não adiantava pensar em algo broxante para ajudá-lo. Respirou fundo e, quando estava prestes a dizer algo, Shun interrompeu.

 

“Hyoga, obrigado por me entender e me respeitar… óbvio que eu entendo que as coisas não são da mesma maneira pra mim, mas você não precisa se envergonhar de nada...”

 

Sorriu, pois não conseguia formular nada que respondesse Shun à altura que este merecia. Recolheu a camiseta de Shun, levando-a junto ao seu corpo e saiu em direção à porta, indo para o seu quarto. Lá, levou a camiseta ao seu rosto, inalando o perfume do mais novo antes de despir-se e entrar no chuveiro. Enquanto as mãos passeavam pelo próprio corpo, lembrou-se dos beijos, do sorriso e do ronronar de Shun - sabia que não demoraria a chegar ao clímax, mas, pela primeira vez, não se sentia mal em gozar pensando em Shun. O corpo inteiro tremia e a respiração demorou a voltar ao normal, mas sentia-se satisfeito.



—--

 

Encontraram-se no corredor, ambos com a ideia de encontrar o outro em seu respectivo quarto. Caminhando lado a lado - algo que faziam quase que todos os dias enquanto estavam na mansão, perceberam que a distância entre eles sempre fora curta e comentavam sobre isso quando chegaram à cozinha e viram que, dado o horário que chegaram, o café da manhã já havia sido servido e retirado da mesa. Enquanto Shun procurava por algo - mesmo que não fosse o desjejum tradicional japonês, já que muitos dos adolescentes haviam adquirido gostos diferentes enquanto treinavam em diferentes países -, Hyoga colocava água na chaleira elétrica para fazer um chá para os dois.

 

“Bem, eu sei que comeria esse bolo de morango agora… você quer algo diferente?”

 

“Aceito um pedaço do bolo… podemos comer algo no aeroporto mesmo, o que acha?”

 

“Sim, pode ser...”

“Shun, eu entendo caso você não queira ir, mas… estar longe não vai ser o fim, de jeito algum. Agora podemos nos comunicar, temos meios mais fáceis do que cartas, mas não me oponho ao jeito antigo! A vila onde eu fico não é isolada do mundo, por incrível que pareça!” - Riu, tentando animar Shun. - “Você vai me visitar logo, verá com seus próprios olhos...”

 

“Eu queria ter tido essa conversa há uma semana atrás...” - Suspirou, resignado. - “Teríamos tempo juntos...”

 

“Por mais que eu quisesse que essa conversa também tivesse acontecido antes, eu estou feliz… Há uma semana atrás estávamos juntos sim, talvez não no sentido de estarmos em um relacionamento, mas isso conta, Shun.” - Aproximou-se do japonês, beijando o topo de sua cabeça enquanto o abraçava por trás, aproveitando o momento para inalar a fragrância do shampoo e condicionador que ele usava. - “É isso o que interessa, Shun.”

 

“Sim, você tem razão...”

 

—--

 

Como Shun iria junto com Hyoga, os dois tiveram de acelerar os preparativos para chegarem em tempo no aeroporto de Narita. Preferiram pegar um táxi de Azabu, onde a mansão de Saori ficava, até a estação Daimon e então pegar o trem até Narita. A viagem de trem demorou uma hora e vinte minutos e os dois não paravam de conversar - as mãos timidamente se encostavam; era nítido que estavam com um pouco de vergonha por estarem em um lugar público e sabiam como os japoneses eram reservados quando o assunto era demonstração de afeto em público, mas os sorrisos e os olhares eram carregados de carinho.

 

Quando chegaram no terminal 1, já conversavam sobre onde almoçariam, já que teriam cerca de uma hora meia juntos - Hyoga faria o check-in pelo celular, para garantir que tivessem algum tempo a mais. O restaurante escolhido ficava no quinto andar do aeroporto, próximo ao deck de observação. Sentaram-se à mesa e fizeram os pedidos; Hyoga segurava a mão de Shun, que sorria e nada dizia - o silêncio entre os dois não era incômodo, pelo contrário. Quando os pedidos chegaram, pegavam coisas um do prato do outro - algo comum entre eles - e lembraram-se da dificuldade de Hyoga em aprender usar hashis quando criança, rindo daquelas memórias.

 

Não queriam que o tempo passasse, mas a hora da partida chegava e precisavam se despedir; havia lágrimas nos olhos dos dois, mas elas relutavam em cair.

 

“Eu não vou chorar de tristeza, Alexei… Se lágrimas caírem, é por eu estar feliz em ter você em minha vida e eu sei que dói nos separarmos justo agora, mas eu sei que não é o fim...”

 

“É só o começo, Shun… é só o começo de tudo, tá?” - Abraçou o mais novo, o trazendo para perto de si e encaixando o rosto contra o ombro do outro. Shun estava sendo mais forte do que ele que, apesar de entender toda a situação, não conseguia segurar as lágrimas. Sentiu os braços de Shun o apertando mais forte contra o próprio corpo, como fizera tantas outras vezes que o mais novo precisava de conforto e pode sentir-se seguro, querido - era assim que queria que Shun se sentisse quando o abraçava daquela maneira.

