Paredes de ar escrita por Senhorita Amabel
Todo ele era indefinido demais e inconstante demais e barulhento demais e extravagante demais e enquanto levava a xícara aos lábios concluiu que nisso não havia nada de errado e...
Ah.
Uma mosca caiu no chá.
Que pena.
Atirou a xícara de porcelana no chão. A faxineira gritou e o chamou de dramático e emocionado e mimado e que ele não podia simplesmente quebrar xícaras, mas não importava porque ele era mesmo todo inconstância. E se o chá ensopava o tapete e se a mosca se contorcia entre os cacos era errado porque não podia haver uma mosca no chá e não porque ele tinha feito algo errado.
... exceto que não havia mosca nenhuma e que o único erro era no chá haver o reflexo de um homem — que Dália sabia não ser, mas que fingia ser assim mesmo — porque a natureza não erra e a errada era Dália por ser a mulher que seu corpo não permitia que ela fosse.
Mas isso não era algo que a faxineira devia saber.
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