 

Não se importaram com ninguém ao redor deles quando se beijaram, selando a promessa de que aquele era o começo de tudo. Era um beijo de despedida, de conforto, de comprometimento e de entendimento - sabiam que haviam tantas coisas a passarem juntos e superariam cada uma delas, juntos.

 

Caminharam juntos até o ponto onde Hyoga passaria pela segurança e, quando o russo mexia em sua mochila, procurando pelo passaporte e pela passagem, Shun viu a camiseta trocada na madrugada anterior. Sorriu. Havia algumas pessoas na frente deles e antes de Hyoga ser chamado para passar pela segurança trocaram mais um beijo e Shun então se afastou, acenando para o loiro, que acenava de volta.



—--

 

Enquanto esperava pela decolagem do avião, no deck de observação, fora abordado por uma jovem, que parecia ter seus 25 anos e, claramente, não era japonesa.

 

“Sorry for bothering you, but… I was taking pictures here and I saw you and your boyfriend saying goodbye and… sorry, I took a picture of you two.”

 

“Oh, it’s not a problem! ” - Viu a mulher mexendo no celular, a fim de achar a foto e mostrá-la para Shun.

 

“Here it is… it’s a lovely picture and I feel terrible for taking it without your consent, but… I could send it to you, if you want.”

 

“Sure, I’d love to have it!”

 

Conversaram mais um pouco enquanto a mulher passava a foto para Shun via bluetooth, que a agradeceu. Antes de se despedir, a mulher pediu desculpas mais uma vez e disse que os dois eram um lindo casal, desejando que eles se vissem novamente logo.

 

Não resistindo, mandou a foto para Hyoga - sabia que ele não poderia vê-la agora, já que os celulares na área de embarque deveriam estar desligados, mas mesmo assim, precisava fazer isso: a foto realmente era linda e captava todos os sentimentos daquela despedida. Continuou ali, no deck de observação; era uma tarde linda, de céu aberto e os ventos bagunçavam seus cabelos. Achou um banco e sentou-se nele, esperando pelo avião de Hyoga partir - óbvio que não sabia exatamente qual era a aeronave, mas ficou por ali.

—--

 

Era um voo curto, de duas horas e meia e por isso não ligou o celular; ao desembarcar em Vladivostok esperaria mais três horas até embarcar novamente em um avião para Yakutsk - ainda em que era um voo direto, agradecia imensamente por isso - e, sentado em um canto isolado do aeroporto, mexia em sua mochila para achar o celular. Quando o ligou, esperou algum tempo até receber as notificações - a primeira era um lembrete da operadora para que ele se lembrasse das taxas de roaming (bem útil, o que fez com que ele considerasse, assim que chegasse em Yakutsk, de reativar o chip local que possuía). Recebeu então mensagens de Shun, avisando que já estava de volta à mansão e outra que havia um anexo que tratou de baixar e então viu a foto. Havia também um áudio, procurou seus fones de ouvido para ouvi-lo com privacidade. Sorria enquanto ouvia Shun contar sobre a mulher que o abordou e que tirara a foto e então respondeu ao namorado, trocando mensagens com ele até a hora de embarcar novamente.

 

‘Quando eu for à Yakutsk, qual seria a melhor rota?’

‘Aquela que você quiser, Shun… podemos nos encontrar em qualquer lugar da Rússia e viajarmos juntos até lá.’

‘Interessante… acho que já estou planejando uma viagem para a Rússia :)’

‘Acho que eu preciso arrumar aquela casa e esperar por sua chegada então! :D’

‘Faça isso então e vamos planejar juntos!’

 

“Yakutia Airlines inicia o check in para o voo 345, de Vladivostok para Yakutsk. Favor ...”

 

Sorriu mais uma vez, olhando a última mensagem trocada e imaginando que logo teria Shun e seu calor perto dele de novo.





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(tradução)

 

“Dobroye utro” - Bom dia

 

“Ohayou” - Bom dia

 

“Sorry for bothering you, but… I was taking pictures here and I saw you and your boyfriend saying goodbye and… sorry, I took a picture of you two.”— Me desculpe por te incomodar, mas… eu estava tirando fotos aqui e vi você e seu namorado se despedindo e… desculpe, tirei uma foto de vocês dois.

 

“Oh, it’s not a problem! ”— Oh, sem problemas!

 

“Here it is… it’s a lovely picture and I feel terrible for taking it without your consent, but… I could send it to you, if you want.”— Aqui está… é uma foto bem amável e eu me sinto mal por ter tirado sem o consentimento de vocês, mas… eu poderia mandá-la pra você, se quiser.

 

“Sure, I’d love to have it!”— Claro, eu adoraria tê-la!






 




 






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